Controle eficiente de pragas e doenças em hidroponia

Controle eficiente de pragas e doenças em hidroponia

Autores

Rafael Campagnol / Glaucio da Cruz Genuncioglauciogenuncio@gmail.com

Professores adjuntos
– Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT)

Elisamara Caldeira do NascimentoPós-doutoranda – PPGAT/UFMT

Talita de Santana MatosPós-doutoranda – CPGA-CS/UFRRJ

A população brasileira atualmente busca incessantemente uma
alimentação saudável, a partir de produtos isentos de resíduos de defensivos.
Esta é uma realidade que exige do produtor hidropônico a busca de informações
que gerem conhecimento aplicado em sua produção em função da adoção de
defensivos biológicos, que pode ser parcial ou total no cultivo de hortaliças
em hidroponia.  

Assim, este artigo pretende elucidar alguns pontos quanto à adoção deste tipo de manejo, conhecido como MIP e MID, ou seja, manejo integrado de pragas e doenças, respectivamente. Entretanto, por se tratar de um assunto extenso, este mesmo artigo não tem a pretensão de esgotar este tema, que é amplo por sua diversidade.

O
começo

O primeiro ponto relevante é a necessidade, por parte do
produtor hidropônico, o conhecimento da ocorrência temporal dos ciclos de
pragas e de doenças ao qual seu ambiente (cultivo protegido) está sujeito.

Tais informações são mapeadas ao longo de pelo menos três
anos de cultivo, fator este que gera experiência ao produtor. Quando falamos do
conhecimento das pragas ou das doenças, não podemos também nos esquecer de que
a sua ocorrência está intimamente ligada ao microclima da estufa. Assim, a
associação de temperaturas amenas e umidade baixa favorece a incidência de
oídio. Por outro lado, altas umidades associadas a temperaturas elevadas são
condições adequadas para o surgimento de Pectobacterium (ou erwinia).

Uma solução com temperaturas acima de 30ºC, com biofilme
presente (algas) e plantas suscetíveis são condições que predispõem ao ataque
de Phytium.

Soluções
biológicas

Uma das apostas nos
dias atuais é o uso do controle biológico em hidroponia. Define-se como
controle biológico a busca da manutenção do equilíbrio entre populações que
causem danos ao cultivo de plantas comerciais e de populações que são as
controlam, conhecidas agronomicamente como inimigos naturais.

Assim, ao adotarmos o controle biológico em hidroponia como
premissa fundamental para a redução de pragas e doenças, devemos ter “em mente”
que as pragas e doenças presentes no cultivo hidropônico não serão dizimadas e,
sim, que haverá uma manutenção destas populações causadoras de prejuízos
econômicos em um nível que não comprometerá a sustentabilidade do negócio; este
conhecido como nível de dano econômico.

Este nível é aceitável para o produtor quando ele estiver
acima do ponto de equilíbrio para o cultivo comercial de uma cultura, que é,
basicamente, onde as receitas pagam as despesas.

Questões básicas são levantadas por produtores interessados
na adoção deste método de controle de pragas e doenças, tais como: existem
produtos biológicos aplicáveis à hidroponia? Sua eficiência é comprovada? Qual
é o custo? Qual o período de carência? Qual a dose aplicada? Como deve ser
tomada a decisão para a aplicação?

Para respondermos tais questionamentos, primeiramente o
conhecimento do triângulo epidemiológico é importante, uma vez que toda a
eficiência do controle está em função das inter-relações entre os três pontos
deste triângulo.

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Ponta a ponta

Em cada vértice têm-se: o ambiente (microambiente, no caso
da hidroponia), a doença ou praga e o hospedeiro, ou produto hidropônico.
Assim, temos algumas situações que favorecerão o desequilíbrio nestas
inter-relações, como por exemplo, uma planta com as raízes mortas por falta de
oxigenação (hospedeiro – hipoxia radicular), que está em função de uma
temperatura acima de 31ºC da solução nutritiva, associada à baixa declividade
da bancada e altas temperaturas na estufa (ambiente) e a presença de Pythium
na solução (doença), que a partir de todo o contexto (ambiente x hospedeiro)
causará danos severos ao sistema de cultivo.

Assim, se um vértice não for fator contribuinte para a
expressão da doença, a possibilidade de infecção ou infestação torna-se baixa
ou nula. Portanto, é extrema importância ressaltar que, há pelo menos 10 anos,
algumas empresas vêm desenvolvendo soluções importantes para que o produtor
aplique o controle biológico no campo, com uma eficiência alta ao fazer uso em
cultivo em ambiente protegido.

