Janaína Pereira dos Santos
Engenheira agrônoma e doutora em Fitotecnia/Entomologia – EPAGRI/Estação Experimental de Caçador, SC
janapereira@epagri.sc.gov.br

O controle de insetos-praga exclusivamente com agrotóxicos é uma prática comumente utilizada em cultivos agrícolas comerciais. Em muitos casos, essas aplicações são feitas sem critérios técnicos, podendo aumentar os custos de produção, os riscos de intoxicação ambiental e a presença de resíduos nos alimentos.
A crescente conscientização ambiental dos consumidores e agricultores tem favorecido a utilização de técnicas mais sustentáveis para o controle de pragas. Dessa forma, métodos alternativos de controle e menos agressivos à fauna benéfica e ao ambiente devem ser adotados, o que torna indispensável a utilização de estratégias baseadas no Manejo Integrado de Pragas (MIP).
Neste contexto, o girassol pode ser usado como planta armadilha em cultivos agrícolas, pois o elevado número de insetos que se concentram em suas inflorescências e folhas permite uma diminuição das pragas no cultivo principal.

Atração

O girassol atrai os insetos devido a sua coloração amarela e por produzir grande quantidade de pólen e néctar que servirão de alimento para várias espécies de insetos-praga e insetos benéficos. O uso do girassol como planta armadilha fundamenta-se no princípio de que os comprimentos de onda emitidos por superfícies amarelas atraem diferentes espécies de insetos.
A coloração amarela provoca no inseto o instinto pela busca de alimentos, pois há uma forte relação entre essa cor e a presença de grãos de pólen no centro das flores, onde o néctar está localizado. Dessa forma, o girassol pode ser usado no monitoramento e no controle de insetos-praga em diferentes tipos de cultivos, cujas pragas principais são atraídas pela cor amarela. Cultivos de soja, feijão, milho e brássicas (repolho, brócolis, couve-flor) por exemplo, podem ser beneficiados com o girassol em bordadura.

Resultados de pesquisa

Os estudos com a cultura do girassol como planta armadilha em bordadura de cultivos de tomateiro iniciaram na safra 2004/05. As avaliações foram realizadas em áreas experimentais localizadas na Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI), na Estação Experimental de Caçador (SC) e em áreas de tomaticultores da região do Alto Vale do Rio do Peixe (SC).
Em tomateiro, o girassol atrai várias pragas importantes para a cultura, tais como ácaros, mosca-branca, moscas-minadoras, besouros da espécie Astylus variegatus, “vaquinhas” dos gêneros Diabrotica, Paranapiacaba e Microtheca e lagartas mede-palmo, bem como as dos gêneros Spodoptera e Helicoverpa. Além disso, também atrai vários inimigos naturais (joaninhas e percevejos) e abelhas mamangavas, que são os principais insetos polinizadores do tomateiro.
Atualmente, vários produtores da região do Alto Vale do Rio do Peixe que cultivam tomate baseado no Sistema de Produção Integrada (SISPIT) utilizam o girassol na bordadura do cultivo, tendo em vista que essa técnica é uma recomendação nesse sistema de produção.
Em estudos realizados pela Epagri verificou-se que as aplicações iniciais de inseticidas para o controle de lagartas e de “vaquinhas” foram reduzidas em até 30%. A grande concentração desses insetos-praga nas inflorescências e folhas do girassol favoreceu a diminuição das populações das pragas no cultivo principal, gerando menor número de intervenções de controle com inseticidas.

Girassol como planta armadilha

Com o objetivo de formar uma barreira física, o girassol é plantado apenas na bordadura do cultivo principal. Salienta-se que não é necessário pulverizar o girassol atacado, pois os insetos apresentarão preferência por se alimentar das suas folhas e inflorescências e não migrarão para o interior da lavoura. Além disso, muitas espécies de inimigos naturais também são atraídas pelo girassol.
Se o produtor desejar cultivar o girassol para obter outras potencialidades desta cultura, objetivando a comercialização de grãos, a extração de óleo ou até mesmo a alimentação de animais, o plantio poderá ser feito em consórcio com outras culturas, sendo plantado uma fila de girassol a cada duas ou três filas do cultivo principal.
Nesse caso, ao se utilizar o girassol para vários propósitos, o ataque de pragas poderá prejudicar o produto colhido e diminuir a produção. Dessa forma, para realizar o controle químico de pragas no girassol, deve-se utilizar somente os agrotóxicos registrados para essa cultura.

Manejo

A distância entre as plantas de girassol irá depender do tipo de cultura. Na cultura do tomateiro podem ser colocadas uma ou duas plantas de girassol no final de cada linha de plantio espaçadas em 1,0 m da última planta de tomate.
Nas áreas experimentais da Epagri, o tomateiro é cultivado em linhas duplas, dessa forma, as mudas de girassol são plantadas em toda a bordadura do cultivo a uma distância de 1,0 m entre filas duplas e de 2,4 m entre as filas. Em outras culturas, pode-se plantar o girassol mais próximo, com até 1,0 m entre as plantas.
O ideal é transplantar as mudas de girassol, alguns dias após o plantio da cultura principal. Vale ressaltar que o ciclo vegetativo do girassol é mais curto que o do tomateiro, dessa forma, para que se tenham inflorescências durante todo o ciclo vegetativo do tomateiro, os produtores deverão cultivar mudas de girassol e transplantá-las na lavoura de duas a três vezes durante a safra.

Em estufa

Não é recomendado o uso do girassol como planta armadilha em cultivos em estufa, pois o efeito pode ser o contrário do desejado, visto que o ambiente fechado faz com que as pragas permaneçam e se multipliquem no interior da estufa. Além disso, as condições de temperatura e umidade desse tipo de local podem favorecer o desenvolvimento de várias espécies de pragas, como mosca-branca e ácaros, por exemplo.

Fonte: https://revistacampoenegocios.com.br