Biocarbo: fumaça do eucalipto vira “petróleo verde”

Biocarbo: fumaça do eucalipto vira “petróleo verde”

A Biocarbo é a primeira biorrefinaria de licor pirolenhoso do Brasil e transforma os coprodutos da carbonização em insumos de alto valor agregado, promovendo uma agricultura mais eficiente e sustentável. A empresa iniciou suas operações em 1994 como uma incubadora da Fundação Biominas, com o objetivo de promover a implantação, crescimento e sustentabilidade da indústria carboquímica vegetal no Brasil.

Atualmente, é a única empresa brasileira que atua em todo o ciclo da cadeia produtiva do carvão vegetal, abrangendo pesquisa e desenvolvimento, produção de matéria-prima, beneficiamento e comercialização de coprodutos.

Produtos e inovações
O carvão vegetal e o extrato pirolenhoso, coletados por meio de tecnologia desenvolvida internamente, são processados nas plantas industriais, resultando em uma variedade de produtos destinados a diversos segmentos, incluindo os setores farmacêutico, alimentício, agrícola, veterinário, de química fina e combustíveis. A missão da Biocarbo é gerar valor pelo desenvolvimento de produtos oriundos da fumaça dos fornos de carbonização de eucalipto, oferecendo-os tanto para o mercado brasileiro quanto para o internacional.

O que é valor para a Biocarbo:

  • Implementar conhecimento científico na criação de produtos sustentáveis;
  • Evitar o desperdício de insumos e talentos, promovendo mais empregos e renda;
  • Manter uma visão estratégica para construir e compartilhar o sucesso com todos os envolvidos no processo.

Potencial transformador
A Biocarbo acredita que o futuro depende das ações tomadas agora. A empresa reconhece seu potencial como agente transformador e busca constantemente soluções inovadoras que contribuam para a sustentabilidade da vida no planeta. O eucalipto, que serve como base para as matérias-primas, é uma fonte de energia renovável e não gera emissão líquida de gases de efeito estufa. Assim, os produtos são livres de carbono e recebem certificações de orgânico e natural dentro da indústria química.

Da pesquisa corporativa ao empreendedorismo verde
Antes mesmo da descoberta do petróleo como principal fonte de combustíveis e produtos químicos, a indústria dependia dos coprodutos da produção de carvão vegetal. A siderurgia era baseada nesse modelo até que a tecnologia permitiu a coqueificação do carvão mineral, levando a uma migração massiva da indústria.

Ainda assim, os coprodutos da carbonização continuavam sendo utilizados, e foi nesse cenário que a cientista Maria Emília Rezende viu uma oportunidade de agregar valor a um setor ameaçado pela competição com carvão oriundo de desmatamento ilegal. Ela coordenava um projeto voltado para a carbonização contínua e o aproveitamento de coprodutos. No entanto, com a privatização da empresa em que trabalhava, a siderúrgica optou pelo coque mineral e descontinuou o projeto.

Percebendo essa mudança de rumos, ela se preparou para criar sua própria empresa, dando origem à Biocarbo.

Indústria farmacêutica

O primeiro negócio da Biocarbo foi a exportação de um produto para a indústria farmacêutica japonesa, utilizado na fabricação do remédio Seirogan, conhecido por tratar distúrbios intestinais. No entanto, com a concorrência de fornecedores asiáticos, esse mercado se tornou inviável. Mas a virada veio durante um congresso na Suíça, onde sócios da Biocarbo conheceram representantes da Red Arrow, uma gigante da indústria de aromas de fumaça, essenciais para a produção de defumados.

A química a serviço da sustentabilidade

A Biocarbo tornou-se fornecedora da Red Arrow, garantindo um nicho sólido no mercado. Em 2019, o interesse na produção própria das matérias-primas levou à expansão da empresa, que passou a fabricar carvão e extrato pirolenhoso. Parcerias com indústrias como o Grupo Alterosa permitiram a escalabilidade do projeto.

