Aumento de produção da soja é possível?

Aumento de produção da soja é possível?

O desenvolvimento de tecnologias próprias permite ao Brasil,
líder mundial na produção de soja, produzir o grão com sustentabilidade e sem
pressionar as áreas de florestas, mesmo considerando os cenários de aumento de
demanda do grão nos próximos anos.

A análise apresentada em 2019 por pesquisadores da Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) continua válida e responde parte
dos questionamentos internacionais sobre o sistema produtivo brasileiro. Com o
título “O aumento da produção brasileira de soja representa uma ameaça para a
floresta amazônica?”, o estudo analisa se as perspectivas de aumento de demanda
global, poderiam causar maior pressão sobre a floresta amazônica, como tem sido
sugerido no ambiente internacional.

O Brasil, líder na produção mundial de soja, produziu na
safra 2019/20, 125 milhões de toneladas com grão. A soja ocupa aproximadamente
37 milhões de hectares e o aumento da demanda global e consequentemente da
produção de soja é um desafio para o Brasil, que vai requerer engajamento de
toda a cadeia produtiva. “A Embrapa e parceiros têm uma agenda ampla de
tecnologias e pesquisas que garantem o crescimento sustentável da produção de
soja brasileira, a principal fonte de proteína para o mundo¨, destaca Alexandre
Nepomuceno, chefe geral da Embrapa Soja.

“A aplicação de alta tecnologia e práticas sustentáveis,
como o plantio direto na agricultura brasileira, têm permitido o incremento da
produção por unidade de área. A recuperação de áreas, como por exemplo,
pastagens degradadas, também tem permitido o aumento de produção. Existe muito
espaço ainda para o Brasil continuar ajudando a alimentar o planeta sem
pressionar áreas de preservação ambiental. A preservação de florestas nativas
também é estratégica para o agronegócio brasileiro no aspecto social, econômico
e ambiental”, explica Nepomuceno.

De acordo com Décio Gazzoni, pesquisador da Embrapa Soja, e
um dos autores do estudo, o Brasil tem sistematicamente projetado vários
cenários internacionais de demanda do mercado de soja para as próximas décadas
e desenvolvido estratégias para alcançar esses cenários de uma maneira
sustentável. “O cultivo da soja no bioma Amazônico está absolutamente fora de
qualquer cenário de expansão do volume de soja produzido no país, não apenas
pelas questões ambientais e restrições legais, mas também por questões
econômicas, de logística, técnicas e financeiras”, aponta Gazzoni.

Agro + florestas

Além de preservar a floresta como patrimônio nacional, o
Brasil detém domínio tecnológico para dobrar a produção atual nas áreas que já
cultivam soja ou recuperando áreas de pastagens degradadas.

“Os incrementos da produção brasileira nos últimos anos
estão diretamente associados às novas recomendações de manejo da cultura, ao
potencial genético de cultivares e às novas perspectivas abertas pela
combinação de áreas de pastagens degradadas em sistemas mais eficientes por
meio da Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF)”, explica. “O crescimento
do volume de produção está muito mais baseado no incremento de produtividade do
que no aumento da área plantada”, destaca.

O estudo conduzido pelos pesquisadores da Embrapa também
comparou dados de desmatamento na região amazônica e a expansão da área usada
para produção de soja no período de 2005 a 2018. De acordo com os autores do
estudo, além do país possuir uma das legislações ambientais mais rigorosas do
mundo, a própria iniciativa privada estabeleceu rigorosos compromissos com a
preservação do bioma amazônico. “A exploração dessas áreas para soja não é
adequada nem ambientalmente e nem economicamente”, explica Gazzoni.

O estudo exemplifica também como, nas últimas décadas, o
Brasil incrementou sua produção agrícola. Entre os exemplos apontados pelo
crescimento sustentável da produção, estão as tecnologias que permitiram
melhoria das pastagens pela inserção da agricultura na recuperação do solo,
entre eles o iLPF, estimado em  11,5 M de
ha em 2016.

Outra inovação da agricultura tropical foi o processo de
intensificação agrícola, ou seja, o uso de dois, às vezes três, ciclos de
cultivo por ano, na mesma área (safra e safrinha), o que implica reduzir a área
necessária para a mesma produção agrícola, também chamado de “efeito
poupa-terra”.

O pesquisador Marco Nogueira, também autor do estudo,
ressalta que o sistema de produção brasileiro está ancorado em tecnologias que
são ambientalmente favoráveis. “Entre elas estão a fixação biológica do
nitrogênio (que dispensa adubo nitrogenado e por isso diminui as emissões de
gases de efeito estufa e a contaminação de lençóis freáticos com nitratos), o
plantio direto (que conserva o solo, retém água e fixa carbono), técnicas de
manejo integrado de pragas e doenças, que formam um conjunto de tecnologias que
reduzem, inclusive, a emissão de carbono na atmosfera”, exemplifica.

O estudo completo está disponível em português e em inglês
no site da Embrapa Soja: www.embrapa.br/soja

Fonte: https://revistacampoenegocios.com.br