A rúcula (Eruca sativa)
é uma hortaliça folhosa que vem tendo aumento de demanda em razão de seu sabor
diferenciado tanto para consumo em saladas como componente na elaboração de
pratos gourmet e em função de seus
diversos benefícios à saúde humana. Esse aumento de demanda gerou,
consequentemente, uma busca por aumento de produtividade, e a hidroponia surgiu
como uma alternativa para se conseguir ótimos resultados, tanto em produção
total como em produtividade por unidade de área plantada e por tempo, quando
comparada ao sistema de produção convencional, em canteiros.
Tomando como exemplo o sistema hidropônico NFT, em perfis,
onde circula a solução nutritiva, o incremento de produtividade é possível em
virtude de aumentar a densidade de plantas em até 35% por unidade de área. Além
disso, como esse sistema geralmente está em ambiente protegido, a planta pode
expressar melhor o seu potencial de produção, já que está num microclima mais
apropriado, diminuindo os efeitos de fatores externos negativos, como insolação
excessiva, geadas, pragas e doenças.
Entre
um e outro
Enquanto em canteiros o ciclo médio varia de 32 a 40 dias
após a semeadura, no sistema NFT, onde a semeadura é feita em espuma fenólica,
a colheita pode chegar a ser feita até antes de 26 dias após a semeadura, um
ganho mínimo de seis dias, ou seja, mais de 18%.
Também deve ser considerado o fato de que na hidroponia não
se faz necessário refazer canteiros. Isso permite que se possa aproveitar
novamente a área imediatamente após a colheita, sem necessidade de correções de
solo, rotação de culturas e preparo de novos canteiros. Esse pequeno detalhe
pode fazer render dois ou até mais ciclos no decorrer de um ano, ou seja,
aumento de 16% ou mais em um período de um ano.
Considerando estes principais fatores, o aumento de produtividade
na hidroponia pode facilmente alcançar e até ultrapassar os 50% de incremento
em produtividade.
Manejo
Esse aumento de 50% ou mais na produtividade é possível
quando a técnica de hidroponia é implantada e operacionalizada da forma mais
fiel possível ao que é proposto por ela.
A estufa deve ser construída de modo a oferecer o máximo de
conforto às plantas, visto que no Brasil o verão é considerado quente. O ideal
é que a estrutura disponha de tela de sombreamento para os dias e horas mais
quentes, pois a temperatura recomendada para o cultivo da rúcula é de 15 a 18ºC.
A primeira etapa do processo de produção consiste em
realizar a semeadura da rúcula em espuma fenólica. Pode-se também produzir as
mudas em bandejas de plástico ou poliestireno com substrato, todavia, em muitos
casos esse tipo de muda não apresenta o mesmo desempenho que a produzida em
espuma fenólica.
Na espuma fenólica colocam-se de 10 a 12 sementes por célula
de 2,0 x 2,0 x 2,0 cm, mantendo a umidade da espuma, mas sem excessos. Em
aproximadamente 24 a 30 horas, a semente já rompe completamente o tegumento e
são visíveis as primeiras radicelas e folhas. A partir desse momento, as
espumas contendo as sementes germinadas devem ir para uma bancada onde passam a
receber solução nutritiva de três a seis vezes por dia, dependendo da condição
climática da época.
Permanecem nesse local de seis a oito dias, quando atingem
cerca de cinco centímetros de altura. Deve-se prestar muita atenção nesta fase
de muda, pois é a mais crítica e suscetível a doenças. É recomendado não
exagerar na irrigação, para que não provoque o tombamento das mudas.
Ao atingirem cinco centímetros de altura são transferidas
para as bancadas de crescimento, ou bancada final, como é também conhecida.
Tais bancadas devem ser construídas com inclinação mínima de 5%, ou seja,
desnível de cinco centímetros por metro de perfil/calha.
Os perfis ou calhas para rúcula disponíveis no mercado vêm
por padrão com furos de 4,0 cm de diâmetro e 12,5 cm de distância entre si. Em
cada perfil, o fluxo de solução nutritiva que apresenta melhores resultados de
produção é de aproximadamente 1,2 litro por minuto. A bomba deve ser
dimensionada de acordo com o número de bancadas para atingir esse volume de
solução em cada perfil.
A solução nutritiva utilizada geralmente é a proposta por
Pedro Furlani, ou baseada nela, conforme tabela a seguir:
Nome do sal |
g./ 1.000 L |
Nitrato de cálcio |
750 |
Nitrato de potássio |
500 |
MAP (mono amônio fosfato) |
150 |
Sulfato de magnésio |
420 |
Ferro EDDHA 6% |
30 |
“Cocktail” de micronutrientes |
10 a 20 (consultar a recomendação do fabricante) |
A frequência e os intervalos entre uma irrigação e outra
deverão ser estabelecidos de acordo com a necessidade específica de cada
produtor e época do ano. Variáveis climáticas como temperatura, ventos,
radiação solar e umidade relativa do ar, bem como inclinação das bancadas e
tipo de perfil/calha são os principais fatores que devem ser considerados no
momento de programar as irrigações.
