Autores
Júlio César Ribeiro – Engenheiro agrônomo e doutor em Agronomia/Ciência do Solo – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) – jcragronomo@gmail.com
Amanda Santana Chales – Engenheira agrônoma e mestranda em Ciência do Solo – Universidade Federal de Lavras (UFLA) – amandaachales@gmail.com
Cyndi dos Santos Ferreira – Graduanda em Agronomia – UFRRJ – cyndiferreira@hotmail.com
O pimentão (Capsicum annuum L.) possui grande
importância no mercado brasileiro, destacando-se por sua boa adaptação ao clima
tropical, sendo, no entanto, sensível a baixas temperaturas e geadas. O seu
cultivo requer, ainda, fertilidade, umidade e luminosidade apropriados para um adequado
desenvolvimento das plantas e consequentemente obtenção de frutos com
qualidade.
Com isso, o uso de estufas para produção de pimentão vem se
tornando uma alternativa altamente atrativa, apresentando grande vantagem, por
possibilitar o cultivo durante o ano todo, principalmente em épocas de
entressafra, quando a oferta do produto é menor e os preços são melhores.
Benefícios
O cultivo em ambientes protegidos proporciona diversos
benefícios ao pimentão, desde que seja conduzido de forma adequada. O maior
controle das condições ambientais, como temperatura, umidade e radiação solar
influenciam positivamente o cultivo, com maior estabilidade da produção,
proporcionando maior ampliação do período de colheita, proteção contra ventos e
chuvas, e redução da incidência de pragas e doenças, o que vem impulsionando o
cultivo de pimentão em ambientes protegidos, visto a melhoria na qualidade do
produto final.
Como implantar a técnica
É fundamental, antes da construção da estufa, realizar um
planejamento e detalhamento de toda a produção, desde a escolha da cultivar de
pimentão até a colheita e comercialização do produto.
Outro aspecto importante a ser estabelecido é a escolha do
local onde a estufa será construída, devendo-se optar por locais sem
encharcamento e ventos fortes, posicionamento em relação ao caminhamento do
sol, disposição de água de qualidade para a irrigação, dentre outros fatores
que influenciarão no desempenho produtivo da cultura.
O modelo da estufa a ser implantada e o material utilizado
em sua construção, como o tipo de estrutura, o tipo de plástico e o tipo de
telado também são aspectos que devem ser cuidadosamente avaliados, tendo em
vista que para o pleno desenvolvimento da cultura essas escolhas são
importantes.
Outros cuidados essenciais a serem tomados, ainda durante a
construção, estão relacionados à ventilação do ambiente de cultivo, o que é
fundamental para o desenvolvimento das plantas. Para isso, deve-se atentar à
dimensão ideal do pé direto de acordo com a região do País, em decorrência das
temperaturas mais amenas ou mais elevadas, evitando aquecimento excessivo da
estufa.
Da mesma forma, de acordo com a região do País, a maior ou
menor presença de luminosidade indicará quais os melhores materiais (plásticos
e telas de sombreamento) a serem utilizados no revestimento das estufas, visto
que a luminosidade influencia diretamente no desenvolvimento das plantas de
pimentão.
Do plantio à colheita
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A produção de pimentão em ambiente protegido requer alguns
cuidados, desde a implantação até o momento de colheita. A escolha de sementes
com alto vigor é fundamental para o desenvolvimento e uniformidade da produção.
Outro fator essencial à produção é o espaçamento a ser adotado, visto que a
densidade de plantio tem grande influência na produtividade, associando-se a
maior competição por água e nutrientes.
Antes da implantação da cultura é fundamental a realização
da análise de solo, uma vez que a fertilidade possui papel essencial no
desempenho das plantas de pimentão, sendo importante o preparo adequado do
solo, efetuando sua correção e adubação em doses apropriadas, se necessário.
Outra prática importante a ser considerada na produção de
pimentão em estufas é a irrigação, visto que a cultura possui grande exigência
em água durante todo seu ciclo, principalmente durante o período de floração e
frutificação, no entanto, não tolera encharcamento, o que pode causar doenças
nas plantas, sendo importante evitar solos com baixa drenagem.
O fornecimento de nutrientes em quantidades adequadas às
plantas de pimentão cultivadas em estufas pode ser realizado por meio da
técnica de fertirrigação, possibilitando um desenvolvimento e produtividade
satisfatórios. No entanto, é necessário que seja realizado de acordo com os
resultados verificados na análise de solo e das plantas (tecido vegetal), de
modo que as exigências nutricionais sejam supridas de forma eficiente.
