Sylmara Silva – Doutoranda em Fitotecnia – Universidade Federal de Lavras (UFLA) – sylmara-silva@hotmail.com
Andressa Souza de Oliveira – andressaagro71@gmail.com
Carlos Henrique de Souza – carloshenriquesouza-np@hotmail.com
Graduandos em
Agronomia – UFLA
Nos últimos anos a demanda por alimentos orgânicos vem
crescendo e no campo os desafios persistem. Controle de pragas, de doenças e
manejo da fertilidade do solo são algumas das adversidades enfrentadas pelos
produtores diariamente.
Logo, é importante que os produtores encontrem soluções que
sejam sustentáveis e que possibilitem bons índices produtivos. Uma alternativa
viável para uso no manejo orgânico é a utilização de compostos do tipo bokashi.
O bokashi consiste em um composto orgânico preparado a
partir de matérias orgânicas vegetais e/ou animais, e da adição de
microrganismos eficazes que agem na fermentação de materiais diversos, como
farelos, esterco e palhas.
Os microrganismos contidos no bokashi decompõem a matéria
orgânica, disponibilizando os nutrientes sob a forma de quelatos orgânicos, que
são menos suscetíveis a perdas por volatilização ou lixiviação.
No Brasil, existem
diversas empresas que comercializam compostos do tipo bokashi, além de produtos
derivados. Nesses casos, os produtores devem utilizar a recomendação do
fabricante para seu uso. Em caso de produtores orgânicos certificados, é muito
importante verificar a liberação de qualquer produto junto à certificadora
responsável pela propriedade.
Produção de bokashi
O bokashi também pode ser produzido pelos próprios
agricultores a partir de matérias-primas encontradas em sua região, o que faz
com que o custo desse insumo seja menor. As principais matérias-primas
utilizadas para a produção de bokashi são os farelos de diversos cereais
(arroz, trigo, cevada), as oleaginosas (soja, amendoim, mamona) e as farinhas
de origem animal (peixe, carne e osso), sendo também utilizados as cascas de
arroz, café e soja.
A primeira etapa da fabricação do bokashi é a captura dos
microrganismos eficientes, também conhecidos como EM’s.
Para a captura dos microrganismos eficientes é necessário
cozinhar aproximadamente 700 g de arroz sem sal e sem óleo e armazenar o arroz
cozido em bandejas de plástico, madeira ou calhas de bambu.
Os recipientes devem ser cobertos com uma tela fina a fim de
proteger o arroz e depositados na borda de uma mata. Sob a tela que cobre o
arroz deve ser colocada a matéria orgânica local, a fim de favorecer a captura
dos microrganismos.
Após 10 a 15 dias, o arroz apresentará bolores com cores
diversas que devem ser separados, sendo eliminados os bolores de coloração
cinza, marrom e preta. Os bolores devem ser misturados a 10 L de água e ,01 L
de melaço de cana ou ,01 kg de açúcar mascavo.
A mistura deve ser armazenada em recipiente fechado e com
tampa, sendo que o gás deve ser retirado a cada dois dias. Entre 10 a 15 dias,
quando não tiver mais produção de gás, os microrganismos estarão prontos para
serem utilizados.
A Epagri sugere que, para a fabricação do bokashi, se
utilize 450 kg de farelo de arroz, 250 kg de esterco de poedeira ou farelo de
mamona, soja, farinha de chifre, 250 kg de farinha de osso, fosfato natural ou
termofosfato, 50 kg de pó de rocha, 3,0 kg de melaço ou açúcar mascavo (ou 15
litros de caldo de cana), 3,0 litros de solução de microrganismos eficientes
(de acordo com a receita anterior) e 350 litros de água, dependendo da umidade
dos ingredientes.
Cuidados
O bokashi deve ser produzido em um ambiente limpo e de
preferência protegido da chuva e da presença de animais. Todos os ingredientes
devem ser misturados de forma homogênea, com auxílio de enxada ou de uma
betoneira, sendo que a água deve ser adicionada até que se atinja 50% de
umidade.
Para verificar se a umidade está correta, o produtor deve
apertar a mistura na mão e essa deve permanecer moldada, sem que escorra água
entre os dedos. O composto deve ser coberto e revirado cerca de uma vez por
dia, para controle de temperatura. Cerca de sete dias após o início do
processo, quando a temperatura se estabilizar, o composto estará pronto pra
uso.
Além da Epagri, outras organizações extensionistas possuem
suas próprias receitas de Bokashi, como a Embrapa, a Emater e a Pesagro. O
produtor deve optar por aquela que mais se adapta ao seu manejo e que possui
matérias-primas que estejam disponíveis em sua região.
Versatilidade
A partir do Bokashi também pode ser preparado um
biofertilizante. Para isso é necessário colocar 200 gr de bokashi de molho em
20 litros de água, por oito a 12 horas. O composto deve ser colocado em um saco
de tecido e após o tempo de descanso deve ser espremido, a fim de se extrair o
máximo de solução.
A solução deve ser pulverizada quinzenalmente, porém, não
deve ser utilizada caso apresente odor estranho. Apesar de ser um composto
bastante difundido na agricultura orgânica, o bokashi pode ser utilizado também
por agricultores convencionais, sendo uma alternativa bastante viável,
principalmente para agricultores familiares.
Na prática
De acordo com José Amarildo, proprietário e produtor no Sítio
Alvorada, município de Maria da Fé, que trabalha com agricultura biodinâmica, a
utilização do bokashi em sua propriedade iniciou-se junto com a produção. José
Amarildo relata que em sua propriedade o bokashi já foi utilizado tanto na
forma líquida quanto na forma sólida, sendo produzido na propriedade ou
comprado de marcas comerciais.
Dentre as principais vantagens citadas pelo produtor após a
aplicação do produto, está a rápida resposta das plantas. Ele cita como exemplo
a cultura da alface, que cerca de três dias após a aplicação apresenta uma
mudança nítida em suas características morfológicas.
O produtor comenta que na propriedade utiliza o produto em
todas as culturas, como milho, batata, cenoura, ervilha, vagem, feijão, dentre
outras. O produtor destaca que a principal desvantagem do bokashi está na
dificuldade em adquirir produtos para a elaboração do composto, principalmente
a casca de arroz e o farelo de trigo.
O produtor orgânico Rafael Peron, proprietário do Sítio
Trovão, no município de Ijaci, também em Minas Gerais, relata que a utilização
do bokashi em seu sítio apresentou excelentes resultados nutricionais,
principalmente no condicionamento do solo para a ação de microrganismos.
Atualmente, a base da adubação no sítio tem sido via solo por
meio de compostos como cama de frango, microrganismos eficientes e húmus. O bokashi,
apesar dos bons resultados, não tem sido usado na propriedade com frequência
devido à dificuldade de acesso à matéria-prima, como por exemplo a torta de
mamona.
O produtor planeja cultivar mamona, para que no próximo ano
o bokashi volte a fazer parte do manejo da propriedade.
Sustentabilidade
O bokashi destaca-se entre os adubos orgânicos por trazer
grandes melhorias às propriedades físicas, químicas e biológicas do solo, porém,
para o sucesso do seu uso é muito importante que o produtor execute
corretamente o processo de produção e que busque receitas que melhor se
encaixem em seu manejo, tanto em relação ao custo quanto ao incremento
produtivo.
Agradecemos aos produtores José Amarildo e Rafael Peron, por
contribuírem com suas experiências nessa edição da Revista Campo &
Negócios.