Manejo de doenças em viveiros florestais

Manejo de doenças em viveiros florestais

Cristiane de Pieri
Bióloga, doutora em Proteção Florestal – UNESP e especialista em Fitopatologia e Entomologia – AgroEfetiva
pieri_cris@yahoo.com.br

Érika Cristina Souza da Silva Correia
Engenheira agrônoma, doutora em Agronomia e professora – Centro Universitário Sagrado Coração (Unisagrado)
erika.correia@unisagrado.edu.br

Dados publicados no Relatório Anual 2022 da IBA (Indústria Brasileira de Árvores) apontam que o setor de florestas plantadas no Brasil ocupa uma área de 9,93 milhões de hectares.

Essa área está distribuída entre os Estados de Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Entre as espécies de árvores plantadas encontra-se principalmente o eucalipto (75,8%), o pinus (19,4%), e ainda outras espécies, como a seringueira, a acácia, a teca, o paricá, etc. (4,8%). 

As mudas

O viveiro, devido às suas características, reúne uma série de condições ambientais associadas à fisiologia do hospedeiro que favorecem a instalação e o desenvolvimento de pragas e doenças.

A água em abundância, além de condições de umidade relativa do ar, temperatura, o substrato esterilizado, o tecido vegetal tenro, a proximidade das mudas (espaçamento) e o cultivo contínuo da mesma espécie são fatores que predispõem o aparecimento e favorecem o desenvolvimento de doenças fúngicas neste ambiente.

O manejo correto destes fatores é fundamental para a prevenção e controle das pragas e doenças, especialmente em viveiros florestais.

O futuro da floresta

Viveiros são berçários de mudas que chegarão no campo e se tornarão árvores em poucos anos. O ataque por pragas e doenças acomete as plantas desde a fase de viveiro até a adulta.

Deste modo, as mudas, quando chegam ao campo, precisam apresentar sanidade vegetal, pois se chegarem ao campo com problemas fitossanitários, estes podem se alastrar nos plantios ou ainda perdurarem durante todo o seu desenvolvimento, quando levam à morte, acarretando prejuízos ao produtor. Por isso a preocupação com viveiros florestais deve ser de extrema importância.

Cuidados em cada fase

Cada fase de desenvolvimento da muda pode ter uma maior ou menor ocorrência de fitopatógenos, que pode ser verificada pelos sintomas e sinais característicos de cada patógeno.

Os fungos estão entre os principais microrganismos causadores de doenças em viveiros de espécies florestais. Para o eucalipto, as bacterioses merecem atenção, principalmente na fase de viveiro.

Patógenos

Dentre os principais patógenos que acometem plantas em viveiros estão os fungos:

– Mancha de cilindrocladio, causada pelo gênero Cylindrocladium spp.: causam a podridão de estacas e manchas foliares. Os sintomas observados em estacas são lesões escurecidas com aspecto úmido, provocando muitas vezes o anelamento do coleto, com consequente murcha e morte das plântulas.

As manchas nas folhas apresentam-se com coloração marrom clara a escura, que se formam no ápice foliar ou nas bordas. A alta intensidade desta enfermidade se dá por condições de alta umidade em viveiros.

Botrytis cinerea, conhecido popularmente como mofo cinzento: ataca normalmente tecidos jovens da parte aérea, podendo ocasionar o tombamento na fase de plântula, quando adulta.

Os sintomas podem ser observados na haste principal, com coloração escura, sendo por vezes possível identificar o aspecto de “mofo cinzento” – hifas vegetativas e reprodutivas do patógeno, enovelamento das folhas, queima, seca e queda de acículas, podridão foliar, seguido de ressecamento e queda.

Condições com umidade relativa acima de 80% e temperatura média de 25 °C, além de alta densidade nos canteiros, são condições que favorecem a germinação e desenvolvimento do patógeno.

Sua dispersão ocorre pelo vento, por gotas de água através da aspersão e pelo uso de substrato contaminado com as estruturas de resistência do fungo, os chamados escleródios.

Rhizoctonia sp., causador da podridão de estacas em viveiros (mela), tanto em jardim clonal quanto em casa de vegetação/enraizamento. Dentre os principais sintomas estão a podridão de raízes, provocando o tombamento das mudas e a queima das folhas.

Normalmente, os sintomas característicos encontram-se em reboleiras. Assim como o anterior, este patógeno também produz estruturas de resistência. Cuidados com restos culturais e substratos/solo no plantio devem ser tomados, além da limpeza e desinfestação das estacas e estufas.

Outros problemas

Outros patógenos que também causam sintomas de tombamento de mudas ou damping off são os gêneros Fusarium (principalmente em viveiros de seringueira) e Phytophthora, que causam morte de plântulas antes ou após a emergência, podridão em raízes tenras e jovens, sintomas de murcha e amarelecimento das mudas.

