Os
microverdes são hortaliças em início de desenvolvimento, portanto, em sua forma
imatura e tenra, geralmente formadas pelos cotilédones ou ainda com o primeiro
par de folhas verdadeiras desenvolvida, dependendo da espécie. A colheita dos
microverdes é realizada ao nível do solo, ou seja, na base de hipocótilos, em
torno de sete a 21 dias da germinação de sementes, dependendo da espécie.
Simone da Costa Mello – Engenheira agrônoma, mestre, doutora e professora – ESALQ/USP – scmello@usp.br
Isabela Scavacini de Freitas – Engenheira agrônoma, MBA em gestão de negócios (Pecege/ESALQ/USP), mestre em fitotecnia (ESALQ/USP) e doutoranda do programa de pós-graduação em fitotecnia da ESALQ/USP – isabela.scavacini.freitas@usp.br
Os microverdes são plantas muito jovens, pequenas,
produzidas entre sete e 16 dias após a semeadura e colhidas com as primeiras
folhas (folhas cotiledonares e primeira folha verdadeira). Embora tenham
tamanho reduzido, com cinco a 10 cm, elas são altamente nutritivas e produzidas
a partir de sementes de hortaliças, ervas aromáticas, cereais e leguminosas.
Além do tamanho, as cores vivas, as texturas e os sabores diferentes chamam a
atenção dos consumidores, incluindo o público infantil.
No geral, o consumo médio das hortifrutícolas em miniatura
tem crescido entre 15 e 20% ao ano. Este mercado ainda tem um potencial muito
grande de expansão no Brasil, uma vez que esses produtos, além de apreciados
pela alta gastronomia, podem ter maior aceitação pelas crianças, devido ao
aspecto visual, textura tenra e sabor, podendo contribuir para o aumento do
consumo de alimentos saudáveis.
Como as hortaliças de colheita jovem e mini possuem
propriedades organolépticas bastante atrativas aos consumidores, fazem parte da
categoria dos produtos de alto valor agregado, chamando a atenção dos
horticultores.
Origem
O termo “microgreens” começou a surgir em cardápios de
restaurantes do sul da Califórnia na década de 1980, mas, no Brasil, o conceito
começou a chegar com mais força apenas em meados de 2018, apesar da sua
produção ter sido iniciada em 2001 pela empresa D.R.O. Ervas e Flores.
Dessa forma, os microverdes ainda são uma classe de hortaliças
bastante recente no Brasil e pouquíssimo conhecida, sendo o sul e sudeste do
Brasil as regiões onde mais se concentram os produtores.
Este segmento tem se destacado na confecção de saladas e
ornamentação de pratos em restaurantes com cardápios do tipo gourmet das
grandes metrópoles, e nos ambientes refrigerados para manter as verduras e
legumes diferenciados, das boutiques e redes de hortifruti, principalmente.
Eles são comercializados em embalagens plásticas como
plantas cortadas ou cultivadas nos substratos, adequados para o crescimento das
raízes, mantendo as plantas vivas como nos sistemas de cultivo, onde elas se
desenvolveram. Para esse segmento, produtores especializados no cultivo de
microverdes têm cultivado diferentes espécies.
Além disso, o mercado de microverdes para o cultivo caseiro
também é crescente, tornando-se uma forma atrativa de cultivar plantas em um
espaço pequeno, adequado para o envolvimento das crianças nesse processo de
crescimento das plantas.
Espécies para plantio comercial
Para cultivo comercial, as principais espécies cultivadas e
classificadas de acordo com algumas características são: sabor suave: alface,
brócolis, cenoura, acelga, couve, repolho roxo, espinafre; sabor picante:
rúcula, agrião, mostarda, rabanete; como aperitivos: milho, lentilha, ervilha,
soja e girassol; ervas aromáticas:
manjericão, coentro, erva-doce e cebolinha.
Porém, há uma grande variedade de espécies que pode ser
utilizada para o cultivo de microverdes, com grau menor ou maior de dificuldade
para se produzir. Porém, a aceitação de um microverde pelo consumidor depende
do sabor e textura, principalmente, depois da aparência do produto.
Além disso, algumas espécies, como tomate, pimenta e
berinjela não são comestíveis nesta fase de plântula e, portanto, não devem ser
usadas para a produção de microverdes, pois elas contêm substâncias tóxicas
para o ser humano.
