Fernanda da Silva Ferreira
Engenheira agrônoma e doutora em Entomologia – Unemat
fernanda.agronomiaunemat@hotmail.com
As moscas-brancas são insetos pequenos, apresentam uma cera pulverulenta ou branca que recobre os seus corpos, por isso este nome. O seu desenvolvimento é por hemimetabolia, passam pela fase de ovo, ninfas e adultos. Podem ocorrer em inúmeras culturas, bem como nas videiras.
Danos
São insetos sugadores que podem ocasionar duas categorias de danos às videiras.
– Danos diretos: os adultos e ninfas se alimentam do floema das plantas, sugando seus nutrientes e simultaneamente injetando enzimas tóxicas nas plantas. Isso leva à redução de vigor, enfraquecimento das plantas, amarelecimento das folhas e redução da qualidade dos frutos e produtividade.
– Danos indiretos: acontece pelo desenvolvimento do fungo fumagina, que se desenvolve nos excrementos açucarados excretados, também conhecido como honeydew. Tais fungos recobrem a folha, interferindo no processo fotossintético, na respiração e na eficiência dos inseticidas aplicados.
Quando presentes nos frutos, alteram a sua qualidade. E, por fim, são transmissores de vírus, como o begomovírus, crinivírus, carlavírus, ipomovírus e torradovírus. A infecção ocasionada por vírus pode ser um dos fatores que contribui para a menor área foliar das plantas infectadas, quando comparadas às plantas sadias, curvatura do limbo foliar, atrofiamento de plantas e cachos com frutos pequenos.
Condições climáticas
A mosca-branca é um inseto tropical, no entanto, é encontrada nas partes mais quentes do mundo e em estufas em regiões temperadas. Sua habilidade de adaptação a diferentes hospedeiros tem facilitado a sobrevivência e a transformou em um vetor de inúmeras viroses descritas.
As condições climáticas podem interferir de diferentes formas em seu ciclo biológico. Temperaturas elevadas, acima de 25ºC, são a faixa de melhor desenvolvimento para ovos e ninfas. Ela possui a capacidade de acelerar o seu ciclo, podendo completar até duas gerações a campo.
Em temperaturas próximas a 16ºC, seu ciclo de vida é prolongado em até 70 dias. Baixa umidade relativa do ar a favorece, assim como períodos chuvosos dificultam o controle químico.
Manejos eficazes
Atualmente, a forma de controle de pragas na cultura da videira mais utilizada é a química. No entanto, existem poucos produtos registrados para a mosca-branca e o uso dos mesmos ingredientes ativos se torna recorrente, o que induz a resistência de pragas.
Pesquisas demostram que no Brasil as populações desta praga são altamente resistentes ao grupo químico dos neocotinoides. E há casos de resistência a demais grupos, como os carbamatos, organofosforados, piretroides e reguladores de crescimento.
Portanto, alternativas ao controle químico são de extrema importância no manejo integrado de pragas, como o manejo cultural, que consiste na eliminação de restos culturais e plantas invasoras.
O controle físico, com o uso de armadilhas coloridas amarelas, que são atrativas à mosca-branca, controle biológico e indução de resistência de plantas pela aplicação de indutores, por exemplo o silício, também são eficazes.
Novas tecnologias
Pesquisadores da Embrapa vêm desenvolvendo pesquisas e estratégias inovadoras no controle de mosca-branca, que combina veneno de aranha e vírus para os seus controles. A proteína tóxica teve um bom desempenho nos primeiros testes.
Outra linha de pesquisa, em andamento, da instituição é a utilização da tecnologia de Rnai (Silenciamento de gênico) para obtenção de plantas resistentes a vírus transmitido por essa praga.
No ano passado, a instituição, em parceria com a Lallemand Plant Care, lançou um bioinseticida formulado a partir do isolado exclusivo BRM27666 do fungo entomopatogênico Cordyceps javanica, recomendado para a mosca-branca e cigarrinha do milho.
A utilização de produtos seletivos com o intuito de manter os inimigos naturais na área é de suma importância, bem como táticas de liberação de predadores como joaninhas e crisopídeos e uso de produtos entomopatógenos (fungos e bactérias).
No final de dezembro de 2024, o Mapa liberou o formulado à base de dimpropiridaz para o controle da praga mosca-branca. Este produto possui mecanismo de ação que paralisa a alimentação dos insetos e reduz de forma significativa a transmissão de vírus e bactérias pela distribuição sistêmica com efeito translaminar.
Além do mais, não possui resistência cruzada a outros ingredientes ativos, se tornando uma ferramenta para o manejo de resistência de pragas de menor risco fitossanitário. Outro produto lançado foi à base de óleo de neem, e outro à base de Beauveria bassiana, isolado IBCB 66, recomendados para o controle da praga em questão.
Cuidados essenciais
Para maximizar a eficácia e evitar a resistência da mosca-branca a inseticidas, os viticultores podem adotar estratégias de minimização, como a utilização no monitoramento e adoção do nível de controle para essa praga, rotação de produtos com diferentes modos de ação, usar as doses recomendadas na bula, evitar misturas em tanques e, sempre que possível, escolher o uso de inseticidas seletivos para a preservação de inimigos naturais.
Além disso, usar cultivares resistentes, eliminar restos culturais e plantas hospedeiras da praga e de fontes de inóculo de vírus fitopatogênico. As bases para o manejo da resistência deparam-se na manipulação de diferentes estratégias de uso dos inseticidas e dos componentes abióticos e bióticos em conjunto, que poderão auxiliar na prevenção, no retardo ou na reversão da evolução dessa resistência.
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Combinação de estratégias
A combinação da aplicação de inseticida e produtos biológicos é dependente do conhecimento de compatibilidade dos microrganismos e moléculas de ingrediente ativo. A aplicação de produtos biológicos também é influenciada pelas condições edafoclimáticas, como temperatura e umidade.
Nessa associação, espera-se que o agroquímico atue como agente estressor na população da praga para adicionar a eficácia do microrganismo, colaborando para a eficiência de controle da mosca-branca, redução de número de aplicações e quantidade de inseticidas utilizados, preservação de inimigos naturais e aumento da biodiversidade.
A aplicação isolada dos produtos biológicos, sem a mistura de tanque com os inseticidas químicos, ainda é uma ferramenta valiosa no manejo integrado de pragas visando o manejo de resistência, de forma a rotacionar os mecanismos de ação e ser uma forma de controle menos nociva.