Tratamento das mudas com fitorreguladores de enraizamento

Tratamento das mudas com fitorreguladores de enraizamento

Talita Silveira AmadorBióloga e docente – Faculdade de Agronomia e Engenharia Florestal, Garça-SPtalitamador@hotmail.com

Lucas Lopes dos SantosGraduando em Agronomia – Faculdade de Agronomia e Engenharia Florestal, Garça-SPsantoslucas.agronomia@gmail.com

Marcelo de Souza SilvaEngenheiro agrônomo e docente – Faculdade de Agronomia e Engenharia Florestal, Garça-SPmace-lo-souza@hotmail.com

Uma lavoura florestal, com madeira de boa qualidade que
seja, ao mesmo tempo, produtiva, econômica e sustentável tem sido uma realidade
nos últimos tempos, mas depende diretamente da qualidade das mudas produzidas.
Merece ser ressaltado que a conformação do sistema radicular é muito importante
para a boa produtividade das lavouras florestais, e o uso de fitorreguladores
vegetais tem ajudado nessa conquista.

Fitorreguladores são mensageiros químicos, produzidos em uma
célula, que modulam os processos celulares em outra célula. Dentre os
fitorreguladores conhecidos, podemos citar o etileno, ácido abscísico,
citocinina, giberelina e a auxina.

Eles modulam processos que podem ser desde a maturação de
frutos, divisão e alongamento celular, regulação hídrica até o enraizamento. A
maioria dos fitorreguladores (ou hormônios vegetais) é capaz de ativar
respostas em células-alvo mesmo em concentrações extremamente baixas.

Em destaque

Dos fitorreguladores citados podemos destacar o grupo das auxinas,
que tem como principal atividade fisiológica a regulação do crescimento dos
vegetais. Estas são naturalmente sintetizadas em gemas apicais e folhas jovens.
Além de estimular e acelerar o enraizamento das estacas, a auxina uniformiza e
induz a formação de raízes em plantas tidas como de difícil enraizamento.

A aplicação exógena de auxinas é uma das formas mais comuns
de favorecer para o enraizamento, dentre as quais podemos citar o ácido
indolbutírico (AIB), ácido naftalenoacético (ANA) e o ácido indolacético (AIA).

Na produção de mudas de eucalipto, a propagação vegetativa
por estaquia é, ainda, a técnica de maior viabilidade econômica. As estacas
dever ter em média 10 cm de altura, diâmetros inferiores a 0,8 cm, mantendo-se
um par de folhas.

Antes da aplicação das substâncias promotoras do
enraizamento, preconiza-se a desinfestação do material com hipoclorito de sódio
numa concentração de 0,5% (ação bactericida) e Benomly 0,5 g/L (ação fungicida).
Esse processo pode ser o diferencial para o sucesso do enraizamento, uma vez
que a sanidade é fundamental para o desenvolvimento e crescimento vegetal.

As estacas podem ser tratadas com solução preparada com as auxinas
exógenas ou com pasta ou pó veiculado com essas substâncias. As concentrações
das soluções encontradas na literatura variam 500 a 8.000 mg L-1,
por essa razão, pré-testes se tornam necessários, uma vez que cada espécie ou
variedade pode ter uma resposta diferente quanto às concentrações.

As estacas também podem ser tratadas com soluções pelo
método rápido, em que ficam imersas por apenas alguns segundos, ou podem ser
tratadas pelo método lento, cujas estacas ficam imersas em solução por 16-24h,
porém, nesse último método aconselha-se o uso de aeradores durante o
tratamento.

Alternativas

Auxinas podem também ser veiculadas em talco/pó ou pasta.
Para aplicação em talco, no caso de IBA é aconselhado 1.500 mg para 1,0 kg de
talco inerte com posterior homogeneização em acetona. Em seguida, deve ser
colocado em estufa a 40ºC até toda a acetona ser evaporada.

O período de contato da estaca com o talco é bastante rápido.
Baseado na literatura, apenas 10 segundos traz um resultado eficaz. Em caso de
optar pela pasta, é indicado o uso de vaselina ou lanolina como veículo.

Quando o método de propagação vegetativa por estacas não
apresentar resultado satisfatório, ou quando se deseja aumentar a taxa de
propagação e abreviar o tempo para seu uso comercial, pode-se usar a técnica de
micropropagação, que é feita in vitro.

Por essa razão, é mais custosa e exige maior infraestrutura.
As etapas da micropropagação seguem um procedimento padrão, no qual os
explantes necessitam de limpeza e desinfestação prévia à inoculação no meio de
cultura.

Após o estabelecimento in
vitro
, os explantes são multiplicados, alongados, enraizados in vitro ou ex vitro e,
posteriormente, aclimatizados em ambiente ex
vitro
. Os estágios da micropropagação incluem a seleção, desinfestação e
cultivo dos explantes em meio nutritivo e condições assépticas.

Objetivo

A fase de multiplicação tem como objetivo a proliferação dos
explantes, que são inoculados em meio de cultura contendo combinações dos
fitorreguladores auxinas e citocininas.

O benzilaminopurina (BAP), uma citocinina sintética, tem
sido o mais utilizado para induzir a proliferação de gemas em eucalipto. As
concentrações indicadas têm variado de 0,006 µM a 8,8 µM. No entanto, outras
citocininas, como a cinetina, também têm sido utilizadas.

As combinações das citocininas têm sido feitas com as
auxinas ácido naftalenoacético (ANA) (0,01 µM a 5,3 µM) e ácido indolbutírico
(AIB) (0,05 µM) e 2,4-D (0,2 µM). Vale aqui evidenciar o uso do 2,4-D, que
originalmente tem seu uso associado ao controle do desenvolvimento de plantas,
porém, ao ser usado em subdoses ele pode estimular o crescimento. 

O uso de substâncias, por definição consideradas tóxicas, em
doses muito menores que a recomendada com o intuito de estimular o
desenvolvimento vegetal é conhecido como efeito hormese.

Alerta

Além do uso de fitorreguladores, o produtor deve ficar
atento a cofatores do enraizamento, como por exemplo uma boa nutrição mineral,
em especial o boro e zinco, que estão associados ao estímulo de desenvolvimento
de novas raízes, bem como À presença de carboidratos solúveis. Altas
concentrações de outros reguladores vegetais ainda podem ter respostas
antagonistas, por exemplo, a elevada concentração de giberelina desfavorece o
enraizamento. Reação contrária acontece com o etileno, já que sua presença pode
ser positiva.

Muitos produtores podem acreditar que o uso dessas
substâncias em altas doses poderia trazer resultados ainda melhores, porém, é
interessante ressaltar a importância de pré-testes, sendo que elevadas
concentrações podem causar fitotoxicidade, e consequentemente o investimento
feito seria em vão.

Durante a aplicação o produtor deve estar ciente das
recomendações de uso de equipamentos de proteção individual de acordo com o
produto utilizado.

Pesquisas

Em estudos sobre a propagação vegetativa de clones de Eucalyptus
cloeziana,
pesquisadores observaram que a utilização de menores dosagens
(1.500 mg) de AIB foram as mais recomendadas. Também foi destacada a maior
facilidade de aplicação de AIB em talco, apesar de não haver diferença
estatística quando comparado ao uso de solução. Isso também foi visto em Eucalyptus
urophylla
.

Mudas que chegam no campo mais vigorosas trazem muitas
vantagens para o produtor, tendo em vista que estas estão mais aptas no quesito
de competição com plantas daninhas no período de interferência da cultura, além
de serem mais tolerantes a possível pragas.

Fonte: https://revistacampoenegocios.com.br