Cana: Manejo sustentável com Azospirillum brasilense

Cana: Manejo sustentável com Azospirillum brasilense

Autores

Renato Passos BrandãoGerente do Deptº Agronômico do Grupo Vittia

Viviane C. Martins BordignonGerente de Produtos Inoculantes

Camila AbrahãoAssistente Técnica do Deptº Agronômico do Grupo Vittia

O Brasil é o maior produtor mundial de cana-de-açúcar, sendo
uma cultura de grande importância socioeconômica no Estado de São Paulo, Zona
da Mata de Alagoas e Pernambuco. Recentemente, ocorreu uma grande expansão da
cultura da cana-de-açúcar no Triângulo Mineiro, Goiás, Mato Grosso do Sul e
Mato Grosso.

Além da produção de açúcar, a cana é uma das melhores
alternativas para a produção de biocombustíveis (etanol). Atualmente, as
unidades de produção também atuam na geração de energia elétrica, aumentando a
receita e contribuindo para a sustentabilidade da atividade econômica (Conab,
2017).

Nitrogênio na cana

As quantidades de nitrogênio extraídas do solo pela cana-de-açúcar variam de acordo com os métodos de cultivo, variedade, tipo de solo e produtividade do canavial. O nitrogênio é o segundo nutriente mais absorvido pela cana-de-açúcar, superado apenas pelo potássio.

P2O5 = P x 2,291

K2O = K x 1,205

No Brasil, em média, são aplicados 45 kg/ha de N na
cana-planta e 80 kg/ha de N nas soqueiras. O acúmulo de N total nas folhas
verdes e secas e nos colmos da cana-planta podem atingir 260 kg/ha de N (Vittia
et al., 2011) e 120 kg/ha de N nas soqueiras (Baptista et al., 2014), valores
superiores ao fornecimento via adubação nitrogenada.

A complementação da necessidade do nitrogênio da cana é
proveniente do solo – mineralização da matéria orgânica, aporte de nitrogênio
via descargas elétricas e fixação biológica do nitrogênio.

Funções do nitrogênio

O nitrogênio está diretamente relacionado com a
produtividade e a qualidade da cana-de-açúcar. Este elemento é responsável pelo
desenvolvimento vegetativo da cana. Entretanto, pode diminuir o teor de
sacarose dos colmos.

Tem função estrutural, participando de diversos compostos
orgânicos nitrogenados – aminoácidos, proteínas, aminas, amidas, aminoaçúcares,
dentre outros (Malavolta, 2006). Atua na produção da clorofila e está envolvido
diretamente na fotossíntese da cana-de-açúcar (Prado, 2008).

Ciclo do nitrogênio

O nitrogênio é um dos elementos químicos mais dinâmicos na
natureza e suas transformações são mediadas por microrganismos (Figura 1). O
nitrogênio é o principal componente da atmosfera, correspondendo a cerca de 78%
de sua composição.

Entretanto, poucas espécies são capazes de utilizá-lo,
dentre as quais algumas bactérias e cianobactérias, em um processo biológico
denominado de fixação biológica do nitrogênio – FBN. Nesse processo, as
bactérias convertem o nitrogênio gasoso (N2) em amônia (NH3)
que posteriormente é convertida em íon amônio (NH4+).

N2 (g) + 3H2 (g) → 2NH3 (g)
+ H+ (aq) → 2NH4+ (aq)

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A transformação do íon amônio para nitrato, denominada
nitrificação, ocorre em duas etapas no solo e é mediada por bactérias do gênero
Nitrosomonas e Nitrobacter. As bactérias do gênero Nitrosomonas
promovem a oxidação do amônio (NH4+) para nitrito (NO2-),
conforme mostra a reação abaixo.

NH4+ (aq) + 3O2 (g) → 2NO2-
(aq) + 2H2O (aq) + 4H+ (aq)

O nitrito é um produto intermediário, pois é rapidamente
oxidado a nitrato, pela ação das bactérias do gênero Nitrobacter.

2NO2- (aq) + O2 (aq) → 2NO3-
(aq)

O nitrato produzido na nitrificação pode ser absorvido pelas
plantas, utilizado pelos microrganismos, perdido por lixiviação ou por
volatilização.

Como acontece a volatilização

A volatilização é a perda de nitrogênio na forma gasosa (N2O
e N2) por meio da redução microbiológica do nitrato em ambientes
anaeróbicos. A desnitrificação não é um fenômeno exclusivo de solos inundados.
A compactação do solo pode criar ambientes com baixa oxigenação acelerando a
desnitrificação.

Adubação nitrogenada

A adubação nitrogenada é a forma mais usual para o
fornecimento deste nutriente para a cana-de-açúcar. Porém, é um dos insumos
agrícolas que mais demanda energia para a síntese e processamento, contribuindo
para a elevação do custo de produção das culturas (Alves et al., 2016).

A adubação nitrogenada apresenta baixa eficiência na cultura
da cana-de-açúcar. As perdas de nitrogênio por lixiviação, desnitrificação e
volatilização são expressivas. Além do aspecto econômico, o óxido nitroso (N2O)
é um dos gases de efeito estufa (GEE).

