Silvio Lima
Administrador de empresas, especialista em madeiras e gerente da unidade industrial da Montana Química
Com o alerta da urgência nas mudanças climáticas, a construção civil está sendo pressionada a repensar suas práticas no mundo com propostas cada vez mais sustentáveis. O setor é um dos que mais produzem resíduos sólidos, líquidos e gasosos, usa areia retirada de rios para fazer o concreto e tem impacto enorme em atividades de extração no meio ambiente.
Nesse cenário, a alternativa mais sustentável é a madeira, uma matéria prima renovável, quando é extraída de forma responsável.
Pesquisas
Em um estudo recente sobre o uso de madeira ou aço na construção civil, a pesquisadora Josephine Carstensen, engenheira do MIT (Massachusetts Institute of Technology), aponta a madeira como tendência em grandes construções, com potencial para reduzir as emissões globais de carbono do mundo. “Há um grande interesse na indústria da construção civil em estruturas de madeira maciça”, analisa a pesquisadora sobre o setor que ela mesma define como “um grande emissor de gases de efeito estufa que passou despercebido nas últimas décadas”.
Essa tendência deve aumentar e a expectativa é que até 2024, 42% das empresas planejem mais de 60% de seus projetos usando as melhores práticas de construção verde. Segundo o relatório, um edifício verde pode reduzir os custos operacionais nos primeiros 12 meses em 10,5% e, ao longo de um período de cinco anos, em 16,9%. Para reformas e retrofits, os retornos são ainda maiores.
No Brasil, a construção de casas e prédios de madeira está se tornando realidade entre startups atentas às exigências do mercado e dos clientes por princípios ESG e de sustentabilidade.
Com um déficit habitacional de 8,0 milhões de unidades, e um PIB de construção crescente, a demanda abrirá espaço para construções mais rápidas, mais eficientes e mais verdes. Uma oportunidade para obras de madeira e para toda a cadeia de floresta plantada.
Oferta x demanda
Segundo o Serviço Florestal Brasileiro (SFB), no Brasil são extraídos 11,45 milhões de metros cúbicos de madeira tropical oriunda de florestas naturais, o que é predatório e ilegal. Essa oferta deve cair 64%, para 5 milhões de metros cúbicos até 2030, com o aumento da conscientização ambiental.
Construções em madeira de florestas plantadas têm várias vantagens, além de sequestrar carbono e da eficiência na produção. Menos uso de água; redução no gasto de energia na produção e na obra; baixo desperdício de material e de mão de obra; e mais rapidez nas construções também estão entre os ganhos da madeira nesse setor.
A oportunidade da construção civil verde para a economia brasileira está desenhada. Para que esse sonho efetivamente se torne realidade, é essencial incentivar o manejo sustentável de florestas no país. Isso, somado a uma regulamentação séria e ao financiamento oficial em larga escala, podem elevar o Brasil a um novo patamar de negócios.