Pinta-preta – Perigo ronda lavouras de tomate e batata

Pinta-preta – Perigo ronda lavouras de tomate e batata

Cultivos de tomateiro e batateira destacam-se por apresentarem
um amplo histórico de problemas fitossanitários, responsáveis por perdas
significativas na produção.

Essas hortaliças demandam grande quantidade de insumos
destinados ao manejo e controle de doenças durante todo o ciclo de cultivo, o
que acarreta no aumento dos custos de produção.

Dentre as doenças foliares mais importantes, destaca-se a
pinta-preta ou mancha de alternária, que se encontra disseminada por todas as
regiões produtoras de batata e tomate do País. As perdas provocadas por essa
doença variam em função de inúmeros fatores, tais como época em que o patógeno
se estabelece, taxa de progresso da doença, cultivares utilizadas, assim como
as condições ambientais prevalecentes.

A pinta-preta reduz de forma significativa a produtividade
de frutos de tomate e de tubérculos de batata, podendo causar elevadas perdas
em curto espaço de tempo. A doença ocorre em qualquer estádio de
desenvolvimento das plantas. Em tomateiro, a doença apresenta pouca importância
em cultivos realizados em ambiente protegido (estufas).

Sintomas
em tomateiro

Em mudas de tomateiro, geralmente oriundas de sementes
contaminadas, o patógeno ataca a região do caule próximo ao solo, causando o
anelamento e, consequentemente, a morte das plantas. Já em plantas adultas, a
doença ocorre com mais frequência em folhas, pecíolos e frutos, mas pode
incidir também sobre as hastes.

Independente da espécie associada, os sintomas iniciais são
observados nas folhas velhas próximas ao solo, na forma de pequenas lesões
necróticas de coloração marrom-escura a preta, com bordos bem definidos, de
formato mais ou menos circular, com a presença de anéis concêntricos
característicos e halo amarelado.

Em condições ambientais favoráveis, a doença progride de
forma ascendente até atingir as folhas novas, causando severa destruição
foliar. No caule e pecíolos as lesões são escuras, alongadas, circulares,
ligeiramente deprimidas e apresentam anéis concêntricos bem evidentes, semelhantes
aos observados nas folhas.

Nos frutos as lesões são consideravelmente maiores, escuras
e deprimidas na região peduncular, onde se observa a presença típica de anéis
concêntricos. Normalmente os frutos atacados caem no solo. Manchas
pardo-escuras também podem ser observadas nos pedicelos e cálices das flores e
frutos infectados.

Sintomas
em batateira

Os sintomas da doença na batata podem ser observados em toda
a parte aérea da planta, causando intensa redução da área foliar. Os sintomas
ocorrem inicialmente nas folhas mais velhas, na forma de pequenas manchas
escuras de 01 a 02 mm.

Com o tempo, as lesões aumentam de tamanho, apresentam
coloração escura, com zonas concêntricas características, adquirem formato
circular alongado, porém, delimitam-se às nervuras da folha.

Conforme a doença progride, novas lesões são observadas,
enquanto as lesões mais velhas se expandem até coalescerem, levando à desfolha
acentuada das plantas e, consequentemente, à produção de tubérculos menores.

Nas hastes são observadas lesões escuras levemente
deprimidas, podendo apresentar-se de forma alongada e circulares, com anéis
concêntricos bem evidentes. Os sintomas são raramente observados nos
tubérculos, mas quando ocorrem, apresentam-se na forma de lesões escuras de
formato circular a irregular, deprimidas e de aspecto seco.

Etiologia

No Brasil, até o ano de 2009 acreditava-se que a pinta-preta
era causada somente pelo fungo Alternaria
solani
. Contudo, estudos demonstraram que Alternaria tomatophila e A.
cretica
foram identificadas como as principais espécies associadas à doença
em tomateiro, enquanto a espécie mais comum associada à pinta-preta em batateira
é A. grandis. Curiosamente, A. solani não foi identificada causando pinta-preta
nas culturas.

A ocorrência de epidemias severas da doença está associada a
temperaturas noturnas moderadas, elevada umidade relativa (acima de 90%) e
chuvas ou irrigações frequentes, que favorecem a produção de esporos do
patógeno.

