Autor
Antônio de Pádua Alvarenga – Engenheiro agrônomo, doutor em Fitotecnia, pesquisador da Epamig e professor colaborador – Universidade Federal de Viçosa (UFV) –padua.alvarenga@gmail.com
Há certa dificuldade no Brasil em se obter dados mais
precisos de algumas culturas, e a seringueira não foge à regra. O Brasil possui
hoje, aproximadamente, 180 mil hectares de seringueira plantada. Muito dessas
áreas são plantios recentes, ainda em crescimento, somadas ainda a áreas no
final do ciclo, de baixa produtividade e precisando de renovação, bem como
aquelas em estado de abandono.
O Brasil produz cerca de 220 mil toneladas de borracha
natural, dados aproximados. Nas regiões produtoras onde a atividade é
considerada como de cultivo, ou seja, plantada, e a atividade é bem
tecnificada, a produção está em torno de 7,0 kg/árvore/ano = 3.500 kg de
coágulo/ha.
Nossa produtividade é superior à dos maiores produtores do
mundo. Na região Amazônica, cuja atividade é apenas de extrativismo, a
produtividade é muito baixa, reduzindo em muito a média nacional.
Oferta e demanda
Vale lembrar que o Brasil importa quase 70% do que consome de
borracha natural. Sendo que, somos o país com o maior potencial de produção do
mundo, seríamos capazes de ofertar toda a borracha natural consumida no mundo.
Apenas a título de exemplo, somente Minas Gerais possui uma
área de 23 milhões de hectares aptos ao plantio de seringueiras – no mundo há
cerca de 14 milhões de hectares plantados -, do mesmo modo, poderíamos citar
Mato Grosso do sul, Goiás, dentre outros.
Principais regiões produtoras
Considerando seringais instalados ou de cultivo, seriam:
Bahia, Espírito Santo, Goiás, Tocantins, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Norte
do Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Maranhão e Rio de Janeiro. O Estado com
maior área plantada e maior produtor é São Paulo, seguido da Bahia, Goiás, Mato
Grosso do Sul e Minas Gerais empatados, Espírito Santo, Mato Grosso e
Tocantins.
Possibilidades de rentabilidade
com essa espécie
Nesta questão há um pouco do lado pessoal da resposta, por
acreditar, em muito, na atividade. Mas terei diversos adeptos a essa nossa
resposta. Provavelmente seja a atividade agrícola de maior rentabilidade. Mesmo
passando por momentos de preços baixos, ainda é uma atividade rentável.
A cultura da seringueira tem impactos econômicos e sociais
extremamente positivos para o agronegócio brasileiro. Além de ser uma cultura
renovável, sua produção proporciona rentabilidade atrativa ao agricultor,
adequada à pequena produção e à agricultura familiar, fixando populações no
meio rural.
O que não se pode esquecer nunca é de adequar um bom manejo
para a atividade. A gestão do seu seringal é fundamental para o melhor
desempenho e melhor retorno econômico, principalmente em momentos de crise.
Planejamento
Considerando que a seringueira tem vida útil bastante
prolongada, chegando aos 50 anos, a implantação e a condução do seringal
requerem um planejamento criterioso, uma vez que qualquer erro ou omissão,
durante o seu período de imaturidade, acarreta redução da produção e da
produtividade da cultura.
Assim, quando se pretender instalar e explorar um seringal
com resultados compensadores, deve-se atentar para práticas de manejos
adequadas, pois um eventual insucesso pode ser percebido só num estádio
avançado da cultura, quando os prejuízos já forem irreversíveis.
Vários são os aspectos a serem considerados, um deles, por
exemplo, é o climático, mas que pode perfeitamente ser atenuado se a
seringueira for implantada em solos profundos, permeáveis, arenosos e de
textura média a argilosa, evitando solos que inibem a expansão do seu sistema
radicular.
Importância do solo
No tocante ao solo, ele é importante componente edáfico, que
influencia o estabelecimento e o desenvolvimento da seringueira. O solo deve
ser capaz de reter e suprir umidade e nutrientes, além de apresentar
porosidade, permeabilidade e adequado armazenamento de água.