Lembrando que a rúcula não tolera encharcamentos, logo,
deve-se atentar para as irrigações não serem muito demoradas. O recomendado é
que durante o dia seja feito em ciclos de 10:10 minutos, ou seja, irrigue 10
minutos e pare 10 minutos. À noite, o recomendado é fazer uma irrigação de 10
minutos a cada hora.
A colheita é feita retirando a planta inteira do perfil, e
os maços devem ser acondicionados preferencialmente em embalagem apropriadas.
As embalagens cônicas são uma alternativa interessante, pois, além de preservar
os maços, deixam o produto com um aspecto visual muito atrativo ao consumidor.
Entre o período da colheita e a entrega, os maços deverão ser acondicionados em
ambiente fresco, evitando a insolação.
Pragas
e doenças
As principais pragas da rúcula são lagarta rosca (Agrotis ipsilon); afídeos (Brevivorynebrassicae); pulgão (Aphis
spp.); larva minadora (Lyriomisa
spp.) trips ou tripes (Frankliniella
spp e Thrips spp.) e fungus gnats (Bradysia spp.). Recentemente tem se
tornado mais frequente os ataques de tripes e de fungus gnats.
As doenças que comumente são encontradas na cultura da
rúcula são podridão-negra (Xanthomonas
campestris); podridão-mole (erwinia
carotovora var. carotovora); míldio (Peronospora
parasitica); ferrugem branca (Albugo
cândida) e tombamento da muda ou damping-off (Rhizoctonia solani, ou Pythium
spp.).
O produtor deve manter o ambiente sempre higienizado, fazer
o recolhimento de restos culturais, evitar o crescimento de vegetação nos
arredores da instalação e manter sempre a solução nutritiva balanceada, para
assim evitar o aumento populacional destas pragas.
Como o ciclo da rúcula é relativamente curto, os tratamentos
fitossanitários devem ser evitados, e para o controle é recomendado o uso de
programas de manejo integrado de pragas e/ou doenças. Vale ressaltar que apenas
um engenheiro agrônomo pode indicar o tratamento mais adequado para cada caso.
Para implantar a técnica e passar a produzir rúcula em
hidroponia, apesar de parecer simples, o recomendado é que o produtor busque
sempre informações atualizadas, que vão desde informações sobre o manejo, como
também das estruturas, materiais e insumos. O sucesso na produção depende de um
projeto elaborado adequadamente, do emprego de bons materiais e insumos e das
corretas decisões de manejo que o produtor tem que tomar no dia-a-dia.
Erros
Os erros mais comuns são os que dizem respeito às práticas
de manejo. Na maioria das vezes, são
“inventados” processos ou operações que num primeiro momento parecem facilitar
ou diminuir o tempo da tarefa, e em alguns casos ocorrem eventos desagradáveis
devido à negligência.
A hidroponia permite uma produção maior, mas em contrapartida
exige maiores cuidados. O recomendado para se evitar problemas é seguir sempre
as recomendações e agir no momento certo.
Seguir as recomendações à risca, apesar de em determinadas
situações parecer mais trabalhoso, é o fator determinante para a produção ser
muito boa, e assim o produtor aproveitar esse ganho em seu favor.
A campo cada vez mais produtores estão migrando para a
hidroponia, não somente para garantir a produção nas diferentes épocas do ano,
como também pela percepção de que o produto tem ótima qualidade e grande
aceitação no mercado e, por fim, pelo aumento de produção quando comparado ao
cultivo convencional.
Custos
As estufas, os perfis e os equipamentos produzidos atualmente
têm muita tecnologia agregada, o que contribui para aumentos da produção, bem
como para a melhoria das condições de trabalho do produtor.
Existem diversos tipos de materiais, com diferentes custos,
e o produtor deve fazer uma análise criteriosa para adquirir um produto que
seja versátil, prático e que tenha uma boa durabilidade.
Para exemplificar, uma estufa de 7,0 m de largura x 51 m de
comprimento, construída em aço galvanizado, com proteção anti-inseto, perfis em
canos retangulares de PVC, com a capacidade de produção de cerca de 9.000
maços/mês de rúcula custa ao produtor algo em torno de R$ 70.000,00, já
montada.
Supondo o valor de venda de cada maço a R$ 1,60, o valor
bruto mensal da venda é de R$ 14.400,00. Considerando que o custo de produção
seja algo em torno de R$ 1,10, já incluindo amortização e depreciação da
estufa, insumos, mão de obra, energia elétrica e transporte, resulta uma sobra
de até R$ 4.500,00/mês, para o projeto do módulo usado como exemplo.
É uma atividade considerada lucrativa, com uma ótima relação
custo x benefício, em concordância com a análise do exemplo aplicado
anteriormente.