Seja na cozinha ou nos frascos de cosméticos, as plantas aromáticas chegam trazendo consigo um novo nicho de mercado, que pretende atrair cada vez mais adeptos
As plantas aromáticas e condimentares possuem óleos essenciais responsáveis pela liberação de odores específicos, agradáveis aos sentidos e úteis em outras aplicações. Em muitos casos, a composição específica de cada um desses óleos está associada conjuntamente à sua utilização cosmética, medicinal, culinária e/ou puramente sensitiva, por ser agradável.
De maneira mais didática, explica Flávia Clemente, engenheira agrônoma e supervisora de Transferência de Tecnologia da Embrapa Hortaliças, “podemos condicionar que as plantas aromáticas liberam odores (por meio dos óleos essenciais), como por exemplo, a citronela e, as plantas condimentares são usadas como temperos na culinária, como por exemplo, o alho“.
Comercialmente, são inúmeras as plantas aromáticas produzidas no Brasil, como alecrim, capim-limão, hortelã, lavanda, vertiver e muitas outras.
Uma a uma
Flávia Clemente esclarece, a seguir, a finalidade das principais plantas aromáticas cultivadas no Brasil:
ð Alecrim: muito utilizado como condimento, tanto de maneira caseira como pelas indústrias alimentÃcias. Também é usado pela indústria aromática como fragrância, além de ser considerado um agente antioxidante e antimicrobiano.
ð Capim-limão: a medicina popular o utiliza como calmante, analgésico, entre outras aplicações. Na indústria de alimentos, suas folhas são utilizadas principalmente para a produção de chás.
ð Hortelã: é uma das plantas medicinais mais antigas, usada como alimento e como condimento.
ð Lavanda: utilizada na indústria de cosméticos, na aromaterapia e como cosmético. Possui também propriedades antissépticas.
ð Vetiver: além de possuir uma ação importante no controle de erosão de solo, tem uma fragrância marcante de odor amadeirado, com acentos de terra e citrinos. Utilizado em aromaterapia para aliviar o estresse e provocar relaxamento.
Repelência de insetos como benefÃcio
São muitas as plantas utilizadas com a finalidade de repelir insetos, como a arruda, o coentro e a citronela. Tanto por meios naturais (a planta colhida e utilizada sem processamento), quanto pela indústria, a exploração dessas essências é bastante eficaz no controle de insetos.
“Por meio da extração de seus óleos essenciais a indústria processa uma gama de produtos para uso doméstico com a finalidade de repelência, não somente para insetos como para demais pragas urbanas“, pontua Flávia Clemente.
Ainda segundo ela, a arruda é utilizada no controle de sarna, piolho, pulgas, pulgões e ratos. O coentro é um excelente repelente para insetos (mariposas e lagartas) que atacam cultivos importantes, como os de tomate. Já a citronela é muito explorada pela indústria química para a fabricação de repelentes de insetos e aromatizantes para produtos de limpeza. Na agricultura também é utilizada como nematicida.
“Outras plantas, como o cidró, o jambu, o manjericão e o poejo, também possuem efeitos repelentes“, acrescenta a pesquisadora.
Para a medicina
Flávia diz que várias plantas possuem atividades farmacêuticas, desde o açafrão e o alho até a vinagreira. “Muitas delas carregam consigo a história da medicina popular e até hoje possuem grande repercussão. São alvo de estudo e exploração por parte dessa indústria que trabalha, por meio da extração dos óleos essenciais, para manter a melhor eficiência dos princípios ativos que ajudam na cura de diversos males, como inflamações diversas, calmantes, distúrbios intestinais, doenças de pele, etc“, informa.
