Santino Seabra Junior – Engenheiro agrônomo, PhD e professor – Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT – santinoseabra@hotmail.com
Rafael Rosa Rocha – Engenheiro agrônomo e mestrando em Ambiente e Sistemas de Produção Agrícola –UNEMAT – rafaelrochaagro@outlook.com
Franciely da Silva Ponce – Engenheira agrônoma e doutoranda em Horticultura/Agronomia – UNESP – franciely.ponce@unesp.br
Daniela Aparecida Lima Costa – Graduanda em Engenharia Agronômica – UNEMAT – danielalima85@outlook.com
A utilização de telados é uma ferramenta essencial para produzir hortaliças folhosas no período de altas temperaturas e alta incidência luminosa, porém, esse benefício se dá principalmente da redução parcial da luz e, consequentemente, da temperatura.
Quanto utilizo um sombreamento maior que o tolerado para a
espécie, ocorrem efeitos indesejáveis, como redução da produção, menor tamanho e
número de folhas, estiolamento de plantas e, consequentemente, perda da
qualidade do produto.
A luz é responsável pelos processos fotossintéticos das
plantas e pela produção de biomassa, i.e., quanto maior concentração de luz em
condições de temperatura ideal, maior taxa fotossintética, o que proporciona
maior acúmulo de biomassa e maior produção.
O bloqueio de luz só é vantajoso quando eu consigo reduzir a
temperatura sem reduzir a taxa fotossinteticamente ativa, com isso, não se
recomenda percentagem de sombra acima de 50%.
Recomendações
O emprego de sombreamento em todas as épocas de cultivo numa
região também deve ser avaliado, pois em períodos favoráveis à produção, como o
inverno em regiões tropicais, i.e., épocas em que a temperatura está dentro da
variação ótima para o cultivo de determinada espécie, é mais vantajoso não
empregar telados.
Em períodos de chuva, quando ocorre limitação de luz por
longos períodos em determinadas regiões, apesar do uso da tela poder contribuir
para reduzir o impacto da gota nas plantas, e a intensidade luminosa em dias
nublados, pode causar estiolamento em plantas. Consequentemente, se o produtor
instalar um sistema de tela móvel é vantajoso, pois possibilita manejar a luz,
ou seja, recolher a tela nos dias nublados e esticar a tela nos dias chuvosos e
com alta intensidade luminosa.
Devemos lembrar que em períodos de chuva o encharcamento do
solo e os processos de lixiviação são intensos. Com isso, a utilização de
mulching plástico com a face branca aplicada para cima nos canteiros, associado
à fertirrigação, também pode contribuir para viabilizar o sistema de cultivo.
Fase a fase
O emprego de telas na fase de produção de mudas também deve
ser avaliado, pois podem causar estiolamento e reduzir a rusticidade da planta
no campo, devendo verificar a percentagem de sombreamento necessário para a
espécie e ainda optar por sistemas que possibilitem recolher as telas médias de
temperatura mais amenas e de baixa intensidade luminosa.
Outro fator importante a se atentar é para a altura do
telado, para que esta não limite o trânsito de pessoas e tratores na área de
cultivo.
No caso de optar pela utilização de túneis baixos, estes
devem estar em uma altura que permita a manipulação da cultura sem que o
operador entre no ambiente, i.e., coberturas que isolem um canteiro, permitindo
realizar os tratos culturais.
Esses sistemas têm a vantagem de possibilitar a rotação de
cultura, pois são móveis e os produtores conseguem levar as estruturas de um
talhão para outro.
A implantação e o manejo de
telados
Independente dos inúmeros efeitos benéficos do uso de telas,
é preciso ter cautela em relação à implantação do ambiente protegido e,
principalmente, à escolha do material a ser utilizado. No mercado existem
diversos tipos, que variam entre telas de sombreamento, termorrefletoras e
termoconversoras, além de agrotêxteis, destinados à proteção das plantas contra
insetos, que têm apresentado bons resultados tanto na produtividade quanto na
proteção.
No entanto, é preciso conhecer os efeitos desejados, como
atenuação de temperatura, diminuição do impacto das gotas de chuva, redução da
disponibilidade energética, ou mesmo proteção contra insetos ou geadas.
As telas limitam a quantidade de luz que incide sobre as
plantas e podem influenciar negativamente no crescimento e produção das
folhosas, se forem usadas em períodos com baixa disponibilidade energética.
Opções
O tipo de ambiente protegido deve ser levado em
consideração. O telado é um dos tipos mais utilizados, devido à rusticidade e
eficiência. O custo é relativamente baixo, podendo ter a opção de recolhimento
da tela em dia com pouca luminosidade.
