Heitor Antonio Pagnan
Engenheiro agrônomo da Maxxi Mudas

Nos últimos 20 anos a cultura do morango obteve vários avanços, principalmente em cultivares, técnicas de manejo e de produção. Esses avanços possibilitaram que a cultura se expandisse em muitas regiões do país que não tinham tradição no seu cultivo.

Destacamos como principal fator a introdução de novas cultivares, que através de suas características fisiológicas e genéticas, possibilitaram seu cultivo e adaptabilidade em regiões desde próximo ao nível do mar, como Feliz/RS, até altitudes de 1.600 metros como no Sul de Minas Gerais e Santa Catarina.

Associadas a tecnologias como irrigação por gotejamento, fertirrigação e cobertura plástica (micro-túneis) houve um avanço grande na produtividade, qualidade e oferta do produto no mercado durante o ano todo. A busca por novas tecnologias e sistemas de produção de morangos, tem sido uma constante entre os produtores a fim de facilitar e melhorar suas vidas. E aí entra a produção de morangos cultivados em substrato ou o que comumente se chama de “cultivo semi-hidropônico”, mas que o tecnicamente correto seria “cultivo sem solo”.

Cultivo semi-hidropônico

Há cerca de 18 anos, produtores da Serra Gaúcha iniciaram plantios de morango em substrato com casca de arroz em bancadas em forma de pirâmide colocando cinco prateleiras. Todavia, observou-se que as plantas da parte inferior, que recebiam menos luminosidade produziam bem menos.

O sistema foi sendo adaptado de tal forma que hoje se utiliza bancadas com duas linhas de “slabs” ou travesseiros a uma altura de aproximados um metro do solo.

Agora, nota-se um avanço do sistema de calhas. Ou seja, as plantas ficam todas no mesmo nível. Dessa forma, as plantas recebem luz de forma uniforme, melhor ventilação, facilitando o manejo e a colheita.

Como exemplo, numa estufa com 5 m de largura e 50 m de comprimento pode-se colocar quatro bancadas com duas linhas de “slabs” ou calhas, cada uma com média de 2.400 plantas, ou seja, em torno de 6 plantas por metro linear(se considerada a cultivar San Andréas). Se forem 7 mudas por metro, atinge-se 2.800 mudas. Dessa forma, pode-se colocar de 2 a 2,5 vezes mais plantas por hectare se comparado ao plantio no solo.

Vantagens

Citamos alguns fatores que fizeram produtores migrar para esse sistema de bancadas:

  • O uso sucessivo do solo sem a devida rotação de culturas e manejo adequados tem aumentado a quantidade de fungos e nematoides danosos à cultura do morango;
  • Adubações e calagens pesadas tornaram o solo desequilibrado;
  • Dificuldade na obtenção de mão-de-obra para trabalhar nessa cultura, bem como o fato de que o agricultor tem que trabalhar permanentemente agachado gerando um  cansaço prematuro;
  • Na bancada a pessoa trabalha de forma ereta;
  • O sistema de bancadas facilita os tratos culturais, limpeza da planta e colheita;
  • O sistema proporciona uma melhor ventilação na planta, diminuindo a temperatura e a incidência de doenças e pragas;
  • Após a montagem desse tipo de estrutura, ela pode durar vários anos, tendo assim, seu custo diluído.

Imitar o solo

Porém é importante salientar que estamos tentando imitar o solo. E nessa tentativa pode-se cometer muitos enganos. Por isso, nossa recomendação é que se comece aos poucos, não migrando totalmente do plantio no solo para o plantio em bancadas.

A maioria dos produtores tem cometido muitos erros que podem levar muito tempo para serem corrigidos prejudicando a produção e, em muitos casos, tem-se observado que dependendo do tipo de erro cometido pode-se ter até a morte das plantas de morango.

Um dos principais erros está relacionado ao substrato e adubações utilizadas. No Rio Grande do Sul e Santa Catarina usa-se a casca de arroz carbonizada por ser uma fonte disponível e barata. Essa casca após ser queimada possui uma EC (condutividade elétrica) muito alta podendo chegar a 6,0 mS/cm(miliSiemens por centímetro). O ideal no plantio do morango é que essa medida fique por volta de 1,0 mS/cm.

Com 6,0 mS/cm, a morte da planta é certa. O pH, nessa casca queimada, pode se situar entre 8,0 a 9,0 o que também pode levar a muda de morango à morte. O ideal é que o pH fique em torno de 6,0. Caso esses dois parâmetros não estejam adequados, isso ocasiona a queima das radicelas novas, o desgaste prematuro das reservas da muda de morango pela não absorção de todos os nutrientes, bem como sintomas de fitotoxicidade com a queima das bordas das folhas, definhamento e até mesmo a morte da planta.

Constatando esses sintomas e depois de um parecer de um agrônomo ou técnico, normalmente, lava-se esse substrato até que os padrões ideais sejam atingidos. Isso pode levar alguns dias. O produtor só deve começar esse sistema se possuir um aparelho chamado condutivímetro. O ideal é adquirir esse equipamento que tenha incorporado também a medição de pH.

Se o produtor optar por construir seu próprio “slab” ou encher a calha,  a casca de arroz e outros produtos que forem misturados, que servirão de substrato devem ser adquiridos com bastante antecedência devendo os mesmos permanecer amontoados à céu aberto para que a água da chuva promova sua lavagem e estabilização. Muitos produtores tem preparado o substrato em momento anterior à chegada das mudas, ocasionando seríssimos problemas de mortandade de mudas. Aí, a culpa sempre será da muda.

Substrato

O substrato tem que reter umidade, porém não pode encharcar. Em função das adubações via água serem frequentes, com o decorrer do tempo poderá haver acúmulo de sais e aumento da EC (condutividade elétrica). Por isso, o substrato deve ser suficientemente poroso para que esse excesso de sais seja expulso pela lavagem do material.

Atualmente,  muitas empresas estão colocando no mercado substratos prontos, já ensacados em “slabs” ou para fornecimento a granel, com misturas mais padronizadas e prontas para plantio.

A nutrição deve ser feita com adubos que se aproximem da solubilidade máxima em água, disponibilizando todos os macros e micronutrientes necessários para planta.  É importante que o produtor procure orientação técnica para nutrir as plantas de morango, pois essa nutrição será variável em função do tipo de substrato, qualidade da água e adubos solúveis disponíveis na região. O excesso ou falta de alguns nutrientes vai desequilibrar ou causar  fitotoxicidade na planta.

A qualidade da água é um dos fatores de maior importância nesse tipo de cultivo. Águas paradas de açudes com pouca oxigenação ou mesmo de córregos podem ser um meio de contaminação de pragas e doenças. É importante uma análise da água antes de se iniciar esse tipo de cultivo. Em alguns casos observou-se excesso de Sódio que é um sal que pode matar a muda de morango.

Muda de boa qualidade

De nada adiantará toda uma estrutura instalada se o essencial não for feito: muda de morango de boa qualidade.

Nesse sentido, a Maxxi Mudas tem participado deste processo de melhoramento e evolução, ofertando aos produtores de todo Brasil, mudas de qualidade produzidas na Patagônia Argentina e Espanha, bem como a introdução de novos materiais desenvolvidos por programas de melhoramento genético.

Com mudas sadias e de boa procedência, essas plantas irão produzir mais tempo, com maior produtividade e qualidade, aproveitando todo o potencial produtivo.

Fonte: https://revistacampoenegocios.com.br