Estratégias de aumento da
eficiência do nitrogênio

Os sistemas agrícolas possuem baixa eficiência no
aproveitamento dos fertilizantes nitrogenados. A taxa de recuperação do
nitrogênio aplicado no solo pelos fertilizantes nitrogenados é baixa. Em média,
estima-se que apenas 50% do nitrogênio aplicado no solo é absorvido pelas
plantas (Fernandes, 2016).

Dentre as práticas que aumentam a eficiência da adubação
nitrogenada, destaca-se o parcelamento do nitrogênio aplicando as maiores doses
nas fases de maior demanda da cultura, evitar a utilização da ureia em sistemas
de colheita com cana crua e fertilizantes de liberação lenta ou controlada.

O uso de inibidores de nitrificação melhora a eficiência dos
fertilizantes nitrogenados com o íon amônio reduzindo a velocidade de
transformação para o nitrato, forma química mais facilmente lixiviada.

Fixação biológica do nitrogênio

A fixação biológica do nitrogênio, realizada por
microrganismos fixadores de N2, é um processo que transforma o
nitrogênio atmosférico (N2), uma molécula abundante na atmosfera, em
uma forma assimilável pelas plantas – NH3.

Essa interação é determinada pelo genótipo da planta que
proporciona um ambiente favorável para a bactéria, como proteção e nutrição. Em
contrapartida, a bactéria fornece nitrogênio às plantas.

Um exemplo de um exímio processo simbiótico é entre as
bactérias do gênero Bradyrhizobium spp. com a cultura da soja. O Brasil
é campeão mundial na utilização desta tecnologia, contribuindo para a redução
do efeito estufa no Planeta Terra.

Porém, existem outras bactérias capazes de fixar o
nitrogênio atmosférico. São bactérias de vida livre, podendo ou não se associar
com as plantas, dentre os quais o Azospirillum brasilense, que possui a
capacidade de fixar o nitrogênio atmosférico, porém em quantidades bem
inferiores às fixadas pelo Bradyrhizobium spp. Segundo Urquiaga et al.
(2012), a quantidade de nitrogênio fixado biologicamente em cana-de-açúcar é de
aproximadamente 40 kg/ha.

Além disso, o Azospirillum brasilense também é
conhecido como bactéria promotora de crescimento, sintetizando hormônios
vegetais indispensáveis para o desenvolvimento das plantas, como auxinas,
giberelinas, citocininas e ácido indolacético – AIA.

Conforme comentado anteriormente, é uma bactéria diazotrófica de vida livre, que coloniza a rizosfera de plantas sem a formação de nódulos, podendo também ser endofíticas, ou seja, capazes de penetrar nos tecidos das plantas (Figuras 2 e 3). Por possuir essas características, essas bactérias podem se associar a diversas espécies vegetais, como milho, trigo, arroz, soja, feijão, cana-de-açúcar e ainda pode ser utilizada em pastagens. 

A maior produção de fitohormônios por plantas que possuem
relação estabelecida com o Azospirillum brasilense resulta em benefícios
diretos no melhor desenvolvimento das plantas, bem como no maior aproveitamento
de recursos naturais do solo e daqueles fornecidos pelas práticas culturais,
calagem e adubação, dentre outras.

Shankariah e Hunsigi (2001) verificaram que a inoculação com
o Azospirillum brasiliense aumentou a produção de cana-planta e
cana-soca em aproximadamente 5,0 a 9,0 t/ha, respectivamente.

Lino (2018) verificou que a aplicação de Azospirillum
brasiliense
com a menor dose de nitrogênio (60 kg/ha) em soqueira de
cana-de-açúcar – variedade RB855156 -, aumentou a produção de colmos em 12 t/ha
e 2,1 t/ha de açúcar, apresentando resultados similares ao tratamento com a
maior dose de nitrogênio (120 kg/ha).

Portanto, é uma bactéria que pode contribuir
significativamente para o desenvolvimento vegetativo e incremento da
produtividade de cana-de-açúcar.

Biomax® Azum

Biomax® Azum é um inoculante líquido formulado com Azospirillum
brasilense
(AbV5) na concentração de 3 x 108 UFC/mL. Contém solução
estabilizada do metabolismo das bactérias, permitindo maior viabilidade e
efetividade da estirpe da bactéria fixadora de nitrogênio.

Benefícios

• Fornecimento de nitrogênio adicional em complementações às
adubações nitrogenadas;

• Maior desenvolvimento vegetativo da cana;

• Melhora o aproveitamento de água e nutrientes pela cana;

• Garante excelente relação investimento-benefício;

• Maior sustentabilidade do sistema de produção;

• Maior produtividade e rentabilidade das culturas, como a
cana-de-açúcar.

O Grupo Vittia tem desenvolvido vários trabalhos a campo,
para melhor entendimento da resposta dessa bactéria na cultura da
cana-de-açúcar e tem verificado incrementos significativos nos parâmetros
biométricos dessa cultura, bem como na produtividade.

Considerações finais

O uso do Azospirillum brasiliense em cana-de-açúcar é
uma alternativa viável economicamente para o setor sucroenergético. É uma
tecnologia de baixo custo e sem impactos ambientais.

Promove incremento no teor foliar de nitrogênio, bem como de
produtividade, tanto em cana-planta quanto em cana-soca, e a sua associação com
fertilizantes nitrogenados tem apresentado maior eficiência em diferentes
variedades de cana-de-açúcar.

Fonte: https://revistacampoenegocios.com.br