Os túneis baixos apresentam grande vantagem, uma vez que são
de fácil instalação e manutenção, além de serem de fácil desmontagem, o que
facilita uma possível mudança de local. O custo para a implantação de túneis é
baixo, quando comparado com os demais ambientes protegidos.
Desta forma, é importante esclarecer que existem inúmeras
tecnologias no mercado, mas nem todas irão se adaptar à sua realidade de
produção e seu local. O manejo do microclima ultrapassa simplesmente escolher
as cores das telas. Além da escolha das telas, diversos outros fatores devem
ser analisados na implantação, como o local, região, temperatura externa e
cultura a ser produzida, que irão influenciar na escolha e no manejo das telas
no cultivo protegido.
Dicas importantes
Mais do que optar por tecnologias, é necessário saber como
manejá-la. Por exemplo, é necessário entender que em algumas épocas do ano ou
mesmo do dia, as malhas não poderão ficar fixas e precisarão ser recolhidas
para que uma maior radiação chegue até as plantas. Além disso, a estrutura
física dos ambientes protegidos não pode ser pensada de forma igual para todas
as regiões do País.
As telas mais comuns no mercado são as pretas, brancas,
aluminizadas (termorrefletoras) e as coloridas (azul e vermelho), mas já
existem telas amarelas, verdes, peroladas e também o uso de TNT, entre outras.
As telas de cor preta são usadas com o intuito de minimizar
os problemas causados pela irradiância e temperatura elevada, condições
características de regiões tropicais. Estas reduzem a incidência direta do sol
nas espécies que necessitam de menor fluxo de energia radiante,
consequentemente, reduzem a temperatura e a perda da umidade do solo.
A menor incidência de energia solar pode contribuir para
diminuir os efeitos extremos da radiação, principalmente a fotorrespiração. A
telas brancas são geralmente utilizadas para a proteção física, como
coberturas, proteção contra insetos (o que reduz drasticamente o uso de
pesticidas químicos) e possibilita a criação de um microclima com maior
controle de fatores ambientais, como temperatura, luz e umidade relativa do ar,
e apresentam bons resultados em regiões de baixa luminosidade.
Função de cada uma
As telas reflexivas têm, como o nome já diz, a função de
reflexão e refração da luz, provendo luz difusa e reduzindo drasticamente a
radiação ultravioleta, que é prejudicial às plantas, auxiliando assim no
controle térmico e potencializando a fotossíntese.
Também é possível encontrar no mercado telas coloridas com
efeito reflexivo, ou seja, a trama da malha é composta por faixas, tiras ou
linhas de material reflexivo que acrescentam esse efeito à tela.
As telas vermelhas transferem mais a luz do espectro nas
ondas vermelha e vermelha distante e difundem a luz que passa através da malha,
sendo eficiente no desenvolvimento da planta. Já as azuis proporcionam luz do
espectro que intensificam o fototropismo e a fotossíntese.
E além das cores, existe a quantidade de porcentagem que
essas telas possibilitam de passagem de luz, que varia muito, desde 18 até 95%,
em que, para o cultivo de folhosas as melhores porcentagens são de 30 a 50%.
Tramas
Atualmente, existem no mercado dois tipos de tramas
agrícolas mais usadas nas hortaliças, que são as monofilamento e a raschel. O
que muda nelas são o material de fabricação, para constituição dos fios, e a
largura dos orifícios, pois as duas podem ter a mesma porcentagem de
sombreamento.
A tela monofilamento também é conhecida por sombrite, e tem
característica de ser mais retraída, mais pesada, com fios mais estreitos e
cruzados, por isso se torna mais fechada. Já as telas raschel são feitas com
fios mais largos e são menos cruzados, por isso se torna mais aberta. Ela tem a
característica de ser mais leve e mais fácil de carregar.
Como escolher
O melhor material será sempre aquele que melhor se adequar às
necessidades e realidade do produtor, quanto à eficiência e custo-benefício.
Além disso, devido à durabilidade das telas, o investimento inicial é diluído
no tempo de utilização, e devido aos ganhos de produtividade, além da
diminuição na sazonalidade da produção, faz com que a técnica seja uma
alternativa viável, tanto para grandes quanto para pequenos produtores.
O suporte de um técnico ou engenheiro agrônomo é necessário
para uma avaliação ambiental e escolha do material que melhor se encaixe nas
necessidades do produtor.
