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Essa é uma inovação no plantio de uma das culturas mais tradicionais da agricultura brasileira ” a cana-de-açúcar. A técnica promete melhorar a produtividade e aumentar o rendimento da lavoura
O Centro de Pesquisas de Cana do IAC ” Instituto Agronômico, localizado em Ribeirão Preto (SP), realiza constantemente estudos a cerca do melhoramento genético desta cultura. Vinte novas variedades já foram lançadas, uma delas surpreendendo pela altura e produtividade alcançadas.
O desafio dos pesquisadores passou a ser multiplicar essas variedades rapidamente, e por isso os pesquisadores daquela instituição criaram uma técnica. “A diferença está no plantio. O sistema se chama MPB ” Muda Pré-Brotada, que nada mais é que substituir o método atual, que utiliza toletes, por mudinhas já formadas“, relata o coordenador do Centro de Pesquisa, Marcos Landel.
“Com uma tonelada de cana, pelo sistema MPB, nós conseguimos em aproximadamente um ano e meio chegar até 500 hectares plantados com aquela nova variedade. Se fosse no sistema convencional o plantio ficaria em torno de 30 hectares. Ou seja, essa nova técnica produz 15 vezes mais“, considera.
No campo Experimental do IAC foi feita uma demonstração comparativa dos dois plantios. Em um metro foram 10 toletes, enquanto no sistema de MPB foram necessárias apenas três mudas. “O sistema de MPB é mais eficiente porque quando se usa tolete nem todas as gemas vão germinar – já com as mudas, todas vingam“, justifica o pesquisador.
Passo a passo
A preparação das mudas segue um critério rigoroso de manejo e cuidados fitossanitários.O primeiro passo é a extração das gemas, conhecidas como olhadura. “A gema fica em cada nozinho do colmo, e é dela que brota a nova planta.Uma máquina corta os colmos e um técnico separa as gemas viáveis e descarta as que não servem.Cada toquinho é um minirrebolo, o responsável por originar o MPB“, explica o pesquisador.
Os minirrebolos passam, primeiro, por um banho térmico, a uma temperatura de 52ºC durante meia hora para eliminar doenças, depois por um rápido enxague com fungicida e por um produtoque estimula o crescimento das raízes.
Depois de secos, esses materiais são colocados no substrato, feito de matéria orgânica própria para a produção de mudas. Nesse processo, as gemas têm que ficar sempre viradas pra cima. Depois, os minirrebolos são totalmente cobertos e levados para a estufa e 12 dias depois são individualizadas, ou seja, cada gema brotada vai para um tubete próprio.
Então, voltam para a estufa, onde recebem sombra e água fresca. É nesse momento, de acordo com Marcos Landel, que a muda vai se adaptar e formar as suas raízes. “A muda fica por 15 dias nessa etapa, até que chega a hora da rustificação, que é quando ela deve ganhar força para suportar as adversidades do campo. Algumas podas são feitas, reduz-se a irrigação, o sol é pleno, e serão 25 dias até a muda ficar pronta para o plantio“, pontua.
O resultado
O agrônomo Mauro Xavier, responsável pela MPB, avalia o resultado.“O material tem que estar com uma consistência firme, de modo a não permitir a retirada inteira do tubete e que saia de modo compacto e inteiro. O alto volume de raízes é um aspecto importante que define que o material está pronto para ser levado a campo. Se ele não tiver consistência, no momento da retirada do tubete o torrão se desfaz“, alerta.
Para o plantio no IAC foi adaptada uma transplantadora de mudas usada em outros cultivos. A muda é encaixada em uma das pás que gira como roda gigante. Numa mesma operação, a muda é plantada e o sulco é fechado.
No viveiro de multiplicação, as mudas pré-brotadas de cana têm 40 dias.O espaçamento utilizado no IAC foi de 50 cm entre plantas, e Mauro Xavier chama a atenção para a uniformidade do plantio. “Está sendo trazida uma planta pra cá, com 60 dias, e esse material já entra com todo o seu potencial. Rapidamente essa planta passará pela etapa de curva de biomassa, e iniciará o processo para se tornar um canavial“, detalha o agrônomo.
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Na prática
Em uma lavoura de cana localizada em Jaboticabal (SP), o sistema adotado é o convencional, em que, para plantar um hectare, utilizam-se 16 toneladas de colmo, considerado um volume alto. Por este motivo, o proprietário Paulo Rodrigues, que também é agrônomo, decidiu testar o modelo de plantio com mudas, e reservou dois hectares do canavial para experimentar a técnica.
“O canavial experimental estava com 70 dias, bem ao lado da cana plantada no sistema convencional. Ainda não conseguimos calcular o custo do sistema MPB porque o projeto está na etapa inicial, mas já observamos pontos positivos.Todo ano, quando temos o plantio de cana, usamos parte do material plantado no período anterior como muda para fazer o canavial. Esperamos reduzir o volume de mudas com esse sistema, de 18 para três toneladas. Portanto, gastam-se menos colmos comerciais para fazer muda“, diz Paulo Rodrigues, que tem como objetivo aumentar a produção da cana que vai para a indústria.
O custo é avaliado em um segundo momento, porque é preciso computar todos os ganhos primeiro, seja com relação à ocupação, à qualidade, produtividade ou aumento de produção. Na soma de todos os custos, para o produtor, o que importa é o custo por tonelada de cana produzida.
“Portanto, eventualmente o plantio até pode custar um pouco mais, mas se no final do processo como um todo tivermos uma cana ou um quilo de açúcar mais barato, é o que importa“, afirma.
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