O manejo nutricional da cultura da alface depende bastante
do sistema de plantio utilizado, ou seja, se a hortaliça será produzida de
forma orgânica, convencional, hidropônica ou em sistema de plantio direto de
hortaliças (SPDH).
Além disso, as exigências nutricionais variam bastante entre
as cultivares de alface disponíveis no mercado brasileiro. Por isso, não existe
uma “receita de bolo” pronta, mas sim níveis aceitáveis de nutrientes, onde a
cultura irá se desenvolver melhor e assim, produzirá mais.
Para fins didáticos, separamos as formas de manejo
nutricional de acordo com o sistema de produção, sendo divididos em sistema
hidropônico e sistema convencional.
Sistema
hidropônico
É um cultivo alternativo que não envolve a utilização de
solo ou substrato orgânico, sendo estes substituídos por uma solução aquosa
nutritiva que provém os elementos essenciais para o desenvolvimento da planta.
O suprimento de nutrientes e de água para as plantas é feito via solução
nutritiva, que pode ser preparada com sais de grau técnico ou até mesmo com
adubos solúveis.
No Brasil, o sistema hidropônico predominante é o NFT (Nutrient
Film Technique), ou fluxo laminar de nutrientes. Neste sistema, as raízes das
plantas ficam submersas em solução nutritiva durante todo o período de
crescimento até a colheita.
O fornecimento de nutrientes via solução nutritiva deve ser
realizado de forma constante e contínua às plantas. Porém, fatores como
temperatura da solução, nível de oxigênio (O2), condutividade
elétrica (CE) e pH podem afetar consideravelmente a disponibilidade dos
nutrientes na solução e o seu aproveitamento pelas plantas.
Sistema
convencional
Consiste no plantio da cultura diretamente no solo ou em
substrato. A alface se desenvolve bem quando cultivada em solos bem
estruturados, arejados, ricos em matéria orgânica e com boa umidade.
Solos compactados ou encharcados ocasionam decréscimos
produtivos e deixam as plantas mais suscetíveis a doenças. O manejo nutricional
de alface cultivado no sistema convencional envolve diversas etapas anteriores
ao plantio.
Recomenda-se que, inicialmente, o produtor realize uma
análise química completa de solo da área onde será realizado o cultivo da
hortaliça, a fim de identificar possíveis deficiências de nutrientes no solo.
Com base nos resultados desta análise, devem ser realizadas adubações de correção
ou de manutenção, com o objetivo de fornecer um nível mínimo de nutrientes
necessários ao desenvolvimento da cultura.
Formulação
correta para cada fase fenológica
A fase de produção de mudas é uma das etapas mais
importantes do processo produtivo e representa cerca de 60% do sucesso da
cultura. No sistema convencional, geralmente é realizada em bandejas contendo
substrato rico em matéria orgânica, onde ocorre a semeadura direta.
A depender da região e da cultivar de alface escolhidas, a
produção de mudas dura em torno de 20 a 45 dias. Nesta etapa devem ser
fornecidos todos os nutrientes essenciais ao desenvolvimento da cultura, principalmente
os macronutrientes NPK (nitrogênio, fósforo e potássio), que estão disponíveis
no mercado em diversas formulações, cabendo ao agricultor escolher a que melhor
se adapta às suas condições.
Já no sistema hidropônico a produção das mudas ou plântulas
passa por diversas etapas, onde as plantas passam por “transplante” entre
bancadas, para só então chegar à fase de cultivo final. Este processo dura em
torno de 20 dias.
Transplantio
No transplantio das mudas em solos deficientes
nutricionalmente, pode-se aplicar até 150 kg ha-1 de N (nitrogênio);
de 50 a 400 kg ha-1 de P2O5 (fósforo), com
posterior incorporação, e 60 a 120 kg ha-1 de K2O (potássio).
As quantidades devem ser calculadas com base na análise de
solo, para áreas de primeiro plantio, e adubações de manutenção em áreas com
cultivo sequencial de alface ou outra hortaliça.
O termo transplantio também é utilizado no sistema
hidropônico. Neste caso, as plântulas de alface passam de uma bancada para
outra. No processo, produtores de alface mais especializados utilizam
diferentes tipos de solução nutritiva em cada etapa de produção das plantas, e
em outros casos se usa a mesma solução durante todo o cultivo.
Adubação
de manutenção da cultura
A adubação de manutenção da cultura é realizada conforme a
demanda nutricional e a expectativa de produção. Sendo assim, os produtores
podem parcelar as aplicações de acordo com as recomendações apresentadas a
seguir.
Quando
e quanto deve ser aplicado
A alface é uma hortaliça folhosa bastante exigente
nutricionalmente, principalmente nos macronutrientes nitrogênio (N), fósforo (P),
potássio (K) e cálcio (Ca). O manejo nutricional deve ser realizado com o
objetivo de suprir as necessidades da cultura, de modo que nenhum nutriente
seja fornecido em excesso ou, em caso mais graves, quando ocorre a falta de
determinado elemento mineral.
Os sintomas de deficiência nutricional são característicos
para cada elemento e podem ser percebidos de maneira visual na planta.
Especificidade
da hidroponia
Na formulação da solução nutritiva, o N em forma amoniacal
(NH4+) não pode ultrapassar mais do que 20% da quantidade
de N total. Isso facilita o controle sobre o pH da solução, pois em maiores
dosagens podem ocorrer problemas relacionados à fitotoxicidade por amônio.
