Qual estufa ideal para o cultivo de alface?

Qual estufa ideal para o cultivo de alface?

Luis Lessi dos Reis
Doutorado em Horticultura – ESALQ e professor – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais – Ifsuldeminas
luis.reis@ifsuldeminas.edu.br
José Augusto Pereira Neto
Discente do Curso de Bacharelado em Agronomia – Ifsuldeminas
joseaugustoap37@gmail.com

É possível observar quatro sistemas de cultivo de alface: convencional e orgânico em campo aberto, cultivo protegido no sistema hidropônico e no solo. A alface a campo no sistema tradicional é a mais adotada em termos de área e de produção, sendo necessário que os produtores fiquem localizados perto dos grandes centros urbanos, justamente pela incapacidade da alface viajar longas viagens.

Tendência ao cultivo protegido

O principal método de cultivo de alface que vem crescendo exponencialmente são os sistemas protegidos. Por ser um vegetal altamente perecível, tendo em sua constituição 96% de água, se torna sensível a mudanças edafoclimáticas.

Em temperaturas elevadas acima de 30°C, sua fotossíntese é cessada, pois essa planta, por possuir um metabolismo C3 e fotorrespiração, libera CO2 na presença de luz, por conseguinte, reduz a fixação de CO2 e o desenvolvimento de tal.

Locais onde ocorrem geadas e a temperatura permanece abaixo de 0°C inviabilizam seu cultivo neste período do ano, pela alta quantidade de água presente em suas células, fazendo com que ela congele com facilidade, trazendo danos à cultura e até matando todo o cultivo.

Uma intempérie que vem assolando diversos produtores é a ocorrência de chuva de granizo em inúmeras regiões, as quais causam danos diretos e indiretos, como redução da área fotossintética, rompimento da circulação de seiva e favorecimento da ocorrência de doenças e ataque de pragas.

Tais adversidades climáticas interferem tanto na produtividade quanto na qualidade do produto final, pois o consumidor não aceita uma folha rasgada, murcha ou necrosada em sua salada, fazendo com que, assim reduza drasticamente a rentabilidade do negócio.

Não é possível controlar o clima, apenas conseguimos prevê-lo, mas na maioria das vezes não há o que ser feito. Justamente neste aspecto entra o sistema de cultivo protegido, que consiste em uma ferramenta que torna possível controlar algumas variáveis climáticas, tais como vento, radiação solar, tipo de radiação solar, umidade do ar e temperatura.

Tal ferramenta se traduz em ganho de produtividade e redução da sazonalidade, pois é possível cultivar em todas as estações, favorecendo a oferta do produto ao longo do ano.

Como escolher a estufa para a produção

Para a tomada de decisão sobre a implantação de um sistema de cultivo protegido em uma propriedade, o produtor deverá refletir sobre os aspectos técnicos e econômicos, que farão total diferença no resultado.

Devemos tomar cuidado na escolha também da cultura, pois nem todas as hortícolas são viáveis em cultivo protegido. O ideal é optar por aquelas com um valor agregado alto ou um ciclo curto e que sejam suscetíveis a intempéries climáticas, já que o produtor irá controlar alguns no cultivo protegido.

A seguir citaremos os principais aspectos que devem ter maior atenção em um sistema de cultivo protegido:

Luminosidade

A luminosidade está diretamente ligada ao crescimento e desenvolvimento da cultura, podendo ser controlada/ajustada de acordo com o material que será utilizado para cobrir a estufa. Geralmente adota-se a lona plástica na parte superior e tela de sombreamento nas laterais.

Outro fator de suma importância é o posicionamento da estrutura no terreno, que deve ser em relação ao sol no sentido leste-oeste, para receber somente 74% da radiação solar da mesma construção orientada no sentido norte-sul, segundo a edição da Casa da Agricultura publicada em abril de 2012.

A radiação que ultrapassa o plástico da estufa se difunde muito mais que em campo, atingindo com maior eficiência a região foliar. É de suma importância a manutenção do plástico das estufas, com limpezas periódicas pela deposição de poeira, que interfere na passagem de radiação solar, podendo causar estiolamento da alface, reduzindo sua ‘cabeça’.

No mercado existem diversos tipos e cores de plásticos – um exemplo é o de coloração avermelhada, que aumenta a taxa fotossintética, por elevar os elétrons da clorofila a um estado de energia menor, chamado de primeiro singlete.

Existem inúmeras lonas para cobrir a estufa, com diferentes finalidades. O que será decisivo é o nível tecnológico e o investimento do produtor.

Temperatura

Ela tem influência direta em diversos processos da planta, como fotossíntese, respiração, transpiração, germinação e floração. No caso da fotossíntese, quando aumenta a temperatura (até certo ponto), aumenta a transpiração, e a respiração, por conseguinte, eleva a capacidade fotossintética da planta.

