Agrião hidropônico – Mais saudável e saboroso

Agrião hidropônico – Mais saudável e saboroso

O agrião foi trazido para o Brasil nos navios portugueses
junto com frutas cítricas e outras verduras, laranjas, limão, agrião,
espinafre, chicória, mostarda, entre tantas, como mais um alimento para
prevenir o escorbuto. Hoje sabemos que sua concentração de vitamina C é maior
que do suco de laranja.

À medida que mais variedades de folhosas foram sendo
cultivadas, por seu sabor picante, o agrião acabou sendo empurrado para fora do
prato. Nas últimas décadas, no entanto, ele está ressurgindo como um dos
próximos grandes super alimentos.

Sua popularidade recente é, em parte, devido à alta
pontuação de ANDI (Aggregate Nutrient Density Index), que, junto da couve e da
mostarda, ocupa o topo da lista. O escore da ANDI mede o conteúdo de vitaminas,
minerais e fitonutrientes em relação ao conteúdo calórico.

A
cultura do agrião

O agrião, na verdade, se constitui de várias espécies
distintas, todas pertencentes à família Brassicaceae,
das quais vou destacar duas: o agrião ou agrião d`água (Nasturtium officinale) e o agrião de terra (Barbarea verna), com sabor mais forte.

O agrião da água é uma planta herbácea, semiperene e
semiaquática, que emite ramos de até 50 cm de comprimento. Haste ramosa,
espessa, suculenta, verde e rasteira, ela emite numerosas raízes adventícias.

As folhas são alternadas, de coloração verde-escura e
levemente arroxeada. O agrião da terra se apresenta com dois tipos de
folhagens, uma com folha de topo, que é uma folha mais caulinar, peciolada
agrupada sempre em quatro pares por ramo, e um tipo de folha bem menor que as da
base e apresenta-se em formato sinuado ou dentado.

Nas duas especiais, as flores hermafroditas são pequenas,
regulares e de cor branca, agrupadas em inflorescências do tipo rácemo.

Agrião
hidropônico

O sistema convencional de produção do agrião usa solos com
boa disponibilidade de água ou semi-encharcado. Nos sistemas de produção nestes
solos é comum encontrar água com contaminantes orgânicos de origem animal.

Decorrente disso, é comum a incidência de pragas e doenças –
resultado do desequilíbrio nutricional e do ambiente propício ao
desenvolvimento de pragas. O produto também é bastante sensível à deterioração,
resultante da alta quantidade de contaminantes encontrados. Sistemas de alta
sanidade, com água de alta qualidade, é o mais desejável para esta cultura.

Com a redescoberta do agrião, e considerando que o sistema
de produção é similar ao de outras folhosas, esta surge como uma cultura muito
rentável em sistemas hidropônicos. O sistema mais usado é o NFT (técnica do
filme de nutrientes).

Neste sistema, em bancadas de tubos circula água com os sais
necessários à cultura, onde são plantados pequenos blocos de espuma com as
sementes do agrião. A água usada na hidroponia é sempre de alta qualidade, as
bancadas são distantes do solo e somado a isto um bom equilibro nutricional tem
resultado em uma planta de alta qualidade e com características organolépticas
excepcionais.

Diferenciais

A hidroponia diferencia o produto em relação à segurança
alimentar, sendo mais higiênico, com excelente característica nutricional e boa
durabilidade pós-colheita.

Com um mercado bastante exigente e aberto, os produtores de
agrião têm sido muito bem-sucedidos na sua comercialização. Segundo eles, a
partir do momento que o consumidor começar a reconhecer o agrião hidropônico, com
certeza optará pelo produto.


Aceitação

Temos produtores das duas variedades, mas com uma tendência
para o agrião da terra, decorrente da facilidade de colheita, pois este forma
maço semelhante à rúcula. O agrião da água produz muitos talos, que se
entrelaçam durante o desenvolvimento da cultura, dificultando a colheita e a
embalagem. Mas, algumas regiões consumidoras só aceitam o agrião da água.