Maria Emília relembra que, nos anos 2000, durante uma missão ao Japão, conheceu o uso do extrato pirolenhoso na agricultura. O professor Dr. Shiro Miyasaka, renomado pesquisador da agronomia japonesa, viu o potencial do produto e impulsionou sua regulamentação. O resultado foi o Biopirol, um produto com propriedades complexantes e quelatizantes, essenciais para a agricultura orgânica.

Inovação e impacto no agronegócio

O extrato pirolenhoso age quimicamente, facilitando a absorção de nutrientes pelas plantas. Com cargas negativas que se ligam aos ânions positivos dos nutrientes, ele melhora a mobilidade e a absorção pelas paredes celulares. Esse fenômeno não só otimiza o crescimento vegetal, mas também potencializa a eficiência da adubação.

A pesquisa avançou e revelou ainda que substâncias como o ácido acético, presente no extrato pirolenhoso, são fundamentais para a formação de ácidos graxos, essenciais na produção de óleos vegetais. Além disso, moléculas fenólicas presentes nesses extratos são fundamentais para o sistema de defesa das plantas.

O futuro da Biocarbo

Com essa expertise, a Biocarbo está ampliando seu portfólio com o Bioncomplex, um produto voltado para a agricultura orgânica. A visão de Maria Emília Rezende é clara: transformar os coprodutos da carbonização em insumos de alto valor agregado, promovendo uma agricultura mais eficiente e sustentável.

Hoje, a Biocarbo é um exemplo de como a ciência pode resgatar processos industriais aparentemente ultrapassados e convertê-los em soluções inovadoras para o agronegócio. E, como Maria Emília enfatiza, esse é apenas o começo de uma revolução verde que alia conhecimento histórico, inovação tecnológica e compromisso ambiental.

Parceria no campo

A conversa segue com Aparecido Silva, supervisor de produção da Fazenda Santa Helena, do Grupo Alterosa, que conta como essa parceria começou: “O Grupo Biocarbo chegou até nós por meio do André Parreiras, em 2019, trazendo um processo até então desconhecido para nossa operação. Aos poucos, adaptamos nossa atividade a eles, e isso nos levou a um novo patamar na carbonização. Até então, nosso processo liberava fumaça na atmosfera sem qualquer aproveitamento. A Biocarbo nos mostrou que era possível transformar esses gases dispersos em algo valioso. Em outras palavras, a fumaça virou dinheiro. Mas, acima de tudo, virou despoluição.”

Antes, os gases eram liberados sem um sistema de reaproveitamento, mas, com a chegada da Biocarbo, o cenário mudou completamente. “A Emília nos mostrou que era possível tratar essa fumaça, eliminar esses gases e transformá-los em produtos como o pirolenhoso e o alcatrão. Foi um grande desafio no início, mas hoje conseguimos integrar nosso processo de carbonização ao deles, gerando uma nova fonte de valor dentro de nossa unidade”.

Orgulho de quem fez o sonho virar realidade

Ao ouvir as palavras de Aparecido, Maria Emília sorri, orgulhosa. “Essa é uma unidade piloto que opera em escala comercial, dentro de uma unidade produtiva real”, complementa. “Somos muito gratos à Alterosa por ter acreditado na gente e por tornar essa integração possível. Mas, ainda há muito o que melhorar no processo de carbonização como um todo”.

Ela compartilha sua visão sobre o potencial desse modelo. “Quando olho para essa fumaça, vejo notas de dólar voando, porque estamos perdendo algo extremamente valioso. Trata-se de matéria orgânica decomposta pelo calor, assim como o húmus e outros insumos essenciais para a agricultura. Esses gases podem ser transformados em combustíveis, ligantes e diversos outros produtos. É, essencialmente, um ‘petróleo verde’.”

