Fabíola Martins Delatorre
Técnica em Agropecuária e graduanda em Engenharia Industrial Madeireira – Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)
fabiola.delatorre@edu.ufes.br
Álison Moreira da Silva
Engenheiro florestal, mestre em Ciências Florestais e doutorando em Recursos Florestais – Universidade de São Paulo (USP)
alison.silva@usp.br
Gabriela Fontes Mayrinck Cupertino
Engenheira florestal e mestranda em Ciências Florestais – UFES
gabriela.mayrinck01@gmail.com
Ananias Francisco Dias Júnior
Engenheiro florestal, doutor em Recursos Florestais e professor – UFES
ananias.dias@ufes.br
O Brasil possui a segunda maior área de florestas ambientais do planeta, com 500 milhões de hectares, correspondendo a 58,5% do território nacional coberto por florestas – só é menor do que a Rússia – sendo que 98% são de florestas nativas e 2% de florestas plantadas.
Mas, quais os benefícios de se ter uma área tão grande de florestas no País? A resposta é simples: as florestas têm um enorme potencial para serem peças-chaves no desenvolvimento nacional sustentável, atendendo aspectos cruciais, tanto ecológicos e econômicos.
As florestas trazem benefícios ambientais e climáticos, dentre os quais podemos citar a conservação do solo, regulação do clima e dos recursos hídricos. As florestas representam, para o Brasil, um ativo estratégico.
Por meio do manejo sustentável, por exemplo, são gerados produtos madeireiros e não-madeireiros, como frutos, fibras, sementes, essências e outros ativos químicos, provendo de produtos e serviços de diversas cadeias produtivas, incluindo a madeira, móveis, papel e celulose, tinturas e corantes, alimentos, chapas de fibras, óleos, resinas, fármacos, cosméticos, carvão vegetal, energia, ecoturismo, estoque de carbono, como também a proteção de mananciais.
A floresta e suas riquezas
Por muito tempo pensávamos nas florestas como puramente funcionais ou ornamentais, em que suas árvores eram apenas objetos no cenário. Mas, não é bem assim. As florestas são um dos principais recursos para a consolidação da vida na terra.
Elas são o lar de mais de 75% da biodiversidade terrestre mundial, percentual esse surpreendente. Isso mesmo que você está pensando: milhões de pessoas, animais e vegetais dependem do futuro das áreas florestais.
Mas a importância das florestas vai muito além da sua rica biodiversidade. Elas concentram, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de 75% da água doce do planeta.
Além disso, as florestas fornecerem proteção aos cursos de rios por meio das matas ciliares, protegem os solos de erosões, reduzem a saída de nutrientes dos ecossistemas, quando em equilíbrio, além de outros inúmeros aspectos de importância biológica.
Sim, as florestas são um bem para a vida terrestre. E não para por aí. As florestas estão silenciosamente trabalhando em segundo plano, purificando nossa água, filtrando nosso ar e nos protegendo das mudanças climáticas.
Para a vida humana
Para nós, seres humanos, a importância das florestas vai muito além do seu papel natural. São elas que nos fornecem papel, combustível, água, alimentos e lazer. Sem contar os inúmeros outros produtos que são provenientes dela e que nem sequer sabemos, como por exemplo os medicamentos.
A floresta é considerada uma das primeiras farmácias da sociedade. É a partir dela que indígenas, ribeirinhos, seringueiros e diversos pesquisadores retiram as principais substâncias para a cura de doenças.
E quanto maior a variedade de espécies da floresta, maiores as possibilidades de uso de seus recursos. O Brasil, por exemplo, é considerado berço da variedade de espécies vegetais e ecossistemas, que abrigam uma das floras mais diversas e exuberantes do planeta.
Estimativas da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) apontam que nosso país detém 20% da biodiversidade do planeta e 30% das florestas tropicais. Sim, podemos nos considerar sortudos de estarmos inseridos em um país tão rico. E toda essa riqueza nos faz sermos considerados pioneiros em diversos usos da nossa biodiversidade.
