Risely Ferraz Almeida
Doutora e professora – MBA Agronegócio USP/ESALQ
risely.ferraz@gmail.com
O desbalanço da fertilidade do solo pode inviabilizar uma área agrícola devido à baixa ou alta disponibilidade de nutrientes catiônicos (por exemplo: cálcio, magnésio e potássio) e aniônicos (por exemplo: fósforo e enxofre) no solo, que são essenciais para o desenvolvimento das plantas.
O desbalanço de nutrientes no solo promove uma competição entre eles pelos sítios ativos de absorção. A interação mais conhecida na literatura é entre o potássio, cálcio e magnésio, ambos macroelementos essenciais para o desenvolvimento das plantas.
O aumento na disponibilidade de potássio (K+) na solução do solo causa a diminuição na absorção de cálcio (Ca2+) e magnésio (Mg2+) pelas plantas, porque o potássio compete e ocupa os sítios ativos de absorção. Por isso, a aplicação de altas doses de fertilizantes ou corretivos de acidez que contêm potássio pode influenciar na deficiência de magnésio e cálcio em plantas cultivadas.
Assim, o equilíbrio dos nutrientes no solo é essencial para otimização da adubação visando uma máxima produtividade das culturas e rentabilidade da produção.
Importância da análise do solo
A análise do solo é uma ferramenta composta por um conjunto de procedimentos utilizados para diagnosticar a condição física, química e biológica do solo. Na análise química do solo é diagnosticada a quantidade de nutrientes no solo (macro e microelementos) e a disponibilidade de alumínio e hidrogênio, além do valor do pH.
A partir desse resultado, é diagnosticada a condição do solo e, caso necessário, é realizada a correção da acidez e da disponibilidade de nutrientes de acordo com a necessidade da planta a ser cultivada.
Em geral, os solos tropicais (como os do Brasil) são caracterizados pela baixa fertilidade natural do solo, devido aos baixos conteúdos de bases, como cálcio, magnésio e potássio e alta disponibilidade de alumínio e hidrogênio.
Além disso, devido às condições climáticas, os solos tropicais também apresentam um baixo aporte de matéria orgânica. Essas condições fazem com que a análise do solo seja essencial para a devida correção da acidez do solo e adubação para uma máxima produtividade das culturas e rentabilidade da produção.
Sem errar
A amostra do solo precisa ser representativa da área a ser cultivada e, por isso, a importância da adoção de procedimentos adequados de coleta de amostras.
Inicialmente, é necessário um plano de amostragem com a divisão da área a ser amostrada em glebas, com condições do solo e ambiente uniformes em relação às condições de relevo (várzea, coxilha, encosta de morro, baixada ou terreno plano), cor (vermelha, amarela, clara, cinza ou preta), textura (argilosa ou arenosa), vegetação anterior (mato, capoeira, potreiro ou terra cultivada) e manejo (calagem e adubação anteriores).
Essa divisão é extremamente importante. Caso realizada de forma indevida, pode impactar no resultado do manejo da fertilidade e, consequentemente, na performance da planta.
Cada gleba deve ter um tamanho de até 20 hectares, com a coleta de uma amostra simples em 15 a 20 locais, escolhidas ao acaso e coletadas em zigue-zague. Essas amostras simples são misturadas para formar uma amostra composta, que é direcionada para um laboratório para a análise do solo.
Adubos em excesso ou em escassez
Os principais problemas causados pelo excesso ou escassez são o desbalanço dos nutrientes no solo e os impactos que podem causar ao meio ambiente.
Um exemplo é o nitrogênio, elemento essencial para as plantas que pode ser encontrado de forma aniônica (nitrato) e catiônica (amônio) no solo, caracterizado como um elemento fundamental para o metabolismo vegetal devido à participação na biossíntese de proteínas e clorofila.
A ausência do nitrogênio no solo pode diminuir o desenvolvimento da planta, com a incidência de sintomas de deficiência, como a clorose foliar. No entanto, aplicações de altas doses de nitrogênio no solo podem promover o desbalanço no solo, além da possibilidade de ser perdido para o ambiente na via aquosa, pela lixiviação na forma de nitrato ou via gasosa, pela volatilização na forma da amônia e/ou a perda do nitrogênio por emissão do óxido nitroso (N2O).
Nas atividades agropecuárias, a perda de nitrogênio na forma de nitrato pode promover a contaminação das águas. Isso acontece porque o nitrato no solo está na forma de um ânion, que é fracamente retido nas cargas positivas do solo.
Então, quando aplicadas doses elevadas de nitrogênio no solo, parte do nitrogênio pode ser perdido via nitrato, causando a eutrofização dos rios, ou seja, o enriquecimento da água por nutrientes, que favorece a proliferação exagerada de algas e plantas aquáticas.
A perda de nitrogênio, com a emissão do N2O, também é um problema ambiental. Uma vez que este é um gás de efeito estufa, ele contribui para as mudanças climáticas. O N perdido em forma de N2O ocorre em solos em condição de anaerobiose, ou seja, quando eles estão encharcados.
Consequências de não realizar a análise do solo
As consequências de não realizar a análise de solo antes do plantio estão relacionadas ao manejo indevido das doses de fertilizantes, que podem ser maiores ou menores que o necessário. Se as doses dos fertilizantes forem maiores, essa decisão vai impactar nos custos de produção, diminuindo a lucratividade da produção.
Ressalta-se que os insumos agrícolas, como os fertilizantes, correspondem à maior parte do custo variável na atividade agrícola. Além disso, pode ocasionar um desbalanço na quantidade de nutrientes no solo.
Por outro lado, se as doses dos fertilizantes forem menores, as plantas não terão a disponibilidade suficiente de nutrientes no solo, reduzindo a produção agrícola e a rentabilidade da atividade rural.
Desequilíbrio nutricional x fitossanidade
As plantas em desequilíbrio nutricional são menos resistentes à incidência de pragas e doenças. Portanto, solos com teores adequados de matéria orgânica e com teores de nutrientes balanceados contribuem para o crescimento de plantas mais vigorosas, com mais resistência às pragas e doenças.