Propagação e preparo das mudas de acerola

Propagação e preparo das mudas de acerola

Maurício Dominguez Nasser
Engenheiro agrônomo, doutor e pesquisador científico – APTA – Polo Regional Alta Paulista, Adamantina/SP
mdnasser@apta.sp.gov.br
Aparecida Conceição Boliani
Engenheira agrônoma e professora – Unesp – campus Ilha Solteira
aparecida.boliani@unesp.br

Quando queremos produzir mudas de acerola, desejamos que a muda
tenha a mesma produção de frutos, a mesma quantidade de vitamina C, polpa e
sabor iguais à da planta mãe. E se usarmos as sementes dos frutos da acerola
para fazer a muda, nem sempre esta poderá ter as mesmas características citadas
anteriormente.

Além disso, no caso da acerola, mudas produzidas por
sementes, que chamamos de reprodução, formam plantas altamente heterogêneas, o
que leva a formar um pomar desuniforme e com segregação da planta e frutos,
causando desuniformidade na produção e qualidade dos frutos. E isso é
prejudicial para produzir comercialmente a acerola.

Para resolver esse problema, podem-se adotar duas
tecnologias da produção de mudas: a estaquia e a enxertia. Esses dois tipos de
propagação de acerola consistem em retirar “parte” da planta-mãe (geralmente o
ramo ou caule), com o objetivo de obter as mesmas características desejáveis.

No caso da acerola, será principalmente a alta produtividade
e teor de vitamina C contida na polpa dos frutos verdes, de vez ou maduros.

Cuidados

Na produção de mudas por sementes, estaquia ou enxertia a
origem do material deve ser de qualidade, ou seja, retirar sementes e estacas
de plantas saudáveis, livres de pragas e doenças. Esse manejo é essencial para a
qualidade de qualquer muda que se queira produzir.

A semente de acerola tem baixa germinação, muitas vezes
devido à falta de embrião. Neste caso, se o produtor tiver dentro da sua
propriedade uma planta de acerola saudável e produtiva, vai observar que
embaixo da copa terá frutos no chão que, dependendo das condições, as sementes
vão germinar ali mesmo, e podem ser repicadas para um recipiente e assim formar
novas mudas e plantas dessa frutífera.

Mas, lembrando que comercialmente essas plantas não são
recomendadas, pois ainda não se sabe seu poder de produção de frutos, pelo que
já foi comentado anteriormente.

Em
estacas

 Na produção de mudas
por estacas é muito importante escolher ramos novos, que não estejam produzindo
frutos e que sejam mais lenhosos que herbáceos. Além disso, a muda por estaquia
exige que seja enterrada parcialmente em substrato de boa qualidade e
acondicionadas em uma câmara úmida para formar as raízes, e muitas vezes ainda
se adiciona um regulador vegetal para acelerar e garantir esse enraizamento das
estacas, que devem ficar parcialmente enterradas em substrato.

No caso da produção de mudas enxertadas, a acerola foi muito
pouco estudada no Brasil e no mundo. Nessa técnica serão unidas duas partes de
plantas diferentes. Então a raiz (porta-enxerto) é formada por uma muda
produzida por semente, e a parte aérea (enxerto) é originada de um ramo
retirado de uma planta saudável e de interesse comercial. Logo em seguida será
unido com o caule da muda feita por semente.

Critérios
importantes

 Nossos trabalhos com
enxertia foram realizados anos atrás e alcançamos valores acima de 80% de
pegamento, ou seja, ao realizar a união das plantas, mais de 80% delas ficam
vivas e serão futuras mudas enxertadas.

Esse tipo de produção exige mão de obra especializada,
principalmente no corte e união das plantas. Importante lembrar que esse tipo
de muda ficará pronta para o plantio com 11 a 12 meses de idade, portanto,
tempo maior que a produção de mudas por sementes ou por estaquia, que levam em
torno de cinco a seis meses.

Propagação
de sementes

A propagação de sementes ainda é o mais usual, porque exige
menos conhecimento técnico, menos material genético disponível, menos recurso
para produzir, e emprega menos mão de obra.

Muitas vezes a própria aceroleira possui muda “pronta”
embaixo da própria copa. As sementes podem ser facilmente extraídas, bastando
fazer a despolpa da acerola, e cada “caroço” do fruto é uma semente. Então,
teoricamente, cada acerola produz no máximo três sementes.

Produção
própria

Para o próprio produtor fazer suas mudas, basta coletar
frutos inteiros e maduros (cor vermelha por inteiro), despolpa-los, lavar as
sementes e depois já pode fazer a semeadura direta no substrato ou no solo de
sua preferência, acondicionado em recipiente, seja ele saquinho plástico ou tubete.

Entre 45 a 50 dias após a semeadura, provavelmente já
ocorreu a emergência, e as plântulas já estarão com aproximadamente 5,0 cm de
altura. Lembrando que a acerola não tolera frio, tanto para produção de mudas
como para todo seu desenvolvimento.

A época ideal para esse manejo seria retirar as sementes das
plantas logo da primeira produção de frutos, que geralmente acontece durante a
primavera (fim de setembro, início de outubro). Assim, as mudas vão se
desenvolver ao longo da primavera e do verão, que são épocas mais quentes. Mas,
não se pode esquecer de observar a umidade do substrato: nem seco, nem
encharcado.

Investimento

Analisando a formação de um pomar comercial, o investimento
passa de R$ 15.000,00, mas isso depende muito de como serão conduzidas as
plantas e se a produção de mudas será feita no local de cultivo.

Por isso, o mais indicado para se ter sucesso é o produtor
procurar um engenheiro agrônomo que já trabalha com a produção de acerola, pois
é uma fruta que demanda planejamento antecipado na produção e, principalmente,
na comercialização.

Se for necessário refrigerar as frutas após a colheita, pois
são altamente perecíveis, esse investimento será ainda maior.

Rentabilidade

A acerola pode render mais de R$ 30.000,00 por hectare, mas
vai custar em torno de R$ 25.000,00 por hectare, devido principalmente à
colheita ser manual e frequente. Se for conduzida com mão de obra familiar, sua
rentabilidade pode ser maior.

O retorno começa a partir do quinto ano, e se mostra uma das
alternativas de renda que o produtor pode ter dentro de sua propriedade rural,
porém, não deve ser a única, pois demanda mão de obra principalmente na
colheita dos frutos, e nem sempre isso é fácil de encontrar atualmente.

Portanto, recomenda-se começar o cultivo desta frutífera
formando pomares de no máximo 1,0 ha, e aos poucos, conforme a disponibilidade
e o conhecimento adquirido, o produtor pode aumentar sua área de produção.
Normalmente, se a muda de acerola for de boa qualidade, quando as plantas forem
adultas produzirão bastante, e o produtor irá perceber que o maior desafio será
colher todos os frutos.

É importante lembrar do cuidado com a presença de pragas e
doenças de solo, principalmente nematoides, que atacam as raízes tanto nas
mudas como em plantas adultas. Ainda não se tem uma ferramenta que controle
100% esta doença. O melhor controle é produzir mudas de excelente qualidade e
formadas em substrato comercial. É obrigatório o produtor rural procurar se
informar sobre esse assunto antes de cultivar acerola.

Fonte: https://revistacampoenegocios.com.br