O controle de plantas invasoras também tem grande
importância durante o cultivo, pois pode ocasionar redução no desenvolvimento
da cultura de pimentão e, consequentemente, menor produtividade. Sendo assim, é
necessário evitar a competição com as plantas indesejáveis principalmente até
60 dias após o plantio.
Durante o cultivo, o tutoramento e condução das plantas de
pimentão são essenciais, de modo a garantir que as folhas e frutos não fiquem
em contato com o solo, evitando o aparecimento de doenças.
Relação com a produtividade
O cultivo de pimentão
em estufas proporciona uma melhor produtividade e qualidade dos frutos, além da
possibilidade de produção o ano todo, favorecendo o fornecimento do produto em
épocas em que a produção a campo não seria possível.
De modo geral, a produtividade das plantas de pimentão
cultivadas em ambientes protegidos pode chegar a 170 toneladas por hectare,
sendo possível ter uma produção de aproximadamente 200 caixas por mês.
Em algumas regiões do Brasil, a produtividade média de
pimentão cultivado em campo aberto varia entre 35 e 40 toneladas por hectare, enquanto
em ambientes protegidos a produtividade pode até quadruplicar, sendo evidente o
retorno que o cultivo em estufa pode proporcionar ao agricultor.
Contudo, alguns cuidados durante o cultivo de pimentão em
ambientes protegidos devem ser tomados a fim de evitar possíveis problemas.
Atenção especial deve ser dada para a temperatura e umidade relativa do ar na
estufa durante o ciclo de cultivo de pimentão, visto que essas condições podem
favorecer a incidência de doenças como, por exemplo, a murcha bacteriana (Ralstonia
solanacearum).
Temperaturas ideais ao cultivo não devem exceder 27°C,
principalmente durante o florescimento das plantas de pimentão, e a umidade
relativa do ar deve permanecer entre 50 e 70%.
Em regiões com temperaturas elevadas, a escolha do local
para a construção da estufa é um fator relevante, devendo-se efetuar a
instalação em locais bem ventilados, ou ainda optar pela instalação de
ventiladores apropriados, prática que ajuda a minimizar o risco de
superaquecimento do ambiente de cultivo.
Cuidado!
A utilização de fertilizantes de forma inapropriada pode
causar problemas de fertilidade do solo a médio e longo prazos, como por
exemplo, a salinização, gerando desequilíbrios de nutrientes e incapacidade de
produção.
Para evitar esse problema, é essencial que seja efetuada a
análise de solo previamente à adubação, podendo, a partir dos resultados,
realizar o fornecimento de nutrientes de forma adequada, de acordo com a
necessidade da cultura. O possível desequilíbrio nutricional das plantas de
pimentão pode ainda ser suprido por adubações foliares realizadas a partir de
resultados de análise do tecido vegetal.
Outro cuidado importante no cultivo de pimentão em estufas
está relacionado à irrigação, devendo a mesma ser realizada com água isenta de
contaminantes e em quantidades adequadas, especialmente durante o período de
floração das plantas, apesar da cultura possuir necessidade de água durante
todo seu ciclo.
O déficit ou excesso de água na fase de floração pode causar abortamento das flores e frutos, ocasionando acentuada redução na produção. O espaçamento de plantio e o tutoramento das plantas são cuidados a serem tomados no cultivo de pimentões, sendo recomendado o espaçamento de 25 a 45 cm entre plantas, e o tutoramento das plantas com fitilhos plásticos, de forma a evitar o contato dos frutos com o solo, minimizando danos ao produto.
Investimento x retorno
O investimento inicial no cultivo do pimentão em estufas é
muito variável, estando diretamente relacionado à região e tecnologia empregadas
na estrutura. Estruturas de cultivo mais simples apresentam custo por metro
quadrado bem menor quando comparadas às estruturas automatizadas, que podem
custar milhares de reais.
Entretanto, a maior facilidade no manejo da cultura
proporcionado pelo ambiente protegido (seja ele mais simples ou abarcado de
maior tecnologia), associado a uma produção padronizada em menores áreas, e a
possibilidade de cultivo durante o ano todo, permite um produto com melhor
valor, e o retorno do investimento em pequeno e médio prazos.
Contudo, é fundamental o planejamento e acompanhamento por
profissionais qualificados desde a escolha do local para a construção da
estrutura, plantio, manejo, colheita e comercialização da produção, levando sempre
em conta os recursos financeiros disponíveis para que se tenha sucesso na
atividade.