Daniela Aparecida Teixeira
daniela.teixeira@hotmail.com
Jordany Aparecida de Oliveira Gomes
jordanyoliveira327@gmail.com
Doutoras em Agronomia/Horticultura – UNESP Botucatu
O sistema orgânico de produção tem como premissa o aumento e/ou a manutenção da matéria orgânica no solo, pois são esses níveis que favorecem o crescimento de microrganismos benéficos, que mantêm a fertilidade e a integridade do solo, características primordiais para estabelecer o cultivo de qualquer cultura.
De acordo com a Lei nº 10.831 de 23 de dezembro de 2003, “um sistema orgânico é caracterizado como sendo todo aquele que adota técnicas específicas, mediante a otimização do uso dos recursos naturais e socioeconômicos disponíveis e o respeito à integridade cultural das comunidades rurais, tendo por objetivo a sustentabilidade econômica e ecológica, a maximização dos benefícios sociais, a minimização da dependência de energia não-renovável, empregando, sempre que possível, métodos culturais, biológicos e mecânicos, em contraposição ao uso de materiais sintéticos, a eliminação do uso de organismos geneticamente modificados e radiações ionizantes, em qualquer fase do processo de produção, processamento, armazenamento, distribuição e comercialização, e a proteção do meio ambiente”.
Diversificação
Outra característica importante é a diversificação da produção, que se opõe ao cultivo convencional, onde há o predomínio de monocultivos. Na agricultura orgânica, todas as técnicas seguem preceitos.
No caso da adubação, há uma preocupação em proteger os solos com matéria orgânica, obtida de restos de vegetais, restos da própria cultura e esterco animal que esteja livre de sementes de espécies que possam vir a competir com a cultura de interesse.
Já o controle de pragas e doenças é realizado com métodos alternativos, como caldas ou produtos comerciais indicados para essa finalidade e permitidos pela legislação ou biológicos, uso de cultura-armadilha, etc. Para eliminar plantas espontâneas, o recomendado é a capina, que, dependendo da cultura, pode ser manual ou mecanizada.
Agregado de valor
Na comercialização desses produtos, para agregar valor, ter rastreabilidade e maior confiabilidade do seu produto no mercado, o produtor deve procurar pela certificação, que pode ser por uma auditoria realizada por uma empresa Certificadora, Sistema Participativo de Garantia e Organização de Controle Social (OCS) e venda direta.
No Sistema Participativo, quem executa a fiscalização são grupos compostos pelos próprios agricultores, técnicos e consumidores. Uma OCS é um grupo, associação, cooperativa ou consórcio que fornece um documento de conformidade de produção orgânica participativa, onde se encontram os dados do produtor e da produção.
Se o agricultor optar por este método, deve ter ciência de que não receberá o selo do SisOrg e, sendo assim, não está autorizado a comercializar para terceiros.
Benefícios do cultivo orgânico
Os benefícios de optar por um cultivo que priorize a saúde, não só de quem virá a consumir esses alimentos, mas também de quem o produz, além de todo ecossistema ambiental, são os pontos básicos dessa prática. A seguir, citaremos algumas vantagens de como essa forma de fazer agricultura é benéfica para todos os envolvidos.
• Livre de agrotóxicos: não é permitido pela legislação o emprego de pesticidas sintéticos;
• Conservação de solo: por meio de rotação de culturas, cobertura vegetal, plantio direto, adubação verde, pousio, etc., são melhorados os teores de matéria orgânica no solo, o que garante maior fertilidade, menores temperaturas, maior umidade, etc.;
• Qualidade de vida: proporciona melhores condições de trabalho e segurança para o agricultor, além de retorno financeiro, visto que são produtos com maior valor agregado;
• Preservação do meio ambiente e biodiversidade: os produtos utilizados no cultivo convencional, diferente dos que são utilizados no orgânico, podem contaminar o solo, os recursos hídricos, florestas, animais, além de atingir insetos benéficos, como os polinizadores, que estão intimamente ligados à produção de uma diversidade de culturas de interesse econômico;
O caso do pimentão
Um importante fator na agricultura orgânica é enxergar o sistema ‘solo planta’ como um organismo, ou seja, se forem fornecidos os nutrientes que o vegetal necessita, seguindo as exigências específicas de cada um e o solo não estiver em boas condições físicas, químicas e biológicas para disponibilizar esses nutrientes, não haverá produção satisfatória.
