O
cultivo da sálvia para lucrar chamou muito a atenção nas últimas duas décadas.
A planta vive por seis a 10 anos e gera produtos como folhas frescas e secas
para serem adicionadas a salsichas, carnes, peixes, saladas e vários outros
alimentos. Além do mais, o óleo essencial da sálvia é mundialmente reconhecido
como um produto respeitado e usado nas indústrias de fragrâncias, cosméticos,
higiene pessoal e repelentes de insetos
Saulo Strazeio Cardoso – Engenheiro agrônomo, doutor em Agronomia e professor – Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU) e Faculdade “Doutor Francisco Maeda” (FAFRAM/FE) – saulo.cardoso@fazu.br
Marcela Caetano Lopes – Bióloga, doutoranda em Agronomia e professora – FAFRAM/FE – macaetano20@hotmail.com
Andreza Lopes do Carmo – Química e graduanda em Agronomia – Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) –andrezalopesdocarmo@hotmail.com
A sálvia (Salvia officinalis), também conhecida como
salva, salva-das-boticas, salva-dos-jardins, salva-ordinária, salveta,
erva-santa ou salva-menor é um subarbusto perene, nativa da região Mediterrânea
e cultivada como erva aromática e medicinal. Seu óleo essencial possui constituintes
majoritários, como o cineol, borneol, cânfora e tuiona.
Por desempenharem várias funções nos sistemas de produção,
as plantas aromáticas são consideradas de usos múltiplos. Possuem uma série de
compostos bioativos, podendo atuar sobre outras plantas, direta ou
indiretamente, inibindo sua germinação e/ou crescimento.
Esses compostos bioativos estão concentrados nos extratos e
óleos essenciais obtidos a partir dessas plantas, sendo amplamente utilizados
nos sistemas de produção orgânica e de base agroecológica. Seu uso é bastante
conhecido no manejo de hortaliças, especialmente no controle de doenças e menos
explorado no que diz respeito ao seu efeito sobre a fisiologia das hortaliças.
Clima
O clima é o fator mais importante e restritivo quando se
pensa em cultivo de sálvia. A planta tem uma certa preferência por clima
subtropical, com invernos suaves e verões longos.
Sendo assim, o seu cultivo é adequado em temperaturas entre
3,0 e 29°C, se desenvolvendo melhor em temperaturas amenas, mas é importante
que receba luz solar direta por algumas horas diárias. Entretanto, ela pode
tolerar frio por alguns dias (-10ºC por cerca de até uma semana).
Solo
Solos bem drenados, férteis, de textura média a arenosa e
ricos em nitrogênio são o ideal para seu cultivo. A sálvia é bastante tolerante
ao pH na faixa de 5,5 a 8,0, porém, os melhores rendimentos são obtidos em
solos com pH 7,0 e com uma drenagem muito boa.
Irrigação
A irrigação deve ser feita de modo que o solo seja mantido
úmido, pois, como dito, o excesso de água prejudica as plantas, principalmente
quando a temperatura está baixa. Plantas adultas são moderadamente resistentes
a curtos períodos de seca, mas a sálvia cresce melhor se não faltar água.
Plantio
A sálvia é uma cultura que pode ser cultivada a partir de
sementes, estaquia, alporquia ou até mesmo por divisão de touceiras. As
sementes podem ser semeadas em canteiros, sementeiras, pequenos vasos e outros
recipientes, sendo transplantadas quando ficam grandes o suficiente para serem
manuseadas sem causar danos às mudas.
Os demais métodos são recomendados quando se visa obter
plantas com as mesmas características da planta-mãe (clones). O plantio por
estaquia é feito cortando ramos lenhosos e plantando estes em substratos ou
solos bem úmidos, até que enraízem. Muitas vezes se dá preferência pela
alporquia, uma vez que nem sempre é fácil conseguir com que os ramos enraízem
para formar as mudas. A alporquia é feita curvando um ramo até o solo, e
enterrando um trecho deste para que enraíze neste local.
Após o enraizamento, corta-se o ramo antes do trecho que
enraizou, e a muda é então cuidadosamente desenterrada e transplantada. Outro
método consiste em amontoar terra em torno de uma planta adulta, de forma que
seus ramos enraízem.
Então, a planta é cuidadosamente desenterrada e os ramos
enraizados são cortados e plantados em um novo local. Em todos estes casos, o
tempo necessário para que ocorra o enraizamento dos ramos é de aproximadamente
um mês.
Tratos culturais
Quanto ao espaçamento, recomenda-se de 60 a 80 cm entre as
linhas de plantio e de 40 a 50 cm entre as plantas, podendo também ser
cultivada em jardineiras e vasos. Recomenda-se que se realize a poda sempre nas
partes de baixo, não mais que 1/3 da planta. O ideal é que se faça a poda na
primavera e após a floração, visando assim estimular o surgimento de novos
rebentos.
