Plantio de espécies florestais em locais declivosos

Plantio de espécies florestais em locais declivosos

Alehando Lopes Gamas
Bruno Henrique Novaes Mármore
Graduandos em Engenharia Florestal – Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)

Nilton Cesar Fiedler
Engenheiro Florestal, doutor e professor titular – UFES
niltoncesarfiedler@yahoo.com.br

Áreas declivosas, por sua natureza topográfica, geralmente, não atraem investimentos de agricultores, que veem na área um potencial baixo de lucratividade, devido aos custos necessários para tornar o terreno adequado ao uso e a dificuldade que se encontra para manejar a área.

Neste aspecto, florestas surgem como uma opção interessante para os produtores, que possuem uma área não indicada para a agricultura, e buscam diversificar sua fonte de renda.

Assim, a opção tem sido a integração ao seu sistema produtivo de um componente madeireiro que não necessita dos mesmos preparos onerosos de um sistema agrícola para ser implantado e, mesmo assim, proporciona um alto desempenho produtivo, além de possuir extrema importância ecológica e ambiental, sob um ponto de vista sustentável.

Áreas de declive

Para que seja possível plantar florestas em encostas, é crucial fazer um planejamento detalhado. Isso envolve escolher o melhor alinhamento para o talhão e criar um cenário ideal de logística e acessibilidade à área de plantio, para que o projeto não se torne inviável e cause prejuízos ao produtor.

Neste contexto, serão abordados os motivos para se plantar florestas, os desafios encontrados no setor e os parâmetros de planejamento que devem ser seguidos para assegurar a produtividade e rentabilidade da produção florestal.

Diminuição dos custos na fase inicial de plantio

Ao se deparar com uma região declivosa de seu terreno, o primeiro pensamento que pode passar é recorrer ao “terraceamento”. O processo consiste na divisão da zona inclinada em patamares chamados de “terraços”, visando à diminuição dos efeitos erosivos sobre o solo, causados pelo escoamento de água superficial.

Porém, esse é um preparo inicial de alto custo, que depende de um planejamento detalhado e abordagem correta de técnicas e ações para que o problema da erosão não se agrave ao tentar evitá-lo.

Pensando nisso, as florestas surgem como uma alternativa à produção agrícola, pois não necessitam desse trato.

Aproveitamento máximo da área produtiva

Ao dividir uma área de plantio em “terraços”, o produtor perde parte de sua área útil produtiva em função da necessidade de readequar seu terreno para a implantação de uma cultura agrícola.

Quando se deseja implantar espécies florestais, esse primeiro preparo não é necessário. Portanto, com florestas, o produtor pode utilizar toda a área, aumentando seu aproveitamento, e consequentemente, sua produtividade.

Complemento de renda para o produtor

De acordo com o relatório anual do IBÁ de 2022, a cadeia produtiva florestal é demarcada por sua resiliência frente a outros setores econômicos do Brasil.

Isso permite dizer que as atividades exercidas nessa área têm um risco menor de perdas e prejuízos, se comparado, por exemplo, à agricultura, por apresentar uma menor variação de seus valores e preços ao longo do tempo e mediante as alterações no cenário econômico nacional.

Portanto, pode ser dito que, apesar de seu ciclo de produção consideravelmente extenso, as florestas plantadas têm um viés comercial de considerável relevância, com a possibilidade de se explorar múltiplos produtos, sejam eles madeireiros ou não-madeireiros (frutos, óleos, resinas, fármacos e créditos de carbono).

Benefícios de se plantar floresta

A formação florestal, por si só, promove melhorias para o solo, fauna e ecossistema por meio da:

a) Formação de dossel, que diminui a área de contato do solo com as gotas de chuva ao criar uma “barreira” entre esses dois componentes, evitando erosão na área;

b) Produção de matéria orgânica via acúmulo de serapilheira na área de plantio, que contribui para o aumento na porosidade do solo, característica física associada diretamente à capacidade do solo de reter e armazenar água;

c) Reabastecimento dos lençóis freáticos, por meio da infiltração da água através do sistema radicular das árvores e dos poros do solo;

d) Sequestro de carbono e mitigação das mudanças climáticas, pois as árvores, durante seu processo fotossintético (produção de energia), fixam carbono proveniente da atmosfera (dióxido de carbono) em sua biomassa, atuando como estoque desse elemento que compõe os gases de efeito estufa (os quais causam as mudanças climáticas), prejudiciais ao planeta e a manutenção da vida humana.

