Autores
Arnon Higor Leitão – arnonhigorleitao2@gmail.com
Gabriel Antônio Camargo de Moura – gacmagronomia@hotmail.com
Graduandos em
Engenharia Agronômica – Centro Universitário Sudoeste Paulista (UNIFSP)
Bruno Novaes Menezes Martins – Engenheiro agrônomo, doutor em Horticultura e professor – UNIFSP brunonovaes17@hotmail.com
A cultura do feijoeiro apresenta grande importância
econômica no cenário agrícola brasileiro. Entretanto, as produtividades estão
bem abaixo do potencial expresso da cultura. Diante desse panorama, inúmeras
tecnologias têm sido desenvolvidas com o intuito de alcançar ganhos expressivos
de produtividade, a maior parte direcionada à nutrição mineral e fisiologia
vegetal.
O cultivo de feijão irrigado apresenta como vantagens, entre
outras, a alta produtividade das lavouras, a redução de riscos, a colocação do
produto no mercado em épocas não convencionais, além de possibilitar a produção
de sementes de melhor qualidade.
Na implantação da cultura, alguns requisitos devem ser
levados em consideração, como clima e solo, fatores esses que podem limitar a
produção em determinadas regiões. Locais com temperaturas médias fora da faixa
de 18 – 30°C e solos com excesso de umidade são exemplos dessas limitações.
Interferência hídrica
A cultura pode ser afetada tanto pela deficiência hídrica como
pelo excesso de água no solo. Todas as fases de desenvolvimento da planta são
sensíveis a estes estresses, os quais comprometem o rendimento da lavoura. Vale
ressaltar que a planta possui um sistema radicular superficial, sendo
considerada, para a irrigação, a profundidade de 60 cm de solo.
O consumo de água da cultura varia com o estádio de
desenvolvimento, cultivar e com as condições climáticas locais. Nos Estados de
GO, MG, SP, ES e RJ o consumo total de água pela planta varia de 300 a 500 mm
por ciclo. O maior consumo diário no ciclo do feijoeiro é na fase de floração e
enchimento de vagens, e chega a 6 mm/dia em alguns destes estádios.
No feijoeiro, o momento de fazer a irrigação e a quantidade
de água a aplicar devem ser determinados pelo irrigante para melhor manejo.
Isto possibilita alcançar melhor rendimento da cultura e, em algumas vezes,
diminuir o custo de produção.
Adubação foliar
Além disso, a produtividade da cultura pode ser incrementada
com a adubação foliar de nutrientes, que são elementos requeridos em pequena
quantidade e, em caso de possível deficiência na cultura, pode limitar a
produtividade.
Em trabalhos preliminares realizados na Embrapa Cerrados,
Embrapa Arroz e Feijão e fazendas, em parceria com consultores e produtores na
região do Cerrado, a adubação foliar com cálcio, nitrogênio e fósforo (nitrato
de cálcio e MAP) para a cultura do feijão tem se mostrado bastante promissora.
O objetivo principal é a suplementação nos estádios vegetativos e a
complementação no estádio reprodutivo.
Nitrato de cálcio
O nitrato de cálcio é a fonte de cálcio mais solúvel e
prontamente disponível para as plantas, sendo uma das principais justificativas
para o seu uso. Este fertilizante não perde nitrogênio por volatilização da
amônia, nem acidifica o solo, pois já é o produto final da transformação do
nitrogênio (ureia → amônio NH4 + → nitrato NO3-).
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Entretanto, poderá perder nitrogênio por volatilização em
condição de falta de oxigênio no solo, onde ocorre saturação hídrica, seja por
efeito de chuvas ou irrigação. Essa perda ocorre pelo processo denominado de
desnitrificação, no qual o nitrato é reduzido por meio da ação de
microrganismos a N2O ou N2, que são gases perdidos para a
atmosfera, sendo o primeiro considerado um dos gases responsáveis pelo efeito
estufa.
No entanto, a maior fonte de perdas de nitrato (NO3-)
é caracterizada pelo processo de lixiviação, devido à maioria dos solos
brasileiros apresentarem mais cargas negativas do que cargas positivas. A
retenção do NO3- nos solos ocorre por ligação eletrostática, ou
seja, carga positiva atrai carga negativa, ou vice-versa.
Caso o balanço de cargas seja negativo, podemos concluir que
existem poucas cargas positivas para que o NO3- se ligue, o que irá
favorecer a perda por lixiviação. Além disso, o adubo fornece uma quantidade
considerável de cálcio, sendo o elemento responsável por diversas funções na
planta, dentre elas:
Participa da divisão celular, portanto, apresenta
interferência direta no crescimento de meristemas apicais, desenvolvimento de
raiz, germinação do grão de pólen e crescimento do tubo polínico.
