O mercado consumidor brasileiro tem, a cada dia, se tornado
mais exigente quanto à qualidade do produto e preço de hortaliças como a
berinjela, afirma Antonini et al. (2002).
Produtores vêm se modernizando e investindo em tecnologias que visem um
melhor aproveitamento da cultura, a fim de obter cada vez mais uma
produtividade elevada.
Assim, investir no manejo orgânico tem se tornado tendência
em meio aos produtores de diversos segmentos, por atrair um nicho de mercado
cada dia mais crescente em todo o Brasil.
Os Estados que mais produzem berinjela são Rio de janeiro,
São Paulo e Paraná, sendo São Paulo o maior produtor, com uma produção de 46
mil toneladas e produtividade de 30 a 65 t ha-1 em cultivo no campo
e 60 a 95 t ha-1 em cultivo protegido, tendo demanda crescente
devidos às propriedades medicinais dos frutos, como redução do nível de
colesterol e como fonte de sais minerais e vitaminas (Sfalcin, 2009; Bilibio et
al., 2010; Zonta et al., 2010).
Minas Gerais chega a uma produtividade de 25 a 70 t ha-1,
quando é obedecida a exigência de adubação e manejo adequado na região, seguida
do Estado do Rio de Janeiro, com uma produtividade de 20 a 30 t ha-1.
Por onde começar
O plantio deve ser feito em locais com declividade de até 4%
no terreno. Devem ser construídos canteiros de 1,0 m de largura com 0,2 m de
altura. A distância entre os canteiros deve ficar entre 0,4 a 0,6 m.
A forma mais cultivada é em fileiras simples, obedecendo um
espaçamento que pode variar de 1,2 a 1,5 m entrelinhas e 0,6 a 1,0 m entre
plantas, porém, deve-se atentar às condições do local de plantio. Pode ser
feito o uso de mulching em associação com o cultivo protegido, evitando a
proliferação de plantas daninhas, além de obedecer a legislação vigente de
produção de produtos orgânicos.
Produção de mudas
É importante que as mudas sejam feitas em bandejas em
ambiente protegido, como viveiros ou casa de vegetação. O uso de bandejas de
poliestireno expandido com 128 células é adequado.
O substrato deve ser aerado e a nutrição balanceada para um
bom desempenho das plantas em campo. Substratos alternativos, como a junção de
terra preta (70%) e casca de arroz (30%), são adequados na produção de mudas de
boa qualidade (Casais et al, 2019). Plantas de berinjela se adaptam melhor a
temperaturas entre 18 e 30ºC e 80% de umidade relativa do ar.
A irrigação deve ser regular e adequada. Não pode haver
encharcamento ou seca nas mudas, pois essa fase é de suma importância para que
haja plantas vigorosas. Devem ser realizadas duas vezes em dias mais frios até
quatro vezes em dias quentes, nos horários amenos do dia, como início da manhã
e fim de tarde.
O transplante é feito quando as mudas apresentam quatro
folhas definitivas para os canteiros, onde deve ser feito um procedimento de
tutoramento dessas plantas, podendo ser com fitilhos, fio de arame ou estacas
de bambu. No decorrer do crescimento das plantas é realizada a amarração dos
ramos aos tutores.
Nutrição
A adubação deve ser feita preferencialmente com resíduos orgânicos
e substratos alternativos, como no caso do uso de coberturas mortas sob toda a
área do canteiro. Isso mantém certa umidade na planta e favorece o crescimento
das raízes, melhorando o desempenho das plantas.
Entretanto, é importante que o produtor se certifique que
tais materiais utilizados são de procedência orgânica, sem que tenham nenhuma
exposição a produtos químicos.
Colheita
O monitoramento da temperatura dentro da área de produção
ajuda a evitar problemas como o abortamento de flores e frutos. A colheita
inicia quando os frutos apresentam o tamanho de 15 a 20 cm de comprimento, no
período de 45 a 60 dias após o transplante, conforme as condições ambientais do
local de cultivo.
O ponto de colheita é observado pelas características
visuais da variedade e depende do tipo de fruto e coloração da cultivar. Os
frutos devem estar com a coloração brilhante e polpa macia, e devem ser
colhidos antes de completarem o seu ciclo de maturação.
Benefícios do cultivo orgânico
Segundo dados do Censo Agropecuário (IBGE, 2006), o Brasil
apresenta cerca de 90.497 produtores orgânicos. A Embrapa (2017) diz que em
regiões com condições climáticas adversas, tais como chuvas, frio intenso e
ventos, a proteção no cultivo de berinjela permite que se cultive praticamente
o ano todo, principalmente quando aliado ao uso do mulching e adubação com
resíduos alternativos.
Este tipo de cultivo geralmente reduz o ataque de doenças e
pragas, propiciando economia de insumos. Além disso, os frutos apresentaram uma
aparência melhor e boa qualidade. O período da colheita é prolongado por mais
tempo.
O clima favorável ao desenvolvimento da berinjela é
tipicamente tropical, favorecido pelo calor (Filgueira, 2000). A maior
limitação para o cultivo é a umidade no solo inadequada durante seu ciclo, como
ocorre na maioria das hortaliças (Marouelli et al., 1996).
