Autores
Mônica Bartira da silva – Engenheira agrônoma, doutora e professora – Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT-MT) – monica.bartira@gmail.com
Marla Sílvia Diamante – Doutora em Agronomia/Horticultura – UNESP – marlasdiamante@gmail.com
Daiane Andreia Trento – Engenheira agrônoma e mestra em Ambiente e Sistemas de Produção Agrícola – UNEMAT – daiatrento@gmail.com
Santino Seabra Junior – Engenheiro agrônomo, PhD e professor – UNEMAT – santinoseabra@hotmail.com
A escolha da estrutura deve estar adequada às reais
necessidades individuais e dos materiais de cobertura. O tipo de tela depende
do que se cultiva e do que se deseja do microclima. Também há telas coloridas
cuja resposta pode ser vantajosa para alguns cultivos e, ainda, há malhas
térmicas que podem reduzir a temperatura da folha durante o dia e mantê-la mais
aquecida à noite.
A estrutura para o ambiente protegido coberto com telado
pode ser um túnel (baixo ou alto), uma estufa agrícola com ou sem pé direito ou
até mesmo uma casa-de-vegetação, onde o controle do ambiente é intensificado.
Além de reduzir a temperatura no ambiente, as coberturas com telas são
eficientes em períodos de alta pluviosidade, atuando como barreira contra a
ação direta das gotas de chuva e do granizo.
O produtor pode escolher entre os diferentes materiais disponíveis
no mercado. Os telados pretos, denominados telas de sombreamento, têm por
objetivo amenizar problemas relacionados à irradiância e temperatura elevada,
condições características de regiões tropicais, contribuindo para um bom
desenvolvimento das hortaliças, aumentando a sua produção e viabilizando seu
cultivo ao longo do ano.
Uma a uma
As telas termorrefletoras de cor prata diminuem a entrada de
radiação infravermelha no ambiente, transmitindo luz difusa, aumentando a
captação de luz pelas plantas e ocasionando ganho fotossintético. Possibilita,
também, menor incidência de insetos, visto que o efeito reflexivo causa
desorientação dos mesmos, além de funcionar como barreira física e controle da
movimentação do ar.
As telas de sombreamento e termorrefletoras podem reduzir a
temperatura nos ambientes de 10 a 20%, favorecendo o cultivo em regiões de
altas temperaturas. Deste modo, avaliar o efeito do ambiente de cultivo e
cultivares termotolerantes pode contribuir para o sistema produtivo,
viabilizando a produção, possibilitando o abastecimento do mercado local e
contribuindo diretamente na geração de renda e emprego para o agricultor
familiar.
Telados de cor vermelha são considerados difusores de luz,
os quais podem manipular o espectro de luz solar. Essas malhas são produzidas
com aditivos especiais que as convertem em filtros de luz, fazendo com que a
qualidade de luz que chega ao cultivo seja maior, pois as mesmas são capazes de
alterar a luz direta, convertendo-a em difusa, o que beneficia a planta, pois a
luz difusa promove melhor cobertura das plantas e estimula a fotossíntese.
A tela azul não é recomendada para hortaliças, por produzir
uma planta menor. Essa tela é própria para viveiro de frutas, pois induz a
floração precoce e melhora a frutificação.
Instalação das telas de
sombreamento
De maneira geral, a estrutura deve ser construída distante
de edificações, árvores e de agentes que possam levar algum tipo de
contaminação à área de cultivo. É importante que a área tenha uma boa drenagem,
garantindo a viabilidade de implantação.
Quanto ao tipo de estrutura escolhida para dar suporte às
telas de sombreamento, deve-se observar a vida útil desse material, por
exemplo, os suportes de aço galvanizado podem durar entre 20 e 25 anos,
enquanto uma estrutura de madeira, sem os cuidados devidos, pode durar até
cinco anos.
O mesmo deve ser observado no ato da compra das telas, visto
que telas de boa qualidade podem durar até dez anos.
Instalação
Para instalação de um telado simples, bem como para
estruturas mais complexas, deve haver um planejamento prévio. A montagem dos
telados pode ser realizada da seguinte forma:
Ü Demarcar a área de implantação onde serão colocados
os mourões, respeitando o tamanho da área desejada para o plantio. Nesse ponto
é preciso lembrar também sobre o tamanho das telas utilizadas (comprimento e
largura) e se haverá necessidade unir uma ou mais telas (costurar);
Ü Os mourões poderão ser fixados (utilizando um prumo
para nivelar) em profundidade de pelo menos 0,5 m abaixo do solo, e a altura
mínima é de 2,5 m acima da superfície do solo;
Ü Para dar suporte às telas de sombreamento, deve-se
utilizar arames. Uma boa opção são os arames galvanizados, com diâmetro de 2,75
mm, os quais devem ser esticados no sentido do comprimento do rolo;
Ü Uma opção para prender o arame é fazer um furo na
parte superior dos mourões. O intuito é passar o fio de arame pelo furo e
prendê-lo com catracas, para que seja esticado;
Ü Quando a estrutura estiver pronta, a cobertura com
as telas deverá ser realizada. Para fixar a tela aos arames, o agricultor pode
utilizar presilhas (grapa) ou outro material desejado. As presilhas poderão ser
fixadas a cada meio metro, finalizando a cobertura;
Ü Caso o agricultor deseje utilizar coberturas
laterais, deve-se atentar à quantidade de tela necessária para alcançar o solo
e lembrar de fixá-las.
Ü Para a montagem de um sistema em túnel baixo, os
materiais utilizados são canos de PVC – poli (cloreto de vinila) de meia
polegada de diâmetro e três metros de comprimento para confecção dos arcos, os
quais são fixados no solo por meio de vergalhões de ferro cortados com o
tamanho de 0,5 metros. Estes são enterrados a 0,3 m no solo nas laterais dos
canteiros. Os arcos podem ser afixados com distância de dois metros entre si.