Controle eficiente

Agentes e as doenças ou pragas que os mesmos controlam
abaixo do nível de dano econômico (NDE):

Agente biológico Doenças ou pragas controladas
Trichoderma
harzianum
Sclerotinia sclerotiorum,Sclerotium rolfsii, Rhizoctonia
solani, Fusarium
spp., Phytium spp. e Phytophthora
infestans
em diversas culturas, tais como o tomate.
Beauveria
bassiana
Bemisia
tabaci
e Tetranychus urticae.
Neoseiulus
californicus
Tetranychus urticae e Polyphagotarsonemus latus.
Trichogramma
pretiosum
Helicoverpa
zea, Neoleucionodes elegantalis
e Tuta absoluta.
Stratiolaelaps
scimitu
Fungus gnats (Bradysia sp. e scatella stagnalis),
que configuram pragas que geram elevados prejuízos a produtores hidropônicos
e viveiristas.
Bacillus
subtilis
Alternaria
dauci, Alternaria porri, Botrytis cinerea, Colletotrichum acutatum,
Colletotrichum gloeosporioides, Cryptosporiopsis perennans, Mycosphaerella
fijiensis, Pythium ultimum, Sphaerotheca fuliginea, Sphaerotheca macularis,
Rhizoctonia solani, Sclerotinia sclerotiorum e Xanthomonas vesicatoria.

Fique atento

A partir da possibilidade desta anulação da doença ou praga,
pode-se mensurar a eficiência do controle biológico, que será mais eficiente
quanto melhor for o monitoramento destas inter-relações. Assim, não é
plausível, por exemplo, considerar que o Trichoderma e o Bacillus
subtilis
irão atuar de forma eficiente se a solução nutritiva estiver acima
de 31ºC e repleta de algas e restos de raízes da(s) colheita(s) anterior(es).

Fazendo a retórica quanto aos questionamentos supracitados,
sim: existem nos mercados excelentes produtos biológicos a serem adotados no
manejo fitossanitário para o cultivo hidropônico, com uma eficiência que, via
de regra, é mais alta que em sistemas orgânicos, pois temos um ambiente
propício ao estabelecimento dos inimigos naturais, que é o cultivo em ambiente
de cultivo protegido.

Um exemplo é a adoção do controle biológico do ácaro rajado
(Tetranychus urticae) para a cultura do morango hidropônico a partir do
uso de ácaros predadores (Neoseiulus californicus e Phytoseiulus
macropilis
), ambos já comercializados no Brasil. Esta adoção apresenta alta
eficiência de controle.

Viabilidade

Ressalta-se que o controle biológico pode apresentar valores
mais elevados que o químico, porém, a tendência é uma baixa dos mesmos a partir
de um volume a ser comercializado. Deve-se levar em consideração que tais
medidas de controle devem ser avaliadas como investimento e agregação de valor
pelo produtor.

Uma vez que existe a nulidade de resíduos químicos, a
carência é baixa, assim como a dose aplicada, contudo, a decisão quanto à
aplicação estará sempre em função do monitoramento adotado.

Por outro lado, existe uma discussão extensa e importante a
ser adotada ao tratarmos do controle biológico em sistema de cultivo
hidropônico, uma vez que fica mais evidente que a exigência do mercado
consumidor por alimentos com alto padrão de qualidade e segurança alimentar
eleva-se a cada ano. Porém, este mesmo mercado (do qual fazemos parte) não está
acostumado com a presença do ácaro predador atacando o ácaro rajado. Assim, a
nossa tendência é a não aquisição do produto, comprometendo todo o trabalho do
produtor.

O amplo conhecimento das relações de predação, e da quase
impossibilidade de não se ter insetos presentes nas hortaliças hidropônicas com
a adoção do controle biológico, são pontos a serem discutidos entre os três
principais integrantes da cadeia produtiva de hortaliças hidropônicas, que são:
o produtor, o atacadista e o consumidor final.

Neste contexto, percebem-se as inúmeras possibilidades de
controle de pragas e doenças. Entretanto, cabe ao consumidor final o entendimento
conceitual do NDE, que resumidamente é a aceitação da possibilidade de
ocorrência de pragas e doenças nas hortaliças, uma vez que a utilização do
controle biológico indica que haverá um equilíbrio entre pragas/doenças e
hospedeiros, com a presença de ambos no produto comercial.

Importante saber

Temos que ter em mente que o cultivo hidropônico é uma
ferramenta que o produtor faz uso para melhorar a produtividade e qualidade de
produtos, porém, este sistema não isenta a possibilidade de ataque de pragas e
doenças.

Com isso, praticamente todas as culturas em cultivos
hidropônicos podem serem atacadas por pragas e doenças, as quais são similares
às que incidem nos demais sistemas (convencional e orgânico). 

Cabe então, ao produtor, a adoção de técnicas de manejo,
monitoramento e controle supracitadas, pois as pragas e doenças em hidroponia,
como nos demais sistemas, podem ocasionar perdas de até 100% ao produtor
hidropônico, como no caso de doenças radiculares.

Regiões mais afetadas

A incidência de pragas e doenças é distinta entre regiões.
Devemos adotar o critério de variações climáticas e microclimáticas. Regiões de
maiores temperaturas e UR% têm maior incidência de doenças fúngicas, por
exemplo, como a cercosporiose.

Em regiões quentes e secas a incidência de tripes é severa.
Regiões frias e secas o ataque de oídio pode ser severo, como é no Estado de
São Paulo. Há também a variação estacional, por exemplo, em São Paulo no calor
a incidência de tripes é alta e no frio a incidência de oídio é alta.

Assim, existe uma variação entre verão e inverno, cabendo ao
produtor ou ao engenheiro agrônomo estabelecer um histórico regional e temporal
para cada situação.

Fonte: https://revistacampoenegocios.com.br