Automação no sistema hidropônico é tendência

Automação no sistema hidropônico é tendência

Luciano Tartaro
Engenheiro agrônomo, mestre em Recursos Genéticos Vegetais e especialista em automação agrícola
luciano.tartaro@hotmail.com

Como em todas as áreas agrícolas, a mão de obra tem sido cada vez mais escassa. A saída da geração antiga do campo tem deixado uma lacuna difícil de ser preenchida, e na hidroponia não é diferente.

Semeadura e transplante, mas especialmente a colheita e a correção da solução nutritiva são atividades que exigem esforço e dedicação e tomam a maior parte da rotina diária. Normalmente, a tomada de tempo das três primeiras citadas impacta na redução do tempo disponível para correção da solução nutritiva, ponto de extrema importância, mas que na correria não ganha a devida atenção.

Cuidados com a temperatura, umidade do ar e luminosidade também são muito relevantes e, juntamente com a solução nutritiva, são os mais trabalhados na maioria dos sistemas de automação.

Tecnologias recentes

Nos últimos anos, a atenção tem sido voltada principalmente para a correção da solução nutritiva, observando o pH e a condutividade elétrica (EC). Todavia, a luminosidade e suplementação solar também têm ganhado força, especialmente por preço acessível de lâmpadas e mais informações sobre os seus benefícios.

Automações que mantêm a solução nutritiva adequada à fase de vida da planta e ambiente onde está alocada, por exemplo, podem trazer reduções de ciclos de até 15%. Já pensou a cada seis ciclos você ter um de brinde?!

A confiabilidade dos equipamentos também tem melhorado muito, e muitas delas mantêm os dados registrados, o que ajuda também na redução de erros de operação e/ou do encarregado das correções da solução nutritiva.

Outro fator de relevância é a barreira de custo com sistemas de automação, visto que está sendo quebrada. Hoje, por exemplo, já existem sistemas de correção de múltiplas caixas, onde uma central consegue lidar com até 62 reservatórios de solução, eliminando a necessidade de vários equipamentos.

Benefícios diretos da automação

Basicamente, os sistemas de automação possuem sensores que ficam monitorando o ambiente 24 horas por dia. Nas programações, há uma tolerância permitida e assim que a condição sair desta faixa, o sistema entra para ajustar o parâmetro.

Os benefícios diretos destes sistemas estão ligados a fornecer um ambiente na medida certa para a planta, do jeitinho que ela precisa, retirando qualquer esforço desnecessário, e assim fazendo com que as plantas se desenvolvam mais rápido e em um ambiente equilibrado.

Além disso, elimina toda a retenção de mão de obra destinada a ir de reservatório a reservatório, estufa a estufa, ajustando os parâmetros e operando equipamentos.

Vale ressaltar que automação, no âmbito da correção de nutrientes, trabalha agindo na condutividade elétrica da água, medida reflexo do índice salino, que não quantifica cada nutriente em si, mas sim a somatória de todos.

Convencional x hidropônico

O ditado é velho: todo bônus tem seu ônus. Na situação atual e problemática em relação à mão de obra, muitos produtores têm sofrido perdas de produção, por não dar a devida atenção às plantas.

O investimento em sistemas automatizados já foi muito caro e duvidoso, mas hoje existem empresas nacionais de ‘gente como a gente’, e que estão ao lado do produtor.

Quanto custa?

Em termos de investimentos, depende do porte, mas há automações de ajuste de solução nutritiva na faixa de R$ 1.000,00 por reservatório, menos do que um salário mínimo, mas que trabalham 24 horas por dia para o sucesso da produção.

Em relação a desvantagens, não há uma grave, a ser listada, mas o que vale chamar a atenção é que, mesmo com um sistema automatizado, não se pode virar as costas para a produção. O monitoramento deve ser diário, pois mesmo os equipamentos mais robustos são passíveis de falhas.

Impactos da automação

O investimento em automação é variável, depende do nível desejado e número de estufas/bancadas. Podemos ter automações simples, com acionamento de exaustores em função de temperatura a partir de R$ 500,00 e passar de R$ 100.000,00, em sistemas totalmente climatizados, com luz artificial e correção de solução nutritiva.

Porém, o que tem que ser pensado é o dia a dia de operação. Produzir em um tempo menor do que o padrão faz o investimento se pagar, muitas vezes, dentro do primeiro ano de implantação.

Além disso, nem tudo se resume a números: o dia a dia fica muito mais leve, por não ser preciso estar lá cedinho, fazendo correção de solução nutritiva, por exemplo.

Contribuição para a sustentabilidade

Sistemas hidropônicos, por si, já são muito sustentáveis, pois anulam muitas aplicações de defensivos e desperdício de fertilizantes. Entretanto, a redução do desperdício de solução nutritiva no final dos ciclos das plantas é um ponto ainda a ser melhorado.

Normalmente, a solução é descartada/utilizada em plantas de solo, sendo que ainda há potencial de utilização (tratamentos com ozônio e quantificação de nutrientes, podem torna-la útil).

Outro ponto é ter as produções ocupando espaços abandonados, como prédios. A iluminação artificial possibilita cultivos em qualquer área e a hidroponia é uma forte tendência nesse âmbito.

Perspectivas

Há alguns pontos que vão ganhar ainda mais espaço nos próximos anos, mas, chamo a atenção principalmente para estes:

→ A iluminação artificial dentro de prédios tem potencializado áreas de produção próximas dos consumidores e a automação entra justamente fornecendo a quantidade de luz ideal necessária as plantas.

→ O reaproveitamento da solução nutritiva entra no sentido de não ter desperdício da solução no momento da colheita. Há um tratamento e os nutrientes são quantificados e repostos, reduzindo ainda mais os desperdícios.

→ Já a robotização de colheita entra extremamente aliada à redução de mão de obra, pois a colheita é a etapa mais pesada dentro de um sistema hidropônico.

Fonte: https://revistacampoenegocios.com.br