Fabrício Teixeira de Lima Gomes
Engenheiro agrônomo e mestrando em Ciência do Solo – Universidade Federal de Lavras (UFLA)
agro.fabriciogomes@gmail.com
Estela Corrêa de Azevedo
Cientista e tecnóloga de alimentos e mestranda em Ciência de Alimentos – UFLA
estela.correa26@gmail.com
Nos últimos anos, o interesse por alimentos frescos e funcionais tem aumentado devido ao crescente interesse das pessoas por uma alimentação mais saudável. Os consumidores têm buscado produtos que possuem compostos bioativos, benéficos para saúde, mas que são também verdadeiras delícias gastronômicas.
Nesse cenário surgem os microverdes, uma nova classe de culturas especiais, definidas como hortaliças tenras e imaturas produzidas a partir de sementes de vegetais, ervas aromáticas e grãos, incluindo espécies selvagens.
A história
Os microverdes começaram a ser produzidos no final dos anos 80, e desde então ganharam popularidade como novos ingredientes culinários. Sua popularidade decorre de suas cores vivas, texturas delicadas, propriedades únicas de realce de sabor, mas também de seu valor nutricional e potencial bioativo.
A procura de microverdes é altamente influenciada pelas tendências gastronômicas e a seleção de espécies depende da interação do produtor com o consumidor, devido aos seus atributos sensoriais específicos.
Rentabilidade
Os microverdes são uma ótima opção de produção devido à facilidade de cultivo. Eles podem ser cultivados em pequenos espaços, inclusive em áreas urbanas, e produzidos em sistema orgânico.
São uma alternativa para produtores que querem aumentar o fluxo de caixa devido ao seu ciclo curto e alto valor agregado, podendo ser cultivado tanto em micro como em grande escala.
Os maiores custos de produção decorrem da aquisição de sementes de qualidade, sem tratamento químico, e do meio de cultivo.
Variedades
As variedades de microverdes mais exploradas são pertencentes às famílias Brassicaceae, Asteraceae, Chenopodiaceae, Lamiaceae, Apiaceae, Amarillydaceae, Amaranthceae e Cucurbitaceae.
Como exemplos temos o manjericão, repolho, couve, cenoura, cebola, rúcula, brócolis, rabanete, girassol, agrião, alho poró, coentro e beterraba.
Particularidades do cultivo
No cultivo de microverdes, grande parte do custo de produção decore da aquisição de sementes devido à grande quantidade necessária. As sementes devem apresentar elevada qualidade fitossanitária e germinativa.
Muitas espécies germinam facilmente e crescem rapidamente, enquanto outras são lentas e podem exigir tratamentos pré-semeadura para melhorar, padronizar e encurtar o ciclo de produção.
A quantidade de semente ideal é específica de cada espécie, com base no peso médio da semente, na taxa de germinação e na densidade populacional desejada de plântulas, variando de 1,0 semente cm-2 em espécies de sementes grandes, como ervilha, grão-de-bico e girassol, até 4,0 sementes cm-2 em espécies pequenas, como rúcula e agrião.
Os nutrientes adequados para produzir microverdes com alto rendimento e qualidade podem ser fornecidos pelos meios de cultivo, pela fertilização suplementar antes da semeadura, pela fertirrigação pós-emergência ou por aplicações combinadas de pré-semeadura e pós-emergência.
Sistemas produtivos
Os microverdes podem ser produzidos ao ar livre ou em ambiente protegido (estufas, câmara de crescimento) e sistemas de cultivo (solo e hidroponia), dependendo da escala de produção.
O sistema hidropônico envolve a aplicação de nutrientes inorgânicos na forma de solução nutritiva, evitando assim a lixiviação. As principais vantagens deste sistema incluem a mitigação de problemas relacionados com o solo, tais como doenças transmitidas pelo solo, limitações físicas e químicas, reduzindo o uso de agrotóxicos.
As desvantagens são o maior custo de instalação do sistema de cultivo sem solo, o custo de investimento e as habilidades técnicas necessárias para manejá-los e obter o máximo rendimento e qualidade.
Outro fator importante são as condições de luminosidade, que influenciam diretamente na morfofisiologia dos microverdes e na biossíntese e acúmulo de fitoquímicos, especialmente em ambientes de crescimento controlado.
Luz necessária
Os microverdes podem ser cultivados com luz natural ou luz suplementar. O manejo da intensidade luminosa pode aumentar a atividade fotossintética e o conteúdo de fitoquímico em vegetais, enquanto a irradiância excessiva pode provocar danos, com efeitos prejudiciais ao crescimento das plantas e à qualidade do produto.
Colheita
Dependendo da espécie e das condições de cultivo, as microverdes são geralmente colhidos ao nível do solo, ou seja, na base dos hipocótilos, entre 7 e 21 dias após o plantio.
Eles exigem uma colheita cuidadosa, muitas vezes tediosa, e um resfriamento rápido para suprimir a taxa de respiração, deterioração e senescência. A colheita de microverdes exige muita mão de obra e pode ter impacto direto no custo de produção, principalmente quando a produção é implementada em bandejas que requerem colheita com tesoura.
Embora a temperatura e a atmosfera da embalagem sejam, sem dúvida, os fatores mais críticos para prolongar a vida útil, as aplicações de cálcio em pré-colheita e pré-armazenamento podem melhorar a qualidade dos microverdes durante o período de armazenamento.
Mais produtividade
Para garantir a máxima produtividade, o produtor deve investir em sementes de qualidade e em um sistema de produção eficiente, com materiais de qualidade, assegurando segurança fitossanitária durante todo o processo produtivo e mão de obra especializada.
O fator mais limitante para a expansão da produção comercial de microverdes é a perecibilidade pós-colheita. Compostos por tecidos jovens que apresentam maior taxa de respiração quando comparados aos seus equivalentes maduros, os microverdes são caracterizados por uma vida útil limitada e alta sensibilidade às práticas de colheita e manejo pós-colheita.