Dentre as principais fontes de inóculo, encontram-se semente contaminada, substrato e/ou solo, água de irrigação e recipientes contaminados.

Em viveiros de mudas de guanandi é possível encontrar o fungo Sclerotium rolfsii causando podridão do colo. Essa doença possui grande impacto na produção desta espécie, causando perdas de plântulas em estágio inicial, principalmente nos canteiros de germinação.

As ferrugens, como Austropuccinia psidii e Olivea neotectonae, são outro grupo de doenças que atacam mudas em viveiros. Sua principal sintomatologia são pontuações cloróticas em folhas, seguida da formação de pústulas de coloração amarela alaranjada (propágulos reprodutivos do fungo) sobre os tecidos. Causam desfolha, deformações, necroses, hipertrofias, minicancros, morte e seca dos tecidos afetados.

A antracnose e a cercosporiose estão entre os patógenos foliares que causam manchas escuras nas brotações das folhas e deformação em folhas jovens e manchas circulares, acinzentadas, de contorno escuro e com pontuações enegrecidas ao centro, respectivamente.

Na seringueira

Para viveiros de seringueira, deve-se ter atenção especial com a presença do mal-das-folhas (Microcyclus ulei = Pseudocercospora), que causa intensa desfolha em mudas, podendo causar a morte ou necrose das partes jovens das plantas.

Outro fungo bastante comum encontrado em viveiros florestais é o oídio, principais gêneros Oidium spp. e Erysiphe sp.. Também atacam folhas e brotações, diminuindo a área fotossintética. Sua sintomatologia é bem característica, com crescimento de uma película esbranquiçada sobre as folhas.

Dentre as fitobactérias, encontram-se a mancha foliar bacteriana causada pelos gêneros Xanthomonas sp. e Pseudomonas sp. As folhas infectadas adquirem lesões angulares irregulares e internervurais, com aspectos encharcados (sintomas típicos de anasarca), de coloração marrom clara a marrom-escura na face inferior do limbo.

Também, Ralstonia solanacearum causa mancha foliar necrótica da parte baixeira em plantas de jardim clonal, acarreta em alto índice de mortalidade de mudas e com ataque severo é possível observar a presença de pus bacteriano em pecíolos e caules.

Atenção à proximidade entre as mudas nas bandejas e ao intenso molhamento foliar das mudas, propício para o desenvolvimento da bactéria, que é facilmente dispersada pela água.

Nematoides

Além de fungos e bactérias, principalmente os nematoides-de-galhas (Meloidogyne spp.), Pratylenchus sp. e Rotylenchulus sp. podem causar doenças em viveiros florestais, sobretudo em viveiros de mudas de seringueira.

São patógenos que atacam as raízes. Desta maneira, impedem a absorção de água e nutrientes, causando amarelecimento e murcha das mudas, podendo levá-las à morte.

Manejo

A seguir, entenda as práticas que têm sido eficientes no controle fitossanitário:

– Práticas culturais, físicas, químicas e biológicas, como o recolhimento de restos vegetais infectados ou não (poda, estaquia, desfolha, etc.);

– Produção de mudas em tubetes ou semeadura em bandejas de isopor devidamente esterilizados em submersão de água quente (70ºC por três minutos) e/ou com solução de hipoclorito de sódio a 2%, solução de fungicidas e inseticidas;

– Atenção ao uso excessivo de água;

– Densidade das mudas;

– Profundidade das sementes;

– Fertirrigação ou adubação adequada;

– Uso de substratos comerciais livres de patógenos;

– Sementes sadias;

– Estruturas de proteção com tela de malha estreita para impedir, nas fases iniciais da produção, a entrada de insetos;

– Uso de tela do tipo sombrite na parte interna da casa de vegetação para reduzir a evapotranspiração;

– Tubetes e/ou sacolas plásticas devem ser colocados em suportes/bancadas acima do solo (canteiros suspensos), evitando o contato com este;

– Sobre o solo, indica-se a colocação de brita;

– Evitar o estresse das plantas (temperatura, regime hídrico e nutricional);

– Controle de plantas invasoras;

– Limpeza de ferramentas;

– Uso de fungicidas recomendados;

– Controle biológico com antagonistas e, ainda, o uso de ectomicorrizas e endomicorrizas, rizobactérias promotoras do crescimento em substratos de produção de mudas, auxiliam no processo de defesa da planta a nematoides e outros patógenos do solo.

Essas são algumas das recomendações importantes no controle de doenças em viveiros. Lembrando que é necessária a inspeção periódica nas mudas do viveiro, avaliando o aspecto delas, o estádio de desenvolvimento e, se necessário, a amostragem do material doente para análise.

Dessa forma, o bom monitoramento leva a um diagnóstico precoce e medidas de controle podem ser adotadas de forma preventiva a uma possível epidemia.

Fonte: https://revistacampoenegocios.com.br