A indústria de fertilizantes enfrenta um desafio contínuo na
melhoria de seus produtos para aumentar a eficácia da sua utilização. Isso pelo
aprimoramento dos fertilizantes já em uso ou pelo desenvolvimento de novos
tipos de adubos específicos.
Com a proposta de desenvolver produtos que aumentem a
eficiência da nutrição de plantas com melhoria na utilização de matérias-primas,
redução de impactos ambientais e reflexos na qualidade e produtividade dos
cultivos, foram desenvolvidos os fertilizantes de liberação lenta (FLL) ou
controlada.
Tratam-se de fertilizantes que contêm um nutriente para as
plantas capaz de regular a sua disponibilidade para absorção pelas plantas após
a sua aplicação, ou que estende a sua disponibilidade à planta
significativamente mais do que um fertilizante convencional de referência, como
amônio, nitrato, ureia, fosfato de amónio, entre outros.
Esse atraso da disponibilidade inicial ou tempo prolongado
de disponibilidade contínua pode ocorrer por uma variedade de mecanismos,
incluindo a solubilidade controlada em água do material de revestimento
semipermeável, oclusão, materiais de proteína ou de outras formas químicas, por
hidrólise lenta de compostos de baixo peso molecular solúveis em água ou por
outros meios diversos, como polímeros que revestem os produtos.
Os FLL também podem ser considerados “Fertilizantes de
Eficiência Aumentada” devido ao maior aproveitamento dos nutrientes quando comparados
às fontes convencionais.
Na
silvicultura
Na silvicultura, os principais benefícios destes
fertilizantes são: diminuir as perdas de nutrientes no sistema
solo-planta-atmosfera, seja por lixiviação, volatilização, imobilização ou
indisponibilização e melhor fornecimento, de maneira ajustada às necessidades
das plantas.
Sendo assim, eles podem aumentar a eficiência do uso de
nutrientes pelas plantas e minimizar impactos ambientais causados pela adubação,
evitando a contaminação da água e diminuindo a emissão de gases causadores do
efeito estufa para a atmosfera, como dióxido de carbono e óxido nitroso.
Desde a produção de mudas é possível aproveitar os
benefícios dos FLL, pois nessa fase a operação de rega muitas vezes causa o
empobrecimento do substrato, que é reduzida quando utilizadas fontes de
nutrientes de FLL.
Na instalação de povoamentos, o uso de FLL também traz como
vantagem a possibilidade de fornecer os nutrientes em uma única adubação, sem
necessidade de parcelamento das adubações, especialmente para o fósforo, que
tem baixa eficiência se aplicado em cobertura, refletindo em economia
operacional.
Quando as condições ambientais não são ótimas para
realização da adubação, é possível utilizar FLL com menores perdas do que se aplicadas
fontes convencionais como, por exemplo, a ureia, que sem umidade no solo e não
incorporada apresenta baixa eficiência, com perdas de até 50% do nitrogênio.
À medida que as plantas de povoamento crescem, ocorre acúmulo
de matéria seca que, para ser produzida, depende diretamente da fotossíntese,
de água e nutrientes. A liberação lenta dos nutrientes evita deficiências
nutricionais que afetam a sanidade das plantas, tornando-as suscetíveis ao
ataque de pragas e doenças, com impactos na qualidade do produto colhido.
O fornecimento do nutriente será quase que constante,
atendendo a demanda da planta. Ainda, sem deficiências o ciclo não será
atrasado e os cortes serão realizados nas épocas programadas.
O
caso do eucalipto
A maioria dos solos cultivados com espécies florestais é
intemperizada, deficiente em nutrientes e necessita de correções por meio de
adubações. No caso da nutrição de eucalipto, existe uma grande variação do
conteúdo de nutrientes nas plantas em função da espécie, idade, fertilidade do
solo, produtividade e local.
O ciclo de corte varia em função da utilização da madeira,
podendo chegar a até 20 anos de idade para alguns povoamentos. Deve-se
ressaltar que o fornecimento de nutrientes é um dos fatores que pode antecipar
ou prolongar o ciclo da cultura.
As necessidades nutricionais de qualquer planta são
determinadas pela quantidade de nutrientes que ela extrai durante seu ciclo.
Esta extração total dependerá do rendimento obtido e da concentração de
nutrientes nos grãos e nas partes que compõem a planta, ou seja, raiz, caule,
folhas, etc.
O manejo nutricional se inicia, antes de tudo, com a análise
química de solo para conhecimento dos níveis de nutrientes e dos fatores que
influenciam a disponibilidade dos mesmos às plantas, como teor de matéria
orgânica, saturação de bases, capacidade de troca catiônica, teor de alumínio e
pH.
Tendência
A tecnologia dos FLL é uma tendência para espécies
florestais, entretanto, o custo dos fertilizantes, em alguns casos, ainda é um
entrave para maior adesão dos produtores a essa tecnologia.
Uma alternativa é, dentro do manejo nutricional, fazer parte
das adubações com fertilizantes de fontes convencionais, que são mais baratos,
e outra parte com FLL, principalmente quando a aplicação de fontes convencionais
não apresentar boa eficiência.
Dicas
A aplicação do FLL, de maneira geral, é realizada da mesma
forma empregada para os fertilizantes convencionais. Assim, se a recomendação
for para distribuir o fertilizante mineral no fundo e ao longo do sulco de plantio,
o mesmo se fará com FLL.
Se a recomendação for para colocar no fundo da cova ou em
cobertura na projeção da copa da árvore ou em coberturas por todo terreno seguidas
de leve incorporação, assim também se procederá. Já se a recomendação for para
distribuir em cobertura, sem incorporação ao solo, o FLL assim será empregado.
Outro questionamento bastante comum está relacionado à época
de aplicação do FLL. Outra vez, vale ressaltar que estes fertilizantes não
apresentam nenhuma restrição em relação ao seu uso, podendo assim ser utilizado
da mesma forma que os fertilizantes convencionais, ou seja:
ð Na adubação
de base: na ocasião do plantio, isto é, junto com a semente ou com a muda
que está sendo transplantada;
ð Na adubação
de cobertura: quando se inicia o crescimento mais intenso da planta,
distribuindo-se o fertilizante na superfície da terra ao longo da linha da
cultura ou em volta da muda, e incorporando-se ao solo com uma leve
escarificação, sempre que possível;
ð Na adubação
de manutenção: em plantas adultas, adubando-se na época mais chuvosa ou
quando se fazem as capinas ou outros tratos culturais, distribuindo-se o FLL em
sulcos abertos ao lado da linha de cultura ou espalhando-o por toda a
superfície plantada e incorporando-o ao solo, sempre que for possível. No caso
de culturas que não permitem incorporação, aplicar o fertilizante
preferivelmente em época chuvosa para que a água o arraste para o interior do
solo.
Erros
que devem ser evitados
Em muitos casos, por questões econômicas, os produtores
optam por reduções de doses, simplesmente para ajustar o custo das adubações. Em
relação às dosagens a serem utilizadas de FLL, vale lembrar que prevalecem as
recomendações para fontes convencionais.
Embora as vantagens dos FLL já tenham sido comprovadas por
diferentes cientistas em todo o mundo, não existem critérios técnicos que
permitam a recomendação de menores dosagens de forma generalizada, sem impactos
negativos sobre a produtividade.