Adubação na cana: estratégias para alta eficiência

Adubação na cana: estratégias para alta eficiência

Fabio Olivieri de Nobile
Doutor e professor de Fertilidade do Solo – Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos (UNIFEB)fabio.nobile@unifeb.edu.br
Luiz Fabiano Palaretti
Doutor e professor de Recursos Hídricos, especialista em fertirrigação – Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias de Jaboticabal (UNESP/FCAV)
luiz.f.palaretti@unesp.br

O manejo nutricional adequado permite maximizar a absorção dos nutrientes pelas plantas, reduzir perdas por lixiviação, volatilização e fixação no solo, além de minimizar impactos ambientais.

Neste sentido, há estratégias para otimizar a eficiência da adubação na cana, abordando desde a escolha das fontes e formas de aplicação dos fertilizantes até práticas inovadoras, como o uso de tecnologias digitais, biofertilizantes e a integração de indicadores de solo e planta.

O objetivo é fornecer diretrizes baseadas em pesquisas e práticas agronômicas avançadas para produtores e técnicos que buscam elevar a produtividade e a sustentabilidade da cultura.

Por onde começar

A escolha entre fertilizantes de liberação controlada e fertirrigação tem um impacto significativo na produtividade e sustentabilidade do cultivo da cana-de-açúcar, influenciando diretamente a eficiência do uso dos nutrientes e a redução de perdas para o meio ambiente.

Os fertilizantes de liberação controlada oferecem a vantagem de disponibilizar os nutrientes de forma gradual, ajustando-se à demanda da planta ao longo do ciclo produtivo.

Essa liberação progressiva reduz as perdas por lixiviação, volatilização e fixação no solo, aumentando a eficiência da adubação. Além disso, a tecnologia minimiza a necessidade de reaplicações frequentes, reduzindo os custos operacionais e os impactos ambientais associados ao uso excessivo de fertilizantes.

Esse tipo de adubação é especialmente vantajoso em solos arenosos ou em regiões de alta pluviosidade, onde as perdas de nutrientes por escoamento podem ser significativas.

Direto na água

Por outro lado, a fertirrigação, que consiste na aplicação dos fertilizantes dissolvidos na água de irrigação, permite uma distribuição mais homogênea dos nutrientes e ajustes mais precisos, conforme as necessidades da cultura em diferentes estádios de desenvolvimento.

Esse sistema proporciona uma absorção mais eficiente, pois os nutrientes chegam diretamente à zona radicular em concentrações adequadas, reduzindo desperdícios. Além disso, a fertirrigação possibilita o parcelamento da adubação, promovendo um fornecimento contínuo de nutrientes, o que pode resultar em maior produtividade.

Sustentabilidade

Com relação à sustentabilidade, ambas as estratégias apresentam benefícios, porém, a escolha ideal depende das condições específicas da lavoura. Os fertilizantes de liberação controlada reduzem impactos relacionados à contaminação de lençóis freáticos e emissão de gases de efeito estufa, enquanto a fertirrigação otimiza o uso da água e reduz a aplicação excessiva de insumos.

Quando combinadas com boas práticas agrícolas, ambas as técnicas contribuem para um sistema produtivo mais eficiente, sustentável e economicamente viável.

Alternativas sustentáveis

A adubação verde e a rotação de culturas desempenham papéis fundamentais na melhoria da fertilidade do solo e no aumento da eficiência da adubação na cultura da cana-de-açúcar.

Essas práticas agrícolas sustentáveis promovem a reciclagem de nutrientes, aumentam a matéria orgânica do solo e melhoram suas propriedades físicas, químicas e biológicas, resultando em um ambiente mais favorável para o crescimento da cana e para a absorção eficiente dos nutrientes aplicados.

A adubação verde consiste na incorporação de plantas de cobertura, como leguminosas (crotalária, mucuna, feijão-de-porco, soja, amendoim, etc.) e gramíneas (milheto, milho, sorgo, etc.), que são cultivadas temporariamente e incorporadas ao solo antes do plantio da cana.

Essas plantas ajudam a fixar nitrogênio atmosférico, reduzir a compactação do solo, melhorar sua estrutura e aumentar a retenção de água e nutrientes. Além disso, contribuem para a supressão de plantas daninhas, reduzindo a necessidade de herbicidas e promovendo um sistema produtivo mais equilibrado.

A decomposição da biomassa vegetal libera gradualmente nutrientes essenciais, como nitrogênio, fósforo e potássio, melhorando a eficiência do uso dos fertilizantes químicos.

Rotação de culturas

A rotação de culturas, por sua vez, consiste na alternância da cana-de-açúcar com outras culturas, como leguminosas, oleaginosas ou gramíneas, em determinados períodos do ciclo produtivo.

Essa estratégia minimiza a incidência de pragas e doenças específicas da cana e promove uma maior diversificação dos microrganismos benéficos no solo. Além disso, culturas como a soja ou o amendoim podem deixar resíduos ricos em nutrientes, reduzindo a dependência de fertilizantes nitrogenados e favorecendo o balanço nutricional do solo.