Pesquisa autossustentada

A CEO da Biocarbo explica que sua empresa é um projeto de pesquisa autossustentada. “Vivemos da nossa própria pesquisa e inovação. Isso nos permite desenvolver tecnologias enquanto mantemos o negócio viável. E essa integração entre agricultura, carvão vegetal e siderurgia é uma oportunidade única para o Brasil. Somos líderes nessas indústrias e podemos torná-los ainda mais competitivos.”

Por fim, Maria Emília reforça a importância de enxergar e explorar o potencial do país. “O futuro será construído com as escolhas que fizermos agora. Aqui, estamos moldando o futuro da siderurgia e da agricultura, unindo forças com a Alterosa e toda a equipe envolvida. Essa é uma parceria de sucesso. E tem muito mais por vir!”, antecipa.

Os benefícios do Biopirol na Fazenda Santa Helena

Bruno Fagundes, coordenador agrícola da Fazenda Santa Helena, do Grupo Alterosa, em Morada Nova (MG), explica como o Biopirol tem sido utilizado na propriedade e os benefícios: “Na fazenda, ganhei com o Biopirol um extrato pirolenhoso, aplicando-o em diferentes etapas do manejo agrícola. Um dos principais momentos de uso é no plantio. Adicionamos o extrato à calda aplicada via mícron, que é pulverizado diretamente no sulco junto com a semente”.

Bruno detalha a composição dessa calda: “Além do extrato pirolenhoso, incorporamos microrganismos de interesse, que já conhecemos e sabemos que trazem benefícios tanto para a semente quanto para o solo.”

A ação esperada do Biopirol na calda é potencializar a atividade dos microrganismos, funcionando como fonte de carbono e alimento para eles. “Ele também pode atuar como um repelente natural, ajudando a proteger a semente contra agentes inertes que podem atacar. Ou seja, ele age de duas formas: fortalecendo a microbiota benéfica e oferecendo uma camada de proteção extra para o desenvolvimento inicial da cultura”.

Teste de densidade – Biopirol e concorrentes

Rondineli Almeida, sócio e gerente de operação da Biocarbo, mostra um teste rápido de densidade, comparando quatro produtos concorrentes com o Biopirol, visando avaliar a qualidade do produto. “Vamos juntos conferir os resultados: o primeiro concorrente apresentou uma densidade de 1.004. Após a medição, seguimos para o segundo concorrente, que registrou 1.006. O terceiro e o quarto concorrentes também tiveram densidade 1.006, mantendo um padrão semelhante entre eles. Quando medimos o Biopirol, chegamos a 1.030! Esse valor indica uma densidade superior aos produtos concorrentes, o que levanta a questão: por que essa diferença?”, questiona.

Para explicar, Maria Emília, CEO do grupo, esclarece: “O extrato pirolenhoso é uma solução em água, e sua densidade reflete a quantidade de ingredientes ativos. Como a densidade da água é 1, quanto mais próximo esse valor, menor a concentração de ativos. Já no Biopirol, a densidade é maior porque ele contém mais ingredientes ativos. Por exemplo, o ácido acético tem densidade 1,05, o guaiacol possui 1,16, e outros componentes também são superiores a 1,0. Isso significa que um produto com densidade muito próximo a 1,0 tem menos ativos”, esclarece a especialista.

Diferencial do Biopirol

Maria Emília destaca que essa qualidade do Biopirol se deve à tecnologia de recuperação utilizada no processo de produção, que vai além da simples condensação, passando por um processamento e beneficiamento específicos para garantir um produto de alto desempenho. “Além disso, todos os clientes fazem elogios de qualidade, pontuando que o produto mantém sua consistência lote após lote. Seja para pequenos ou grandes produtores, o Biopirol garante fornecimento contínuo e em grande escala. Agora ficou claro! Se você ainda tinha dúvidas sobre investir no Biopirol, não tem mais!”, finaliza Maria Emília.

Fonte: https://revistacampoenegocios.com.br
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