Desde 2001, em estudos realizados no cultivo convencional do pimentão, foram constatadas evidências de irregularidades na utilização de insumos agrícolas, principalmente para controle de pragas e doenças.
Os dados são preocupantes. Para se ter uma informação mais específica, a ANVISA, em levantamento em 2017/18, constatou que essa hortaliça-fruto alcançou 82% de resíduos impróprios para o consumo, o que quer dizer que, a cada dez pimentões comercializados, oito apresentavam risco de intoxicação para o consumidor.
Portanto, uma produção alternativa que apresente alternativas para amenizar esse problema se faz necessária, e a agricultura orgânica possui as ferramentas necessárias para ajudar a solucionar essa questão.
Visão macro
Dentre as hortaliças mais importantes no mercado, o pimentão tem destaque, tanto a variedade verde, amarela, laranja, vermelha, quanto a roxa. Além da sua importância nutricional e para o mercado consumidor, é a quarta hortaliça mais cultivada do mundo (3.904.349 hectares), perdendo apenas para batata, tomate e cebola, respectivamente.
Em 2018, a oferta de pimentão teve uma queda de 11,91% em relação a 2017, quando se comercializaram nos entrepostos 81.104,05 toneladas. Evidentemente, essa queda na produção teve reflexo direto no preço do produto, que foi 4,2% superior, passando de R$ 2,91/kg em 2017, para R$ 3,03 kg em 2018.
Em 2019, ocorreu queda da produtividade novamente, totalizando 71.445,09 toneladas, e ao contrário do esperado, houve também queda nos preços nos entrepostos. Referente a 2018, a queda foi de 15,17% e de 27,00% quando comparado a 2017.
Com relação ao consumo interno, a forma in natura é a mais consumida e a forma desidratada fica restrita à indústria de condimento/tempero, como a páprica em sopas de preparo instantâneo e em molhos.
Pimentão orgânico
Em relação ao cultivo orgânico dessa hortaliça-fruto, a produtividade média é 16 mil kg/ha, o que confere ao produtor bom retorno financeiro. As cultivares que têm proporcionado esse retorno nesse sistema de produção são os híbridos, em especial o Magali e o Magali R.
Estima-se que, no Brasil, sua produção seja de aproximadamente 290 mil toneladas em uma área de 13 mil hectares, sendo os principais Estados líderes de produção: São Paulo (SP), Minas Gerais (MG), Bahia (BA) e Rio de Janeiro (RJ).
Por onde começar
O pimentão, da família Solanáceas, mesma do tomate, mostra algumas similaridades no cultivo e, por esse motivo, além das questões fitossanitárias, uma cultura nunca deve ser utilizada em sucessão à outra.
Com relação à temperatura, por se tratar de uma espécie originária de clima tropical, tem necessidade de temperaturas nas faixas 20 a 25°C, embora possa ser cultivado até 30°C. Acima dessa temperatura ocorrerá redução dos frutos e abaixo de 10°C não haverá possibilidade de se produzir no cultivo orgânico.
A taxa de umidade ideal fica entre 50 e 70%, sendo recomendável manter a umidade relativa (UR) de forma artificial com a irrigação, caso na região seja ou esteja menor que esse índice.
A melhor época de cultivo recomendada varia de acordo com a região. Em altitudes inferiores a 400 m e com inverno ameno, a recomendação é que o cultivo seja conduzido o ano todo, com a semeadura em fevereiro a abril.
