MICROVERDES: TENDÊNCIA DA NOVA HORTICULTURA

A horticultura no Brasil é um oceano de oportunidades, mas para atingir o sucesso é preciso se preparar. Ficar atento às necessidades do consumidor atual e futuro, fornecer um alimento limpo e produzir com o menor impacto ambiental possível são alguns dos desafios atuais para os horticultores. 

Nesta matéria trazemos um conteúdo especial para produtores hidropônicos que pensam em incluir os microverdes como diversificação dos cultivos, além de dicas para quem está iniciando neste mercado, de forma profissional.

Por dentro das tendências

Os microverdes são uma novidade extremamente nutritiva e saborosa, ganhando cada vez mais destaque pelas suas características de cultivo simples, questões nutricionais e sabor.

Eles consistem em micro hortaliças, que são colhidas na segunda fase da planta (entre 5 a 15 dias após a semeadura).  Ocupam pouco espaço e proporcionam o benefício do ciclo rápido e da rotatividade, além do alto valor agregado, que pode trazer bom retorno financeiro aos hidroponistas.

Agregando valor à produção: diversidade de cultivos

A empresa gaúcha Tropical Estufas é referência por cultivos de excelente padrão, além de pioneirismo na produção de microverdes. Lidiane nos conta que em 2019, quando começou com o cultivo de microverdes, foi uma grata surpresa a ótima aceitação do público consumidor. 

Conversamos com ela e descobrimos que vários pontos no início do cultivo são importantes para o sucesso do empreendimento. 

Selecionamos os destaques da nossa conversa com a produtora, confira:

Como foi o início da comercialização?

Fizemos várias experiências antes de comercializar os microverdes. Foi um caminho bem longo. Percebemos esta lacuna no mercado e quando decidimos investir, deu muito certo. Um produto primoroso, de excelência e principalmente, 100% saudável. O público aceitou prontamente e demos início a um ciclo de produção muito pontual, tentando experimentar diversas variedades e cada vez mais, agradar o paladar dos nossos clientes. Passamos a incluir a produção de microverdes no nosso mix de produtos, junto aos hidropônicos.

“Quando nós conhecemos o tal microverdes, falava-se muito em lugares específicos para produção, com luzes específicas e por isso nós achávamos que seria muito difícil de produzir com esta estrutura e mais uma pessoa especializada para ser responsável por esta parte da produção. Como para nós o custo deste investimento não era viável, começamos a plantar nas mesmas salas e estufas que fazemos as mudas dos cultivos hidropônicos. Para nossa surpresa, deu super certo. Percebemos o quão simples e desafiador seria produzir microverdes e passamos a entender estes cuidados específicos como rega e organização da produção” nos conta Lidiane Silva.

Do ponto de vista do manejo e condução das plantas, foi tranquilo?

O manejo foi muito tranquilo, contudo, evidenciamos a necessidade de ter um responsável único pelo manejo dos microverdes na Acqua. Fizemos vários testes na produção, ensaiando os períodos de escuro, transição para a bancada, depois o período de sol no telado, percepção dos sabores, tempo de viabilidade após a colheita, entre outros. Por se tratar de um produto muito delicado, demanda atenção constante, como um bebê recém nascido.

Bandejas de microverdes em produção na Tropical Estufas – Viamão/RS
Embalagens para comercialização dos microverdes

Quais são os microverdes mais aceitos na sua região?

Trabalhamos com microverdes de beterraba, mostarda, agrião, entre outros dependendo da época. Os mais pedidos são os que têm a coloração diferente. É o caso do repolho roxo, que tem hastes e folhas arroxeadas, ideal para deixar os pratos mais atrativos.

Microverdes de repolho roxo, prontos para colheita e consumo

Conquistando novos mercados: de olho nos lançamentos

É natural que os produtos mais diferentes e atrativos pelo visual e sabor chamem a atenção do consumidor. Também por isto, são buscados pelos produtores que estão ligados nas tendências e lançamentos, como variedades coloridas e espécies que ainda não vinham sendo cultivadas com a finalidade de colheita jovem.

Selecionamos o que há de mais novo no mercado de sementes, confira os principais lançamentos:

Salsa Manu

Apresenta o sabor da salsa em uma versão mais leve. 
Suas primeiras folhas são alongadas e verde-claras.
Possibilidade de cultivo nos 12 meses do ano.

Rabanete Ganga

Super aceito na gastronomia, pelas suas cores mais atrativas.
A combinação dos tons rosados do pequeno talo com o verde das folhas chama bastante atenção.
Variedade de ciclo curto e de alta produtividade.

