A alface (Lactuca
sativa L.) destaca-se como a hortaliça folhosa mais consumida pelos
brasileiros, ocupando a liderança nacional nessa categoria. Este é um reflexo
da busca constante dos consumidores por alimentos leves, com sabor suave, baixa
quantidade de calorias, alto teor de vitaminas e sais, e que apresentam
praticidade no preparo.
Aliado a isso, a grande variabilidade encontrada na espécie
quanto à forma das folhas, tamanho, textura e coloração, é uma vantagem que tem
possibilitado atender a diferentes mercados, o que reflete em aumento do
consumo.
A produção nacional de alface é liderada pela região
sudeste, que supre com aproximadamente 67% da produção, sendo o Estado de São
Paulo responsável por mais da metade da oferta, seguido por Minas Gerais e Rio
de Janeiro, respectivamente. Dados do último relatório divulgado pela ABCSEM
(2017) indicam que a alface e a 3ª maior hortaliça em volume de produção no
Brasil (1,5 milhão de toneladas) e que chega a movimentar anualmente R$ 8
bilhões apenas no varejo. No grupo das folhosas, representa mais de 42% do
mercado nacional em movimentação financeira.
Tendências
Dentre os diferentes segmentos disponíveis, vem sendo
observado aumento no plantio e consumo de alface do tipo americana, que é
caracterizada por folhas crocantes, com sabor agradável, e maior resistência ao
transporte e armazenamento. Com isso, além de ser consumida na forma in natura, esse tipo de alface tem
também agradado a indústria de processamento mínimo e as redes de “fast foods”,
aumentando a sua demanda.
O cultivo de alface americana no ano de 2016 foi feito em
18.879 hectares e, juntamente com a alface crespa, tem obtido crescimento
superior a 51% no Brasil (ABCSem, 2017). Na CEAGESP, em São Paulo, o segmento
de alface americana representa 47% do total comercializado da folhosa.
Em
hidroponia
Como forma de otimizar a produção e alcançar melhores
rendimentos nesse mercado potencial, a produção hidropônica deste segmento de
alface vem ganhando espaço nos últimos anos. Fatores como a melhor utilização
da área, precocidade na colheita, utilização mais eficiente de nutrientes,
melhor qualidade do produto final e aumento do número de ciclos por ano são as
principais respostas dadas pelos produtores.
Além da alface americana, outros grupos como a solta-lisa,
solta-crespa, repolhuda e mimosa podem ser beneficiadas por essa técnica. No
entanto, é, geralmente, com a americana que o produtor consegue os melhores
preços no mercado.
Mais
produtividade
Por ser a alface uma espécie vegetal que tem o sistema
radicular pequeno, o cultivo hidropônico é facilitado em sistemas como o NFT
(Nutrient Film Technique) o mais utilizado para a espécie em todo mundo. Ainda,
devido ao reduzido tamanho da planta, podem ser cultivadas em alta densidade,
isto é, com muitas plantas por área de cultivo.
Dessa forma, o cultivo em hidroponia oferece como vantagens
o aumento da produtividade, colheita antecipada (o que permite um maior número
de ciclos da cultura por ano) e maior uniformidade das plantas, visto que todas
recebem os mesmos nutrientes diluídos em água e estão submetidos às mesmas
condições climáticas, além de menor ocorrência de pragas e doenças.
No grupo da americana, geralmente se consegue maior peso,
diâmetro e número de folhas, que reflete em melhores cotações no mercado.
Ainda, a depender do nível de tecnologia empregada pelo produtor na estrutura
para o cultivo protegido, serão minimizados os efeitos da temperatura excessiva
e umidade relativa no interior da estufa, o que também colabora para ampliação
dos períodos de cultivo e redução da sazonalidade.
Para os consumidores, as principais vantagens do consumo de
alface americana hidropônica são o menor contato das plantas com contaminantes
do solo; menor ataque de pragas e doenças, o que diminui a aplicação de
agrotóxicos; melhor aspecto e condições do produto, visto estarem mais limpos e
embalados e, ainda, maior durabilidade e manutenção da textura durante a
pós-colheita.
Manejo
A produção de mudas de alface para o cultivo hidropônico
pode ser feita na própria propriedade, o que irá requer estrutura e cuidados
adicionais como forma de garantir a qualidade, ou por meio de viveiristas
idôneos e especialistas na produção de mudas.