Do
plantio à colheita

Mudas de melhor qualidade são as produzidas na propriedade, pois
as compradas prontas podem trazer doenças e insetos que não existem na estufa.
O melhor é produzir as mudas em espuma fenólica, que resulta em um número
elevado de mudas por metro quadrado.

Usamos uma média de 10 a 15 sementes por bloco de espuma, e
a germinação acontece em até sete dias. Conforme a origem da semente, esta pode
ser bem irregular. A seguir as mudas são levadas para a bancada, e passam a
receber uma solução nutritiva.

Minha recomendação para o agrião é uma solução para folhosas.
O melhor exemplo seria a solução Furlani, com diluição em valores entre 1,4 a
1,5 mS. Concentrações mais altas diminuem o crescimento da cultura.

Tabela 01 – Quantidades de sais para o
preparo de 1.000 L de solução nutritiva proposta do Instituto Agronômico
(Furlani, 1998)

Número Sal/fertilizante g1
1.000 L-1
1 Nitrato de
cálcio Hydro® Especial
750
2 Nitrato de
potássio
500
3 Fosfato
monoamônio
150
4 Sulfato de
magnésio
400
5 Sulfato de
cobre
0,15
6 Sulfato de
zinco
0,5
7 Sulfato de
manganês
1,5
8 Ácido bórico 1,5
Bórax 2,3
9 Molibdato de
sódio
0,15
Molibdato de
amônio
0,15
10 Tenso-Fe®
(FeEDDHMA-6% Fe)
30
Dissolvine®
(FeEDTA-13% Fe)
13,8
Ferrilene®
(FeEDDHA-6% Fe)
30
FeEDTANa2
(10 mg mL-1 Fe)
180 ml

Manejo

O tempo de produção do agrião é maior que o da alface
hidropônica, sendo esta uma cultura sensível a bancadas com pouco arejamento e
a desequilíbrios nutricionais. O erro mais frequente que encontro é o adensamento
nas bancadas, que deve ser de até 16 maços por metro quadrado para agrião da
terra e 12 maços para agrião da água.

O espaçamento da bancada de alface é o melhor para o agrião
da terra. Manter a planta na bancada depois de alcançado o tamanho de
comercialização é outro erro frequente. A planta logo floresce, ainda mais em
épocas ou regiões quentes, fazendo com que o produto perca totalmente o valor
comercial e diminua seu tempo pós-colheita.

O manejo de doenças e pragas segue o da rúcula e da alface
em todos os aspectos, sendo, na verdade, mais fácil de cultivar, respeitando-se
os espaçamentos e o tempo de colheita. Em até 60 dias os maços estarão prontos
para a colheita, conforme a variedade.

Produtividade
x rentabilidade

Em março de 2019, na Ceagesp, o agrião extra, convencional,
foi comercializado a partir de R$ 2,46 o quilo em caixas de 12 kg, enquanto o
hidropônico chegou a ser comercializado por R$ 6,86 o quilo em caixas de 4,0 kg.

O quilo do agrião hidropônico, considerando uma estufa de
500 m2, com todos os custos inclusos, após colhido, embalado e
depositado na porta de estufa, ficou próximo a R$ 1,90/kg. Deste comparativo
vemos a vantagem econômica – o que não podemos esquecer é que o mercado para o
agrião não é tão grande como o da alface e rúcula, mas está em crescimento. E
por usar a mesma estrutura e manejo, é prático diversificar com esta cultura.

Inovação

Outra forma de comercialização que desponta para a cozinha gourmet é o microgreen, cultivado até o
ponto de pouco mais que o broto – muito tenro e jovem. Nesta forma, o valor do quilo
chega, em cidades turísticas, como Canela (RS) e Rio de Janeiro (RJ), a R$
30,00.

Fonte: https://revistacampoenegocios.com.br