A sua produção em estufa permite o controle mais eficaz,
principalmente quanto à deriva de produtos químicos pulverizados em lavouras
que por ventura possam estar próximas ao plantio das berinjelas. Quando há a
utilização de fertirrigação, que pode ser feita com a utilização de esterco
bovino ou cama de aviário, a produtividade é elevada.
Orgânico + plantio direto
Associado à produção orgânica de alimentos, o uso do plantio
direto tem recebido especial atenção em função do seu alto potencial de
recuperação das propriedades físicas do solo relacionadas à sua capacidade de
armazenamento de água (Obalum & Obi, 2010).
Também as berinjelas híbridas vêm sendo amplamente utilizadas,
principalmente por possuírem capacidade de resistência genética tanto na
proliferação de doenças fúngicas quanto pelo seu maior vigor (Ribeiro et al.,
1998).
Produtividade + rentabilidade
Rocha et al. (2018) verificaram uma produtividade média de
55 ton/ha-1 durante os três primeiros meses produtivos. Tal
produtividade se mostrou acima da média, quando comparada com dados da Emater.
Calculando-se uma lucratividade de 49% no primeiro ciclo de
cultivo e de 89% no segundo ciclo, em que a menor lucratividade observada no
primeiro ciclo se deu devido ao alto custo de implantação da cultura irrigada,
mas que pode ser recuperada rapidamente ao longo dos próximos ciclos, sendo a
condução da berinjela orgânica em plantio direto grandemente rentável, podendo
vir a ser fonte de renda para pequenos agricultores.
Rentabilidade
Como nesta prática a utilização de agrotóxicos e adubação
química sintética não é permitida, a produção orgânica apresenta grandes
desafios em relação ao cultivo convencional. Raigón et al. (2010) afirmam que a
cultura da berinjela se adapta bem a esse tipo de manejo, por apresentar
tolerância e resistência a muitas pragas e doenças que afetam outras hortaliças
da mesma família (Solanaceae).
Não admitidos pela legislação federal Lei nº 10.831 de 2003,
o uso de aditivos químicos como adubos nitrogenados sintéticos e agrotóxicos
podem revelar uma grande dor de cabeça ao produtor iniciante na prática da
agricultura orgânica, porém, que podem ser remediadas com a sua adequação a
algumas medidas preventivas.
Outro erro bem frequente cometido por alguns produtores é
não se atentarem quanto à legislação, pois a mesma dá aos produtores todas as
diretrizes de cultivo para uma produção correta e aceitável, a fim de serem
considerados produtos orgânicos.
Deve-se considerar uma boa margem de distância entre o local
de produção ao produto aspirante a orgânico de outras plantações que fazem uso
de insumos agroquímicos, pois a partir da deriva desses produtos pelo vento
pode haver contaminação ao cultivo das berinjelas, o que põe em risco a
veracidade do produto orgânico.
Além disso, todos os produtores orgânicos devem elaborar um
Plano de Manejo Orgânico, que deve ser aprovado pela Avaliação da Conformidade
Orgânica (OAC), ou Organização de Controle Social (OCS) ao qual esteja
vinculado, onde devem constar de forma detalhada os insumos e práticas adotados
em sua (s) unidade (s) de produção.
Custo
Como se trata de uma técnica simples, não há gastos, e o
produtor pode fazer uso de insumos alternativos encontrados na própria
propriedade. O produtor também pode fazer uso de compostagens na adubação do
plantio, utilizando todos os restos vegetais de culturas produzidas na área em
união a outros elementos, como palha de arroz, caroço de açaí, terra preta e resíduos
alimentícios. Isso pode gerar bons frutos, que mais tarde podem ser revendidos
em mercados, supermercados e feiras, atraindo boa rentabilidade.
No município de Tocantins, no ano de 2013 uma caixa com 12
quilos de berinjela chegou a ser vendida por R$ 3,00, mas hoje chega a valer R$
18,00, visto que em cultivo protegido podemos obter produtividade de até 55 ton/ha-1,
gerando uma grande rentabilidade para o produtor que gastará muito pouco com
insumos.
O cultivo de berinjela gera uma rentabilidade positiva aos
produtores, sendo ela uma das maiores receitas com vendas registradas nas
Ceasas no território nacional entre os anos de 2016 e 2018.
Os custos de produção não são elevados, sendo alto apenas o
investimento inicial quando há a utilização de estufas, no entanto, o cultivo
em solo sob esta técnica de cultivo é relativamente baixa. Quanto ao uso da
técnica, aliado ao cultivo em estufa, grande parte dos problemas ocasionados
pelo manejo são resolvidos elevando a produtividade e resultado em mais qualidade
ao produto final.
Vantagens
Existem várias vantagens relacionadas à utilização da
agricultura orgânica, como maior redução de custos com defensivos e
fertilizantes, além da obtenção de grande produtividade, quando bem manejado,
além de apresentar boa proteção do solo contra lixiviação.
É uma técnica que apresenta um baixo custo inicial de
implantação, e o produtor consegue obter um retorno rápido na intensificação da
produção. O cultivo torna o produto com melhor aparência segundo os
consumidores, e de boa qualidade, além de reduzir drasticamente o gasto com
produtos agroquímicos, resultando em um policiamento da economia nos insumos
utilizados.