É componente estrutural da lamela média, na forma de
pectatos de Ca, os quais possuem ação cimentante, unindo firmemente as paredes
celulares. Portanto, possui influência na integridade da membrana e proteção do
conteúdo celular.
Melhora a nodulação na fixação biológica de N, pois
está ligado ao encurvamento do pelo radicular por meio da indução à divisão
celular juntamente com o ácido indol-acético na parte superior do pelo
radicular, o que faz com que este se curve e facilite a infecção pelas
bactérias fixadoras.
MAP
Um dos principais problemas do fósforo nos solos brasileiros
é a formação do fósforo não-lábil (não disponível), responsável pela maior
parte do fósforo inorgânico do solo. É representado por compostos insolúveis e
que só lentamente podem se transformar em fosfatos lábeis.
As plantas absorvem fósforo da solução do solo. Sob esse
ponto de vista, o único fósforo imediatamente disponível, a um dado momento,
seria aquele em solução. No entanto, os teores de fósforo existentes na solução
do solo são, frequentemente, muito baixos.
De qualquer maneira, é bastante claro que deve haver
constante reposição do fósforo em solução, o que se dá por meio da dissolução
do fosfato lábil, que está em equilíbrio com o fosfato em solução. O fósforo
solúvel, de fertilizante ou exposição natural ao tempo, reage com argila, ferro
e componentes de alumínio no solo e é convertido em formas menos disponíveis
pelo processo de fixação do fósforo.
Em decorrência desse processo de fixação, as plantações
raramente absorvem mais de 20% do fósforo do fertilizante durante a primeira
estação de plantação após a aplicação. Este fósforo fixo residual permanece na
zona de raízes e vai estar disponível de forma lenta para as futuras
plantações.
Vários fatores podem influenciar na eficácia do fósforo
aplicado ao solo, como o tipo de fertilizante, o método de aplicação, a
quantidade, atributos referentes ao solo, como o pH, umidade, teor de argila,
teor de cálcio e formas de Fe.
Com base na necessidade requerida pela cultura se estabelece
a fonte a ser utilizada. Por exemplo, se há necessidade de aplicação de N para
cultura, o MAP (fosfato monoamônico) é uma fonte interessante a ser usada,
devido conter (11%) de nitrogênio na sua composição.
Por outro lado, a aplicação de MAP é mais vantajosa por ter
uma concentração de P2O5 elevado, quando comparado à
maioria dos outros fertilizantes fosfatados, necessitando de uma menor dose a
ser aplicada por área, otimizando a prática operacional. Financeiramente,
oferece uma maior concentração do nutriente por um menor valor.
Ressalta-se, ainda, que o fósforo é o nutriente responsável
pelo metabolismo da planta, dinâmica energética, constituinte das moléculas de
ATP (molécula responsável pela transferência energética dentro da planta) e
constituinte também dos fosfolipídeos que compõem a membrana plasmática das
células (Taiz; Zeiger, 2006). Diante do exposto, sua aplicação no solo é muito
importante para manutenção de altas produtividades da cultura do feijão.
Manejo
O feijoeiro é uma cultura exigente em termos nutricionais e
bastante eficiente em absorver e utilizar os nutrientes contidos no solo,
principalmente nitrogênio, potássio, cálcio, fósforo e magnésio.
Segundo Rosolem e Marubayashi (1994), a absorção de nitrogênio
ocorre praticamente durante todo o ciclo da cultura, mas a época de maior
exigência ocorre dos 35 aos 50 dias da emergência da planta, coincidindo com a
época do florescimento.
Já a época de maior velocidade de absorção de fósforo está
entre 30 até os 55 dias da emergência, ou seja, desde o estádio fisiológico
anterior ao aparecimento dos botões florais até o final do florescimento,
quando já existem algumas vagens formadas.
Portanto, com base na
análise do solo, recomenda-se a quantidade de fertilizante necessário. O modo
mais tradicional da aplicação da adubação é via solo, utilizando adubos sólidos
ou em aplicações via fertirrigação. Como a parte aérea das plantas tem a
capacidade de absorver água e nutrientes, a prática da adubação foliar se torna
viável e eficiente. Caso a planta mostre deficiência após o florescimento, a
aplicação via foliar se justificaria.
Resultados reais
A utilização do nitrato de cálcio e MAP tem garantindo
ganhos produtivos expressivos para a cultura do feijoeiro da ordem de 15 a 50%
na sua produtividade. Muitas experiências demonstram que a adubação de solo é
mais lenta, e a adubação foliar, ao contrário, é mais rápida. Em geral, os
nutrientes aplicados às folhas são absorvidos com muita rapidez, assim como
também são translocados para todas as partes do vegetal.