Recomendações técnicas para o cultivo das principais plantas medicinais e aromáticas
Espécie/família |
Uso medicinal* |
Época de plantio |
Época de colheita |
Espaçamento definitivo (entrelinhas x entre plantas) |
Observações |
Alecrim (Rosmarinus officinalis) Labiatae |
Inclusão, hepatoprotetor, indicado para problemas do fÃgado e vesÃcula (colecistites crônicas), flatulências, cólicas abdominais e menstruais, diurético, antibacteriano e antioxidante, tônico geral. Uso tópico no caso da artrose (dor). Também pode ser utilizado como tempero. Não usar na gravidez. |
Setembro a novembro. |
150 a 180 dias após o plantio. |
100 x 60 cm. |
Para o plantio, utilizar estacas de 10 a 15 cm. Exige luminosidade. |
Alfavaca cravo (Ocimum gratissimum) Labiatae |
Infusão. Antisséptica, halitose, aftas, estomatites, faringites (gargarejos), tosses irritativas, gripes e resfriados. Estimula a produção de leite, tônico (cansaço e esgotamento), sedativo, digestivo e, no caso de dor de cabeça. Usar compressas para fissuras de mamilo. |
Setembro a novembro. |
60 a 90 dias após o plantio. |
60 x 40 cm. |
Propagação por sementes ou estaquia. |
Alfazema (Lavandulaofficinalis/ L. spicata ” espécie que floresce no Brasil) Labiatae |
Infusão utilizada para insônia, sedativa, dores de cabeça, antisséptica. Muito utilizado o óleo essencial para banhos relaxantes e massagens. Outros usos: desodorizante e repelente de insetos. |
Setembro a novembro. |
120 a 150 dias após o plantio. |
30 x 30 cm. |
Propagação por estaca enraizada durante o outono e inverno. Necessita de frio para florescimento. |
Arnica paulista (Porophyllum ruderale) Asteraceae |
Uso externo (cataplasma ou compressas) para contusões ou traumatismos e varizes. Auxilia na cicatrização de ferimentos. Antimicrobiano. Maceração ou garrafada (tintura caseira) apenas para uso tópico. Não usar via oral. |
Ano todo. |
60 a 90 dias. |
30 x 30 cm. |
Propagação por sementes. Torna-se espontânea. |
Arnica silvestre / arnica do campo / arnica brasileira (Solidago chilensis) Asteraceae |
Usada externamente em contusões, varizes, ferimentos, dores reumáticas e hemorroidas. Atua na fragilidade dos vasos capilares. Para entorses, hematomas, distensões musculares. Anti-inflamatória. Não usar via oral. |
Setembro a novembro. |
90 a 120 dias. |
60 x 40 cm. |
Propagação por sementes. |
Babosa (Aloe vera / barbadensis) de flor amarela (Aloe arborenses) de flor vermelha – Liliaceae |
Uso tópico na forma de compressa do gel das folhas ou preparado em creme. Cicatrizante, emoliente, usado em queimaduras, sequelas de radioterapia, psorÃase, eczemas, hemorroidas. Uso oral (suco do gel da folha) indicado com critérios rígidos (dose, frequência de uso) como laxante, purgativa, ainda em estudos como imunoestimulante. Não usar a resina (líquido amarelo), somente o gel verde. É mais indicada a espécie Aloe arborences pela menor quantidade de alcaloides. Contra indicado o uso oral na gravidez. |
Setembro a janeiro. |
Iniciar a colheita quando as folhas mais velhas atingirem 500 g. |
100 x 60 cm. |
Utilizar os rebentos para a propagação. |
Bálsamo (Sedum praealtum) Crassulaceae |
Infusão ou ingestão das folhas. Analgésica, cicatrizante e digestiva, auxilia no alÃvio da dor de estômago. Uso tópico ” cicatrizante. |
Primavera-verão |
Cinco a seis meses após o plantio. |
40 x 40 cm. |
Propagação por estacas de folhas ou talos. Não tolera excesso de água. |
Bardana (gobô) (Arctium lappa) Asteraceae |
Infusão. Desintoxicante e depurativo. Para problemas de pele, eczemas, pruridos, psorÃase, seborreia, micoses superficiais. Cicatrizante. Contra indicado o uso oral na gravidez. |
Setembro a novembro. |
90 a 120 dias após o plantio. |
70 x 30 cm. |
Propagação por sementes. |
