A
quarta edição do Encontro Mato-grossense de Integração Lavoura-Pecuária (ILP),
ocorreu em Rondonópolis (MT) nos dias 8 e 9 de abril, onde foi abordado o tema
“Integrando: Lavoura, Pecuária, Gestão e Sustentabilidade”. O encontro, que se
consolida como uma referência no Centro-Oeste brasileiro, teve a
realização da Aliança SIPA, que promove e difunde o avanço de Sistemas
Integrados em escala mundial. A programação de palestras foi dividida em três
grandes painéis: ‘Sustentabilidade’, ‘Gestão’ e ‘Intensificação Sustentável’,
temas fortemente ligados à proposta de discussão e debates do encontro.
Após
uma breve abertura, o ciclo de palestras teve seu inicio dos trabalhos com o
Painel Sustentabilidade, com o pesquisador da Embrapa-Gado de corte, Roberto
Giolo de Almeida que trouxe a temática: “Carne Carbono Neutro com o Sistema de
Integração Lavoura-Pecuária”, onde destacou também as iniciativas do Governo
Federal no setor, como o programa de certificação do gado Carne Carbono Neutro.
“O Brasil já desenvolveu muitas tecnologias que permitem o produtor produzir
mais e com um menor impacto ambiental, deste modo, destaco que o carbono é o
indicador mais falado atualmente, então estas tecnologias permitem que o
produtor coloque mais carbono em seu sistema, e o reflexo disto é um solo com
maior matéria orgânica, e está refletida em uma maior fertilidade do solo”,
disse.
Na sequência,
a palestra “Sistema Integrado como a via de intensificação sustentável”, foi
apresentada pelo professor Doutor Paulo César de Faccio
Carvalho (UFRGS), onde explanou sobre panorama global e preocupação da
comunidade internacional em relação à produção agrícolas de alimentos, sem a
abertura de novas áreas e diminuição dos impactos ambientais. “Existem poucos
caminhos tecnológicos que possam resolver esta questão, e justamente estamos
tratando neste encontro de um deles e de uma rara possibilidade de conciliar
isso tudo, que são os Sistemas Integrados de Produção Agropecuária, sistemas
mais complexos, com rotações de culturas, pastagens, gado de corte e de leite,
e que são comprovadamente sistemas que conseguem produzir mais, com menos área
e reduzindo o impacto ambiental por unidade de alimento produzido”, observou o
pesquisador.
Para fechar o Painel de Sustentabilidade, uma palestra que trouxe uma indagação,
“Mercado
de crédito de carbono: O produtor já pode receber?”, com o professor Doutor em
Zootecnia William de Souza Filho, da Udesc, onde avaliou que se aproxima a
afirmação do mercado de carbono, sem as pressões atuais. “Após este período de
tensão, o produtor tem que estar preparado dentro de um banco de opções de
gerações de créditos, e para isso ele terá que conhecer como funciona
esse mercado, como ele poderá gerar estes créditos em sua propriedade e como
monetizar isso dentro de um ativo, de uma bolsa de valores, ou ainda até em
comércio com empresas e várias outras soluções que já existem”, observou.
Após
um rápido intervalo, as palestras retornaram com o Painel que enfatizava a
Gestão, onde o consultor sênior da empresa INTTEGRA, Antônio Chaker El-Memari
Neto, apresentou em destaque a temática “Gestão e métricas para maximizar os
resultados em fazendas”. “O ponto chave para uma operação de uma fazenda é
reconhecer, que se deve trabalhar para se conquistar um resultado. E esse
resultado se desdobra em um planejamento e na execução do mesmo, e que tudo
isso é submetido ao perfil de liderança e disciplina para garantir para que as
coisas aconteçam dentro desta programação que foi estabelecida”, completou.
Em
seguida, um case de sucesso em gestão foi apresentado aos participantes do IV
Encontro Mato-grossense de Integração Lavoura-Pecuária, onde o gestor da
Fazenda Eldorado, Rafael Pereira Sguissardi contou um pouco da evolução da
transição para a gestão profissional na fazenda. “A nossa chegada na fazenda
foi com um outro olhar, de uma gestão empresarial e de tecnologia, que era
pautada em conhecimento, onde temos atualmente uma equipe de consultores nos
atendendo em nossas demandas. Então quando eu via algum técnico entregando
algum resultado ou número de produção, nós adotamos aquele dado para que
pudéssemos cuidar disso. Mas todo o sucesso na condução do processo de seleção
tanto minha, quanto da minha irmã que não fazíamos parte do comando da fazenda
é de meu pai, que aliou muito amor e a vontade de fazer a diferença”, disse.
A
terceira parte do dia de palestras apresentou o Painel de Intensificação
Sustentável, e abrindo a tarde com muita informação e debates, a professora
doutora Tangriani Simioni Assmann, titular da Universidade Tecnológica Federal
do Paraná, que versou sobre a “Adubação em sistemas integrados: princípios e
sequestro de carbono”, onde contrapôs o estigma que se convencionou a produção
animal brasileira de se uma produtora de gases de efeito estufa. “Existe um
outro enfoque, que essa mesma produção que é classificada como geradora de
gases de efeito estufa, ela é maior sequestradora de gás carbônico, ou seja,
ela sequestra o gás carbônico via produção agropecuária e incorpora esse
carbono que vem da fotossíntese no solo. Então o potencial que se tem de
produção é elevadíssimo, deste modo nós temos a sustentabilidade econômica, e
também a sustentabilidade ecológica, porque neste caso além de aumentar a
lucratividade de minha propriedade, nós também estamos aumentando
ecologicamente a qualidade do solo, fazendo um processo de conservação de solo
e de água, a redução de gases de efeito estufa, e por fim é sustentável
socialmente por conta da geração de renda e empregos”, avaliou.
