Biocarvão para nutrição das florestas

Biocarvão para nutrição das florestas

Em junho de 2010, o Brasil lançou o Programa Nacional de
Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (ABC), com objetivo de aumentar a
produtividade agrícola e reduzir a emissão de gases de efeito estufa, sendo que
o uso do biocarvão melhora a estrutura do solo e pode contribuir com a redução
ou compensação da emissão de CO2 na atmosfera. Assim, além de
colaborar com sua produtividade, contribui com a fertilidade e redução das
alterações climáticas.

Produção
e características do biocarvão

O biocarvão (BC) geralmente é produzido a partir de resíduos
que seriam descartados, como cascas e galhos, por exemplo. Em geral, o BC é
qualquer fonte orgânica produzido por meio do processo de queima controlada,
sob baixo ou nenhum suprimento de oxigênio, com a finalidade de ser incorporado
ao solo, para melhoria da sua qualidade agronômica e ambiental.

O processo de queima controlada do material é importante,
pois estimula a evaporação da água e de alguns elementos, de maneira que
aumenta a quantidade de espaços vazios no biocarvão. Esses espaços vazios são
importantes, pois ficam disponíveis para serem preenchidos com os nutrientes e
a água presente no solo, que serão liberados lentamente para as plantas.

O BC apresenta natureza porosa, contribui para retenção de
água, e interfere nas propriedades químicas e físicas do solo. A porção de
cinzas do material é fonte de fósforo, potássio e outros nutrientes, que ficam
disponíveis para as plantas mais facilmente que os da matéria orgânica antes do
processo de queima.

Estudos

Alguns estudos sugerem o uso do biocarvão associado a
resíduos orgânicos como forma de liberação lenta de nutrientes, devido à
redução da degradação do material. O fato é que o BC é uma alternativa para
destinação de resíduos orgânicos que poderiam se tornar poluentes, como no caso
do lodo de esgoto.

Quando a matéria orgânica é aplicada sozinha, a liberação
dos nutrientes ocorre de maneira mais rápida, e estes podem ser perdidos mais
facilmente, seja por evaporação ou levados pela água da chuva quando passa no
solo. A adição do biocarvão reduz este problema, devido à sua função de reter
os nutrientes e realizar uma liberação lenta, evitando esse tipo de perda.

Por outro lado, o biocarvão também não deve ser utilizado
sozinho em solos de baixa fertilidade, pois, devido à sua capacidade de reter
os nutrientes, poderá empobrecer mais ainda este tipo de sistema. Entretanto,
em solos com alta fertilidade ele pode ser aplicado individualmente, para
evitar a perda destes nutrientes.

Usos
do biocarvão

Em avaliação do crescimento de mudas de espécies florestais
submetidas a substratos com nove tipos de biocarvão foi constatado que houve
diferença no crescimento em altura das mudas, indicando que o material de
origem do carvão vegetal interfere nas contribuições ao solo (Pluchon et al.,
2014).

Em estudo realizado com resíduos agrícolas na África, foram
utilizados sabugos de milho e casca de eucalipto carbonizados em fornos para
produção do biocarvão. Apesar de ambos terem apresentado boas propriedades agronômicas
e preencherem os principais critérios de qualidade para retenção de carbono no
solo, o material produzido a partir do sabugo apresentou maior teor de potássio
solúvel e carbono, quando comparado ao de casca de eucalipto (Merlain; Munson;
Allaire, 2017).

Entre
um e outro

No geral, o material vegetal agrícola apresenta maior
quantidade de nutrientes e carbono que o florestal (Brand, 2010), sendo também
indicado para produção de carvão vegetal, contribuindo para estocagem de
carbono no solo. Assim, resíduos de indivíduos colhidos pelos mais diversos
motivos podem ser fonte de matéria-prima para produção do BC, como por exemplo,
casca de coco, laranja, cana-de-açúcar, esterco, cacau, casca de arroz, dejetos
de galinha, pastagem e lodo de esgoto.

O lodo de esgoto pode apresentar grande carga de substâncias
nocivas à saúde de organismos vivos, mas o processo de queima ajuda a reduzir a
quantidade destas substâncias no BC, fornecendo um produto de melhor qualidade
para ser misturado no solo. Sua utilização é muito conveniente, uma vez que seu
descarte inadequado gera uma série de transtornos no que diz respeito à
poluição ambiental.

 Outro benefício
causado pelo biocarvão é o fato de que fungos e bactérias presentes em sua
superfície ajudam as plantas a absorverem os nutrientes, no entanto, é
importante que o material esteja completamente carbonizado – uma forma prática
de produção seria em tambores com o mínimo de entrada de ar possível.

Fonte: https://revistacampoenegocios.com.br