Microverdes: do sonho ao negócio

Os empreendimentos focados na produção de microverdes¹ têm crescido nos últimos meses, buscando aperfeiçoamento, diferenciação e especialização nos mercados em que atuam. Nesta matéria trazemos os mais recentes casos de sucesso no mundo dos microverdes, mostrando o quanto este mercado é promissor e ainda pode avançar como um negócio na horticultura.

Conheça o Brota: fornecendo cor e sabor em microverdes

Há pouco menos de um ano a empresa nasceu, após a ideia ter germinado nos corações do casal de cozinheiros Gabriela e Guilherme. Acompanhe a matéria onde contamos sobre esta bela trajetória, passando por mudanças de profissão, rotina e cidade.

De acordo com Gabriela, ambos trabalhavam no restaurante Olympe, do chef Claude Troisgros, quando conheceram os microverdes. Foram apresentados aos produtos da  MightyGreens e “foi amor à primeira vista e prova”, relata. Mas o negócio com microverdes se materializou de fato há pouco menos de um ano, quando o casal se mudou do Rio de Janeiro para Gramado, no Rio Grande do Sul. Com a nova rotina, Gabriela deixou o trabalho com alta gastronomia para cuidar da sua bebê. Foi então que começaram com o cultivo dos microverdes, em casa mesmo. 

Com uma mesa de germinação na sala, já no primeiro mês passaram a usar também o quarto da filha como estufa, pois a procura só aumentava.

Mesa de cultivo, adaptada em casa.

Microverdes: Negócio em pleno crescimento

Pouco tempo depois, com a demanda crescendo ainda mais, com novos investidores, passaram do quarto da nossa filha para um contêiner, onde operam nos dias de hoje.

Os novos sócios, Renata Tissot e André Pansera, também são ligados à gastronomia, sócios de restaurantes na cidade. “Chegamos até eles procurando investidores, mas encontramos muito mais do que isso, hoje botam a mão na massa, na plantação, nas entregas, na administração, vestiram muito a camisa, o que só tem contribuído positivamente para a empresa”, conta Gabriela.

Microverdes de feijão produzidos pelo Brota, em Gramado/RS

Para o pessoal do Brota, viver este mercado tem sido um despertar ecológico, em uma sociedade que tem o desafio de produzir cada vez mais alimentos para um número cada vez maior de pessoas. Eles acreditam que as fazendas urbanas podem ser uma boa resposta para este desafio, transformando cidades consumidoras em cidades produtoras e os microverdes foi o que “girou esta chave” para eles.

Leia mais sobre esta entrevista:

CH: Quais os microverdes que vocês cultivam?

BROTA: Atualmente produzimos em torno de 20 variedades de microverdes, entre elas, mostarda, rúcula, coentro, beterraba, repolho roxo e girassol.

CH: Como funciona a produção e planejamento das variedades e quantidades disponibilizadas ao público? Essa dinâmica é diferente conforme as estações do ano(ou por outro motivo)?

BROTA: Produzimos nossos microverdes em um contêiner, onde conseguimos controlar todas as variantes externas necessárias para que a planta atinja seu potencial máximo.

Controlamos a luz, temperatura e umidade durante todas as fases do cultivo. Por isso o cultivo não é afetado pelas variações típicas das diferentes estações do ano, com todos os fatores controlados conseguimos manter a produção constante o ano inteiro.

Nosso cultivo é feito em sistema de hidroponia, comercializamos nosso microverde vivo, em manta de fibra de coco, o que resulta em um produto extremamente fresco, e com todos os nutrientes intactos até a hora do consumo.

Microverdes do Brota já dispostos em ponto de venda

O planejamento das quantidades disponibilizadas é feito de acordo com a demanda, como operamos em uma cidade turística existem meses de baixa e de alta temporada, e vamos ajustando a produção de acordo com a necessidade.

CH: Quais são os microverdes preferidos pelo seu público? Para quem comercializam? De que forma?

BROTA: Temos uma boa aceitação de todos, mas os de mostarda, rúcula, coentro são os mais procurados. Hoje em dia nosso público alvo tem sido restaurantes, mercados e hotéis, mas temos um planejamento para nos aproximarmos ainda mais do consumidor final, com planos mensais e assinaturas.

Os microverdes se vendem sozinhos, além de lindos, as pessoas ficam surpresas quando experimentam, a potência de sabores é gigante, e eles realmente transformam pratos comuns em pratos de restaurantes, quando explicamos um pouco sobre os benefícios, o interesse aumenta ainda mais, é um produto incrível.

Microverdes de Manjericão em destaque

O interesse do público é tão grande que um dos restaurantes para qual fornecemos, montou uma estufa de vidro, onde os microverdes ficam expostos para que o público acompanhe os chefs trabalhando com eles.

