A prática do cultivo de alimentos teve um papel crucial na evolução humana, no desenvolvimento da sua cultura e na formação de sociedades. A Revolução Verde alavancou a produção agrícola e, com isso, o crescimento populacional. Hoje, o agronegócio precisa urgentemente se reinventar para suprir a demanda alimentar mundial e minimizar o impacto ambiental. Fazer o controle biológico de pragas é uma das soluções mais favoráveis a todas as partes envolvidas.
Diminuir o uso de agrotóxicos abre oportunidades para o agricultor entrar em um nicho de mercado cada vez maior: o de consumidores conscientes e dispostos a pagar por alimentos que tenham sido produzidos de maneira sustentável. Além disso, as medidas de redução de impactos ambientais são urgentes, sob pena de o sistema colapsar devido ao problema que ele mesmo criou.
Nesse contexto, é fundamental entender como ocorre o balanço do ecossistema, por que alguns animais se tornam pragas e como fazer o seu controle biológico. Este artigo responde a essas perguntas. Continue a leitura e descubra!
Por que insetos se tornam pragas na agricultura?
No meio ambiente, o controle populacional de seres vivos é feito naturalmente. Ou seja, para toda presa há um predador, completando os elos da teia alimentar. A prática da monocultura e da retirada da cobertura vegetal nativa de uma área afeta esse equilíbrio, reduzindo a diversidade de plantas e animais.
A grande oferta de um tipo de cultivo, a baixa diversidade vegetal e a ausência de predadores faz com que o ambiente se torne extremamente favorável para a reprodução massiva de alguns insetos. Quando eles causam danos às plantações e prejuízos ao agricultor, eles são considerados pragas.
O uso excessivo de agrotóxicos para controlá-los leva à resistência das pragas, fazendo com que o efeito dos defensivos químicos seja reduzido e elevando a necessidade de aplicar mais nas lavouras. Além de afetarem seriamente a saúde dos trabalhadores rurais, o seu impacto ambiental é enorme, visto que os resíduos alcançam corpos hídricos e lençóis freáticos.
Sendo assim, é fundamental elaborar um plano de manejo adequado para as propriedades, que visa diminuir o uso de agrotóxicos e restaurar o equilíbrio ecológico da região por meio do controle biológico de pragas.
O que é e como é feito o controle biológico de pragas na lavoura?
O controle biológico é o uso de métodos naturais — especialmente seres vivos — para reduzir ou eliminar populações de espécies consideradas pragas para a agricultura. A principal vantagem da aplicação dessa tática é não causar efeitos cumulativos à lavoura (como os agrotóxicos o fazem), nem danos aos inimigos naturais do alvo de controle.
Dessa forma, existem três tipos de controladores biológicos:
- predadores: buscam ativamente suas presas e se alimentam de outros insetos durante toda a sua vida. Exemplos: vespas, louva-a-deus, joaninhas, aranhas;
- parasitoides: o adulto de um inseto deposita seus ovos no corpo ou nos ovos da praga e é a sua larva que se alimenta do inseto-praga, levando-o à morte (diferentemente dos parasitas que não matam o seu hospedeiro). Exemplos: vespinha Trichogramma sp., mosca (Taquinídeo), vespa (Braconídeo);
- patógenos: são organismos causadores de doenças nas pragas. Exemplos: fungos, vírus, bactérias, nematoides (vermes cilíndricos).
Do mesmo modo, há três estratégias para desenvolver em campo:
- clássico: introdução e liberação de uma espécie exótica (de outro país ou região) em pequena escala para o controle de uma praga (normalmente exótica também);
- natural: introdução ou atração de espécies nativas (inimigos naturais), que se alia a práticas que conservam ou aumentam a população desses controladores (como criar corredores ecológicos e não usar agrotóxicos);
- aplicado: consiste na liberação de controladores de forma massiva para reduzir a população da praga rapidamente. Devido à velocidade da sua ação, tem efeito semelhante ao dos inseticidas e, para serem utilizados em larga escala, os controladores precisam ser multiplicados em laboratório.
Veja, a seguir, alguns exemplos de organismos que são amplamente usados no controle biológico de pragas no Brasil.
Trichogramma sp.
São vespinhas parasitoides de ovos de cerca de 200 espécies de outros insetos. Entretanto, preferem posturas de borboletas e mariposas, cujas lagartas são importantes pragas de algodoeiro e tomateiro.
Metagonistylum minense, Paratheresia claripalpis e Apanteles flavipes
As duas primeiras são espécies de moscas e a terceira é uma vespa. São parasitoides de lagartas, pragas de diversas culturas de gramíneas, tais como cana-de-açúcar, milho, sorgo, trigo, arroz e outras pastagens.
Metarrhizium anisopliae
É um fungo que ataca inúmeros insetos, como besouros, lagartas, cigarrinhas, percevejos etc. Age envolvendo o corpo do inseto, mumificando-o.
Coccinella septempunctala
Famoso besouro conhecido como joaninha, é um voraz predador de várias espécies de pulgões.
Quais outras práticas agrícolas podem ser realizadas na lavoura?
Para que o controle biológico de pragas seja mais efetivo e o uso de agrotóxicos seja reduzido, é importante realizar uma série de outras ações sustentáveis na propriedade, que favorecem o bom funcionamento dos ciclos biológicos. Dessa forma, entre essas práticas agrícolas podemos destacar as seguintes.
Cultivo de corredor ecológico
O plantio de espécies atrativas tanto para pragas quanto para seus controladores é fundamental para o sucesso da estratégia. A ocorrência das pragas diminui na cultura principal e, uma vez que os adultos dos seus parasitoides consomem néctar e pólen, a diversidade vegetal estimula a permanência do controlador biológico na lavoura.
A intercalação de plantas também serve para facilitar a mobilidade dos insetos entre a área plantada e sua borda, que deve ser preservada com vegetação nativa em conjunto às espécies atrativas para ambos os grupos de animais.
Uso de lonas agrícolas
O uso de lonas para a construção de estufas agrícolas e para a prática da plasticultura é uma tendência rural. Essas tecnologias permitem que o produtor tenha mais controle sobre os agentes danosos à sua plantação, uma vez que a barreira física impede ou reduz consideravelmente a aproximação dos insetos nas culturas.
Além disso, a lona amarela pode atrair pragas para a lona (afastando-as da plantação), enquanto uma de cor branca confunde outros insetos, mantendo-os longe, também.
É importante ressaltar que qualquer estratégia de controle biológico deve ser planejada e realizada com especialistas, visto que a introdução de espécies exóticas pode provocar desequilíbrios devastadores para o ecossistema local.
A agricultura é a peça-chave para atender à demanda mundial crescente por alimentos. Porém, para ter espaço no mercado e garantir o futuro produtivo do próprio negócio, o produtor rural deve investir em técnicas sustentáveis — como o controle biológico de pragas — para preservar a saúde da comunidade local e o equilíbrio do meio ambiente como um todo.