Os nutrientes disponibilizados atuam de duas formas: a
primeira é na suplementação nos estádios vegetativos, promovendo o aumento da
absorção do nutriente no solo por meio de estímulos com as adubações foliares,
adquirindo maior desenvolvimento das raízes.
A segunda forma de atuação se dá no início do estádio
reprodutivo até a maturação, promovendo a diminuição da atividade radicular e a
absorção do nutriente, havendo uma grande translocação da folha para a semente
na sua formação. Portanto, a adubação via foliar poderá repor os nutrientes nas
folhas, mantendo por maior tempo a taxa de fotossíntese, refletindo de forma
positiva na produtividade do feijão.
A velocidade de absorção foliar de nutrientes é variável de
nutriente para nutriente. O insucesso da prática não se deve aos problemas
relacionados à penetração cuticular e utilização do nutriente pela planta, mas
sim às quantidades que devem ser aplicadas, o que inviabiliza o processo. As
aplicações foliares devem ser realizadas com muito cuidado para evitar
injúrias, de modo que o nutriente seja bem aproveitado pela planta.
Devem ser evitadas as aspersões grosseiras que formam
gotículas grandes, de modo que não ocorra escorrimento da solução,
desperdiçando nutrientes e promovendo a lavagem que retira os nutrientes das
folhas. Portanto, as pulverizações devem ser uniformes, em pequenas gotículas, garantindo
um melhor recobrimento.
Uma das estratégias que se pode utilizar é o equipamento
correto, como o uso de bicos que apresentam um pequeno espectro de gotas,
permitindo um bom recobrimento da superfície foliar, evitando assim o
escorrimento que, além da perda do produto, pode causar fitotoxidez.
Aplicação de doses erradas de
fertilizantes
Provavelmente, este erro é um dos mais periódicos e costuma
ocorrer tanto no excesso quanto na falta, que certamente causarão problemas ao
desenvolvimento da cultura. É preciso ressaltar que, na planta, existem três
tipos de interações entre os nutrientes: antagonismo (efeito negativo),
inibição (efeito negativo) e sinergismo (efeito positivo).
O antagonismo pode ocorrer pela presença de um nutriente que
diminui a absorção de outro, gerando prejuízo à planta, enquanto, a inibição
ocorre quando a presença de um nutriente em excesso diminui (inibe) a absorção
de outro. Já o sinergismo representa a presença de um elemento químico que
favorece a absorção de um outro, proporcionando efeito benéfico para a planta.
Por isso, por muitas vezes o produtor aplica mais
fertilizante que o necessário em busca de maior produção, mas o excesso de
alguns nutrientes pode diminuir a absorção de outro, que inclusive já pode
estar presente no solo.
Além disso, o uso em excesso de adubos, principalmente com
N, P e K e o uso indiscriminado de corretivos de acidez acarretam prejuízos à
cultura, que muitas vezes passam despercebidos, como o aumento de doenças
foliares, estresse salino que afeta a produtividade, perda de nutrientes no
solo por lixiviação e o desbalanço de nutrientes, gerando problemas
fisiológicos e nutricionais.
Aplicar fertilizantes sem se
preocupar com a fase da cultura
Em muitos sistemas de produção são aplicadas as mesmas
fórmulas de fertilizantes nos diferentes estádios de desenvolvimento da
cultura, sem nenhuma preocupação com as necessidades específicas da planta.
A exigência nutricional da cultura varia ao longo do ciclo,
intensificando-se no florescimento, seguida pela formação e crescimento dos
frutos. O conhecimento da marcha de absorção de nutrientes pelas culturas pode
fornecer subsídios para uma aplicação racional de fertilizantes, implicando na
redução dos custos de produção e melhor aproveitamento dos fertilizantes pela
planta, podendo gerar também aumento de produtividade.
Além disso, com o uso da marcha de absorção evita-se uma
possível deficiência ou consumo de luxo de algum nutriente pela planta.
Portanto, é importante sabermos que cada fase de desenvolvimento da planta
precisa de um conjunto de nutrientes em específico.
Custo-benefício
O custo da técnica dependerá da fonte a ser empregada e da
quantidade necessária para suprir a exigência nutricional da cultura,
levando-se em conta as perdas no ambiente de cultivo. Dentre as áreas que o
produtor tende a economizar está a adubação – quando isso não é feito com
critérios rigorosos, resulta em queda na produtividade, o que leva ao aumento
no custo de produção.
Neste sentido, pode-se utilizar como complemento o material
orgânico disponível nas proximidades da área de produção, tanto de origem
vegetal como animal.