Babaçu: riqueza natural do Brasil

Babaçu: riqueza natural do Brasil

Amanda Magda Almeida Santos
Engenharia florestal e mestranda em Ciências Florestais – Universidade Federal do Espírito Santo (PPGCFL/UFES)
amandamgd@gmail.com

Segundo levantamento do IBGE, em 2022, foram produzidas 30.478 toneladas de babaçu, com um valor de produção de R$ 71,295 milhões, totalmente proveniente do extrativismo e da agricultura familiar.

De acordo com um estudo do professor Roberto Porro, em 334 municípios (no Maranhão, Pará, Tocantins, Piauí e Bahia) ainda existem 12,5 milhões de hectares de babaçuais.

O potencial de produção dessas áreas com matas de cocais é de 1,5 milhão de toneladas por ano, ressaltando que, mesmo nas décadas de 1970 e 1980, período de maior produção, essa nunca chegou a 20% desse potencial.

Atualmente, com base nos dados do IBGE, a produção está entre 1,0 e 4% do volume total que poderia ser atingido. Esses números expressam oportunidades que inúmeras famílias rurais poderiam ser beneficiadas economicamente, porém demanda, sobretudo, o interesse do poder público em desenvolver as políticas necessárias para apoiar essas iniciativas e fornecer os subsídios essenciais para o crescimento desse mercado.

Quem é ele

O babaçu é uma palmeira de grande porte, podendo atingir até 20 metros de altura. Cada árvore pode produzir até 3.000 frutos por ano, cada um contendo de duas a quatro amêndoas, das quais se extraem óleo, farinha e carvão.

As indústrias valorizam o óleo de babaçu na cosmética e na alimentação, por suas propriedades nutritivas e hidratantes. Para os produtores, a cadeia produtiva do babaçu oferece diversas oportunidades de lucro, desde a venda de matéria-prima até produtos processados, como o óleo e a farinha.

Principais vantagens econômicas

O coco do babaçu é um bioproduto nativo que é economicamente aproveitado pelo extrativismo, gerando emprego no meio rural e desempenhando um papel importante na economia regional onde é encontrado, principalmente nos estados do Maranhão, Piauí, Pará e Tocantins.

O fruto do babaçu é composto por quatro partes principais: epicarpo, endocarpo, amêndoas e mesocarpo, todas elas aproveitáveis para a produção de diversos produtos. Devido a essa versatilidade, o babaçu pode atender a inúmeras aplicações industriais, tanto no mercado nacional quanto internacional.

Embora sua exploração ainda seja rudimentar, com as mulheres quebradeiras de coco desempenhando o papel principal nesse processo, a atividade não requer um alto investimento inicial para sua exploração e beneficiamento, o que pode resultar em bons lucros.

Óleo de babaçu

As propriedades do óleo de babaçu, já amplamente estudadas, o confirmam como uma fonte rica em ácidos graxos saturados, como cáprico, caprílico, láurico, mirístico, palmítico, oleico, esteárico e linoleico.

Essas características conferem ao óleo propriedades anti-inflamatórias, cicatrizantes, fotoprotetoras, antissépticas, antivirais, antifúngicas, bactericidas e antitumorais. Ainda, o óleo auxilia na reposição lipídica e na melhoria da elasticidade capilar, destacando-se nos cuidados para a pele e cabelo, além de contribuir para a estabilidade de alimentos.

Além do óleo, o mesocarpo do babaçu também é utilizado na indústria alimentícia, gerando suplementos alimentares ricos em amido e fibras, sem caseína, lactose ou glúten, contribuindo para o desenvolvimento de alimentos saudáveis tanto para humanos quanto para a alimentação animal.

O processo

Para a obtenção do óleo e da farinha de babaçu, o processo começa com a coleta dos frutos maduros já caídos da palmeira, que devem ser selecionados por estarem saudáveis e sem apresentar danos, como furos ou marcas de roedores.

Para a extração do óleo, as amêndoas podem ser retiradas manualmente com o auxílio de machado e porrete de madeira, ou mecanicamente, com o uso de trituradores elétricos. As amêndoas são trituradas em um pilão ou moinho, seguidas da torrefação, que requer um pouco de água.