Otimizando a adubação

A otimização da adubação na cana-de-açúcar tem sido impulsionada por diversas inovações tecnológicas que visam reduzir perdas e aumentar a absorção de nutrientes pelos cultivos. Essas tecnologias permitem um manejo mais preciso, eficiente e sustentável dos fertilizantes, maximizando os ganhos produtivos e minimizando impactos ambientais.

Uma das principais inovações é o uso de fertilizantes de liberação controlada. Esses produtos possuem revestimentos poliméricos ou minerais que modulam a disponibilidade dos nutrientes ao longo do tempo, sincronizando a liberação com a demanda da planta. Isso reduz perdas por lixiviação e volatilização, especialmente para o nitrogênio, aumentando a eficiência do uso dos fertilizantes.

Fertirrigação automatizada

Outra tecnologia promissora é a fertirrigação automatizada, que permite a aplicação de fertilizantes via irrigação de maneira precisa e em doses fracionadas, atendendo às exigências nutricionais da cultura em cada fase de desenvolvimento.

O uso de sensores de umidade e condutividade elétrica do solo, aliados a sistemas inteligentes de irrigação, possibilita ajustes em tempo real, otimizando o aproveitamento dos nutrientes e reduzindo desperdícios.

Agricultura de precisão

O avanço da agricultura de precisão também tem transformado o manejo da adubação. Sensores remotos, imagens de drones e análise de solo georreferenciada permitem um diagnóstico detalhado da fertilidade e da variabilidade espacial dos nutrientes.

De posse dessas informações, a aplicação de fertilizantes pode ser feita de forma localizada e em doses ajustadas conforme a necessidade de cada área, reduzindo excessos e garantindo um suprimento mais eficiente para as plantas.

Microrganismos benéficos

O uso de biofertilizantes e inoculantes microbianos tem ganhado destaque como alternativa sustentável para melhorar a nutrição da cana. Microrganismos benéficos, como bactérias fixadoras de nitrogênio (exemplo: Gluconacetobacter diazotrophicus e Azospirillum), promovem a assimilação biológica de nutrientes, reduzindo a necessidade de fertilizantes nitrogenados sintéticos.

Além disso, fungos micorrízicos aumentam a absorção de fósforo, melhorando a eficiência do uso desse nutriente no solo.

Avanços na nanotecnologia

Os avanços na nanotecnologia também estão sendo explorados na formulação de fertilizantes mais eficientes. Os nanofertilizantes possuem partículas menores, que aumentam a superfície de contato e melhoram a absorção dos nutrientes pelas raízes da cana. Essas formulações podem reduzir significativamente as perdas e permitir um controle mais preciso da liberação dos elementos essenciais para o crescimento da planta.

Além dessas inovações, a integração de modelos preditivos baseados em inteligência artificial tem sido utilizada para otimizar a recomendação de adubação. Algoritmos analisam dados climáticos, do solo e do histórico da lavoura para sugerir estratégias nutricionais personalizadas, evitando aplicações desnecessárias e maximizando a resposta da cultura.

Desafios climáticos

O manejo nutricional adequado desempenha um papel essencial na adaptabilidade da cana-de-açúcar diante de desafios climáticos, como estiagens prolongadas e períodos de excesso de chuvas.

A nutrição equilibrada fortalece o sistema radicular, melhora a estrutura do solo e otimiza os processos fisiológicos da planta, permitindo que ela suporte melhor condições adversas e mantenha um desempenho produtivo mais estável.

Períodos de estiagem

Durante períodos de estiagem, a adubação correta contribui para aumentar a capacidade da planta em tolerar o estresse hídrico. Nutrientes como potássio são fundamentais para a regulação osmótica, ajudando a planta a conservar água e manter a pressão celular em condições de baixa disponibilidade hídrica.

O fósforo, por sua vez, estimula o desenvolvimento radicular, permitindo que a cana explore camadas mais profundas do solo em busca de umidade. O uso de bioestimulantes e fertilizantes enriquecidos com aminoácidos e hormônios vegetais também auxilia na ativação de mecanismos de defesa da planta contra o déficit hídrico.

Excesso de chuvas

Já em períodos de excesso de chuvas, um solo bem nutrido e estruturado é essencial para minimizar os efeitos negativos, como lixiviação de nutrientes, encharcamento e erosão. A matéria orgânica e o uso de condicionadores de solo, como gesso agrícola, melhoram a infiltração da água e reduzem a compactação, favorecendo a drenagem e evitando hipóxia radicular.

Nutrientes como cálcio e silício reforçam as paredes celulares e aumentam a resistência da planta a doenças que podem se proliferar em ambientes excessivamente úmidos.

Dessa forma, um manejo nutricional equilibrado, aliado a boas práticas agrícolas, aumenta a tolerância da cana-de-açúcar aos extremos climáticos, reduzindo perdas produtivas e promovendo uma cultura mais resiliente e sustentável.

Na dúvida, consulte um técnico que realmente entenda do manejo nutricional de cana-de açúcar.

Fonte: https://revistacampoenegocios.com.br
×