Na região norte, de abril a julho, na região sul a época indicada para o plantio ocorre entre os meses de setembro e fevereiro, no sudeste entre agosto e março, na região nordeste de maio a setembro e no centro-oeste entre agosto e dezembro.
Mudas
Os recipientes indicados para produção de mudas são bandejas com 128 células, ou tubetes. Copos plásticos, com perfuração no fundo para drenagem, podem ser utilizado como um recipiente alternativo na produção familiar.
Com relação à indicação de substratos para produção das mudas, é muito importante ter conhecimento que um bom substrato deve ter propriedades físico-químicas adequadas, para proporcionar, além de uma boa drenagem, a quantidade de nutrientes necessária para o desenvolvimento dessa semente, além de estar isenta de fitopátogenos.
A forma mais assertiva de se conseguir esse produto é com a utilização de mistura de diferentes substratos. No caso da cultura do pimentão, seria a mistura de esterco bovino ou húmus de minhoca (fornecedores de nutrientes) e a casca de arroz carbonizada (condicionante físico).
Após a escolha do recipiente e do substrato, as sementes são plantadas a aproximadamente 0,5 cm de profundidade e cobertas com substrato. A germinação ocorrerá entre oito e 10 dias.
Esses recipientes devem acondicionados em locais arejados e com controle da umidade. Casas de vegetação são os ambientes mais adequados para fornecer essas particularidades essenciais ao desenvolvimento inicial do vegetal, que estará pronto para ir a campo quando as mudas atingirem em torno de 15 cm.
A área onde as mudas serão transplantadas têm a necessidade de capina, quando da presença de espécies espontâneas no local. O composto orgânico (1,0 kg/cova) deve ser incorporado às covas antes do transplante das mudas e os solos indicados são com o pH variando entre 5,5 até 7,5.
Já o espaçamento entre plantas recomendado varia de 40 a 60 cm, e entrelinhas pode ser mais adensado, com 60 cm, ou mais espaçado, com 120 cm. Outro fator importante é que esse cultivo necessita ser tutorado quando atingir a altura de 30 cm. Esse tutoramento pode ser feito com estacas de madeira, bambu e até mesmo barbante.
Irrigação e luz
A irrigação indicada é por gotejamento, podendo também ser utilizada a aspersão, porém, com certa precaução, por conta das doenças fúngicas. Nunca deixar a área dos canteiros com excesso de umidade, pois a mesma reflete na queda prematura dos primórdios foliares.
Apesar de ser classificada como uma espécie de fotoperíodo neutro, o excesso de radiação direta pode ser prejudicial, sendo recomendado o uso de telas de sombreamento para que não ocorra a queima foliar. Esse uso é indicado apenas para o excesso e com sombreamento parcial, pois se for feito em excesso, acarretará no abortamento de flores.
Quando as plantas são expostas a altas temperaturas e UR baixa, pode ocorrer infestação por ácaros, que são pragas de difícil controle.
Tratos culturais
Deve-se realizar a capina manual, em faixa, lateralmente às plantas, mantendo-se uma faixa de vegetação nativa de 30 cm nas entrelinhas de plantio. Importante não realizar amontoa, que pode favorecer o aparecimento de doenças. A desbrota deve ser realizada com a eliminação de brotações secundárias à do ramo principal.
Importante lembrar que, no manejo orgânico, o combate a pragas doenças é realizado de forma preventiva, ou seja, com a adequada nutrição e pelo equilíbrio ecológico entre os diversos macro e microrganismos do agroecossistema.
Manejo nutricional
Para qualquer tipo de cultivo, em qualquer localidade, a recomendação de adubação só deverá realizada após da análise química do solo e consulta a um engenheiro agrônomo ou técnico agrícola.
No cultivo convencional são realizadas adubações sintéticas com as formulações, mas também são muito comuns adubações mistas, com a incorporação de compostos orgânicos para elevar a matéria orgânica dos solos.
