Como o agro vai reagir às mudanças climáticas?

Como o agro vai reagir às mudanças climáticas?

Harianna Paula Alves de Azevedo
Engenheira agrônoma, doutora em Fitotecnia e professora – Faculdade de Ciências e Tecnologias de Campos Gerais (FACICA)
harianna_tp@hotmail.com

As mudanças climáticas, que antes eram tidas como um futuro distante, e passaram a ser uma questão de urgência, apresentam um desafio significativo para o setor agropecuário, que precisa se adaptar para garantir a sustentabilidade e a produtividade no futuro.

Com isso, o setor está cada dia mais vigilante e atento ao que pode ocasionar nas lavouras brasileiras, trabalhando operações e manejos planejados, investindo em tecnologias de monitoramento climático, e em variedades adaptadas às adversidades climáticas, para tentar reduzir os riscos.

Desafios

São vários os desafios que o setor agrícola tem enfrentado com as mudanças climáticas. Problemas com extremos climáticos trazem aumento na frequência e intensidade das secas, que reduzem a disponibilidade de água diretamente para as plantas e para irrigação, e afetam negativamente a produtividade das culturas.

A redução dos recursos hídricos devido a mudanças nos padrões de precipitação afeta a irrigação e a qualidade da água. Com isso, a crescente competição por água entre diferentes setores pode limitar a disponibilidade para a agricultura.

Temperaturas elevadas podem causar estresse térmico nas plantas e nos animais, reduzindo o crescimento e a produtividade. Episódios de chuvas intensas podem causar inundações, erosão do solo e destruição de infraestruturas agrícolas.

Mudanças climáticas

As mudanças climáticas podem levar a alterações no ciclo de vida das plantas, afetando a época de plantio e colheita e a sincronização com polinizadores. Também podem favorecer a proliferação de pragas e doenças que afetam culturas e animais, além de poder se espalhar para novas áreas onde antes não representavam uma ameaça, exigindo novas estratégias de manejo.

A diminuição da produtividade agrícola devido a condições climáticas adversas pode ameaçar a segurança alimentar global. A necessidade de investir em tecnologias adaptativas e práticas sustentáveis pode aumentar os custos de produção.

Algumas regiões podem se tornar menos adequadas para certas culturas, enquanto outras podem se tornar mais viáveis, exigindo mudanças nos padrões de cultivo.

Impactos

Os eventos climáticos extremos têm um impacto significativo na produção de alimentos e na segurança alimentar. As secas afetam negativamente o crescimento das plantas e resultando em colheitas menores.

Plantas estressadas pela falta de água também são mais suscetíveis a doenças e pragas. As inundações podem submergir campos agrícolas, destruir plantações e causar erosão do solo. Solos saturados de água também podem levar à perda de nutrientes e à asfixia das raízes das plantas.

Eventos como inundações em áreas costeiras podem levar à salinização dos solos, tornando-os inadequados para muitas culturas. Tempestades e ciclones podem danificar estufas, celeiros, sistemas de irrigação e outras infraestruturas essenciais para a produção agrícola.

A reconstrução desses recursos pode ser custosa e demorada. Chuvas de granizo podem destruir culturas sensíveis, como frutas e hortaliças, resultando em perdas significativas de produção.

Planejamento agrícola

Eventos climáticos extremos podem alterar o início e o fim das estações de plantio e colheita, dificultando o planejamento agrícola. A imprevisibilidade associada aos eventos extremos dificulta o manejo e a programação das atividades agrícolas, aumentando a vulnerabilidade dos agricultores.

Condições climáticas extremas, como calor e umidade, podem criar ambientes propícios para a proliferação de pragas e doenças, que afetam culturas e rebanhos. Pragas e doenças podem se expandir para novas áreas onde antes não eram prevalentes, exigindo novas estratégias de controle.

Os agricultores estão adotando uma série de medidas específicas para mitigar os impactos das mudanças climáticas em suas operações. Estão mais atentos às práticas de agricultura conservacionista, incluindo práticas como o plantio direto, que minimiza o revolvimento do solo, ajudando a preservar sua estrutura e reduzir a erosão.

Fazendo a rotação de culturas, assim, alternam diferentes tipos de culturas em um mesmo campo para melhorar a saúde do solo, controlar pragas e doenças, e aumentar a biodiversidade.

Novas tecnologias

Manejos com adubação verde, plantio de leguminosas e outras plantas de cobertura fixam nitrogênio e aumentam a matéria orgânica do solo. Os agricultores estão fazendo uso de sistemas de irrigação mais eficientes, como tecnologias de irrigação por gotejamento e aspersão para otimizar o uso da água e reduzir desperdícios.

Constroem cisternas, reservatórios e barragens para armazenar água durante períodos de chuva e utilizá-la durante secas. Tem crescido a adoção à agricultura de precisão, com uso de drones, sensores e sistemas GPS para monitorar as condições das culturas, a umidade do solo e a presença de pragas, permitindo a aplicação precisa de insumos.

Os programas de melhoramento genético de plantas já buscam o desenvolvimento e cultivo de variedades geneticamente modificadas ou selecionadas para resistir a condições extremas, como seca, calor e inundações.

Estudos com zoneamento agroclimático são frequentes para auxiliar a plantar uma variedade de culturas para reduzir o risco de perda total devido a um evento climático extremo que afete uma única cultura.

Sistemas planejados e integrados que combinam agricultura, pecuária e floresta são interessantes para melhorar a resiliência do sistema agrícola como um todo. Práticas de conservação de solo, como a construção de terraços em áreas inclinadas para reduzir a erosão e aumentar a retenção de água têm sido adotadas.

E o plantio de árvores ou arbustos para reduzir a velocidade dos ventos e proteger as culturas da erosão e dos danos causados pelo vento. Práticas que reduzem as emissões de gases de efeito estufa, como a melhoria da eficiência do uso de fertilizantes e a adoção de práticas de manejo do solo que aumentam o sequestro de carbono, altamente planejadas, podem aumentar significativamente a resiliência do setor agrícola frente às mudanças climáticas, oferecendo uma série de benefícios que ajudam a mitigar os impactos adversos e a garantir a sustentabilidade a longo prazo.

Fonte: https://revistacampoenegocios.com.br