Patrícia Borges DiasDoutora e pesquisadora em Ciências Florestais – Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)patriciaborgesdias@yahoo.com.br
Fernanda Moura Fonseca Lucas
Mestra em Engenharia Florestal e pesquisadora em Ciências Florestais – UFES
fernanda-fonseca@hotmail.com
Estefany Vaz Brisson
Mestranda em Ciências Florestais – UFES
estefany.brisson@gmail.com
Capazes de influenciar significativamente a distribuição geográfica de espécies da flora e fauna em todo mundo, as mudanças climáticas são um dos maiores desafios do século XXI, influenciando os ecossistemas e a vida na Terra.
Os ecossistemas terrestres e aquáticos, de modo geral, estão alterando a composição de espécies e características, provavelmente, devido a mudanças nas condições externas, como a diminuição da precipitação e o aumento gradativo da concentração atmosférica de dióxido de carbono (CO2) e temperatura.
As previsões para o final do século XXI mostram que a concentração de CO2 pode chegar a 936 ppm (Figura 1), o que causará um aumento da temperatura do ar de 1,0 a 3,7 °C e alterações na distribuição espacial da precipitação.
Impactos na conservação da biodiversidade
Espécies diversas contribuem para a estabilidade dos ecossistemas, por meio do sequestro de carbono, regulam ciclos biogeoquímicos e desempenham papéis cruciais na adaptação às mudanças ambientais.
A perda da biodiversidade compromete essa resiliência, tornando os ecossistemas mais vulneráveis aos impactos climáticos. A resposta das espécies às mudanças climáticas pode variar da extinção à resiliência.
Deste modo, as características abióticas funcionam como filtros ecológicos, ocorrendo uma tendência das espécies se adaptarem às mudanças climáticas, alterando seus atributos para que possam se desenvolver e/ou persistir em ambientes que apresentem tais condições ambientais favoráveis.
As condições oriundas das mudanças climáticas contribuem, ainda, para o derretimento das geleiras e, consequentemente, elevação do nível do mar, gerando perdas de habitats costeiros.
A rápida perda de geleiras impacta ecossistemas terrestres e ameaça a sobrevivência de espécies adaptadas a climas frios. Somado a isso, a fragmentação de ecossistemas dificulta a sobrevivência de muitas espécies, comprometendo a estabilidade dos ecossistemas e tornando um desafio para a conservação da biodiversidade.
Os diferentes grupos de espécies dos ecossistemas exibem respostas diferentes às alterações do ambiente, podendo apresentar diversas estratégias, como longevidade foliar, aumento ou diminuição da biomassa foliar e da raiz, bem como habilidades resistentes à seca.
Alterações no clima x vida no campo
Com as mudanças climáticas, os agricultores tendem a lidar com extremos climáticos impactando diretamente as produções no campo. Invernos muito frios, verões mais secos ou vice-versa fazem com que sejam necessárias adaptações e mudanças nas ações convencionais já utilizadas comumente.
Além disso, os trabalhadores do campo enfrentam vários riscos para a saúde em virtude das condições extremas, como alta exposição ao calor.
As plantas, de modo geral, são sensíveis às secas, às inundações e geadas. Ou seja, em ambientes que estejam fora do limite climático habitual, a produtividade será influenciada negativamente. Altas temperaturas impulsionam o aparecimento de pragas que, consequentemente, aumentam o uso de inseticidas e recursos hídricos.
No Brasil, apenas 5% das regiões agrícolas são irrigadas, sendo 95% das áreas dependentes das chuvas. Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa, são previstas consequências para a agricultura brasileira, tais como a redução na produção de trigo em um terço e da produção de milho em um quarto. Ademais, um terço da produção mundial de café do Brasil será reduzida.
A mudança climática também tem proporcionado declínio na biodiversidade de polinizadores. De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), mais de ¾ das culturas agrícolas mundiais dependem de insetos polinizadores para produção de frutos e grãos, sendo a alteração do clima um grave empecilho para a produtividade.
Sem ações adequadas, haverá aumento no preço dos produtos agrícolas, o que influenciará na taxa de fome mundial.
Medidas como captação da água das chuvas, agricultura de precisão, culturas de cobertura, uso de culturas adaptáveis, plantio direto ou mínimo e rotações de culturas são medidas mitigadoras que podem auxiliar os produtores a lidar com as mudanças climáticas.
Compromissos globais e ações locais
Com a finalidade de frear as expectativas projetadas para os cenários futuros, representantes mundiais têm somado esforços para elaboração de acordos climáticos.
Os compromissos globais e locais sobre mudanças climáticas e conservação da biodiversidade são refletidos em iniciativas que visam abordar as ameaças crescentes ao meio ambiente em diferentes escalas.
Dentre elas, têm-se:
– Convenção sobre Diversidade Biológica (1992): principal instrumento internacional para a conservação da biodiversidade. Estabelece metas e estratégias para a conservação e uso sustentável da diversidade biológica.
– Protocolo de Kyoto (1997): marco inicial para limitar as emissões de gases de efeito estufa. Focava principalmente em países desenvolvidos, estabelecendo metas de redução para essas nações.
– Acordo de Paris (2015): aprovado por 195 países, tem como principal objetivo conter o aumento do aquecimento global e estabelece metas para a redução das emissões de gases de efeito estufa.
– Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS): estabelecidos pelas Nações Unidas, incluem ação climática (ODS 13) e vida terrestre (ODS 15) como metas específicas para enfrentar as mudanças climáticas e proteger a biodiversidade.
– Quadro Global de Biodiversidade pós-2020: Em andamento, este quadro visa orientar ações em todo o mundo até 2030, para preservar e proteger a natureza e seus serviços essenciais às pessoas, estabelecer metas e estratégias para a conservação da biodiversidade global, substituindo as Metas de Aichi (2010).
Esses compromissos reforçam a necessidade de ação conjunta e coordenada em escalas global e local, visando a mitigação das mudanças climáticas e, consequentemente, a conservação da biodiversidade.
Estratégias de conservação
Enfrentar esse desafio global requer boas estratégias de conservação. A criação de áreas protegidas, a restauração de ecossistemas degradados e a promoção de práticas agrícolas sustentáveis são fundamentais.
A preservação da diversidade biológica é essencial para a saúde do planeta. Assim, a compreensão dos mecanismos por trás da resiliência desses ambientes pode nortear ações mitigadoras aos impactos das mudanças climáticas, uma vez que, em meio a esse cenário, a conservação da biodiversidade é crucial.