A população de plantas por hectare pode variar de 12.000 a
24.000 plantas, de acordo com o tipo de solo. Caso tenha um solo com baixa
fertilidade, normalmente devemos aumentar o número de plantas por hectare para
maximizar nosso rendimento.
Agora, se o oposto for verdadeiro, ou seja, se o solo é de
alta fertilidade, nós colocaremos as plantas mais afastadas e as estimularemos
para desenvolverem uma maior superfície foliar.
A altitude também é um fator que pode afetar a densidade de
plantio. Como regra geral, as plantas de sálvia em altas altitudes são
plantadas de forma mais densa, para que possam ser protegidas do vento frio. Em
condições úmidas, é melhor deixar maiores distâncias entre as plantas na
fileira e entre as fileiras, para aumentar a circulação de ar.
Solos e adubação
A sálvia é famosa por crescer e se desenvolver em solos com
baixa fertilidade, porém, seu cultivo comercial requer algumas exigências
visando a melhoria da fertilidade do solo, para que assim, as plantas possam
render por muitos anos.
Como acontece com qualquer outra cultura, não existe nenhuma
receita de adubação, pois cada campo é diferente e requer diferentes cuidados.
Fazer a análise do solo anualmente é extremamente importante para diagnosticar
deficiências nutricionais e tomar ações corretivas, sob guia de um agrônomo e
boletins específicos de adubação.
Alguns produtores de sálvia já reportaram que a adição de
320 kg/ha da fórmula 5-5-5 não proporcionou aumentos significativos no
rendimento de materiais da planta, especialmente quando antecipamos várias
colheitas por ano. Normalmente, essa quantidade é dividida entre duas ou três
aplicações, com a primeira começando imediatamente após a primeira colheita.
Estudos ainda relatam que, quando estiver cultivando a sálvia
visando a extração de óleo essencial, devemos considerar a colonização por
fungos micorrízicos. De acordo com a Sociedade da Indústria Química, uma certa
colonização por esses fungos resultou no aumento da qualidade e quantidade do
óleo essencial coletado da sálvia.
Controle fitossanitário
Atenção deve ser dada ao manejo de plantas daninhas, as
quais competem com as plantas por espaço, acesso à luz solar, água e
nutrientes. A presença de ervas daninhas terá efeitos negativos na quantidade
de material fresco colhido das plantas, assim como na qualidade do óleo
essencial.
É necessário que todos os produtores de sálvia tenham uma
boa estratégia de controle de ervas daninhas, a qual pode variar significativamente
entre países, conjunto de leis, meios de produção, indústrias-alvo, etc. O
controle manual de ervas daninhas semanalmente é praticamente obrigatório em
alguns casos (produção orgânica).
Colheita
A colheita das folhas da sálvia pode ser iniciada quando as
plantas estão bem desenvolvidas. No primeiro ano é possível fazer uma colheita
leve. Nos anos seguintes, duas colheitas por ano.
Para uso doméstico, colha folhas ou ramos quando necessário.
A colheita pode ser feita de 90 a 120 dias após o plantio. Os ramos ou folhas
devem ser colhidos antes que a floração comece, o que ocorre geralmente a
partir do segundo ano.
Os ramos e folhas podem ser usados frescos ou secos, sendo
que a secagem dos ramos deve ser feita em local fresco e bem ventilado, sem
ficarem expostos à luz solar direta.
As folhas da sálvia normalmente secam rapidamente, pois elas
apresentam baixa concentração de água. Podem durar de 2-3 semanas para as ervas
frescas e vários meses quando desidratadas.
Após a colheita, podemos secar as partes colhidas em uma
área sombreada ou em uma secadora especial. Fazemos isso para desestimular a
descoloração e resguardar a qualidade e concentração do óleo volátil.
Espécies de sálvia e seus destinos
Paula Almeida Nascimento – Engenheira agrônoma e doutora em Fitotecnia- Universidade Federal de Lavras (UFLA) –paula.alna@yahoo.com.br
Uma espécie de sálvia conhecida nos jardins brasileiros é a sálvia-vermelha
(Salvia splendens), uma herbácea conhecida popularmente por “Alegria dos
Jardins”, porque permanece florida e vistosa o ano todo.
Seu período de floração ocorre no final da primavera e do
verão, mas sempre estão florindo os jardins. Trata-se de uma planta perene de
30 a 80 cm de altura, com folhas ovaladas de até 12 cm de comprimento. As
flores espigadas das sálvias são excelentes atrativos para borboletas,
beija-flores e abelhas, trazendo a biodiversidade ao jardim.
A sálvia-vermelha é uma das espécies que mais se destaca por
sua coloração vermelha. Nativa da Mata Atlântica Brasileira, possui flores que
exalam um aroma semelhante ao abacaxi. As sálvias são plantas de pequeno porte,
alcançando uma altura máxima de 1,2 m, e também há variedades anãs que atingem
a altura máxima de 15 cm.
Destino
Enquanto a Salvia officinalis é utilizada como
tempero, por exemplo, a Salvia sclarea é ótima para fins terapêuticos. A
Salvia sclarea, popularmente conhecida como sálvia esclareia, é uma erva
nativa do mediterrâneo.