Na produção orgânica, a recomendação geral seria de composto orgânico na proporção de 3:1 de material vegetal e estercos, complementado com fosfato de rocha natural, seguido de adubações de cobertura com bokashi, aos 30, 60 e 90 dias após a cultura ser levada aos canteiros ou vasos.
Os compostos de origem orgânica, além de favorecerem o solo, são empregados como fonte rica em N. Há diversos estudos com tomateiro, por exemplo, relatando incremento de 25% na produção com a utilização de lodo de esgoto.
Adubação verde
A cobertura morta, por exemplo, para diversas culturas, inclusive para o pimentão, tem bons resultados e é facilmente empregada em cultivos de plantio direto, onde se conduz a cultura sobre os restos vegetais de adubos verdes, por exemplo, que proporciona liberação de nutrientes, maior umidade e supressão de espécies espontâneas, etc.
A técnica vem complementando a rotação de culturas, e estudos mostram que ocorre elevação nos índices de produtividade. Utilizando outra fonte orgânica, no caso o esterco de galinha, a recomendação seria de adubação de cobertura após 30 – 45 de transplante e depositado ao redor da cova.
Atenção para realizar uma leve incorporação e para que não haja contato com o tecido vegetal para não danificar as plantas. O biofertilizante líquido também é uma boa pedida, principalmente aqueles que levam em sua composição farelos de soja, torta de mamona, etc.
A forma e a frequência de aplicações são: 200 ml por planta a partir dos 30 dias até o início da frutificação.
Manejo fitossanitário
O uso indiscriminado e a carência de produtos específicos e eficientes para a cultura tornam essa questão a mais problemática para os produtores. Além dos grandes perigos de intoxicação dos aplicadores, há os riscos de contaminação dos consumidores e de todo o ecossistema local, e consequentemente, aumento nos custos de produção.
Sendo assim, o que mais tem sido recomendado para a cultura são o manejo integrado de doenças e de pragas, que visa o manejo preventivo em substituição ou associação ao curativo. Para tanto, é preciso conhecer as doenças e seus mecanismos de ação para poder identificar e utilizar a técnica de forma apropriada.
Entre as pragas mais comuns que apresentam maiores problemas para a cultura, chegando a gerar perdas significativas, tem-se o ácaro rajado Tetranychus urticae (Tetranychidae), que ocorre principalmente nas regiões de clima quente e seco, devendo-se redobrar a atenção em cultivos em estufas.
Outras pragas que também merecem atenção são o ácaro-branco (Polyphagotarsonemuslatus), a mosca-branca (Bemisiatabaci), o pulgão verde (Myzus persicae) e os tripes (Frankliniella schultzei e Thrips palmitodas), relacionadas a perdas e danos diretos e indiretos à cultura.
Atenção especial à presença de mosca-branca, pulgão e tripes, pois são vetores de viroses e acometem não só essa cultura, trazendo perdas significativas inclusive para o tomateiro.
Tendo em vista todas as questões apresentadas sobre o tipo de cultivo e de cultura, as indicações de controle seriam a utilização de controle cultural, com rotação de culturas, uso das plantas inseticidas, armadilhas adesivas e principalmente, o emprego de variedades resistentes. Extratos botânicos de pimenta-do-reino com alho e sabão também podem ser utilizados para qualquer tipo de praga.
Alternativas
A doença com maior problema para essa cultura nesse sistema é a antracnose, porém, não tem apresentado riscos. Na eventualidade de sua ocorrência, a utilização de calda bordalesa pode oferecer boa resposta.
Como já citamos sobre o controle preventivo, vale salientar que, pertencente à mesma família que o tomate e a batata, as áreas com essas culturas onde houve incidência de murchadeira (bacteriose), locais de umidade excessiva devem ser evitados para não favorecerem o aparecimento da doença.