Existem diversos tipos de espécies arbóreas brasileiras destinadas para fins farmacêuticos, cosméticos, óleos, como por exemplo, ipê-roxo (Tabebuia avellanedae), espinheira santa (Maytenus spp.) e faveira (Dimorphandra mollis), utilizados principalmente para fins medicinais.
Para as indústrias de celulose e papel, movelarias e produtoras de carvão vegetal são oriundos em específico de florestas plantadas, principalmente das espécies de Eucalyptus spp. e Pinus spp., que representa cerca de 9,3 milhões de hectares no País.
Vantagens
Os benefícios provenientes das florestas ambientais são inúmeros e vão muito além da cura de doenças e geração de produtos. As florestas são os principais reguladores do clima e as principais responsáveis pela reversão das mudanças climáticas. Isso mesmo.
Com a nossa floresta em pé podemos ‘sequestrar’ o CO2 emitido por diversas atividades humanas, reduzindo uma quantidade significativa na atmosfera. Estudos indicam que cada hectare de floresta em desenvolvimento é capaz de absorver de 150 a 200 toneladas de carbono.
Esse fato nos faz pensar nas florestas e o sequestro de carbono seja como uma oportunidade potencial para reverter as mudanças climáticas. Com a floresta em pé, somos capazes de gerar abrigo para animais, alimentos, água, medicamentos, energia, produtos e até mesmo combater o efeito estufa.
Produção de biomassa
O manejo de florestas ambientais voltado à geração de energia térmica é uma possibilidade promissora, podendo ser aproveitada na forma de lenha ou na produção de carvão vegetal, permitindo alcançar um regime de sustentabilidade local.
No Brasil, a Lei N° 12.651, que trata da proteção da vegetação nativa, permite aos produtores explorarem com restrições algumas áreas florestadas para a extração de produtos madeireiros, denominadas “Reserva Legal”.
Algumas espécies comerciais já são bem difundidas quando o assunto é geração de energia por meio de biomassa florestal, como é o caso dos gêneros Eucalyptus, Corymbia,Acacia, Pinus e Betula, principalmente pelo conhecimento já existente sobre o assunto.
Quando se trata de espécies nativas, a escolha baseia-se em estudos fitossociológicos. São selecionadas árvores das espécies mais abundantes na região, considerando que sua remoção não impactará no ecossistema local.
Algumas espécies já são conhecidas como potenciais no uso para energia, como Pseudobombax marginatum, Tachigali vulgaris, Hymenaea stigonocarpa e Mimosa sp.
Alternativas
O uso da lenha não é a única forma de se obter bioenergia. O processo de pirólise, que consiste na degradação termoquímica da madeira em ambiente controlado de gás oxigênio, dá origem a três produtos: o carvão vegetal, o líquido pirolenhoso e os gases não condensáveis.
Este processo melhora as características energéticas da biomassa utilizada, permitindo maior eficiência na conversão em energia. O carvão vegetal gerado pode ser utilizado nos setores alimentício, domiciliar e siderúrgico.
O líquido pirolenhoso gerado pode ser utilizado em biorrefinarias para a extração de diversos componentes químicos, auxiliando na agricultura, por exemplo, no combate a patógenos e enraizamento de plantas, ou ainda no preparo de aromatizantes no setor alimentício, como o tão conhecido barbecue.
Os gases não condensáveis, por sua vez, são utilizados na produção de gás síntese, que podem ser aproveitados como combustíveis de turbina a gás.
Valor inestimável
Seja na extração de madeira, frutos ou óleos essenciais, as florestas ambientais possuem um inestimável valor social e econômico. Sua implementação gera renda, que auxilia em sua própria manutenção, assim como ajuda na renda de quem adota o conceito.
Seus valores vão muito além do monetário, principalmente considerando o aumento no potencial turístico, a redução da erosão do solo e aumento da infiltração da água, com consequente aumento na recarga hídrica.
Neste sentido, com a disseminação dos benefícios voltados para a adoção da prática, o incentivo ao plantio voltado à conservação pelo uso tem aumentado fortemente, tornando as florestas ambientais aliadas no alcance de um mundo sustentável.