Manjericão Padma

Formato, cor e sabor combinados que geram excelente aceitação pelo mercado.
Sabor concentrado em folhas pequenas e delicadas.
Alto valor nutricional.

Aqui você encontra o mix de variedades disponíveis no site da ISLA

Mas afinal, como cultivar?

Recebemos uma série de perguntas durante uma interação nas nossas redes sociais e convidamos a MSc Isabela Scavacini de Freitas para sanar as dúvidas. Isabela é Engenheira agrônoma, doutoranda em fitotecnia – ESALQ/USP e sua pesquisa é focada em microverdes. Confira:

Quais são as vantagens do cultivo profissional de microverdes?

– Ciclo rápido
Variando de 7 a 21 dias dependendo da espécie, manejo, ambiente de cultivo e ponto de colheita. Dessa forma, o produtor pode ter um retorno mais rápido do seu investimento inicial e muitos ciclos ao longo do ano.

– Produto de alto valor agregado
Preço de venda ao consumidor no Brasil varia de R$160 a R$400/kg (geralmente vendido em bandejinhas de 40g, podendo variar de R$6,50 a R$16,00 conforme a espécie e região). Nessa faixa é possível investir em manejo e apresentação do produto final. 

– Baixa necessidade de tratos culturais
Não há tarefas que exigem muito dispêndio de tempo e mão-de-obra por parte do produtor, como desbrotas, podas, aplicação de defensivos e fertilizantes. O trabalho maior é apenas durante a semeadura, colheita e higiene do local de cultivo.

– Não é necessário o produtor realizar a colheita do microverdes
O produtor pode dar essa oportunidade ao consumidor, economizando seu tempo e mão de obra. Para isso, comercializa-se o produto vivo na manta ou substrato escolhido para o cultivo.

– Não há necessidade de uso de fertilizantes
Os cotilédones da semente já possuem os nutrientes necessários para a germinação, portanto, não há necessidade de fertilizantes, os quais aumentam o custo de produção. No entanto, vale lembrar que o uso de fertilizantes pode aumentar a produtividade, valor nutricional e deixar um aspecto mais vistoso aos microverdes.

– Cultivo seguro
Não é permitida aplicação de defensivos químicos, pelo ciclo curto e proximidade temporal entre cultivo e consumo. Desta forma, os custos de produção são menores além de dispensar os cuidados necessários na produção convencional.

Como prevenir fungos nas raízes e folhas?

Para que ocorra uma doença, sempre é necessário que haja um hospedeiro (planta) suscetível, ambiente favorável e o patógeno (fungos, bactérias e vírus). Assim, podemos mediar os três protagonistas para prevenir o aparecimento de doenças em plantas. 

Quanto ao hospedeiro, a empresa de sementes deve fornecer cultivares com baixa suscetibilidade a fungos na fase de germinação e de plântula para o cultivo de microverdes. Quanto aos demais fatores, deve ficar à cargo do produtor. Portanto, é necessário que o produtor se atente ao controle do ambiente, tentando manter a umidade relativa do ar entre 50 e 60% durante o cultivo e a temperatura entre 19 e 24°C. Para isso, é possível utilizar sombrite nas estufas, como consta nesta matéria.

Umidades e temperaturas superiores a essas faixas favorecem o desenvolvimento de fungos. Além disso, é necessária a higienização frequente do ambiente, das bandejas, bancadas, estantes, mãos e demais utensílios, não se esquecendo de utilizar substratos comerciais de empresas idôneas, pois muitas vezes o substrato pode carregar esporos de fungos, se não for um produto de qualidade. As sementes também devem ser higienizadas antes de serem semeadas.

Microverdes devem ser cultivados em sol ou sombra? Qual melhor lâmpada de cultivo?

Os microverdes não precisam de muita luz para serem cultivados, porém, pesquisas mostram que altas intensidades de luz (300 a 450 µmols/m2/s) podem torná-los ainda mais nutritivos e, dependendo da espécie, mais coloridos, o que conseguimos regular com o uso da iluminação artificial. Para pessoas que produzem de forma mais caseira, recomendo deixar os microverdes na varanda, em local iluminado, porém, sem sol direto. 

É difícil responder qual seria a melhor lâmpada de cultivo, uma vez que cada espécie pode requerer espectros de radiação e intensidades luminosas diferentes. Além disso, existe o fator nutricional, que nós obviamente não conseguimos enxergar. É muito comum produtores usarem lâmpadas fluorescentes tubulares devido ao baixo investimento inicial, porém as lâmpadas de LED possuem maior duração e maior eficiência, gerando maior economia de eletricidade, além da possibilidade de utilizar diferentes espectros de radiação que podem aumentar a qualidade dos microverdes. Quanto às lâmpadas de LED, recomendo o uso das “full spectrum”, que se assemelham com a composição espectral da luz solar, ou de combinações entre luzes vermelhas e azuis, as quais são as luzes mais absorvidas pelas plantas.