Os telados são afixados sobre os arcos com o auxílio de braçadeiras de
plástico, deixando uma das laterais livre, para facilitar os tratos culturais.
Produtividade
Devemos entender que os fatores ambientais, como
temperaturas extremas (alta e baixa) e vento podem ser reduzidos com a
utilização do telado. Ao associar o tipo de tela ideal, cultivares tolerantes e
manejo adequado, a produção pode dobrar ou até mesmo triplicar.
Um exemplo que podemos usar é um dado coletado em
experimentos realizados em Cáceres (MT), onde as temperaturas máximas neste
estudo chegaram a 37,8ºC, e a produção sobre telado cor prata com nível de sombreamento
a 40% chegou a triplicar, dependendo da cultivar de alface crespa cultivada,
passando de cerca de 50 para 160 g/planta.
Entretanto, para períodos de alta luminosidade e temperaturas
mais amenas não houve aumento de produção, com plantas atingindo em torno de
300 g/planta. Este fato ocorre devido à redução da temperatura, que gera o
fator de estresse nas plantas.
O aumento de produção, onde as hortaliças estavam mais
suscetíveis a estresse por alta temperatura e alta luminosidade, também foi
observado para outras espécies, como rúcula (44%) agrião (60%), couve-folha
(20%), entre outros.
Outro ponto importante é que os telados podem interferir na
qualidade do produto, podendo reduzir a infestação de insetos e o impacto de
gotas de chuva que provocam lesões nas folhas, como por exemplo em rúcula, onde
o impacto da chuva pode provocar a quebra do pecíolo.
Há, também, modificação da estrutura da folha quanto ao
tamanho da área foliar, modificação da estrutura anatômica, i.e., maior
formação de parênquima lacunoso nas folhas de alface, elevação do teor de
clorofila e até mesmo aumento da resistência ao pendoamento precoce.
Erros
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Antes de implantar um ambiente protegido coberto com telado,
deve-se levar em consideração algumas questões importantes, como as diferenças
regionais. Por exemplo, a utilização de um telado preto para redução da
temperatura e radiação excessiva na região centro-oeste tem se mostrado
eficiente para muitas culturas, como por exemplo a rúcula, mas se empregarmos a
mesma tecnologia na região sul, a luminosidade incidente no interior do
ambiente não será suficiente para atender a requerida pela cultura, pois nessa
estação os dias são curtos, as temperaturas são baixas, há poucas chuvas e a
radiação solar é menor.
Em regiões quentes, deve-se evitar o fechamento total dos
ambientes (cobertura e laterais), pois a trama dos telados impede parcialmente
a circulação do vento e a troca de calor do interior para o exterior, deixando-o
excessivamente quente.
Outro ponto importante que as vezes é deixado de lado é que
não se pode ter estruturas construídas ao lado de árvores ou construções que
projetam sua sombra sobre o ambiente protegido, mesmo que seja apenas por
algumas horas durante o dia.
Existem estruturas de telados que permitem que se faça a
abertura e fechamento das telas dependendo das condições ambientais, ou seja,
em dias nublados ou de baixa intensidade de luz as malhas são recolhidas,
possibilitando maior intensidade luminosa no ambiente.
A difícil hora da decisão
Escolher o tipo de tela mais eficiente para a região é
essencial, como por exemplo, utilizar telas de sombreamento prata para regiões
mais quentes e vermelha para regiões de clima ameno e não instalar telas com
sombreamento superior a 40% para cultivo de hortaliças folhosas.
Um dos maiores problemas da produção em telados são cultivos
sucessivos de hortaliças folhosas na mesma área, o que ocasiona maiores
problemas com pragas e patógenos. Uma das maneiras de reduzir esse problema é
cultivar gramíneas como uma estratégia de quebra de ciclo de pragas e doenças
na área. O cultivo em túneis baixos favorece a rotação de culturas porque
facilita a montagem das estruturas em diferentes locais.
Para o agricultor manter sua produção, é necessário focar em
um sistema sustentável e eficiente a longo prazo. Práticas para conservação do
solo, como a construção de canteiros em nível, rotação de culturas e
especialmente a inserção da adubação verde no sistema de produção são
extremamente importantes para reduzir as perdas de solo, quebrar o ciclo de
pragas e doenças e aumentar os teores de matéria orgânica no solo.
Outra alternativa para potencializar a produção é a
utilização de mulching plástico para cobertura dos canteiros, contribuindo
assim com a redução da mão de obra para o controle de plantas invasoras,
melhorando a qualidade da cultura implantada e intensificando o aproveitamento
de água e adubação. Também é importante utilizar culturas termotolerantes para
o cultivo em regiões tropicais e em períodos de verão.
Investimento
O custo das telas de sombreamento pode variar de acordo com
suas características (tipo de malha, cor e objetivo do uso), e como um todo,
deve-se levar em consideração o tipo de material utilizado para a estrutura do
telado (mourão, eucalipto tratado ou aço galvanizado, e.g.), o tamanho da área
de produção e a escala de produção desejada.
As telas aluminizadas, assim como as coloridas, têm um custo
maior em relação à tela preta, e no geral, quanto maior a porcentagem de
sombreamento, mais alto é o preço da tela. Porém, o investimento pode ser
recuperado no final dos cultivos de entressafra, quando o preço das hortaliças
folhosas é maior.
Dessa forma, é importante lembrar que, quanto menos ciclos
de cultivo ao ano forem produzidos sob os telados, mais caro se torna o custo
desse projeto.