Boldo do reino “boldo nacional“ (Plectranthusbarbatus) Labiatae |
Coadjuvante no tratamento da gastrite, dispepsias, analgésico e anti-inflamatório, antisséptico e litÃase biliar. Uso mais frequente macerado em água fria. Infusão. Não usar na gravidez. |
Primavera. |
InÃcio aos 120 dias após o plantio e depois a cada quatro meses. |
100 x 50 cm. |
A propagação é feita por estacas. Eliminar as flores para aumentar a produção de folhas. SensÃvel a geadas. |
Calêndula (Calendula officinalis) Asteraceae |
Anti-inflamatória, antisséptica, cicatrizante. Utilizada topicamente para lesões de pele, acnes, dermatites de fraldas, queimaduras. Também compressas da infusão ou tintura e creme ou gel. |
Viveiro: março a maio. |
80 a 100 dias após a semeadura. |
30 x 25 cm. |
Colher as flores. |
Camomila (Alemã) (Chamomilla recutita / Matricaria chamomilla) Asteraceae |
Infusão (flores). Anti-inflamatória, antibacteriana e antiespasmódica (cólicas). Usos: interno, compressas e/ou bochechos e gargarejos. Auxilia a digestão e a recuperação de úlceras gástricas. Mucosites pós-quimioterapia, candidÃase bucal (sapinho), aftas. Sedativa. Aumenta a imunidade. Uso tópico em queimaduras. |
Viveiro: março a maio. |
90 a 120 dias após a semeadura. |
30 x 25 cm. |
Gasto de sementes no viveiro: 2 g/m2. Planta resistente ao nematoide do gênero Meloidogyne. Fazer a colheita das flores em diversos repasses. |
Capuchinha (Tropaelum majus) Tropaelaceae |
Ingestão de folhas e flores cruas abrem o apetite e favorecem a digestão. Rica em vitamina C. Indicada para eczemas e afecções de pele e pulmonar. É também diurética. Uso tópico (infusão) para fortalecer o couro cabeludo e para queda dos cabelos. |
Setembro a novembro. |
60 a 90 dias após a semeadura. |
30 x 30 cm. |
Colher folhas e flores. |
Carqueja (Baccharis trimera) Asteraceae |
Infusão. Digestiva, hepatoprotetora, diurética, hipotensora leve, antimicrobiana. Indicada para gastrite, litÃase biliar (pedra na vesÃcula), anorexia. Não usar na gravidez. |
Setembro a novembro. |
150 dias após o plantio ou no início do florescimento. |
50 x 30 cm. |
Utilizar estacas para propagação. Deixar dois nós a partir do solo, após a colheita das folhas. Irrigar bastante. |
Cavalinha (Equisetum arvensis) Equisetaceae |
Diurética, afecções geniturinárias, litÃase, em edemas pré-menstruais. Fazer decocção. Remineralizante (contém silício), fortalece os ossos e os tecidos conectivos. Auxilia no período do climatério (menopausa). Não usar na gravidez. |
Ano todo. |
90 a 100 dias após o plantio. |
30 x 30 cm. |
Planta de fácil pegamento e propagação. |
Cominho (Echinodorus grandiflorus) Alismataceae |
Infusão, diurético e depurativo, útil em casos de gota (excesso de ácido úrico) e reumatismo (uso tópico). |
Ano todo. |
120 dias após a semeadura. |
30 x 20 cm. |
Exige luminosidade. |
Confrei (Symphytum officinale) Boraginaceae |
Cicatrizante tópico, emoliente, anti-inflamatório, retira tecido necrótico e reduz a epitelização (cicatrização). Proibido o uso oral pelo Ministério da Saúde devido à hepatotoxicidade. Utilização na forma de compressas da infusão ou tintura, e/ou creme ou gel. |
Ano todo |
InÃcio aos 60 a 90 dias após o plantio e depois a cada dois ou três meses. |
60 x 40 cm. |
As mudas são obtidas pela divisão de touceiras e raízes. Evitar uso medicinal interno. Boa forragem para frangos e galinhas. |
Cúrcuma (Curcuma longa) Zingiberaceae |
Decocção. Problemas digestivos, icterÃcia, reduz o colesterol. Aumenta o fluxo de bile, alivia a indigestão, ajuda na prevenção da formação de cálculos biliares. Uso tópico para psorÃase e pé de atleta (micose). Pode ser usada como tempero. Não usar na forma oral na gravidez. |
Agosto a setembro. |
10 a 12 meses após o plantio. |