Espaço do Restaurante SAN TAO, em Gramado/RS.

CH: Entendemos que a comunicação de vocês através das redes sociais é muito rica, com imagens chamativas e que devem impulsionar boas oportunidades de venda. Existe um planejamento para essa comunicação e divulgação?

BROTA: Atualmente não existe um canal de comunicação direta com o público tão potente quanto as redes sociais, e as usamos como ferramenta para mostrar que o consumo de um alimento limpo e super natural é possível. Mostramos os usos, como a alta gastronomia, por exemplo. Os pratos com microverdes são maravilhosos, extremamente saborosos e riquíssimos nutricionalmente.

Tentamos mostrar diariamente em fotos e vídeos nossa rotina de trabalho, e todos os ciclos de cultivo para que o público entenda de onde vem e como são produzidos os microverdes.

Visual das publicações recentes no Instagram do Brota Microverdes

CH: Como vocês percebem a aceitação do público ao mercado de microverdes no geral?

BROTA: As pessoas estão cada vez mais conscientes de que a boa alimentação é caminho para uma vida com mais qualidade, o interesse sempre é aguçado quando falamos que não utilizamos sementes transgênicas, e não fazemos uso de agrotóxicos, além disso o público tem aderido muito bem à ideia do movimento farm to table², com o conceito de aproximar o produtor do consumidor e assim, diminuir a distância que o alimento percorre para chegar até a mesa tem se difundido muito bem, o que só trás benefícios, para as pessoas e para o planeta.

Ficou interessado e quer saber mais sobre por onde começar? Então confira esta série de considerações importantes³ para o planejamento do seu negócio:

Check list para iniciar o seu negócio com microverdes

  • Montar um plano de negócios;
  • Realizar uma pesquisa de mercado: Há demanda? Terei concorrentes? 
  • Estabelecer seus canais de distribuição: restaurantes, supermercados, mercados, feiras, delivery (site, app, instagram, whatsapp);
  • Estabelecer qual sua capacidade de produção;
  • Determinar qual meu investimento inicial;
  • Entender quais serão os custos de produção: custos fixos e variáveis;
  • Atualizar dados do plano de negócios.

O mercado de microverdes vem amadurecendo nos últimos anos, com novas pesquisas nacionais e internacionais, que buscam trazer soluções no cultivo, no pós colheita, na comercialização e também nas estratégias de posicionamento do negócio em mercados locais. 

Plano de negócios: ferramenta fundamental para administrar a empresa

Conversamos com Francisco Motta Kohlmann4, que desenvolveu seu Trabalho de Conclusão de Curso neste tema. Ele criou um plano de negócios, que pode ser facilmente acessado e consumido, servindo de inspiração e base para novos negócios.

Acesse o arquivo neste link: PLANO DE NEGÓCIOS PARA UMA FAZENDA DE MICROVERDES

Francisco é Administrador de Empresas, formado pela UFRGS e teve contato com os microverdes desde a época da graduação. “Ao pesquisar sobre este mercado, percebi que não haviam muitos estudos aqui no Brasil. Sempre tive contato com a agricultura e o mercado de microverdes no Brasil pode ser muito mais trabalhado, com isso surgiu a ideia do Projeto, colocando também na prática estes conhecimentos”, contou Francisco.

Sua experiência profissional na Elysios e parceria com empresas do setor como a ISLA e a Urban Farmcy foram importantes para compreender melhor todas as nuances aplicadas no estudo. Na mesma época do seu trabalho, Francisco recorda do surgimento da Local Greens, que hoje já expandiu sua produção, o que confirma o potencial do segmento.

Local Greens, fazenda urbana em Porto Alegre/RS

“Há um tempo eu acredito profundamente na ideia de que toda cidade deve ter uma ou muitas fazendas urbanas, não só como espaço de produção de alimento, mas como lugar de troca, educação, conscientização e construção de comunidade. Foi isso que me inspirou e me deu coragem a deixar de lado a arquitetura e começar a empreender com agricultura urbana, sozinha e sem ter nenhuma experiência com negócios”, conta a arquiteta Thaís Andorffy, idealizadora da Local Greens, fazenda urbana de pequenas folhas.

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¹ Microverdes são micro hortaliças, colhidas na fase da plântula (entre 7 a 15 dias de  cultivo); também chamados de microgreens.

² Farm to Table é o conceito de consumo próximo da produção, mantendo ao máximo as características de frescor e qualidade dos alimentos e demais produtos utilizados na culinária.

³ Informações adaptadas de Curso de Microverdes, com curadoria da Pesquisadora MSc. Isabela Scavacini de Freitas.

4 Perfil Disponível em: https://www.linkedin.com/in/francisco-motta-kohlmann/

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Fonte: https://www.revistahidroponia.com.br