Sobre
o “Manejo de Lavouras em Sistemas Integrados de Produção Agropecuária”, o
professor Doutor Leandro Pereira da Universidade Federal de Rondonópolis,
destacou a pesquisa realizada no município de Rondonópolis pelo Grupo de
Pesquisa e Inovação em Sistemas Puros e Integrados de Produção Agropecuária
(GPISI), que é vinculado a UFR e que trabalha em parceria com a Aliança SIPA e
várias universidades do País. “Nós temos protocolos que a ideia é de condução
de longo prazo, inclusive nós temos experimento de longo prazo local, onde coletamos
informações de solo, de planta e de animal, para tentar dentro do contexto de
Sistemas Integrados obter informações que nós possamos justificar estes
aumentos de produtividade. E cada vez mais aliar a tecnologia que o SIPA
oferece, mas que por meio destes ensaios nós temos balizados e delineado as
estratégias a serem utilizadas aqui no Estado de Mato Grosso”, destacou.
E
para fechar o ciclo de palestras, o professor Doutor Edicarlos Damascena da
Universidade Federal de Rondonópolis, abordou o tópico “Manejo do pastoreio
para alta produção animal em Sistemas Integrados”, onde falou sobre os desafios
da pecuária moderna e confrontou os manejos de pastoreio rotativo clássico
versus rotatínuo. “O rotatínuo é uma filosofia de manejo do pastoreio que ele leva
em consideração o comportamento ingestivo do animal, ou seja, nós oportunizamos
que o animal quando ele abaixar a cabeça consiga captar o máximo de alimento
por unidade de tempo, onde não haja perca de tempo e tenha condições de captar
o alimento e reverter isso em produção, seja em carne ou leite. A ideia do
sistema é, oportunizando a esse animal um alimento de melhor qualidade e que
ele gere um maior ganho de peso, e a consequência disso é uma maior
lucratividade para a propriedade”, finalizou.
DIA DE CAMPO
No
sábado (09), os participantes do
Encontro Mato-grossense de Integração Lavoura-Pecuária, se deslocaram até o dia
de campo na Fazenda Guarita, nas margens da BR 163. A programação contou com a
apresentação de resultados de pesquisas na área experimental da Fazenda
Guarita, com protocolos de Sistemas Integrados ambientados para a realidade
mato-grossense com foco em Adubação de Sistemas, e finalizando com um espaço
para debate e perguntas dos presentes.
O responsável
pela organização do evento, o professor Edicarlos Damacena de Souza, integrante
também do corpo técnico da Aliança SIPA, avaliou os dois dias do Encontro.
“Para nós foi muito gratificante, pois foram momentos muito proveitosos, com a
presença de muitos produtores, técnicos e estudantes, onde pudemos discutir
temas que estão sendo altamente debatidos, como a sustentabilidade, a gestão e
os Sistemas Integrados. Então o balanço com o feedback das pessoas, com o
volume de perguntas qualificadas e de interação é muito positivo, e nos motivam
a dar continuidade nisso para os próximos anos”, destacou.
A edição 2022
do Encontro Mato-grossense de Integração Lavoura-Pecuária, recebeu caravanas e
grupos de diversos estados, como do Piauí, Mato Grosso do Sul, Goiás, além das
cidades de Tangará da Serra, Cuiabá e do norte de Mato Grosso.
O
IV Encontro Mato-grossense de Integração Lavoura-Pecuária contou com o apoio do
Grupo de Pesquisa e Inovação em Sistemas Puros e Integrados de Produção
Agropecuária (GPISI), Universidade Federal de Rondonópolis (UFR), Programa
Rural Sustentável Cerrado, Programa Global REDD Early Movers Mato Grosso (REM
MT), Senar-MT, Santa Rita Sementes, Aprosmat, Ambios, Boa Forma Sementes, Yara
Brasil, Agroceres/Novanis, Agrobiológica, De Heus, UHF Fertlizante/Fertipar,
Microgeo, Agoro Carbon Alliance e Fundação Agrisus.
ALIANÇA SIPA
A
Aliança SIPA é uma iniciativa sem fins econômicos e sem fins lucrativos que
promove a cooperação entre os setores público e privado para a pesquisa e a
difusão de Sistemas Integrados de Produção Agropecuária sob pilares da intensificação
sustentável. Ela é liderada pelo Grupo de Pesquisa em Sistema Integrado de
Produção Agropecuária (GPSIPA) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS), pelo Núcleo de Inovação em Tecnologia Agropecuária (NITA) da
Universidade Federal do Paraná (UFPR) e pelo Grupo de Pesquisa e Inovação em
Sistemas Puros e Integrados de Produção Agropecuária (GPISI) da Universidade
Federal de Rondonópolis (UFR), reconhecidos por sólida produção
técnico-científica e larga experiência na pesquisa em SIPA e capacitação de
recursos humanos.