Nesta etapa, podem ser utilizados diferentes substratos,
sendo comum o uso da espuma fenólica, devido a sua leveza, praticidade e capacidade
de sustentação das mudas e retenção de água. A espuma, no entanto, deverá ser
previamente lavada para a eliminação da acidez e de resíduos de fenóis.
Recomenda-se o uso de sementes peletizadas e dispostas
individualmente em cada célula. Posteriormente, as placas deverão ser mantidas
úmidas em condições de ambiente protegido e sob temperaturas amenas (18 a 25ºC).
Após a emergência, deve-se iniciar a irrigação das mudas com solução nutritiva
a 50% e depois 100% da concentração de nutrientes.
As mudas estarão prontas para o transplantio quando emitirem
o primeiro par de folhas verdadeira. Deverão ser selecionadas aquelas mais
vigorosas, descartando as plantas desuniformes, pouco vigorosas e/ou com
problemas fitossanitários.
Além da qualidade das mudas, outros pontos que merecem
atenção são a qualidade da água, o preparo e o acompanhamento da solução
nutritiva visando suprir adequadamente as demandas nutricionais exigidas pelas
plantas nas suas diferentes fases, e promover um bom crescimento das mesmas. A
solução nutritiva mais comumente utilizada na hidroponia é a proposta por
Furlani e seus colaboradores. No entanto, adaptações podem ser realizadas sob
supervisão técnica.
pH
e condutividade elétrica
É indispensável que
haja o controle do pH da solução, pois este é um importante indicador de
qualidade na produção de alface. O produtor deverá verificar o pH da solução
diariamente, mantendo-o na faixa de 5,8 a 6,4. Caso o pH estiver muito
alcalino, deve-se adicionar um ácido fraco na solução para baixá-lo. E caso
esteja muito baixo (ácido), deve-se adicionar a solução uma base fraca para a
correção, deixando sempre este índice na faixa adequada, para se obter uma boa
produção.
A condutividade elétrica (CE) é outro parâmetro importante e
que deve ser monitorado constantemente, juntamente com o pH. Ela fornece uma
informação indireta sobre a concentração de nutrientes na solução e permite a
tomada de decisão quanto a sua troca ou a reposição de nutrientes. A CE da
solução de Furlani é por volta de 1,8 mS cm-1, e deve ser mantida
próximo a este valor ao longo do ciclo.
Devem ser priorizadas tubulações de coloração branca ou
clara, pois apresentam baixa absorção de energia solar, evitando aquecimento
dos tubos e da solução próxima à planta e à zona radicular da alface. A temperatura
está relacionada à diminuição do ponto de saturação do oxigênio, que também
afeta o crescimento radicular.
O aumento da temperatura, associado à má qualidade das mudas
e da água e a falta de limpeza dos tanques e canais por onde percorre a solução
nutritiva, pode aumentar a ocorrência de Pythium
spp. e outros patógenos radiculares, além de algas, o que causa perdas na produção.
Diferencial
no manejo
A colheita é feita com a retirada da planta inteira (parte
aérea + raiz), de preferência nas horas mais frescas do dia, e a retirada das
folhas baixeiras amareladas ou danificadas, o que diminui a ocorrência de
murchamento nas plantas e melhora o aspecto visual do produto. Ainda, como na
hidroponia não há terra envolvida na produção, a alface permanece limpa e não
há necessidade de lavar antes da comercialização.
Na produção de alface americana em sistemas hidropônicos, da
semeadura até a colheita, o ciclo médio costuma ser de 38-47 dias, com
variações em função da cultivar, épocas e manejo adotado. Produtores da região
de Piedade (SP) que passaram a cultivar alface hidropônica apontam incrementos
de cinco a sete ciclos por ano, em comparação ao cultivo convencional realizado
no solo.
BOX
Investimento
Pode-se resumir, portanto, que o cultivo de alface americana
em sistema hidropônico é um negócio potencial em função da grande demanda do
mercado desse segmento de alface e aos benefícios que a técnica proporciona. No
entanto, é necessário que os produtores estejam atentos aos cuidados e
conhecimento técnico exigido para a implantação e condução adequada do sistema.
Ao primeiro olhar, o investimento inicial de um projeto
hidropônico pode parecer alto, no entanto, o retorno obtido pelos produtores
costuma ser rápido. Detalhes como a economia de água, mão de obra e de insumos,
aumento da produção e do número de ciclos anuais, além da redução da
sazonalidade e dos riscos causados por condições climáticos, são benefícios
marcantes que essa técnica proporciona e que viabiliza os investimentos
realizados.