José Geraldo Mageste
Engenheiro florestal e professor da Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
jgmageste@ufu.br
Ernane Miranda Lemes
Engenheiro agrônomo, Ph.D em Fitopatologia
ernanelemes@yahoo.com.br
LarÃcia Miranda Martins
lariciammartins@hotmail.com
Bruno Borges
bruno_borges1988@hotmail.com
Graduandos em Engenharia Ambiental – UFU
Fernando Bacilieri
Engenheiro agrônomo e doutorando Agronomia ” UFU
ferbacilieri@zipmail.com
O planeta já começou a sentir os efeitos das mudanças climáticas e estas, por sua vez, vêm com danos que não podem ser ignorados. Um dos maiores desafios mundiais é conter os gases de efeito estufa, vindos principalmente do uso de combustÃveis fósseis. Estes liberam na atmosfera não somente os gases dióxido de carbono (CO2), como o metano (CH4).
As árvores, de maneira geral, são grandes aliadas no combate às mudanças climáticas. Isto porque, pelo processo de fotossíntese, as plantas captam o gás carbônico na atmosfera e liberam o oxigênio (O2), “segurando“ um poderoso estoque de carbono (Alvarenga et al, 2006).
Sustentabilidade
A demanda por informações sobre o sequestro de carbono pelos diferentes ecossistemas tem aumentado à medida que os Gases de Efeito Estufa (GEE’s) estão sendo responsabilizados pelo aquecimento global e por desastres no meio ambiente. Frente a esse cenário, torna-se importante o estudo das diferentes estratégias e a dinâmica de como melhorar ou facilitar o estoque e/ou sequestro de carbono de plantas cultivadas, trabalhando-se o contexto das mudanças climáticas globais.
Dentre essas plantas cultivadas existe a seringueira, uma excelente alternativa para fixação do carbono e rentável para produção de seus derivados, como látex e sementes. Atualmente, o Brasil já importa parte do seu consumo de borracha natural e projeta-se que este déficit de produção será de mais de cinco milhões de toneladas até 2035 (Alvarenga et al, 2006; Gheller Junior, 2007; Programa ABC, 2017).
Também cabe ressaltar que neste momento os produtores de látex vêm somando esforços junto ao governo brasileiro para sobretaxar as importações de borracha, já que ela acontece principalmente dos asiáticos, onde a mão de obra além de ser farta é também de pequena remuneração (processo chamado Downsize), fazendo com que a competição seja muito desigual.
Por outro lado, aumentar a produção nacional não acontece “da noite para o dia“. É necessária uma polÃtica pública de longo prazo, com investimentos em pesquisas e principalmente na organização do setor e do mercado nacional. Cabe lembrar que a exemplo da eucaliptocultura para a indústria de celulose, os seringais somente entram em plena produção após cinco a seis anos de plantio (Galbiati Neto, 2012; Apabor, 2017).
Fixação de carbono
A seringueira é uma planta de folhas largas, com ampla área foliar por plantas, da família Euforbiaceae, que cresce em estágios de emissão de lançamentos. Essas são características de plantas tropicais, com grande facilidade de fazer fotossíntese e, assim, consumir o carbono da atmosfera, conduzindo-o para fortalecimento do tronco e galhos. Esse processo de crescimento relativamente rápido se traduz em grande massa em pouco tempo (Mageste, 1999; Santos, 2011).
Por outro lado, trata-se de uma planta senescente, o que quer dizer que após adquirir a maturidade faz uma renovação anual de folhas. Isto acontece após o terceiro ano na região centro sul do Brasil (Viegas et al, 2008; Santos, 2011). Ela ‘joga’ todas as suas folhas para o chão para tornar a emitir outras. Esse processo faz com que haja uma deposição de folhas por baixo das árvores e, consequentemente, aumenta a atividade microbiana e contribui para a elevação da matéria orgânica no solo, outro depósito de carbono, desta vez como carbono orgânico.
No látex também há muitos hidrocarbonetos. Se pensarmos que a média de produtividade de látex em seringais de cultivo no Brasil é de 1.500 kg ano-1 ha-2, já se pode estimar que pelo menos 01 milhão de toneladas de carbono está fixada neste produto (Gheller Junior, 2007)
Some-se a isto a utilização de madeira de seringueira, que tem se tornado prática comum na região de São José do Rio Preto (SP), onde está a primeira serraria específica para o desdobramento da madeira de seringueira. Este carbono fixado na madeira utilizada para móveis possui vida longa, e por muito mais tempo ficará fixado sem retornar para o ambiente (Apabor, 2017).
Com todas estas possibilidades de fixação de carbono, é fácil imaginar o quanto os seringais de cultivo (os outros são os nativos da região amazônica) contribuem para fixação do carbono livre da atmosfera. Por alto, considerando que a média de idade dos nossos seringais de cultivo, pode-se afirmar que mais de 20 milhões de toneladas de carbono são fixados por esta cultura.
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Essa é parte da matéria de capa da revista Campo & Negócios Floresta, edição de janeiro/fevereiro 2018. Adquira a sua para leitura completa.