Fertilizante de liberação controlada evita perdas de N

Fertilizante de liberação controlada evita perdas de N

Rayla Nemis de Souzarayla.ns@outlook.com

Rafael Rosa Rocharafaelrochaagro@outlook.com

Engenheiros
agrônomos e mestrandos em Ambiente e Sistemas de Produção Agrícola –
Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT)

Entre todos os macronutrientes essenciais, o nitrogênio pode
ocasionar inúmeras reações no solo. As perdas de nitrogênio na agricultura
podem chegar de 1 até 60% do nitrogênio aplicado, variando conforme o ambiente
e condições climáticas no momento da adubação.

Está sujeito a diversos processos de perdas e pela dinâmica
muito complexa do elemento no solo, sofrendo várias transformações, como:
lixiviação, volatilização, nitrificação, desnitricação, imobilização e
mineralização, alterando assim a sua disponibilidade durante o desenvolvimento
da planta. Dessa forma, o N pode tornar-se um elemento muito custoso nos
sistemas de produção.

Fonte de nitrogênio

O fertilizante nitrogenado mais utilizado no Brasil é a
ureia, que devido a sua alta concentração de N, permite menor custo por unidade
do nutriente. Porém, a aplicação de ureia sobre o solo causa uma elevação do pH
na região do grânulo do fertilizante no momento da hidrólise.

Esse aumento no pH faz com que ocorram elevadas perdas de N
por volatilização na forma de amônia, as quais contribuem para diminuição da
eficiência dos fertilizantes nitrogenados, tornando indispensável o uso do
parcelamento para fertilizantes com alta solubilidade ou então o uso de adubos
de liberação lenta, produtos esses que dispensam aplicação em cobertura.

Novidades

Na intenção de diminuir as perdas dos fertilizantes
nitrogenados aplicados na agricultura, uma nova tecnologia foi desenvolvida,
buscando aumentar a eficiência do nitrogênio na agricultura com fertilizantes
de liberação controlada.

Várias modificações têm sido feitas em fertilizantes
contendo ureia a fim de reduzir as perdas por volatilização de N-NH3
e aumentar a sua eficiência de uso. Essas modificações incluem a adição de
produtos acidificantes e a produção de fertilizantes com solubilidade
controlada por meio de resinas ou polímeros, ou mesmo com a cobertura de
enxofre elementar.

A ureia de liberação controlada com grânulos revestidos tem
a proposta de aumentar a eficiência de uso pelo fornecimento gradual do
nitrogênio, de acordo com a necessidade da planta, e reduzir perdas por
volatilização, uma vez que a ureia está protegida das condições ambientais
favoráveis à volatilização da amônia, e a sua liberação ocorre, em tese, em um
evento chuvoso favorável para a incorporação do N no solo.

Outro argumento é a redução da emissão de N2O,
uma vez que a liberação gradual distribui o nitrogênio no tempo, e reduz altas
concentrações de N no solo em todos os momentos, inclusive nos de anaerobiose
que ocorrem em situações de excesso de umidade, condições favoráveis à
desnitrificação.

Opções

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Existem, hoje, no mercado, adubos com uma linha de produtos
nitrogenados á base de Ureia Estabilizada com Inibidor de Urease (NBPT). O
inibidor de urease mais efetivo, com forte ação inibidora e baixa concentração
é o NBPT (Tiofosfato de Nitrogênio – n – butiltriamida).

Depois de aplicado ao solo junto à ureia, inibe a urease por
um período de três a 14 dias, dependendo das condições de umidade e temperatura
do solo. Testes realizados no Brasil indicam período de inibição de três a sete
dias e, após este período, o NBPT perde gradativamente seu efeito inibidor.

Por sua vez, a adição de inibidor de urease à ureia atrasa e
reduz o aumento do pH, consequentemente, as perdas de N por volatilização.

Os fertilizantes de liberação lenta ou controlada podem
liberar os nutrientes para a planta, uma liberação em sincronia conforme as
necessidades nutricionais. O uso desses fertilizantes são uma alternativa para
diminuir os custos e, ao mesmo tempo, aumentar a eficiência das adubações.


Entenda melhor

Os fertilizantes de liberação lenta ou controlada são
aqueles que de, alguma forma, atrasam ou estendem a sua disponibilidade para a
planta a um período além de um fertilizante de referência. Considera-se como
referência um fertilizante cuja disponibilidade de nutrientes seja imediata, a
exemplo da ureia.


Vantagens

O uso de fertilizantes nitrogenados de liberação controlada
apresenta inúmeras vantagens, como redução da mão de obra e economia de
trabalho, já que pode abolir ou diminuir o número de parcelamentos, aumentar a
produtividade, minimizar perdas de nitrogênio e diminuir o impacto ambiental em
virtude de uma menor lixiviação do nitrato, atribuindo, desse modo, valor
ecológico à atividade agrícola.

