Detalhes do cultivo de alface mini-romana

Detalhes do cultivo de alface mini-romana

Rafael Campagnol
Doutor em Fitotecnia – ESALQ/USP e professor Adjunto – Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Campus Cuiabá/MT
rafael.campagnol@ufmt.br

Caio Souza Pereira Camacho
Graduando em Agronomia – UFMT
cayocamacho1@gmail.com

Ricardo Toshiharu Matsuzaki
Mestre em Fitotecnia – ESALQ/USP – Especialista em cultivo protegido – Rijk Zwaan Brasil
mr.matsuzaki@rijkzwaan.com

A alface (Lactuca sativa L.) é uma espécie vegetal pertencente à família Asteraceae, originária de clima temperado. Certamente, é uma das hortaliças mais produzidas e consumidas no Brasil e no mundo.

De maneira geral, as cultivares de alface se desenvolvem bem em climas amenos, com temperaturas entre 15 a 25ºC. Seu cultivo em períodos com temperaturas mais elevadas acelera o ciclo cultural e pode, dependendo do genótipo (cultivar), resultar em plantas menores devido ao pendoamento precoce.

Entretanto, alguns materiais genéticos, especialmente os desenvolvidos no Brasil, são mais adaptados às condições de clima quente, sendo indicados para os períodos do ano e/ou regiões mais quentes, o que abrange grande parte do território nacional.

Tipos de alface

No Brasil, os principais tipos de alface cultivados são: crespa, lisa e americana. Contudo, nos últimos anos, devido à maior conscientização e interesse dos consumidores por produtos mais saborosos e saudáveis, além da evolução de técnicas e tecnologias de cultivos, outros tipos de alface vêm sendo disponibilizados pelas empresas do setor de sementes e cultivados pelos produtores.

Grande parte dessas novas cultivares também apresenta maior valor agregado, contribuindo para o aumento da rentabilidade do produtor. A alface mini romana é um exemplo de maior valor agregado que vem sendo explorada por alguns horticultores.

Características únicas

As alfaces mini romanas apresentam folhas grossas e crocantes, com sabor e textura diferenciados, o que tem agradado muito os consumidores, especialmente os mais exigentes.

Seu cultivo pode ser feito em diferentes sistemas de produção, contudo, por se tratar de um produto de maior valor agregado e direcionado a um público mais exigente, que paga mais por qualidade, o emprego de algumas técnicas de cultivo são recomendadas, como o uso de mulching sobre os canteiros, malhas agrícolas, fertirrigação ou cultivo hidropônico.

Manejo

A primeira etapa para o cultivo de alface mini romana é a produção das mudas. Para cultivos no solo, as mudas são feitas em bandejas (128 a 200 células) com substrato comercial específico para mudas.

Após a semeadura, mantêm-se as bandejas em ambiente sombreado de dois até três dias. Após esse período, elas são transferidas para estufa, onde permanecem por 18 a 25 dias. Quando atingem o tamanho ideal e apresentam bom desenvolvimento radicular, as mudas são transplantadas para a área de cultivo.

Quanto ao cultivo feito em sistema hidropônico, as mudas podem ser produzidas tanto em bandejas com substrato como em espuma fenólica. Quando a hidroponia possui a fase de berçário, fase intermediária entre a fase de muda e a de crescimento final, as mudas devem ter menor tamanho, sendo principalmente produzidas em espuma fenólica (de sete a 15 dias).

Já quando não há a fase de berçário, as mudas devem ter maior tamanho, pois os perfis possuem maior altura (20 a 25 dias). Mudas pequenas transferidas para os perfis de crescimento final correm o risco de serem empurradas para o interior dos perfis pela solução nutritiva.

No caso das mini alfaces, que são materiais genéticos menores em comparação com as alfaces tradicionais, a distribuição das plantas na área de cultivo deve ser ajustada. Recomenda-se o espaçamento de 18 a 22,5 cm entre plantas e de 18 a 22,5 cm entre linhas.

A distância exata deve ser redimensionada em função do tamanho da planta desejada para comercialização. Essa distribuição de plantas deve ser muito bem pensada pelos produtores, pois ela interfere no manejo da cultura, na produtividade por área e, consequentemente, em sua lucratividade.

Para produtores hidropônicos, esse ponto é ainda mais importante, pois o ajuste da distância dos orifícios dos perfis hidropônicos é mais difícil de ser feito.

No cultivo a campo, no solo, recomenda-se o cobrimento dos canteiros com plásticos mulching. Essa técnica de cultivo reduz a necessidade de capinas e evita o contato das folhas com o solo, gerando plantas mais limpas e de melhor qualidade.

