Daniele Maria do Nascimento

Engenheira agrônoma, doutora em Proteção de Plantas e professora – Universidade Federal de Lavras (UFLA)

danielenascimento@ufla.br

Marcos Roberto Ribeiro Junior

Engenheiro agrônomo e doutorando em Proteção de Plantas – UNESP

marcos.ribeiro@unesp.br

Adriana Zanin Kronka

Engenheira agrônoma, doutora em Fitopatologia e professora – UNESP

adriana.kronka@unesp.br

A beleza do girassol não encanta somente os nossos olhos. Insetos também se sentem atraídos pela planta, pelo menos é o que estudos vêm indicando há anos. Isso acontece porque superfícies amarelas emitem um comprimento de onda específico que atrai diferentes insetos, dentre eles os besouros desfolhadores, popularmente conhecidos como “vaquinhas”, que são pragas importantes no tomateiro.

Não é à toa que armadilhas adesivas para monitoramento de pragas têm essa coloração. Mas, por que o amarelo? Insetos associam essa coloração com a presença de pólen e, consequentemente, néctar nas flores. Desse modo, para insetos que são atraídos pela cor, o girassol pode atuar como planta armadilha, auxiliando no monitoramento e controle de insetos-pragas.

Como implementar a técnica

O girassol deve ser semeado na bordadura da lavoura, pois assim ele cria uma barreira física em torno da cultura, e os insetos que estarão se alimentando das flores e inflorescências do girassol não migrarão para a cultura principal.

A distância entre essa bordadura cultivada com o girassol e o cultivo dependerá da espécie de planta que está sendo cultivada. No caso do tomate, recomenda-se uma distância de um metro entre filas duplas e 2,4 metros entre filas principais. Em outras culturas, esse espaçamento pode ser reduzido para até um metro.

Ciclos

O tomate tem um ciclo que pode variar entre 95 a 125 dias, e o ciclo vegetativo do girassol é um pouco menor. Para se ter inflorescências do girassol durante todo o ciclo do tomateiro, é necessário transplantar as mudas de girassol para as bordaduras, e recomenda-se que o produtor mantenha um cultivo de mudas em paralelo, para transplantar para a bordadura quando necessário.

Mas, atenção! Para cultivos em estufas essa prática não é recomendada, pois beneficia a multiplicação dos insetos em um ambiente fechado, além do que, as condições de temperatura e umidade favorecem o desenvolvimento de algumas pragas, como os ácaros e mosca-branca.

Mais lucro

É possível, ainda, explorar outras potencialidades da cultura, como a extração do óleo e a comercialização dos grãos para alimentação humana e/ou animal. O consórcio de culturas consiste no plantio simultâneo de duas ou mais culturas na mesma área, uma prática que, se bem planejada, reduzirá a incidência de pragas e doenças na lavoura.

Nesse caso, o girassol é consorciado com outras culturas, semeando-se, por exemplo, uma fila de girassol a cada duas ou três filas da cultura principal.

Resultados

O Sistema de Produção Integrada do Tomate (Sispit) preconiza a adoção das boas práticas agrícolas, minimizando o uso de defensivos sintéticos e buscando aliar uma produção mais sustentável às exigências de produtividade.

As aplicações iniciais de inseticidas para controle de lagartas e vaquinhas diminuem em até 30%, com o plantio do girassol nas bordaduras. Produtores da região do Alto Vale do Rio do Peixe, localizada em Caçador (SC), que já adotam esse sistema há anos, relatam que o uso do girassol como armadilha vem permitindo uma redução de até cinco aplicações de inseticida na lavoura.

Desde 2004, essa técnica vem sendo recomendada na região, pela Estação Experimental da Epagri em Caçador (EECD).

A prática também é benéfica para insetos polinizadores (abelhas mamangavas) e inimigos naturais das pragas, como as joaninhas e percevejos, que também são atraídos pela inflorescência.

Não só para o tomate

Outras culturas também se beneficiam do girassol como armadilha, dentre elas podemos citar o amendoim, brócolis, feijão, milho, repolho e soja. Uma outra abordagem para essa prática é visando a conservação dos inimigos naturais, como citado anteriormente.

Nesse sentido, o consórcio entre culturas como sorgo e girassol tem apresentado bons resultados na redução populacional de importantes pragas.

Um estudo conduzido na Unesp, campus de Jaboticabal, demonstrou que o consórcio amendoim-girassol-amendoim-sorgo apresenta uma maior diversidade e maior número de espécies de insetos predadores, com potencial para combater as pragas da cultura.

O uso dessa planta-armadilha é mais uma ferramenta para o manejo integrado de pragas, mas ressalta-se a importância das demais estratégias de controle, como o químico e o biológico, que devem ser implementados em conjunto, para que o produtor venha a obter sucesso no controle de tais pragas.

Fonte: https://revistacampoenegocios.com.br