Figos em estufas: como produzir?

Figos em estufas: como produzir?

Figos em estufas: como produzir? Leia informações sobre o manejo, os benefícios, os custos, e a comercialização de figos em estufas, além de outras dicas.

Por Franciely da Silva Ponce

Engenheira agrônoma e doutora em Agronomia/Horticultura – FCA/UNESP

francielyponce@gmail.com

O figo (Ficus carica L.) é uma frutífera originária da região da Mesopotâmia, tipicamente de clima temperado, com bom desenvolvimento em clima frio ou mesmo em condições de inverno ameno.

O fruto (infrutescência) é muito apreciado e cultivado em diversas regiões do mundo. No Brasil, a produção se concentra na região sul (janeiro a abril) e sudeste (novembro a abril). Os frutos produzidos são destinados ao consumo in natura e para indústria. No Brasil é uma das 20 frutas mais exportadas.

A produção de figos para consumo in natura, no Sul do Brasil, é limitada pelas chuvas, que causam elevadas perdas por podridão. O uso da poda drástica retarda o início da colheita e as baixas temperaturas impedem o crescimento e a maturação dos frutos a partir do início do outono.

No Brasil

As regiões sul e sudeste são as maiores produtoras de figo no Brasil, sendo São Paulo o maior produtor de figo de mesa, enquanto que a região sul é a maior produtora de figo para indústria. Por ano, estima-se que sejam produzidas 28.253 toneladas da fruta, sendo São Paulo responsável por 38% desta produção e a região sul por mais 37%. 

A área cultivada com figo é de mais de 2 mil hectares, no entanto, o cultivo em estufa, por se tratar de uma iniciativa recente, ocupa poucas áreas. O custo da produção aumenta no cultivo protegido, no entanto, a produtividade tem grande incremento, sendo possível colher entre 41 e 43 ton/ha de frutos em cultivo em estufa, muito superior à média colhida em campo aberto, que é de 10 ton/ha.

Alternativa segura

O cultivo da figueira está sendo estudado em ambiente protegido como tecnologia para ampliar o período de colheita, elevar a produtividade e minimizar perdas de frutos.

O uso de ambiente protegido é uma alternativa para o cultivo de várias espécies em períodos desfavoráveis, como o cultivo de tomate, alface, entre outros. O cultivo de frutíferas em estufa é uma iniciativa recente no Brasil, no entanto, em outros países é uma prática frequente, principalmente devido às intempéries climáticas. 

Figos em estufas: quais os benefícios?

O cultivo protegido é uma técnica muito utilizada no mundo e favorece a produção de frutas, flores e hortaliças. No Brasil, é mais comum observar o cultivo de hortaliças em ambiente protegido e de espécies com valor agregado, como o morango.

A maior parte do figo brasileiro in natura é destinado à exportação para mercados europeus, sendo exigido um produto livre de contaminação por resíduos químicos e com elevada qualidade. Desta forma, é preciso investir em tecnologia para possibilitar o cultivo com qualidade e com menor uso de produtos fitossanitários.

No cultivo de figo, o uso do ambiente protegido auxilia na redução da perda dos frutos, que são bastante sensíveis à podridão e rachaduras provocadas por excesso de chuva e umidade. Além de reduzir as perdas, o uso de ambiente protegido proporciona a redução na necessidade de aplicações, aumenta a produtividade e possibilita a produção em períodos desfavoráveis.

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Portanto, o ambiente protegido é indicado para locais em que o período de frutificação ocorre em condições climáticas desfavoráveis, reduzindo assim as perdas e aumentando a produtividade.

Além disso, o cultivo em estufa auxilia na antecipação da maturação dos frutos, que respondem ao acúmulo de graus dias, sendo necessário o acúmulo de, em média 2.104 graus dia para amadurecer. Outra grande vantagem é a produção durante a entressafra com elevada qualidade de fruto.

Cultivares de figo

A principal cultivar produzida no Brasil é a ‘Roxo de Valinhos”, tanto para o processamento quanto para o consumo in natura. São produzidas, ainda, as cultivares Pingo de Mel, Princesa, entre outras.

Devido à maior necessidade de investimento, o uso do ambiente protegido deve ser pensado no sentido de agregar valor, como maior qualidade do produto e aumentar a produtividade, principalmente do figo destinado ao consumo in natura.

A cultivar ‘Roxo de Valinhos’ apresenta suscetibilidade a doenças, como a seca da figueira (Ceratocystis fimbriata Ell. & Halst.) e a ferrugem da figueira (Cerotelium fici), o que pode ser melhor manejado em ambiente protegido. Além disso, a podridão dos frutos maduros e perda por rachaduras são reduzidas quando a figueira é cultivada em estufa, devido à diminuição do efeito da chuva e umidade excessiva.

Manejo da produção de figos em estufas

O cultivo da figueira em estufa é uma iniciativa recente no Brasil, podendo ser realizado tanto em estufas do tipo arco como em estrutura do tipo londrina. Os cuidados e tratos culturais exigidos são os mesmos do cultivo a campo aberto, por meio da poda, adubação e cuidados fitossanitários.

No entanto, deve-se ter cuidado com o manejo da irrigação, sendo necessário a utilização de um bom sistema de irrigação para garantir o fornecimento ideal de água para as plantas.

No caso da cultivar ‘Roxo de Valinhos’, por se tratar de um material cachopo, que despensa polinização, mas que apresenta frutificação apenas nos ramos do ano, o manejo de poda é indispensável. A condução das plantas também pode ser adaptada à estrutura do ambiente protegido, por meio de podas, facilitando os tratos culturais.

Custo de produção de figos em estufas

O custo de produção em ambiente protegido é maior que o realizado em campo aberto, devido ao valor com a implantação do ambiente protegido e do sistema de irrigação. Uma estufa do tipo arco, com dimensões de 8,0 x 21 m, tem valor médio de R$ 17 mil, com vida útil da cobertura plástica de cinco anos e da estrutura de mais de 15 anos, sendo possível que 1,0 hectare de cultivo de figo tenha custo anual de pouco mais de R$ 67.400,00 se levarmos em consideração a vida útil da estrutura.

Já uma estrutura do tipo londrina, de 12 x 100 m, apresenta custo de R$ 60 mil, o que representaria um investimento de R$ 100 mil/ha, levando-se em consideração uma vida útil de cinco anos.

Comercialização

A cotação dos frutos verdes, atualmente, é de R$ 1,30/kg, enquanto que os frutos maduros são comercializados a R$ 3,00. Levando-se em consideração o cultivo em ambiente protegido em estufa tipo arco para a produção de frutos maduros, o investimento levaria um ano para ser pago, com margem bruta de 79%, considerando-se uma produtividade de 40 ton/ha.

Estes valores não levam em consideração a redução de custos com produtos fitossanitários, nem outros custos, como mão de obra, sendo apenas uma estimativa com relação ao custo da estrutura.

O custo é reduzido devido ao aumento do rendimento da cultura, que pode passar de 10 toneladas para mais de 40 ton/ha, quando cultivado sob ambiente protegido. O custo-benefício pode ser tanto devido ao aumento na produtividade quanto a possibilidade de produção em períodos desfavoráveis à cultura, sendo possível incrementar os lucros.

A oferta de frutos com maior qualidade e redução da ocorrência de doenças e, portanto, menor necessidade de tratamentos fitossanitários, são outras vantagens advindas do cultivo protegido.

Fonte: https://revistacampoenegocios.com.br