Glaucio da Cruz Genuncio
Doutor e professor adjunto – Universidade Federal de Mato Grosso (DFF/FAAZ/UFMT)
glaucio.genuncio@ufmt.br
O sistema de fertirrigação inteligente, ainda uma novidade no cultivo hidropônico da rúcula, permite a redução da mão de obra e de falhas humanas na elaboração da solução nutritiva, mantendo estáveis ao longo do dia os níveis de EC e pH ideais para o cultivo.
Além disso, permite o acompanhamento e controle da solução nutritiva remotamente e conta com sistema que identifica os dias mais quentes e com mais radiação solar, realizando com mais frequência o ciclo de circulação da solução nutritiva para evitar o murchamento das plantas.
Não confunda
Primeiramente, fertirrigação e hidroponia são técnicas distintas, as quais podem coexistir, caso específico da hidroponia em substrato. Uma terceira técnica, que é amplamente utilizada na indústria, é a automação, a qual vem crescendo nos últimos anos em horticultura.
Por muitos anos, o simples uso de um temporizador era considerado automação em sistemas hidropônico e fertirrigado. Entretanto, automatizar “de forma inteligente” se define pelo controle de variáveis que afetarão alguma parte do sistema de produção da rúcula.
Assim, podemos ampliar a automação no monitoramento e controle de variáveis não somente nutricionais, mas também microclimáticas, fitossanitárias e no controle pós-colheita.
Monitorar e controlar, por exemplo, a irradiância na estufa de crescimento vegetal, com a leitura e a tomada de decisão sobre a abertura e o fechamento de telas de sombreamento, associadas ao acionamento de nebulização, é uma automação importante para o cultivo protegido.
Especificamente, o monitoramento e controle automatizado das variáveis nutricionais é de suma importância. Porém, é importante ressaltar que não somente devemos usar a condutividade elétrica (EC) e pH como principais variáveis a serem monitoradas e controladas.
Nutrição de ponta
No contexto nutricional, digamos que “o céu é o limite”, uma vez que monitorar as concentrações iônicas de cada um dos 14 elementos essenciais é algo desejado, tanto entre produtores mais tecnificados como por pesquisadores de nutrição mineral de plantas.
Atualmente, monitorar pH e EC da solução drenada é o contexto da automatização, porém, a demanda de sistemas mais completos é crescente e acontecerá a curto ou médio prazos, como os sistemas existentes na Europa e nos EUA.
Benefícios da automação da fertirrigação
A rúcula é uma planta muito sensível às variações de pH e de certos íons, como o Mg e Mn. Assim, o controle automatizado do pH, próximo a 6,8 e da EC são fundamentais em termos nutricionais, para que o manejo de nutrição seja efetivo.
Portanto, monitorar e controlar de forma a reduzir erros é importante para a melhoria da produção da rúcula hidropônica.
Lembrando que a mão de obra para o manejo nutricional não será substituída na automação. Na realidade, ela deve ser capacitada tanto para o entendimento da química de soluções como misturas para evitar precipitação, EC específica de cada fertilizante, índice salino, além da taxa de injeção e avaliação sobre a possibilidade de salinização do substrato.
Enfim, a adoção da automação em fertirrigação demanda uma pessoa treinada para saber manjar a solução e entender o funcionamento do cabeçal de fertirrigação. Esta mão de obra é escassa no mercado, atualmente.
Falhas humanas
As falhas ocorrem tanto no monitoramento das variáveis intrínsecas ao manejo nutricional como no seu controle. Assim, o pH adequado para cada fase de cultivo, a EC adequada para estas fases, o nível de oxigenação do substrato, o potencial de salinização do manejo da solução nutritiva no decorrer do ciclo e o conhecimento da incompatibilidade entre os fertilizantes são, dentre outras variáveis, as principais fontes de erro humano, quando desconhecidas, consequentemente, mal manejadas.
Para evitar esses erros, é importante monitorar e controlar as variáveis supracitadas, de forma contínua e eficaz. Quanto menor a variação paramétrica, menor o erro e maior a possibilidade de a planta responder positivamente a uma produção superior à média.
Funcionalidades do sistema
O sistema de automação identifica os dias mais quentes e com mais radiação solar. Lembrando que não adianta avaliar somente o manejo nutricional, é preciso associar com o manejo microclimático.
Neste sentido, os sistemas automatizados devem se comunicar. Essa é a grande sacada para um futuro próximo. Poucos são os sistemas que têm esta base de dados interligada atualmente. Isso nos leva a afirmar que a automação ainda não alcançou a sua plenitude como processo para a produção de rúcula em sistema de cultivo protegido e fertirrigado.
O uso da tensiometria, aferindo-se os diversas componentes do potencial hídrico (ψH), como os potenciais osmótico (ψos) e de pressão (ψp), são fundamentais a serem utilizados como parâmetros para o manejo da solução nutritiva.
Porém, deve-se ter cuidado para não confundir o manejo da irrigação com o manejo de aplicação de fertilizantes. Apesar de haver uma linha tênue que separa ambos, eles devem ser avaliados e manejados de forma distinta.
Resultados na rúcula hidropônica
Pode-se considerar um acréscimo entre 20 e 35% na produtividade da rúcula hidropônica neste sistema. Lembrando que a produtividade é obtida na relação produção por área, assim, se o produtor consegue fazer mais ciclos em uma mesma área, ele pode ter uma produtividade acrescida e um ganho maior no ano agrícola.
São muitos os desafios neste cultivo, além dos custos. Hoje um cabeçal de fertirrigação pode chegar a R$ 60.000,00 para a fertirrigação, o que torna o metro quadrado de cultivo protegido alto para o cultivo da rúcula hidropônica.
Vantagens de automatizar de forma inteligente
Monitora e controla:
- Variáveis microclimáticas, nutricionais, fitossanitárias e pós-colheita
- Concentrações iônicas de cada um dos 14 elementos essenciais
- pH e EC da solução drenada é
- Abertura e o fechamento de telas de sombreamento
- Acionamento de nebulização