No processo de cozimento, o óleo se separa da massa triturada (a torta), ficando suspenso por cima. A separação do óleo pode ser feita manualmente, com o auxílio de uma concha, ou por filtragem, e finalmente, o óleo é envasado.

Para a obtenção da farinha, as amêndoas são inicialmente lavadas por imersão em água para remover materiais solúveis. Em seguida, a matéria é decantada, facilitando a obtenção de um produto mais claro, e a água é drenada em peneiras, retendo as fibras de amêndoa.

O material é prensado para remover a água residual e submetido a um tratamento térmico a 90 ± 2°C, com agitação constante por cinco minutos, para reduzir a carga microbiana. Para alcançar a umidade desejada de menos de 12%, a farinha é seca em uma estufa de circulação de ar a 70°C, garantindo a estabilidade e vida útil do produto.

Por fim, a farinha é triturada em um moinho de facas, resultando em uma granulometria menor que 1,0 mm, assegurando a uniformidade da textura.

Cadeia produtiva

Nos estados que extraem o babaçu, existem projetos relevantes associados à preservação dos babaçuais, ao desenvolvimento de novos produtos a partir do coco, e a movimentos que incluem, entre outros aspectos, o direito à liberdade e melhores condições de trabalho.

Entre eles, destaca-se o Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB) nos estados do Maranhão, Pará, Piauí e Tocantins, que existe desde a década de 1990. Outros exemplos incluem o grupo Alternativas para a Pequena Agricultura no Tocantins (APA-TO), a Cooperativa dos Pequenos Produtores Agroextrativistas de Lago do Junco Ltda. (COPPALJ) no Maranhão, e a Associação Regional das Produtoras Extrativistas do Pantanal (ARPEP) no Mato Grosso, que trabalham com sistemas agroextrativistas ou arranjos agroecológicos e possuem certificação orgânica.

Outra aplicação que tem se destacado é a produção de biojoias, como exemplificado pela Cooperativa dos Artesãos de Biojoias de Xambioá, que agrega valor ao que seria descartado na produção.

Diferenciais

A produtividade do babaçu é notável devido à sua capacidade de produzir grandes quantidades de frutos. Em áreas de alta densidade, a produção pode alcançar até 4,0 toneladas de amêndoas por hectare/ano, embora a média geralmente fique em torno de 1,5 a 2,0 toneladas.

Um único cacho de babaçu pode conter de 200 a 400 frutos, e cada fruto de 2,0 a 6,0 amêndoas. Comparado ao dendê, uma das palmeiras mais produtivas, que pode produzir até 7,0 toneladas de óleo por hectare/ano em condições ideais. Tal produtividade se deve ao fato de que quase 50% do fruto de dendê é composto por óleo.

O valor comercial ainda é baixo comparado, a outras palmeiras, o que se dá pela escala de produção menor e baixa demanda industrial. No entanto, o babaçu é altamente valorizado em mercados que priorizam a sustentabilidade e o comércio justo, uma vez que sua produção é majoritariamente realizada por comunidades tradicionais, especialmente as quebradeiras de coco.

Isso agrega valor ao produto final, especialmente em mercados que reconhecem a importância do extrativismo sustentável.

Desafios na exploração do babaçu

No Brasil, ainda não existem plantios comerciais de babaçu, exceto por uma área experimental que não passou da segunda fase, carecendo de pesquisa em melhoramento genético e técnicas de manejo.

O maior desafio para os produtores é o acesso aos babaçuais, que muitas vezes estão em terras que não lhes pertencem e onde a infraestrutura, como estradas, é precária. Os produtores também enfrentam o desmatamento, que ameaça as matas de cocais ao serem substituídas por outras atividades agropecuárias.

Além disso, faltam equipamentos para a mecanização da produção, o que poderia otimizar o trabalho das quebradeiras de coco, aumentar a produtividade e garantir maior segurança ergonômica.

Muitos dos avanços na produção do babaçu vieram da organização dos agroextrativistas em cooperativas e movimentos, como a luta pelo babaçu livre, que permite às quebradeiras coletarem o coco em qualquer propriedade.

Políticas públicas e parcerias com instituições de ciência e tecnologia, como universidades e a Embrapa, também têm sido fundamentais, proporcionando acesso a fundos internacionais de investimento.

Fonte: https://revistacampoenegocios.com.br