Além da escolha do material definindo a porcentagem de
sombreamento, vem a dúvida de como implantar o sistema. A estrutura de telado,
por não proporcionar muito peso sobre a estrutura, é simples, podendo-se
utilizar materiais como aço galvanizado em estruturas mais sofisticadas.
Tecnologias envolvidas
O cultivo de hortaliças folhosas é intensivo e requer
investimentos em tecnologia que viabilizem a entrega de alimentos durante o ano
todo. Com isso, um sistema de produção ideal é aquele que seja planejado em
ações que visem potencializar a produtividade e a qualidade dos produtos e
reduzir os custos com mão de obra. O produtor atualizado deve conhecer a sua
propriedade, os limites e desafios em cada época do ano em sua região, e com
isso planejar.
Utilizar telados associados a sistemas de resfriamento por
nebulização, ou “fogger”, contribui para a maximização da eficiência da redução
de altas temperaturas e, consequentemente, para elevar a umidade relativa do ar,
favorecendo o desempenho produtivo das plantas nos meses de seca.
A utilização deste sistema pode ser controlada por sensores
de umidade e temperatura, os quais ligam o sistema de nebulização quando a
temperatura ultrapassa valores estimados pelo produtor, como por exemplo acima
de 30ºC ou umidade relativa do ar abaixo de 60%. Estes sistemas automatizados
contribuem para reduzir erros no uso excessivo da umidade.
Temperatura sob controle
A cobertura de canteiros com palhadas é outra maneira de
reduzir a temperatura do solo e melhorar o ambiente para o desenvolvimento da
planta, seja aplicando resíduos, como casca de arroz ou serragem grossa, ou
palhas de milheto produzidos no próprio ambiente, possibilitando a implantação
de sistemas de plantio direto.
Estes sistemas de cultivo contribuem muito para o manejo de
hortaliças folhosas em período de seca, pois, além de reduzir a temperatura do
solo, mantêm a umidade e contribuem no manejo de plantas daninhas, entre outros
benefícios.
O emprego de mulching plástico sobre o canteiro com a face
branca para cima tem como objetivo isolar e reduzir o encharcamento do solo no
período de chuva e é uma tecnologia que, junto com o telado, contribui para o
aumento da produção, pois, se bem aplicado, proporciona um bom escoamento de
água, ou seja, não deixa que a água da chuva empoce e cause danos às plantas.
Além disso, reduz a incidência de plantas daninhas,
facilitando o manejo e diminuindo os custos com mão de obra, assim como a
lixiviação de nutrientes do solo. Quando associado a sistemas de irrigação
localizada (gotejamento) e adubação via fertirrigação, contribui para a eficiência
do sistema.
Em períodos de alta precipitação, o uso de tela também pode
ser associado ao cultivo protegido coberto com plástico, denominados “guarda
chuvas”, aqueles ambientes cobertos com filme agrícola, porém, com as janelas
laterais abertas, permitindo a ventilação e, consequentemente, a redução de
bolsões de calor, como ocorre nas estufas.
As telas podem ser aplicadas acima do ambiente protegido, o
que reduz a radiação que entra no sistema, contribuindo para a redução de
temperaturas dentro do ambiente. Outro sistema bastante empregado, mas menos
eficiente para a redução de temperatura dentro de ambientes cobertos com filme
plástico, é a aplicação da tela na altura do pé-direito, que reduz parcialmente
a temperatura dentro do sistema. A técnica não é tão eficiente como a anterior,
mas é a mais comumente aplicada.
Investimento x retorno
Antes de analisar os custos de um telado, é necessário
entender que o ponto primordial para ótimos resultados e benefícios do seu uso.
Além do controle parcial das condições edafoclimáticas, permite a realização de
cultivos em épocas que normalmente não seriam escolhidas para a produção ao ar
livre, aumenta a produtividade, possibilita o controle do ambiente, reduz o
consumo de água; controle do vento e radiação solar; além de oferecer melhor
condição de trabalho para funcionários e possibilidade de produzir e
comercializar produtos de melhor qualidade.
Então, em relação tanto ao custo quanto à rentabilidade,
variam muito entre as espécies, regiões, climas e estação do ano, além das
variações dos valores dos materiais utilizados na instalação dos telados.
Outro ponto importante, além das características de
eficiência para o produtor, é o tempo de duração das telas, que pode variar de três
a 10 anos, dependendo da qualidade do material, tipo de trama, manutenção,
presença de ventos, animais, entre outros fatores.
No mercado há uma grande variação de materiais
disponíveis, como também de larguras, comprimentos e tamanho de rolos,
adequando ao sistema escolhido pelo produtor, podendo dimensionar as estruturas
de modo a suprir sua necessidade.