Muita atenção a locais com incidência de viroses, pois estas acabam sendo um limitante para o cultivo. Voltamos a enfatizar aqui a importância de utilizar variedades resistentes para o controle dessas viroses.
Alguns produtores utilizam o extrato botânico de primavera (Bougainvillea glabra) no controle dos vetores e também calda sulfocálcica, tanto para ácaros quanto para ferrugem.
Colheita
A colheita é realizada aos 80 dias, no caso do pimentão verde, 100 dias para o vermelho e 120 dias para o amarelo, estes últimos com maior valor agregado de valor no mercado, sendo até 50% maior.
Investimento inicial e rentabilidade
Por se tratar de uma cultura que apresenta problemas com doenças e não haver produtos de grande eficácia para o controle, principalmente na produção orgânica, a utilização do cultivo em estufas é uma alternativa, que apesar do investimento inicial, demonstra viável.
Algumas tecnologias já são empregadas visando o aumento na produção dos frutos, como por exemplo telas aluminet e nebulização. Além do aumento no número dos frutos, há também incremento no tamanho e na qualidade, o que resulta em maior valor na hora da comercialização.
Tendo em vista essas vantagens, apresenta-se uma simulação com estrutura utilizada para a produção no interior de São Paulo, onde é elencada a relação custo/benefício para uma estufa de 1.024 m2 com dimensões de 16 m x 64 m, arcos treliçados, e arcos e pés direitos em aço galvanizado – investimento de R$ 60 mil, financiado a juros de 3% ao ano.
O valor anual da estufa = R$ 70.846,77 / 10 anos = R$ 7.084,68, instalação mais os juros.
Após adquirir a estrutura/instalação, o próximo cálculo é sobre a mão de obra empregada. Para um cultivo em estufa de 1.500 m2, um funcionário é capaz do conduzir a lavoura, então: soma-se o salário + bônus + encargos: R$ 1.150,00 + R$ 300,00 + R$ 250,00 = R$ 1700,00/mês. Total anual, incluso 13º salário + 1/3 de férias: R$ 22.483,33.
Sendo assim, o resultado é que para 1.500 m2 de estufa o custo é de R$ 22.483,33 e para conduzir 1.000 m2 é de R$ 14.988,89. Além disso, entram nos custos as despesas com assistência técnica e contabilidade: R$ 1.200 + R$ 1.200 : R$ 2.400,00 ao ano.
Com defensivos, permitidos para a cultura no sistema orgânico, somados ao preparo de solo e adubação, têm-se, em média, R$ 10 mil de custos. A quantidade de mudas para a estrutura sugerida gira em torno de 1.771 mudas, sendo essa enxertada e no valor unitário de R$ 2,35, totalizando R$ 4.073,30.
Despesas com tutoramento e depreciação de equipamentos somam R$ 1.277,00. Somando-se todos os custos, desde instalação até a depreciação, obtem-se o valor de R$ 39.805,35.
O custo de produção por caixa de pimentão colhida (12 kg), com base no ano de 2019, quando o valor comercializado por caixa com o custo de produção já descontado foi de R$ 42,00, supondo uma produção de 1.500 caixas, resultou em renda bruta de R$ 71.400,00. Com o desconto dos custos de R$ 39.805,35, a renda líquida no ano, para o exemplo sugerido, é de R$ 31.594,65.
Potencial da produção
A produção orgânica do pimentão tem imensurável potencial de viabilidade, seja pelo apelo por produtos mais saudáveis pelo mercado, seja pelo retorno econômico obtido pelas hortaliças orgânicas.
No entanto, é necessário desenvolver e disseminar de forma mais constante inovações e pesquisas que embasem o cultivo orgânico desta cultura. Todas essas tecnologias devem ser incorporadas à agricultura familiar, segmento importante da produção de hortaliças no Brasil.
A produção integrada do pimentão pode reduzir até 30% a aplicação de produtos químicos sintéticos contra pragas e doenças, pois o surgimento das mesmas tem uma queda drástica em relação ao cultivo convencional.