Outra vantagem é que não acontece a interrupção do
fornecimento do nutriente durante o ciclo inicial de desenvolvimento da planta,
ou seja, não existe uma dependência de condições climáticas favoráveis para se
realizar a adubação ou o aparecimento de sintomas de deficiência para serem
reparados.

Desta forma, aumenta a taxa de utilização de nitrogênio
pelas culturas, reduz as perdas de nitrogênio por volatilização e gera maior
versatilidade e segurança no manejo das adubações nitrogenadas em cobertura e
também reduz custos com armazenagem e amplia a janela entre o recebimento e uso
do produto.

E as demais vantagens são: otimiza o tempo para regulagens,
abastecimento, aplicação e limpeza de equipamentos, melhora o manejo dos
fertilizantes e reduz perdas de produto durante o manuseio, além de diminuir o
potencial de queima de folhas das lavouras nas aplicações realizadas à lanço.

Desafios

Apesar do alto potencial do uso dessa tecnologia, eles
apresentam uma limitação, pelo valor mais elevado no custo do produto, sendo
superior às fontes solúveis, devido ao fato de ser um produto importado e exigir
alguns processos de difícil execução, cujo preço fica dependente do valor do
dólar.

Existem diversos tipos de fertilizantes de liberação
controlada disponíveis no mercado, os quais apresentam taxa de liberação dos
nutrientes conforme a temperatura e umidade do substrato. Esses fertilizantes
são classificados em três tipos de liberação, sendo a primeira por grânulos
solúveis em água, a segunda por materiais inorgânicos lentamente solúveis e a
terceira por materiais orgânicos de baixa solubilidade, que se decompõem pela
atividade microbiológica ou hidrólise química.

Custos

Ao comparar a eficiência e os custos de fertilizantes
nitrogenados convencionais e de eficiência aumentada na cultura do cafeeiro,
Ribeiro (2015), demonstrou que o uso adubo de liberação lenta e de liberação
controlada promoveu maiores produtividades em relação aos convencionais,
resultando em saldo superior ao produtor.

Isso mostra que o uso de adubos de liberação lenta e
controlada, tanto na produção de mudas quanto na adubação em condições de campo,
permite aumentar a renda, principalmente devido à redução das perdas dos
nutrientes para o meio ambiente.

Nascimento et al. (2013) estudaram a perda por volatilização
de vários tipos de recobrimento de ureia, e concluíram que o uso dos
fertilizantes protegidos reduz as perdas por volatilização da amônia quando
comparado com a ureia comum.

Lima et al., (2018) afirmam que o uso de ureia com inibidor
de urease proporcionou reduções nas perdas de nitrogênio por volatilização de
amônia em relação à ureia comum em adubação de cobertura de Urochloa
ruziziensis.

Bom para o futuro

Os resultados da literatura indicam que o uso de
fertilizantes de liberação controlada e com inibidores, embora não em todas as
situações, contribuem para redução da emissão de N2O no processo de
desnitrificação. Este fato contribui para mitigação de emissões de gases do
efeito estufa pela agricultura, gerando assim menor impacto ambiental, além de
reduzir uma fonte de perda do N do sistema a fim de se conseguir maior
eficiência de uso do fertilizante nitrogenado.

Atenção!

Há dois erros extremos durante o uso do fertilizante de
liberação controlada. O primeiro é a superdosagem – muitos produtores dobram a
quantidade de fertilizante por planta, tornando um grande desperdício. Outro
erro muito comum está na preocupação em economizar e acabam reduzindo a dose do
produto, imaginando que as plantas possam retirar mais nutrientes do que o
fertilizante fornece.

Então, lembre-se sempre de seguir as recomendações de um
técnico e ou engenheiro agrônomo responsável.

Custo x retorno

O custo e rentabilidade dependem do nível técnico e
financeiro do produtor, pois dentre as fontes nitrogenadas se destaca o uso da
ureia convencional. Ela é o fertilizante mais comum entre os produtores de
milho devido à sua alta concentração de nitrogênio na fórmula (44-46%), baixo
custo por kg de N aplicado e à sua praticidade na administração.

A ureia também se destaca pela alta solubilidade,
facilitando a chegada até as raízes das plantas e a sua absorção. Por outro
lado, a maior desvantagem no uso da ureia convencional é sua alta
susceptibilidade à volatilização na forma de amônia (NH3). No
momento em que a ureia entra em contato com a água ou umidade, ela é
dissolvida.

Pela ação da enzima urease, a ureia se transforma em
carbonato de amônio, que acidifica o pH e favorece a emissão de NH3.
Fatores como temperaturas elevadas, baixa umidade no solo, grande quantidade de
palha remanescente do cultivo anterior e pH elevado favorecem as perdas por
volatilização de amônia e prejudicam o desempenho agronômico do milho.

Assim, alguns produtores mais técnicos utilizam esses tipos
de produtos pelos diversos benefícios, que pagam os custos de produção.

Fonte: https://revistacampoenegocios.com.br