Para o mercado caseiro recomenda-se as espécies mais fáceis
de serem cultivadas, com alta taxa de germinação das sementes, além de rápida,
como girassol, rabanete, brócolis, repolho, couve e alface. Nesse mercado, kits
para o cultivo compostos por sementes, substrato (meio de cultivo) e recipiente
são comercializados por empresas do setor, que permitem aos consumidores
cultivar esses pequenos vegetais de maneira fácil.
Sistemas de cultivo
Os microverdes são produzidos em uma variedade de ambientes:
ambiente aberto (cultivo caseiro), ambiente protegido (em estufa) e fechado
(cultivo indoor). Vários detalhes importantes devem ser seguidos para ter
sucesso no cultivo dessas pequenas plantas.
O primeiro aspecto a ser levado em consideração é a escolha
da semente. O cultivo de microverdes demanda grande quantidade de sementes, que
representam a maior parte do custo de produção. As sementes não podem ser
quimicamente tratadas e devem receber tratamentos para a eliminação de fungos e
bactérias patogênicas, como imersão em solução de peróxido de hidrogênio 3% por
30 minutos ou dióxido de cloro a 0,05% por cinco horas para determinadas espécies,
como o coentro.
A taxa de semeadura ideal é específica para cada cultura,
que depende do peso da semente, taxa de germinação e densidade populacional
almejada, variando de 1,0 semente/cm² em espécies de sementes grandes, como
ervilha, grão de bico e girassol, até 4,0 sementes/cm² em espécies de sementes
pequenas como rúcula, agrião e mostarda.
Aumentar a taxa de semeadura para maximizar o rendimento
refletirá no custo de produção, enquanto a densidade excessiva pode produzir microverdes
alongados e circulação limitada de ar, propício ao desenvolvimento de doenças
fúngicas.
Substratos
Para o seu cultivo, substratos à base de turfa são os mais
comumente usados para a produção dessas plantas. Em sistema hidropônico, a
manta de fibra de coco e espuma fenólica têm sido empregados, embora meios à
base de fibra natural desenvolvidos especificamente para a produção de
microverdes, como fibras de juta recicladas possam também ser usados.
Os substratos são acondicionados em bandejas, e o sistema de
sub-irrigação tem sido um dos mais adotados, com fluxo intermitente de
aplicação da solução (irrigação e drenagem), que permite boa drenagem (aeração
do substrato) e melhor sanidade das plantas, pois o excesso de umidade favorece
o desenvolvimento de fungos.
Nutrição
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Os microverdes podem ser cultivados sem aplicação de
fertilizantes. No entanto, o fornecimento de nutrientes para as plantas aumenta
a produtividade e melhora a qualidade nutricional.
De maneira geral, o meio de cultivo deve ter um pH de 5,5 e
6,5 e condutividade elétrica (EC) da solução nutritiva entre 0,5 e 1,0 dS/m. A
concentração da solução depende da época do ano e do sistema de cultivo
adotado.
Outro fator importante é a luz, pois ela influencia a
morfologia dos microverdes e a produção de fitoquímicos, especialmente em
ambientes de cultivo controlado. A luz suplementar a partir de diodos emissores
de luz (LED) tornou-se popular por poder fornecer comprimentos de ondas
específicos e intensidades capazes de estimular o crescimento mais rápido dos
microverdes, com maior produtividade e qualidade.
Assim, a luz verde suplementar (520 nm) pode aumentar o
conteúdo de b-caroteno em microverdes de mostarda. A aplicação de azul,
vermelha e branca aumenta a produtividade, o teor de sólidos solúveis e de
vitamina C. Uma mistura de luzes azuis e vermelhas é eficiente na redução de
nitrato nas plantas e aumento também da produtividade.
Colheita
Os microverdes devem ser colhidos de 1,0 a 2,0 cm da base do
caule para evitar contaminação por materiais que compõem os substratos. A
colheita pode ser realizada com tesoura ou faca elétrica. Essa forma de
comercialização de microverdes cortados é a mais usual, pois já entrega ao
consumidor um produto pronto para ser consumido, se os mesmos forem lavados e
higienizados.
A colheita deve ser feita nos períodos de menor temperatura
durante o dia para evitar a desidratação rápida das plantas, que resulta em
perda de qualidade.
Produtividade
A produtividade dos microverdes varia de 100 a 7000 g/m²,
dependendo da espécie, densidade de semeadura, ponto de colheita, ambiente e
manejo do cultivo. Em fazendas verticais, a produtividade pode ser ainda maior
se considerada a verticalização do sistema, sendo a unidade g/m³ a mais
recomendada para abordar a produtividade em sistemas indoors.