A falta de princípios ativos específicos para a cultura do pimentão, além do não cumprimento com ações técnicas, como o uso de doses não recomendadas, não atendimento do período de carências, levando ao aumento da contaminação do alimento, aumenta de forma exponencial o potencial para a produção orgânica.
Retorno do investimento
O retorno começa em três ciclos da cultura do pimentão, quando o mesmo pode começar a ser comercializado como orgânico. Sendo assim, serão necessários 12 meses para que a produção do ciclo subsequente seja considerada orgânica.
Prós e contras da produção
A vantagem da produção orgânica de pimentão, principalmente para a agricultura familiar, está baseada no aumento da renda, assim como na preocupação constante para com o manejo correto da água e do solo, preservação da saúde do agricultor e do consumidor.
Para alcançar estas vantagens, é necessário que se respeite o ciclo natural da cultura, a diversidade vegetal. As sementes para o sistema orgânico de cultivo já estão sendo produzidas por empresas de beneficiamento e distribuição.
Técnicas como o uso de bioestimulantes, doses e tipo correto de estercos, levam as plantas em cultivo orgânico a produzirem mais rápido.
Outra desvantagem do sistema de cultivo convencional do pimentão é o manejo de pragas e doenças, que se dá pela aplicação de produtos sintéticos de alta toxidade, podendo citar como exemplos os fungicidas, que apresentam na sua formulação ingredientes ativos como o carbendazim, que é indicado exclusivamente para tratamento de madeiras, ociproconazol e o flutriafol, ambos com registro para outras culturas e não registrado para o pimentão.
Dentre os ingredientes ativos em situação irregular mais detectados nas análises realizadas pelo Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA) está o carbendazim.
O uso destes produtos não específicos para a cultura do pimentão, em sua maioria, são altamente tóxicos às abelhas (Apis mellifera), que para o caso do pimentão, apesar de possuir flores autopolinizadoras, atuam como importantes aliados na qualidade dos frutos, além de serem importantes na biodiversidade do ambiente.
Entraves
A produção orgânica do pimentão pode se deparar com alguns entraves, tais como a substituição completa e eficiente dos principais princípios ativos que são utilizados para a fitossanidade da cultura.
Ainda não há produtos liberados pela agricultura orgânica neste cultivo. Outro fator de suma importância é a resistência do produtor ao cultivo orgânico, além do período necessário para a transição do sistema convencional para o orgânico.
Novidades
Existem alguns estudos recentes que mostram alguns aspectos do manejo e a adequação de tipos de estercos e uso de bioestimulantes na produção de pimentão orgânica. O uso destas técnicas possibilitou o aumento do tempo de produção da cultura, totalizando 11 colheitas em um ciclo de 150 dias, sendo os frutos produzidos com maior qualidade e aumento da produtividade.
Os bioestimulante proporcionam plantas maiores em altura e produções mais precoces. Esta tecnologia também trouxe mais raízes secundárias, o que aumenta a absorção de água e nutrientes, resultando em aumento da produção.
Há materiais genéticos que têm apresentado melhor padrão de frutos em sistema orgânico, apesar de sua elevada exigência em nutrientes. Os pimentões coloridos, block, palermo, entre outros, estão sendo muito utilizados em ambientes protegidos.
Estudos direcionam esses tipos de estruturas mais vantajosas que em campo aberto, pois os pimentões passam mais tempo no pé até a maturação. Este tipo de cultivo, aliado a telas antiafídeo, pode reduzir consideravelmente os insetos, o que diminui o custo de produção, ao passo que reduz o uso de defensivos agrícolas.
Outro estudo atual e de relevante importância é a elaboração de normas técnicas para a produção integrada de pimentão. Este estudo tem como objetivo construir mecanismos para contribuir para a organização da cadeia produtiva, por meio, principalmente, do manejo das pragas e doenças e uso de princípios ativos registrados.