70 x 30 cm. |
Plantio por rizomas. |
Erva cidreira (capim cidreira/capim limão) (Cymbopogon citratus) Gramineae/Poaceae |
Infusão. Calmante, anti-insônia, digestivo, antiflatulento. Cólicas menstruais e intestinais. Auxilia na hipertensão e febre, estimula a produção de leite materno. Repelente de insetos. |
Setembro a dezembro. |
90 a 120 dias após o plantio e depois de cada 120 dias. |
100 x 50 cm. |
Renovar a cultura após três ou quatro anos. Exigente em luminosidade. |
Erva doce ou funcho (Foeniculum vulgare var. dulce) Apiaceae |
Decocção. Digestiva, antiflatulenta, antiespasmódica, para cólicas abdominais e menstruais, aumenta a lactação, regulariza a menstruação. Indicada para dor de garganta, tosse como expectorante suave e em conjuntivite. |
Ano todo, com preferência para temperaturas amenas. |
120 a 180 dias após a semeadura. |
80 x 30 cm (bulbos e folhas) 120 x 60 cm (sementes). |
Fazer a amontoa quando a ‘cabeça’ atingir o tamanho de um ovo (uso agrícola). Muito suscetÃvel a pulgões. |
Tabela extraída do livro: “Hortaliças e plantas medicinais: Manual prático“, de autoria de Paulo EspÃndola Trani, Francisco Antonio Passos, Arlete Marchi Tavares de Melo, Sebastião Wilson Tivelli, Odair Alves Bovi e EloÃsa Cavassani Pimentel.
Aposta que deu certo
Anika Heuser Schadt, apesar de seus poucos 26 anos, é uma empresária inovadora e de visão. Atualmente, é proprietária da Ervas Finas Horticultura, que trabalha com ervas aromáticas, legumes mini, flores comestíveis, folhagens especiais e brotos. Toda a produção acontece em Campo Limpo Paulista (SP). O destino da produção são os restaurantes da alta gastronomia de São Paulo e supermercados mais diferenciados, como empórios.
Por semana, são comercializadas três mil caixas de ervas aromáticas, cada uma com 150 gramas, em média. Destas, são produzidas o alecrim, alho japonês, azedinha, capim limão, cebolinha francesa, cerefólio, citronela, coentro, dill, erva jambu, estragão, funcho, hortelã, louro, manjericão, manjerona, misturas, orégano, salsa, sálvia, segurelha e tomilho.
O público-alvo são os restaurantes, mas parte segue para a produção de cosméticos. “O extrato dessa erva é usado para a produção de cosméticos, especialmente a folha e o caule. O óleo da erva jambu, por exemplo, é muito caro e é usado para diversos cremes e hidratantes“, relata Anika Heuser.
Manejo
Assim que as mudas germinam é feita a fertirrigação na estufa de mudas. Quando chegam ao tamanho ideal, elas são transplantadas para o campo e é feita uma adubação prévia no canteiro. Depois se faz o transplantio, e dependendo da necessidade da planta são feitas mais adubações.
Algumas plantas têm o ciclo curto, conta Anika Heuser, enquanto outras têm o ciclo mais longo. As maiores dificuldades no plantio de ervas aromáticas, segundo ela, são mão de obra e clima. “Nós, enquanto produtores, dependemos muito do clima, que não pode ser muito quente nem muito frio, nem muito seco, nem muito chuvoso. O clima é a nossa maior variável quanto aos produtos que temos disponível“, entrega a produtora.
A produção acontece em canteiro no solo sob estufa e em campo aberto. De acordo com a empresária, doenças de solo não são problemas para o cultivo. “Nossa produção de ervas finas não é orgânica. Mas tentamos da melhor maneira possível buscar predadores naturais para combater todos os tipos de problemas que possamos enfrentar na região. E fazemos monitoramento, que é intensificado dependendo da época, podendo ser de diário a duas vezes por semana. Quando o controle de lagartas é necessário, acontece com inimigos naturais“, afirma.
Essa é parte da matéria de capa da revista Campo & Negócios Hortifrúti, edição de junho. Clique aqui para adquirir sua e fazer a leitura completa.