Outro aspecto é o nutricional, lembrando que a seringueira é
normalmente estabelecida em área de solos pobres. Sendo assim, na fase de
desenvolvimento da seringueira, é muito importante o aporte de fertilizantes
estimulando seu rápido crescimento para encurtar o período de imaturidade.
Seringueira como cultura
complementar
Eu diria que a seringueira não é uma cultura complementar.
Eu a classificaria como principal. Complementar seriam as demais culturas que
entrariam em consórcio com a cultura da seringueira para fazer frente aos
períodos de baixa ou de nenhuma extração do látex.
No Estado de São Paulo há propriedades onde a cultura possui
uma rentabilidade superior à do gado de corte. É uma cultura que produz praticamente
o ano todo. Dependendo do manejo, consegue-se extrair o látex durante 11 meses
do ano, quiçá 12 meses.
Subprodutos
Há tempos encontramos em diferentes textos de jornais,
revistas, livros, dentre outros, que a “borracha natural é uma matéria
estratégica utilizada na manufatura de mais de 50 mil produtos, que incluem
materiais médico-hospitalares, preservativos, calçados, roupas, pneus, peças
automotivas, pisos, manta asfáltica, utensílios domésticos, brinquedos, móveis,
material bélico, além de outros.
Isso acontece em função das características que a tornam
insubstituível, como elasticidade, flexibilidade, resistência à abrasão e à
corrosão, impermeabilidade e fácil adesão a tecidos e ao aço”. Porém, mais de
80% da produção mundial está direcionada aos pneumáticos.
O mercado está mais do que preparado para absorver toda a produção
de borracha. São produtos essenciais e imprescindíveis ao nosso dia a dia.
Poderíamos afirmar que o mercado mundial e as grandes economias giram em torno
dessa “commodity”, que é a borracha natural.
Custo de produção x retorno
O custo de implantação de um seringal vai variar muito de
região para região, em função do tipo de terreno e sua inclinação, tipos de
preparo do solo (plantio direto ou preparo total da área), custo de mão de
obra, de mudas e insumos.
Na implantação de um seringal podemos considerar uma
variação de R$ 8.000,00 a R$ 10.000,00 por hectare. Já o custo de manutenção,
até o início de produção, de R$ 6.000,00 a R$ 10.000,00 por hectare,
considerando que um seringal entra em produção aos seis anos de idade. Este
início de produção tem sido também muito variado entre produtores e regiões.
Alguns textos têm informado que o retorno econômico pode
acontecer entre o 10º e o 12º ano de plantio. Porém, um manejo correto da
cultura tem trazido produtividades excelentes que podem reduzir esse tempo de
retorno econômico. Além do que, pode-se considerar, ainda, os consórcios com
culturas de ciclo curto, nos primeiros anos de implantação, que podem amenizar
os custos iniciais trazidos pela cultura.
Viabilidade
A meu ver, a heveicultura é uma atividade viável e altamente
sustentável. Ela começa a produzir aos seis ou sete anos de idade, mas admite a
associação de culturas intercalares, como o café, cacau, mamão, abacaxi, arroz,
feijão, soja, hortaliças, entre diversas outras, como alternativa de renda.
Seguindo um manejo correto um seringal tem uma vida útil que ultrapassa os 50
anos.
A seringueira também propicia elevados ganhos ambientais,
uma vez que se trata de uma planta altamente eficiente no controle do efeito
estufa. Sua capacidade de armazenar carbono é comparada às espécies mais
eficientes do nosso sistema.
Estudos demonstram a eficiência da seringueira em estocar
carbono atmosférico em quantidades equivalentes à de uma floresta natural, além
do grande potencial para a preservação de mananciais e para a recuperação de
solos degradados permitindo, ainda, a manutenção da vegetação natural entre
linhas de plantio.
O desenvolvimento da seringueira é muito satisfatório quando
cultivada em áreas degradadas e de relevo fortemente ondulado, desde que se
utilize o manejo adequado.