O investimento inicial do cultivo de microverdes depende do
nível de tecnificação, bem como do sistema de cultivo optado pelo produtor. Os
microverdes podem ser produzidos desde em sistemas muito simples em estufas
agrícolas a sistemas muito tecnificados no interior de contêineres marítimos
com controle de todas as condições ambientais, automação e IoT (internet das
coisas).
Investimento
Dentre os itens básicos do investimento inicial de uma
produção comercial de microverdes em casa de vegetação, podem ser citados:
infraestrutura da casa de vegetação, bancadas ou mesas hidropônicas, bandejas
de cultivo, sistema de irrigação, filtros e reservatórios de água, custando
cerca de R$ 21.000,00 uma estufa simples de 21 m², com seis mesas hidropônicas
de 1,40 m x 1,75 m e capacidade de produção de, em média, 30 kg semanais.
O produtor pode optar também por utilizar tecnologias mais
sofisticadas para produção de microverdes de alta produtividade e qualidade,
como sistema Pad&Fan para resfriamento evaporativo do ar, sensores e
controladores, telas fotosseletivas e luminárias LED para suplementação
luminosa, itens estes que encarecem o sistema produtivo.
Já em sistemas indoor devem ser considerados, além do
sistema de irrigação, bandejas, filtros e reservatórios de água, a
infraestrutura do local de cultivo (quarto-estufa, galpão, contêiner marítimo),
luminárias, estantes, temporizadores, sensores de temperatura e umidade
relativa, condicionador de ar ou exaustor e miniventiladores.
O investimento inicial da produção em cultivo indoor
é bastante variável, porém, um sistema simples em um quarto-estufa de 12 m²,
com condicionador de ar, três estantes de 1,20 m de largura e quatro andares de
produção, sistema de irrigação automatizado e luminárias de LED, com capacidade
de produção de cerca de 26 kg semanais, custa cerca de R$ 25.000,00 (sem
considerar o custo de construção do quarto).
O produtor também pode investir em sistemas mais tecnológicos
ainda, utilizando diversos sensores (temperatura, umidade relativa do ar,
velocidade do vento, intensidade de luz, condutividade elétrica e pH da solução
nutritiva), controladores e câmeras para poder monitorar o cultivo pelo
celular.
Custos fixos
Quanto aos custos fixos da produção, devem ser considerados
os salários dos funcionários, aluguel do terreno, IPTU, energia elétrica, água,
produtos de limpeza etc., sendo os custos com funcionários a maior parte da
fatia.
E quanto aos custos variáveis, têm-se os custos com
substrato, sementes, embalagens e fertilizante (se o produtor optar), que vão
de R$ 180 a R$ 285/m²/ciclo, dependendo do tipo de substrato, embalagem e
densidade de semeadura. As despesas com embalagens e sementes representam os
maiores gargalos dos custos variáveis de produção dos microverdes.
O preço de venda dos microverdes ao consumidor no Brasil
varia de R$ 160 a R$ 400 /kg. Geralmente, são comercializados em bandejinhas de
40 g, vendidas de R$ 6,50 a R$ 16, conforme a espécie, demanda na região,
sistema de cultivo e embalagem do produto.
Assim, se considerada uma produtividade de 2,5 kg/m²/ciclo,
o produtor pode obter uma receita bruta de R$ 400 a R$ 1.000 reais/m²/ciclo e,
em média, um lucro líquido de R$ 172/m²/ciclo ou R$ 688/m²/mês.
Inovações
Como ainda é bastante recente no Brasil, o cultivo indoor
pode ser considerado como uma técnica inovadora de produção de plantas. Esse
sistema exige condições ambientais controladas, fornecimento contínuo e
recirculação de água de irrigação de alta qualidade e nutrientes.
No cultivo indoor, em países desenvolvidos, avanços
em sistemas de robótica, sensores e imagens aumentam a produtividade e
qualidade dos microverdes. A captura de imagens pode avaliar a saúde das
plantas e seu peso. Câmeras têm sido instaladas em drones que voam entre as
prateleiras e inspecionam os cultivos. Além disso, identificam pontos vazios
nas prateleiras, e gerenciam o microclima de forma remota.
Outras técnicas, como sistema de desumidificação, que
reaproveita a água evaporada pelas plantas, permite melhorar a eficiência e a
produtividade da indústria vertical, pois reduz o uso de água em cinco vezes em
comparação com uma estufa hidropônica tradicional. Sistemas de alta tecnologia,
porém, ainda precisam ser desenvolvidos no nosso país, que dependem de altos
investimentos no setor.