O Ca é um elemento que exige bastante atenção dos
alfacicultores, pois a sua translocação e teor nos tecidos estão sujeitos à
taxa de transpiração das plantas. Neste sentido, é necessário que haja um
equilíbrio ambiental dentro do sistema de manejo hidropônico, pois sintomas
como o “tip-burn” ou “queima dos bordos” geralmente estão associados à
deficiência localizada de Ca, e podem ser observados mesmo quando o elemento
está em níveis adequados no solo ou na solução nutritiva.
Estes sintomas são vistos com frequência nos órgãos que
apresentam dificuldade para transpirar, como as folhas mais novas e internas da
alface.
Opções
Atualmente, existem diversas soluções nutritivas para a
cultura da alface. Geralmente os produtores escolhem a que mais se adapta à sua
necessidade, ao sistema de produção hidropônico e a disponibilidade de
nutrientes na sua região.
Uma solução nutritiva amplamente utilizada em todo o País é aquela
elaborada pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC), a qual tem sido
utilizada com sucesso para várias culturas (Tabela 2). Esta solução contém (em
mg L-1): 174 de N-N03–; 21 de N-NH4+
(10,8% do N-total); 183 de K; 142 de Ca; 38 de Mg; 30 de P; 52 de S-SO4+.
Sistema
convencional
Com base em análises de solo, deve-se inicialmente priorizar
a correção da acidez do pH do solo, de modo a garantir um valor adequado para o
cultivo de alface. Recomenda-se adicionar a quantidade de calcário indicada
pelo índice SMP para o solo atingir um pH 6. Além disso, a saturação por bases
precisa ser maior que 80% e o teor de Mg maior que 1,0 cmolc dm-³.
O N é o elemento exigido em maiores quantidades pela cultura
e os solos necessitam de adições regulares deste elemento, principalmente em
áreas com baixos teores de matéria orgânica, visto que os valores ideais para o
elemento N são baseados no teor de matéria orgânica presente no solo e podem
ser fornecidos de acordo com as quantidades recomendadas na Tabela 1.
A adução nitrogenada pode ser dividida em quatro aplicações,
sendo ¼ da dose total no transplante, ¼ aos 15 dias, ¼ aos 30 dias e o restante
duas semanas mais tarde.
Tabela 1. Teores recomendados de nitrogênio
para a cultura da alface
Teor de matéria orgânica no solo (%) |
Nitrogênio (kg N ha-1) |
≤ 2,5 | 150 – 200 |
2,6 – 5,0 | 100 |
≥ 5,0 | ≤ 80 |
Fonte: Manual de adubação e calagem
para os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
O P é o elemento mais limitante para a produção agrícola no
País. Plantas de alface deficientes desenvolvem amarelecimento nas bordas das
folhas mais velhas, que em casos severos, pode evoluir para necrose.
O K também é um nutriente essencial ao desenvolvimento da
alface. Sua deficiência ocasiona necrose nas folhas mais velhas, que em casos
mais severos pode evoluir para áreas internervais.
A Tabela 2 mostra os teores de P e K recomendados para a
cultura da alface. Após a correção dos teores de P e K no solo, podem ser
realizadas adubações de manutenção, nos cultivos subsequentes, aplicando-se 70
a 80 kg de P2O5 ha-1 e 120 kg de K2O
ha-1.
Tabela 2. Teores recomendados de
fósforo e potássio para a cultura da alface
Interpretação do teor de P ou K no solo |
Fósforo (P)(kg P2O5 ha-1) |
Potássio (K)(kg de K2O ha-1) |
Muito baixo | 200 | 240 |
Baixo | 140 | 200 |
Médio | 100 | 160 |
Alto | 70 | 120 |
Muito alto | ≤ 40 | ≤ 90 |
Fonte: Manual de adubação e calagem
para os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
Uma outra alternativa para manter a planta sempre em
condições nutricionais adequadas é a utilização de métodos de monitoramento da
cultura por meio de sintomas visuais (deficiência ou excesso), análise de
tecido vegetal e da solução nutritiva em laboratórios especializados.
Reposição
da solução nutritiva
Para o controle da concentração de nutrientes da solução
nutritiva, é necessário a utilização de um condutivímetro portátil. Com o
desenvolvimento das plantas, elas absorvem nutrientes da solução e a
condutividade elétrica (CE) diminui, sendo necessária a reposição dos
nutrientes absorvidos pelas plantas.
No cultivo hidropônico de alface sugere-se a reposição de
50% dos nutrientes quando a CE da solução baixar para 50% do valor inicial.
Entretanto, existe um limite para o uso desta solução, a qual só pode ser
utilizada por no máximo três cultivos sucessivos. Após este período a solução
deve ser trocada por completo e a utilização da solução por tempo maior requer
análise em laboratório especializado.
Custo
do manejo
Devido à necessidade de menor espaço em relação ao cultivo
convencional, associado ao consumo racional de água e adubo, a hidroponia tem
se tornado uma alternativa economicamente atraente ao produtor de hortaliças
folhosas.
O maior custo para o cultivo hidropônico está relacionado à
implantação do sistema, e que envolve principalmente a aquisição de canos,
equipamento de poço tubular, além da estrutura de cobertura (galpão, casa de
vegetação, estufa, túnel, etc.).
Contudo, estes custos são bastante variáveis e dependentes
do tamanho do sistema, do tipo do sistema de circulação de nutrientes, da
frequência de reposição da solução e do tipo de solução nutritiva utilizada. De
acordo com levantamentos realizados pela Embrapa, o investimento inicial total
para uma produção mensal de 30.000 plantas é em torno de R$ 65 mil, que podem
ser amortizados em torno de um ano.