Sobre a água da irrigação. Pode ser da torneira?

O ideal é que se utilize água potável, uma vez que a água pode ser fonte de patógenos que podem fazer mal tanto à planta quanto à nossa saúde. Recomendo sempre realizar a análise da água de cultivo e verificá-la quanto ao pH, condutividade elétrica, microbiologia e quantidade de sulfatos, carbonatos, sódio e cloro. Confira neste material da Embrapa os atributos da água e solução nutritiva.

Quais dicas para escalonar o cultivo?

Cada produtor deve ter sua própria estratégia de escalonamento de produção, sempre baseada no ciclo de cultivo das espécies de microverdes que produz e na sua demanda. Para facilitar, uma dica é sempre estabelecer os dias fixos da semana em que o produtor realizará a semeadura e colheita de cada espécie, combinando com o planejamento das entregas.

Qual melhor substrato?

Existem inúmeros tipos de substratos que podem ser utilizados no cultivo de microverdes, tais como: turfa, casca de pinus, fibra de coco, húmus, espuma fenólica e as mantas (fibra de coco, fibra de bambu, juta, manta acrílica, etc.). Acredito que a escolha do substrato seja bastante particular do próprio produtor, uma vez que é influenciada pelo sistema de irrigação optado, disponibilidade de recursos financeiros, adaptação e até por valores da empresa quanto à sustentabilidade do meio-ambiente. A dica é pesquisar, experimentar e entender o porquê determinado substrato não se adequou ao seu sistema de produção.

Qual a melhor forma de regar no cultivo profissional?

A água de irrigação durante a “fase clara” de produção deve molhar apenas o substrato, onde estão localizadas as raízes dos microverdes, minimizando o contato da água com a parte aérea das plântulas, a fim de evitar a formação de uma microclima úmido que pode favorecer o desenvolvimento de patógenos. Além disso, o uso de mangueiras e regadores pode tombar as frágeis plântulas devido às gotas com diâmetro grande. Dessa forma, recomendo sistemas de irrigação hidropônicos, como o “ebb and flow” (inundação e drenagem), floating, ou apenas inundação, os quais podem ser automatizados.  

Quais os erros mais comuns para quem está começando?

Os erros mais comuns para quem está começando são: produção excessiva ou ruptura na produção, sem antes dimensionar seu mercado; super ou subestimar a densidade de semeadura (ambos podem acarretar prejuízos ao produtor); mal manejo das condições ambientais; falta de higiene do local de semeadura e de cultivo; utilizar substratos não comerciais (caseiros, com compostagem inadequada); não pesquisar quais cultivares podem ter maior aceitação do consumidor e de restaurantes; não programar seu próprio escalonamento da produção.

Como fazer a semeadura uniforme e ágil?

No Brasil, até onde sei, não existem equipamentos comerciais para realizar a semeadura mecanizada para cultivar microverdes. Conheço apenas uma empresa no Brasil que desenvolveu um protótipo particular para hidrosemeadura que funciona de forma bastante simples e ajuda a economizar bastante tempo. No exterior, já estão disponíveis vários modelos de semeadoras, porém acredito que o preço para importação não seja muito agradável. 

A semeadura e a colheita são as etapas da produção que mais demandam tempo e paciência. Realizo a semeadura sempre em água, o que exige um pouco de prática. Opto por realizar dessa forma, pois prefiro sempre desinfetar as sementes antes da semeadura. Além disso, como geralmente eu utilizo as mantas para cultivar os microverdes, observo que a distribuição das sementes fica mais uniforme do que quando semeio “no seco”, porém entendo que pode ser mais difícil realizar essa hidrosemeadura em substratos soltos como turfa, casca de pinus e fibra de coco. Quanto realizo essa hidrosemeadura nas mantas, tento sempre cobrir a manta com água, pois fica mais fácil das sementes se desprenderem das minhas mãos. Como já dito, a semeadura manual exige prática.

Como produzir microverdes de forma prática

Neste vídeo a Agrônoma Albertina Radtke Wieth comenta sobre o sistema de produção de microverdes em bancadas, com solução nutritiva.

Por ser uma forma de cultivo ainda recente, muitas pesquisas ainda estão sendo realizadas. Ressaltamos a importância de adaptação à realidade local de cada produtor, além da relevância do apoio técnico especializado para alcançar resultados ainda melhores. 

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Fonte: https://www.revistahidroponia.com.br