Cada planta tem um manejo específico de qual temperatura tolera, sem prejudicar seu metabolismo. Podemos citar as alfaces como sensíveis a temperaturas acima de 30° C, sendo ideal a cobertura nas horas mais quentes do dia.

Podem ser adotadas diversas técnicas a fim de diminuir a temperatura, como a utilização de tela de sombreamento e cortinas laterais, que permitem o resfriamento do ambiente. Também temos técnicas a fim de reduzir a temperatura do solo – podemos citar a irrigação, pois a água é isolante térmico.

Adubação

A adubação é apontada por muitos profissionais como o principal desafio e possível causa do insucesso do cultivo por manejo inadequado, causando baixa produtividade. Em qualquer ambiente, quando temos excesso ou carência de nutrientes, gera todo um desequilíbrio.

Podemos citar a Lei de Liebig (Lei do mínimo), que ressalta que as plantas carecem de uma quantidade mínima de nutrientes para que consigam completar seu ciclo, mas quando ocorre excesso, causa distúrbios na planta, podendo levar até a sua morte.

Funcionamento da estufa agrícola

A principal função de uma estufa se dá pela proteção das plantas, proporcionando a elas condições ideais para seu ótimo desenvolvimento. Tal estrutura é construída com materiais transparentes a fim de permitir a passagem de radiação.

Esta radiação aquece o solo e com este aquecimento é liberada radiação infravermelha. Tal radiação aquece as camadas inferiores da estufa, formando correntes de convecção, que são massas de ar quente que sobem e de ar frio que descem, as quais irão alocar essa massa de ar quente para as camadas superiores, formando, por conseguinte, um microclima favorável para as plantas, reduzindo a temperatura drasticamente.

Quando adotamos telado ou lona nas laterais, impedimos que a radiação infravermelha seja perdida para o meio externo.

Proteção e segurança

A grande vantagem das estufas está na possibilidade de criar um microclima, um ambiente totalmente livre das intempéries e com condições de temperatura, umidade e proporcionar a luminosidade ideal para cada hortaliça.

Essa tecnologia gera diversos benefícios, tanto ao produtor quanto ao consumidor.

● Cultivo fora de época;

● Proteção contra pragas e doenças;

● Economia na irrigação;

● Aumento da qualidade do produto;

● Redução na utilização de agrotóxicos;

● Cultivo mais sustentável;

● Aumenta a produtividade da cultura;

● Permite cultivar espécies onde o clima não é apropriado;

● Reduz o ciclo da cultura;

● Proteção contra chuvas, geadas e granizo;

● Ergonomia para os trabalhadores;

● Possibilidade de produzir e comercializar produtos diferenciados, como mini produtos/baby.

Mas, também gera algumas desvantagens;

● Elevado custo de implantação;

● Falta de informação técnica;

● Não há recomendação técnica oficial sobre o uso de defensivos e fertilizantes em cultivo protegido;

● É difícil a rotação de áreas por conta da estrutura – prática usual que ameniza a ocorrência de doenças no solo;

Estufa ideal para o cultivo de alface

No caso da alface, é importante avaliar as dimensões da estrutura da estufa, o material a ser construído e muitos outros fatores. Devemos levar em consideração diversos aspectos, tais como investimento inicial disponível, pois uma estrutura possui valor elevado, que tipo de cultivo será adotado, se será no solo ou via hidroponia.

Como a alface é uma planta relativamente pequena, possui ciclo curto e é simples de ser conduzida, podemos extrapolar uma estufa ideal, pois ela se adapta muito bem a diferentes estruturas.

O principal fator limitante seria a questão de pé direto da estufa, pois o mínimo indicado é de 3,0 metros, para que não interfira na formação de correntes de convecção ou até mesmo que a massa de ar quente não suba e queime as folhas, causando murchamento delas.

A largura da estufa dependerá da sua área e do material escolhido, não sendo indicado que cada módulo possua mais de 12 metros de largura, por dificuldade de adquirir lona plástica para a cobertura.

Já o comprimento vai da capacidade financeira do produtor e da necessidade do comércio local, pois não é ideal produzir mais do que o local requer, já que a alface não suporta transporte por longas distâncias.

Viabilidade

O custo de implantação de uma estrutura para cultivo protegido é elevado, mas com a escolha certa da cultura e a adoção de manejo adequado, tende a compensar o investimento e a oferecer retorno nos primeiros anos.

A adoção desta ferramenta de cultivo garante aumento na produtividade e na qualidade do produto e ainda oferta na entressafra. Existem, no mercado, diversas empresas que detêm tal tecnologia.

É possível adquirir uma estufa de 14 x 30 x 3,20 metros, modelo premium, por R$ 49.737,57, com seu metro quadrado custando R$ 118,42, sem os custos com mão de obra.

Fonte: https://revistacampoenegocios.com.br