Normalmente, o patógeno se estabelece na lavoura após o
período de maior vigor vegetativo e se dissemina na forma de esporos
(conídios). A disseminação ocorre principalmente pelo vento, chuva ou
irrigação, insetos, trabalhadores e implementos agrícolas.

Sementes de tomateiro infectadas podem disseminar o patógeno
a longas distâncias e constituem-se fonte de inóculo inicial. O patógeno
sobrevive de forma viável entre estações de cultivo em restos culturais,
plantas voluntárias de tomateiro e batateira ou em outras solanáceas
infectadas, embora haja uma aparente especificidade ao hospedeiro. Os conídios
caracterizam-se por serem altamente resistentes a baixos níveis de umidade,
podendo permanecer viáveis por até dois anos.

Controle

A adoção integrada de diferentes práticas é fundamental para
o controle eficiente da pinta-preta em ambas as culturas. Os métodos de
controle preventivo devem ser priorizados sempre que possível, pois após o
estabelecimento da doença o controle é mais difícil e os prejuízos podem ser
maiores.

Locais onde há possibilidade de acúmulo de umidade e ventos
fortes e constantes, bem como épocas do ano de maior precipitação, são mais
propensos à ocorrência da pinta-preta. No caso do tomateiro, o cultivo em
ambiente protegido (estufa) contribui para a redução da ocorrência da doença.

Outros métodos culturais recomendados para o controle da
doença são: utilização de sementes e mudas de tomateiro sadias; rotação de
culturas por dois a três anos com gramíneas ou leguminosas não hospedeiras para
a redução da população do patógeno; incorporação de restos culturais imediatamente
após a colheita, o que acelera a decomposição e contribui para a redução do inóculo;
e evitar plantio próximo a lavouras em fase final de produção que possam servir
de fonte de inóculo.

Ainda, são recomendadas irrigações preferencialmente por
gotejamento e no período da manhã, para evitar a formação de filme d’água na
superfície foliar; eliminação de hospedeiras alternativas, plantas voluntárias
(tigueras) ou remanescentes de cultivos anteriores que nascem e se desenvolvem
dentro e nos arredores da área de cultivo; adubação equilibrada visando manter
o crescimento vigoroso das plantas; e cobertura do solo com palhada, que
contribui para a redução da dispersão da doença, pois evita que respingos da
chuva carreguem conídios do patógeno do solo para a parte aérea da planta.

Contudo, é difícil obter sucesso exclusivamente com os métodos
culturais citados acima, especialmente quando a cultura se insere em sistemas
intensivos de produção. Uma das alternativas seria a resistência genética,
porém, a maioria das cultivares de tomateiro e batata disponíveis no Brasil
mostra-se suscetível ou moderadamente suscetível à doença, o que consagrou a
utilização de fungicidas como uma das principais medidas de controle da doença,
em condições ambientais favoráveis à sua ocorrência.

Dicas

O controle químico da doença deve ser realizado por meio de
aplicações preventivas de fungicidas protetores ou de contato (mancozebe,
famoxadona, iprodione, metiram, propinebe e clorotalonil) ou cúpricos
(oxicloreto de cobre, hidróxido de cobre e óxido cuproso) no início do período
vegetativo.

Eles formam uma película protetora na superfície da planta e
atuam sobre múltiplos sítios do metabolismo do fungo, impedindo a infecção do
patógeno e, consequentemente, a seleção de raças resistentes. No entanto, devem
ser aplicados frequentemente, pois a planta emite novas folhas que ficam
desprotegidas, além de serem removidos pelas chuvas.

Quando a doença atinge incidências maiores, recomenda-se a
aplicação de fungicidas sistêmicos que atuam de forma curativa. Como esses
produtos apresentam modo de ação específico, para minimizar os riscos de
seleção de raças resistentes do patógeno tem-se recomendado a aplicação de
produtos com misturas prontas, contendo fungicidas pertencentes a grupos distintos:
estrobilurinas (azoxistrobina, trifloxistrobina e picoxistrobina), triazóis
(difenoconazol, tebuconazol) e carboxamidas (boscalida).

Vale ressaltar que a eficácia no uso desses produtos geralmente
está condicionada a fatores como a suscetibilidade da cultivar, clima, escolha
do fungicida adequado, pressão de doença, tecnologia de aplicação,
posicionamento do produto, bem como o número e o intervalo entre aplicações.

Fonte: https://revistacampoenegocios.com.br