Desafios do sistema produtivo

Também é interessante ressaltar que algumas dificuldades são encontradas na implantação de florestas em terrenos declivosos. A maioria delas se dá durante a fase da colheita florestal, com enfoque na produção madeireira.

Por se estabelecer em curvas de nível, o plantio depende, diretamente, do grau de mecanização da atividade. Ao se escolher um método manual ou semimecanizado de colheita, os responsáveis pela função terão que realizar a etapa do corte em situação de risco, utilizando ferramentas como motosserra, machado e serra de arco para realizar o corte.

Para extração, poderão depender de técnicas como o tombamento, argolão ou calhas, que têm sua produtividade determinada pelas condições físicas do trabalhador e agem sob a força da gravidade.

Logo, nota-se que, quanto maior o grau de mecanização presente na fase da colheita, mais indicado será o plantio de florestas em declividades, pois serão diminuídos os riscos à saúde dos operadores e ocorrerá um aumento em produtividade e rentabilidade do projeto.

Sob esse ponto de vista, antes de se plantar uma floresta em uma área declivosa, é importante analisar a viabilidade econômica da adoção de um método mecanizado de colheita. Máquinas

como Harvester, Forwarder (e variantes) e Shovel Logging podem compor a atividade, ou o método de extração por cabos aéreos, que se constitui em paralelo a um método mecanizado ou semimecanizado de corte e é uma solução para plantios em alto grau de declividade.

 Estratégias de plantio e manejo

a) Escolha de mudas e material genético: primeiramente, é fundamental escolher mudas de alta qualidade e garantir que elas tenham uma origem confiável. Isso assegura que as árvores tenham melhores chances para crescimento saudável, sob as mais diversas condições, já que para uma mesma espécie, diferentes materiais podem ser produzidos e se adaptar a múltiplas condições.

b) Eliminação de mato-competição: é necessário eliminar qualquer tipo de vegetação que possa competir com as árvores por água e nutrientes, para que o desenvolvimento do plantio não seja prejudicado e a produtividade seja resguardada.

c) Manejo de pragas: é de vital importância estabelecer o controle de pragas e vetores de doenças durante todo o ciclo de vida das árvores, para que não ocorra perda de produtividade ou até a disseminação de efeitos deletérios por todo o plantio.

d) Plano de adubação: apesar de possuírem alta tolerância às condições de acidez e baixa fertilidade do solo, árvores ainda precisam ter ao seu dispor nutrientes fundamentais ao seu desenvolvimento, como fósforo, cálcio, potássio e magnésio, que podem ser adicionados ao solo por meio de adubos minerais e/ou orgânicos, responsáveis por corrigir ou manter a qualidade nutricional do solo, que irá interferir diretamente no desenvolvimento da floresta.

e) Sistema de colheita: em terrenos de declividade elevada, há uma limitação no que diz respeito aos métodos e sistemas de colheita empregados no talhão. Por isso, o sistema será determinado pela disponibilidade de recursos do produtor. Porém, com certo grau de restrição, já que nem todo método atende aos critérios ergonômicos que garantem a saúde do trabalhador.

f) Planejamento de estradas e rotas: por se tratar de uma área de difícil acesso, elaborar de forma eficaz o percurso a ser feito durante o transporte e escoamento da madeira é o que definirá a capacidade produtiva do sistema e sua viabilidade econômica.

Vale a pena?

Plantar florestas em declividade pode ser uma atividade lucrativa, principalmente, se posta em contraste aos plantios agrícolas realizados sob as mesmas condições.

Além disso, pode ser vista como uma prática fundamental para promover a conservação ambiental e a estabilidade do ecossistema, ao proteger o solo, a água e a biodiversidade em áreas inclinadas, contribuindo para um ambiente mais saudável e resiliente.

Essa atividade é capaz de tornar uma área que antes poderia ser vista como improdutiva e degradada em uma nova possibilidade a ser explorada. E assim, ampliar suas receitas, cuidando do meio ambiente no processo.

Fonte: https://revistacampoenegocios.com.br