Além disso, reduz a evaporação da água do solo e, consequentemente, as grandes variações de umidade do meio radicular.

Telas de sombreamento

Outra técnica recomendada é o uso de telas de sombreamento, as quais podem ser aplicadas tanto em cultivos feitos fora quanto dentro de estufas agrícolas, especialmente em períodos com grande insolação.

A função das telas é reduzir a quantidade de energia luminosa que atinge as plantas e, assim, evitar a queima-das-folhas e o aumento da temperatura do ambiente de cultivo.

A radiação solar, quando em excesso, além de causa danos às folhas, afeta inúmeros processos fisiológicos na planta, incluindo a respiração e fotossíntese, repercutindo na redução do crescimento e desenvolvimento vegetal.

Em contrapartida, a falta de luz também deve ser evitada, pois pode causar o estiolamento das plantas e redução no seu crescimento.

Adubação

A nutrição das alfaces mini romanas não se diferencia muito da nutrição tradicional feita para as alfaces crespas. No entanto, alguns cuidados podem ser tomados, sobretudo com relação aos distúrbios fisiológicos relacionados à deficiência de cálcio e boro.

Assim, recomenda-se a aplicação de soluções contendo cálcio e boro nos dias chuvosos e frios. Em adição a esses nutrientes, vários produtores também acrescentam potássio e algum produto indutor de resistência a estresse nas plantas.

Segundo Ricardo Tarchiani, proprietário da empresa Horta Viva, o manejo fitossanitário das alfaces, especialmente as gourmet, como a mini alface romana, deve ser feito de forma rigorosa, utilizando produtos modernos, eficientes, com baixa carência e recomendados para a cultura.

O hidroponista também utiliza em sua produção diversos produtos biológicos e naturais, como Bacillus thuringiensis, Bacillus subtilis, extrato de Melaleuca alternifolia, melaço de cana, dentre outros.

Ciclo produtivo

O ciclo de cultivo da alface mini romana, como mencionado anteriormente, é dividido em duas ou três etapas, geralmente também referidas como fases. No cultivo a campo, utilizam-se duas: a fase de mudas e de crescimento final.

De maneira geral, cada uma das fases tem duração de 20 a 30 dias. Entretanto, o tempo exato pode variar de acordo com a forma de produção das mudas, distribuição das plantas na área, condições climáticas durante o período de cultivo, nutrição realizada e tamanho da planta desejada. No total, da semeadura à colheita, o ciclo de cultivo leva de 45 a 60 dias.

Em sistemas hidropônicos, principalmente o NFT (nutrient film technique), no qual a alface mini romana tem apresentado ótimo desempenho e qualidade, o ciclo de cultivo pode ser dividido em até três etapas:

1) Fase de muda ou germinação;

2) Fase de berçário ou intermediária;

3) Fase de crescimento final.

Quando há a fase intermediária, os períodos para cada fase são, respectivamente, 7 a 15 (mudas), 10 a 15 (intermediária) e 15 a 20 dias (crescimento final). Quando não há fase de berçário, a duração das fases é semelhante às do cultivo à campo, 20 a 30 (fase de muda) e 20 a 30 dias (fase de crescimento final).

No final do ciclo, quando as plantas atingem o tamanho adequado, é desejável que não haja solo exposto, bem como as plantas não estejam estioladas devido à competição por luz. Isso indica que foi feita uma adequada distribuição das plantas na área e se obteve uma boa produtividade.

Colheita

A colheita das plantas deve ser feita em períodos frescos do dia, quando as plantas estão bem túrgidas. Muitos produtores realizam esse processo de madrugada, ou nas primeiras horas do dia.

As plantas produzidas no solo são colhidas sem o sistema radicular. Já as cultivadas em hidroponia, dependendo do tipo de embalagem, podem permanecer com suas raízes. Folhas amareladas e com lesões (geralmente as folhas mais velhas) devem ser retiradas.

Por se tratar de um produto de maior valor agregado em relação às alfaces tradicionais e direcionado a um público mais exigente, o uso de embalagem modernas e diferenciadas é recomendado.

Comercialização

Além das embalagens plásticas tipo cone, muito comuns para hortaliças folhosas hidropônicas, as alfaces mini romanas podem ser comercializadas em embalagens de plástico PET transparente ou em bandejas (plástico, papelão ou isopor) cobertas com filme de PVC.

A alface mini romana também pode ser comercializada na forma desfolhada, ou seja, as folhas são destacadas, higienizadas e acondicionadas (sozinhas ou em mistura com outras hortaliças folhosas) em sacolas plásticas seladas.

Fonte: https://revistacampoenegocios.com.br