O óleo essencial que é extraído das folhas e brotos da
planta é perfumado e refrescante e pode-se utilizá-lo como desodorante e como
tratamento complementar de doenças. A planta é fácil de cultivar em áreas de
alta temperatura.
Geralmente é cultivada para seu consumo como chá. Por seu
uso no tratamento de doenças oculares, ela também é conhecida em inglês como
“olho brilhante”. Mas, a Salvia sclareia possui uma série de outros
benefícios, que são obtidos principalmente por meio do uso de seu óleo
essencial, que concentra suas propriedades.
Propriedades medicinais
As propriedades medicinais do óleo essencial da sálvia
esclareia são: óleo relaxante, adstringente, antisséptico, aromático,
fortalecedora dos cabelos, regeneradora celular, tem ação antidepressiva e um
forte efeito antiespasmódico, além de expressar a mesma atividade que o
estrogênio, o hormônio feminino.
Desta forma, óleo essencial de Salvia sclareia é indicado para ansiedade, artrite, asma, depressão, estresse, indigestão, memória, e pressão alta.
- Conheça algumas das propriedades
e benefícios da sálvia: - Previne diabetes;
- Melhora a memória;
- Boa para a saúde cardiovascular;
- Potente expectorante pulmonar;
- Cura resfriado;
- Utilizada em inalações, trata bronquites e rinites;
- Febrífugo;
- Antitussígena (combate a tosse).
- Usos da sálvia:
- A sálvia serve como enxaguatório bucal;
- Chá digestivo para problemas estomacais;
- Chá anti-inflamatório contra dor de garganta;
- Em infusão e uso tópico atua como desodorante
natural; - Em óleo essencial combate dores
musculares, reumatismo e alivia o estresse. - É benéfica como tônico, na forma de infusão, contra pele oleosa, acne e psoríase;
- Óleo essencial combate
rugas; - Fortalece e reduz a queda dos fios capilares, além de dar brilho, escurecer e deixar o cabelo
mais liso.
Consorciação
A sálvia pode ser cultivada em companhia do
alecrim, das couves e das cenouras, no entanto, a presença de absinto inibe o
seu crescimento. Também não gosta da companhia de manjericão, arruda, pepino ou
abóboras.
Nos tratos
culturais, retire as plantas invasoras que estejam concorrendo por nutrientes e
recursos. Para manutenção da produtividade, as plantas precisam ser
substituídas depois de três a cinco anos, quando se tornam muito lenhosas.
Óleo
essencial
O óleo de sálvia é
extraído do material seco, dependendo da variedade, dos métodos de cultivo
(fertilização, irrigação, manejo da cultura) e da data da colheita. O
rendimento médio do material seco, folhas, com duas colheitas por ano, é de 7.000
kg por hectare.
Da planta você pode
esperar 8,0 – 20 kg de óleo essencial por hectare. Esse rendimento é anual e
distribuído entre duas ou três colheitas. As folhas da sálvia normalmente secam
rapidamente, pois elas apresentam baixa concentração de água.
Podem durar de duas a três
semanas para as ervas frescas e vários meses, quando desidratadas. Após a
colheita, pode-se secar as partes colhidas em uma área sombreada ou em uma
secadora especial, o que é feito para desestimular a descoloração e resguardar
a qualidade e concentração do óleo volátil.
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Por dentro do campo
Christopher Taichuen
Cheung é produtor de sálvia há 25 anos em Cerquilho, no interior paulista.
Atualmente, ele tem 450 m2, que produzem 1,0 kg/m2 da
variedade Sálvia officinalis. O custo de produção está em torno de R$
25,00/m2. A rentabilidade, o produtor diz que chega a R$ 230,00 por
quilo, mas com o produto já selecionado, higienizado e embalado. A entrega é
feita direto ao consumidor final, sem atravessadores, pela própria estrutura do
produtor.
“Começamos a produzir
sálvia porque nosso mercado é o da alta gastronomia, onde mais se utilizam
ervas condimentares frescas. Então, investimos em estufas, que permitem maior
controle de todo o ambiente. A sálvia gosta de pouca água, portanto, seu cultivo
deve ser feito com plantas que exijam as mesmas condições, como por exemplo o
tomilho. Ela também gosta de solo bem adubado e com ótima drenagem”, relata.
Ainda segundo Christopher,
a produção da sálvia em estufas torna seu custo mais elevado. A irrigação por
gotejamento é um dos pontos positivos, por ser mais barata e consumir menos
água, além de conseguir diversas rebrotas. Para controle de pragas e doenças, são
utilizados produtos biológicos.
Por fim, para quem quer
iniciar a produção de sálvia, ele deixa uma dica valiosa: “Invista em boa
estrutura e solo ideal para que as plantas cresçam saudáveis e você tenha
folhas maiores, aumentando o peso e o rendimento”, conclui Christopher.